[Gym Battle] Vs. Roxanne #49

Confesso que não sabia que o desafio seria exatamente na hora em que chegara ao museu da cidade de Rustboro; por um ínfimo momento, pensei que, assim que agendasse um horário apropriado para desafiar Roxanne, voltaria no dia seguinte ou assim que tivesse algum tempo. Entretanto, como essa força que chamam de destino sempre era irônica e difícil de entender, a líder do ginásio em pessoa saía por uma porta ao lado o balcão, carregando consigo uma mochila e uma garrafa de café em sua mão destra.

Roxanne anunciara que estava para ir embora. Estava prestes a volver para a rua, alojar-me no centro pokémon e voltar no outro dia para encaixar um horário para retornar ao museu e desafiá-la. Assentindo com um movimento vertical da cabeça, meu pé direito começou a arquear-se na direção da saída. E tão repentino quanto fora a sua aparição, a líder deu meia volta e começou a adentrar no ginásio, aceitando, apesar de titubear, o meu desafio. Apenas olhei de relance para a pessoa da recepção, mirando as palmas para o teto, dizendo em mímica que não tinha culpa alguma.

Sem muitas cerimônias, calcorreamos até a arena. Um campo com as demarcações respectivaw feito a partir de terra batida e alguns minerais esparsos por todos os espaços. Sem delongas, caminhei até a zona de desafiando, aguardando aquele protocolo de desafios oficias da liga pokémon — como explicar as regras do desafio por mais que eu soubesse, o que é chato para um caralho. Por fim, Roxanne apenas pedia para que aquilo não demorasse muito.

Respirei fundo ao vê-la liberando o seu primeiro monstrinho, um Lileep, fóssil híbrido do tipo rocha e gramíneo. Tinha dois coringas em mãos que me auxiliariam em combate: Gastrodon e Slowbro. Contudo, o rochoso pré-histórico poderia ser um empecilho caso nocauteasse um desses dois. Roxanne é uma especialista e tem muita experiência em sua bagagem. Apesar da vantagem ligeira, é melhor tramar um plano B caso aconteça algo indesejado.

— Não se preocupa, vai acabar rápido — semicerrei as pálpebras, arqueando a esfera bicolor de Slowbro. Como se estivesse partindo o apetrecho, evoquei o corriqueiro feixe enérgico alvo que materializava o psíquico no campo de batalha. Apesar da desvantagem inicial, as propriedades defensivas de Slowbro poderiam me garantir, quiçá, a vitória e a vantagem inicial que é crucial em um desafio de ginásio. — Yawn, e repita se não conseguir. Depois, Psychic — soprei as ordens, manso.

Garantir uma defesa com o Protect e, com isso, ter a certeza de que não sofreria tantos danos poderia ser uma saída também válida. Entretanto, Slowbro poderia atacar também com facilidade, e não delongaria até que ele vencesse Lileep, ou então me deixasse em uma situação favorável apesar de sua queda.

Chuto que, por conta de algo que disse, a líder sentira-se ofendida. É claro que em um desafio oficial da liga pokémon, o mais ínfimo deslize, seja por atenção ou por problema emocional, pode fazer vasta diferença. Roxanne estava visivelmente abalada, quiçá por algum dia cheio; seja por desafiantes fracos ou por ter que aturar inúmeros alunos e visitas que vêm ao museu de Rustboro para os mais múltiplos fins. De todo modo, não é da minha conta. Tenho a única obrigação de esvaziar a minha mente de todos os ocorridos em Kanto e essa guerra pessoal que H declarou contra mim ou mesmo a segurança de Emma; se sempre prezei por equilíbrio, não iria tropeçar justo agora contra um de meus credos.

Levei ambas as mãos ao bolso. As pálpebras semicerradas e as írises oceânicas sempre bailando para lá e para cá, buscando, a cada segundo, qualquer brecha que poderia utilizar e virar a mesa ao meu favor.

Foi com um sorriso satisfeito e quiçá convencido que assisti o término daquele turno. Tinha algumas adversidades que poderiam ser difíceis de se contornar no futuro, como a perca de mobilidade — mesmo que insignificante — de Slowbro e a fixação das raízes do monstrinho pré-histórico. Roxanne era uma especialista e tinha colossal bagagem tratando-se de batalhas; com certeza, faria bom proveito daquilo. Ademais, com um singelo ataque, o aquático conseguira esvair boa quantia da vitalidade que Lileep carregava consigo. Apesar do empecilho em relação às tipagens, ele estava se saindo muito bem.

Se outrora ela me subestimou, naquele turno inicial obtive vantagem crucial para o restante do combate. O raso sorriso convencido abriu-se um pouco mais — ínfimos centímetros — conforme ouvia os lamentos por ter um dia tão cansativo, conforme presumi. Bastou terminar de beber o café — diga-se de passagem, santa bebida — para que Roxanne volvesse a comandar o fóssil apesar de adormecido.

— Como quiser — retruquei a respeito de não criar conversas paralelas ao combate. Já sou de poucas palavras por natureza, e Roxanne, com aquele pedido, apenas me deixava mais à vontade para matutar acerca dos movimentos dos monstrinhos. — Continue com Psychic em sequência — pedi, singelo, recolhendo aquela expressão convencida de outrora, deixando que meus olhos vagassem por cada centímetro quadrado da arena, volvendo todo o meu consciente na batalha.

Maldito Ingrain. Se não fosse por esse movimento, Slowbro já teria nocauteado a planta pré-histórica e, assim, não estaria exposto a riscos; se tem algo que aprendi neste ínfimo tempo em que estive à mercê do destino e de minha própria sorte é que sempre ocorrerão coisas completamente fora do inesperado. Lileep até então mostrara apenas três ataques: este, Rock Tomb — a assinatura da professora — e Ancient Power. Com certeza, Roxanne tinha outros coringas na manga e não os usou sabe-se lá o porquê.

É como mencionei: meu único dever é simplesmente vencê-la, não importa o que aconteça — estava fazendo-o de maneira exímia. A vitalidade do monstrinho de rocha estava prestes a se esvair por completo, bastando um único movimento do psíquico para que o esperado acontecesse.

Foi nesse momento em que meus sentidos auditivos se aguçaram um pouco mais acerca do adendo de Roxanne: segundo ela, estava em um nível de desafio acima que o ginásio de Rustboro. Pressupunha por dois motivos: falta de tempo aparente ou insegurança dos desafiantes. Por fim, a líder passava as palavras desejando que ambos digladiassem, entregando os protagonismos respectivos aos três escolhidos e que o melhor vencesse — aquele velho papo que falam em qualquer lugar. O tórax movimentava-se em seu ritmo normal, indicando que não havia aflição alguma de minha parte: Slowbro, mesmo que caísse na sequência, desempenhara importante papel diante dos danos veementes em Lileep.

— Andei tendo uns contratempos, de fato. E o final de uma batalha só se sabe quando termina — exprimi, brando, ainda com as mãos no bolso e as írises oceânicas perambulando por entre Slowbro e Lileep. — Psychic duplo — por fim, dei as derradeiras ordens. Se tudo estiver conforme o planejando, basta um único para que o monstrinho pré-histórico se rendesse à exaustão, e, então, Roxanne revelasse o seu segundo monstrinho.

Por mais que pensei em uma inesperada reviravolta, o que já estava anunciado calhou de acontecer. Bastou apenas o primeiro golpe para que Lileep se estatelasse contra o solo, já completamente exaurido.

E foi com ínfimo pesar que Roxanne recolheu o seu fóssil para o apetrecho bicolor, indagando a mim se não estava no nível de desafio do ginásio. Conforme seu julgamento após a primeira batalha, a líder exprimiu sua vontade de utilizar seu próprio time pessoal para me enfrentar, quebrando os protocolos da liga de Hoenn; levei aquilo como um elogio, deixando um sorriso satisfeito surgir, mesmo que breve, em meus lábios.

— Ainda está muito cedo para dizer quem ganhou. Não sei quais as suas cartas na manga, e nem você sabe as minhas. O jogo tá muito aberto — com aquele faceiro sorriso, que se mesclava a uma ínfima dose de convencimento por minha parte, inferi.

Sem delongas, a líder revelou o segundo monstrinho com quem batalharia: Relicanth. O peixe fossilizado pousava no campo de batalha com expressão neutra. Roxanne, por sua vez, estendia um olhar que sempre me fora tão intrínseco na minha direção; era o que se esperava de uma renomada especialista: cautela e saber como agir. Talvez, esteja tentando analisar algum padrão de movimento que eu tenha com Slowbro para preparar um contra-ataque — com o pokémon no canto ou o seu derradeiro.

Não deixaria, todavia, que fosse um livro aberto à Roxanne. Admito que estou abusando da estratégia utilizada desde Lileep, e ao menos, até então, a líder não mostrou algum contra-ataque à altura. Resta-me apenas seguir com o mesmo planejamento de outrora até que seja levantada uma segunda estratégia; se isso fosse feito, captaria na hora.

— Yawn e Psychic — ordenei, por fim, depois de trocar alguns olhares inexpressivos tão corriqueiros a mim com a líder de ginásio, e em seguida, dando a liberdade intrínseca para que as írises cerúleas bailassem entre Relicanth e Slowbro; vez ou outra, fitava Roxanne. Quem sabe, ela não desse algum sinal por gestos ou expressões que não pudesse desvendar, não é?

Estava tudo acontecendo ao meu favor. Não apenas os danos significativos que Slowbro causara sobre o monstrinho pré-histórico, como sua condição de sonolência me garantia alguns bons turnos de vantagem — quiçá, até mesmo um passe livre à ofensivas sem me preocupar de receber danos ou prejuízos. Bastava que o aquático desvencilhasse todo o seu poder paranormal sobre Relicanth, causando um decréscimo significativo de vitalidade que o fóssil tinha consigo.

Nada mal, Slowbro. Apenas continue o que já está dando certo; é como dizem: em time que está ganhando, não se mexe. Por que o faria se adotar aquela cautela seguida de ofensiva desmedida — em um ponto fraco de alguns monstrinhos de rocha, e os ataques especiais são o forte de meu psíquico?

Ouvi, taciturno, aquelas indagações de Roxanne, segundo a próxima, sempre eram feitas a novatos em seus desafios. Inquiria-me com os rubros orbes buscando penetrar em meu âmago; semicerrei, mesmo que ínfima, as pálpebras — se cotidianamente sou eu quem o faço, não deixaria que a líder me lesse como um páginas abertas — como resposta à ação, e isto, quiçá, apenas a instigaria a tentar me compreender ainda mais.

— Eu só quero testar a minha força e saber quais são os meus limites — retruquei, singelo, fitando a figura da professora que jazia em sua área técnica, com imponente postura.

Sei bem que, para muitos, há uma ambição desmedida em torno das insígnias de ginásios e os posteriores desafios à Elite dos Quatro. Entretanto, vislumbro os líderes como termômetros de minha capacidade; tenho como objetivo enfrentar todos, mas não tendo como alvo enfrentar os mais poderosos da região.

Não descarto um desafio à Elite e conhecendo essa misteriosa força do destino, poderia calhar de ocorrer em um futuro distante. Todavia, nem ao menos palpável isto é para mim no momento.

Focar no desafio era o melhor que podia fazer no momento — e o executaria.

— Psychic em sequência — soprei, brando, transparecendo invejável calma mesmo diante dos rubros olhos tão penetrantes.