Em busca do suspeito!

Antes de John sair algumas palavras escapavam rápidas e sinceras de minha boca.

- Obrigado John. Foi muito legal de sua parte ajudar um estranho.

O peixe estava muito convidativo e resolvi aguardar um pouco para me banquetear. Não seria muito educado receber Nora com a boca suja de comida. Solicitei um segundo prato e talheres para deixar no lado oposto caso ela quisesse comer algo também. A moça parecia ser alguém de bem e assim como minha família uma pessoa simples.

- É um prazer finalmente conhecer você Nora. Está com fome? Acho que exagerei no pedido e veio muita comida para mim. Sua companhia seria muito bem vinda durante o almoço. Comendo ou não xD.

A atitude tímida da moça era entendível. Não sei o que o primeiro homem havia feito, mas aparentemente tinham um passado afetivo. Quanto ao segundo a cada novo relato ficava mais claro que era alguém seguindo as mesmas pistas dadas por Kevin. Aguardaria a moça sentar ou não para começar a fazer as perguntas sobre o mistério que rodeava a rádio tower.

- Vou ser direto e franco com a senhorita. Fui contratado para descobrir quem era aquele homem que a senhorita teve um encontro algumas noites atrás. Desejo apenas o seu bem e me desculpe se ele lhe causou algum tipo de mal, mas estou seguindo as pistas para descobrir se ele é capaz de fazer algum mal para todos nós aqui da torre. Não conheço o homem que deve ter falado com você antes, mas tem grandes chances dele estar atrás desse homem também.

Engoli em seco. Tomei um pouco de água para refrescar a garganta.

- Preciso de sua ajuda Nora. Não sei se tem alguma forma de eu te ajudar com algo que esteja precisando em sua vida, mas não te desejo nenhum mal e só as melhores coisas para sua vida. Seus olhos são de alguém que já passou por muitas dificuldades então não quero te trazer mais nenhum problema, mas não posso sair daqui sem saber o que aquele homem está tramando ou conseguir uma pista que me deixe mais perto de desvendar os motivos de ele estar na Radio tower.

Abri o coração com a moça. Agora dependeria dela vencer sua timidez ou vulnerabilidade deixada por aqueles que vieram antes em sua vida para ajudar um estranho a seguir em frente com sua vida.

É...não havia nada a ser feito naquele momento. Situação perdida. Nem nos piores cenários havia imaginado que terminaria daquela forma. Deixei a conta paga e fui embora. Não havia como reverter aquela situação.

" É eu fui um idiota sequencialmente. Talvez essa vida de investigações não seja mesmo para mim..."

Diante do fracasso vinha a vergonha e insegurança. Não me achava apto a prosseguir com a missão. Eu não era um ranger ou patrulheiro e pelo visto não tinha o tato necessário para manter a discrição ou entender as situações complexas da cidade grande. Mordi o lábio pensando no mal que havia projetado sobre duas pessoas que não tinham nada a ver com meus problemas. Caleb Dust se provava um fracasso em rápida decadência. Não era meu direito ter abordado Nora da maneira que havia feito. Eu sempre poderia recorrer a câmeras e outros artifícios mais discretos para obter informações, mas naqueles breves instantes que sai do restaurante me senti um verdadeiro lixo humano.

Tirei o resto da tarde para refletir sobre minhas ações. Um sabor amargo seguiu em minha boca durante o resto do dia e meus ombros seguiam pesados. Me sentia perdido e não sabia exatamente o que fazer com aqueles sentimentos negativos. Recuei meus sentimentos e coloquei o cérebro para funcionar.

"Apesar de furiosa ela ainda disse algumas informações que podem me ajudar. O homem que veio logo em seguida também foi acusado de ser um idiota. Então provavelmente disse algo que ela não gostou. Se ela está apaixonada pelo homem...sei lá."

O cansaço já não era mais físico. O mal estar seguia minha linha de raciocínio. Me deparava com a realidade de que seguir o mesmo modelo de pensamento era pedir por mais problemas no futuro. As pessoas no final das contas não tinham motivos para me ajudar. Estavam em suas rotinas e eu pedia demais delas e da maneira errada. Matt era o caminho óbvio a ser interrogado e isso era inevitável. Aguardei a noite ainda incerto de como iria abordar o segurança e talvez estivesse me deparando com uma dura realidade... quem sabe eu não era a pessoa certa para fazer o serviço mesmo.

Durante as próximas cinco horas me foquei naquilo que eu sabia fazer de melhor depois de uma derrota: me preparar para ser melhor na próxima vez.

Precisava de um banho para renovar minhas energias e isso só era possível no centro pokémon da cidade. Aproveitei para readequar o time ao novo desafio e conversei com Dai sobre a situação. Ela me orientou a ir com mais calma e tranquilidade. Lidar com novas pessoas significa deixar que elas exponham mais sobre elas no primeiro momento do que nós, essas foram algumas dicas importantes. Minha equipe queria comer algo e era estranho ficar sem eles ao meu lado pela maior parte do tempo, mas era um mal necessário para caminhar de um lado ao outro na metrópole. No caminho de volta da torre repetia algumas coisas mentalmente para fixar bem o novo protocolo de ação que Caleb Dust iria seguir.

"Não deduzir nada. Conversar com ele sobre a situação de forma neutra. Descobrir se tem algo que eu posso fazer para que ele fique mais à vontade ou confortável de me contar sobre as informações que eu quero."

Chegando à torre tive informações muito importantes e que me levavam a uma ideia dos motivos que nosso principal suspeito teria para estar enamorado de Nora além de sua excelente maneira de ser sincera ao falar sobre seus sentimentos.

" Ter acesso ao restaurante significa ter acesso ao prédio. Talvez o suspeito marcasse alguns encontros com Nora por conta disso...ou só estava apaixonado por ela mesmo..."

Um segundo pensamento complementava o primeiro.

" Para ter acesso ao prédio a noite após as 18:00 é necessário ser um funcionário que tenha ficado trabalhando o dia todo e que já estivesse na torre. Para isso é necessário um cadastro ou registro como eu fiz. John esclareceu bastante a rigorosidade do processo para conseguir um acesso. O suspeito não parece ter um registro de acesso como o meu logo optou pela segunda forma de entrada que é através do restaurante como cliente ao longo do dia ou a noite. Logo o restaurante é o acesso mais vulnerável a uma invasão assim como o coração da senhorita Nora."

Tive de cessar a linha de raciocínio. Já havia chego a entrada da torre onde Matt estava e dessa vez não poderia queimar a largada ou teria graves problemas para concluir a missão. Cheguei tranquilo e calmo.

- Boa noite senhores. Bela noite não é mesmo? Posso conversar com o senhor Matt alguns segundos? É sobre um assunto muito importante que pode definir o meu futuro.

Matt era mais alto do que eu e não parecia ser do tipo que saia falando a torto e a direito. Precisava de mais informações sobre a personalidade de Matt antes de expor a situação e acabar correndo o risco de estragar tudo mais uma vez.

"Por bem ou por mal, pelo menos ele está sozinho agora"

Pela frase introdutória de Matt seu perfil ficava bem mais claro. Havia algo naquela torre que fazia as pessoas serem bem mais precavidas do que todos os que já havia encontrado em minha vida até então ou talvez fosse a realidade comum da cidade grande.

- Fiquei sabendo que tem umas coisas estranhas acontecendo por aqui. Vou abrir o jogo com você: fui contratado como investigador particular para averiguar uma pessoa suspeita que esteve em contato com você nesses últimos dias Matt. Segundo minhas fontes ele estava em busca de uma sala ou algo do gênero. Ele já veio aqui antes para um encontro com uma das garçonetes que trabalha no 30° andar. O nome dela é Nora. Por acaso você lembra da conversa que teve com esse senhor?

A situação era tensa mais uma vez. Falar o que eu achava ser a verdade havia sido um tiro no pé antes e não tinha garantias de que daria certo agora. Matt pareceu alguém que não iria fazer rodeios. Estava em uma situação de 8 ou 80 onde um sonoro vai se fuder era uma opção bem provável assim como alguma resposta inusitada sobre os motivos do visitante também o era.

Preparava minha reação para o primeiro cenário. Em último caso eu teria que me virar sem nenhuma das possíveis testemunhas o que elevaria. A investigação para um nível muito além das minhas capacidades atuais.

Não era todo dia que a morte batia em minha porta. Minha primeira reação era a mais comum e casual de todas. Falar a verdade. Mordi o lábio mostrando a vulnerabilidade de uma pessoa arrependida por ter julgado errado uma situação.

- Estou perguntando para você Matt. Porque eu cometi um grave engano. Tinha alguns motivos para acreditar que um desses dois homens que veio atrás de Nora queria fazer mal a ela e não soube me expressar direito quando tive a chance de perguntar para ela. É minha primeira vez investigando algo tão importante e acabei sendo um imbecil durante nossa conversa. Espero que um dia ela me perdoe, mas nunca quis o mal dela. John havia me dito que a moça já havia passado por maus bocados e no meu desejo de que ela não passasse por algo ruim mais uma vez acabei estragando tudo. Não sei se sou digno de uma segunda chance, mas gostaria de garantir que estou completamente errado. Acho que nada me faria mais feliz nesse momento. Quanto a sua intuição das roupas, tenho relatos de que Brian visita a torre todos os dias ao longo das manhãs e tardes com roupas e acessórios diferentes, chegando até mesmo a usar bigodes falsos para disfarçar sua aparência.

Assim como Nora era pouco experiente na arte do amor eu era na arte da investigação.

- Na verdade eu não acho que mereça sua ajuda nesse momento Matt. Só não quero que mais estragos sejam causados. Me foi revelado que o segundo homem está atrás do Brian. Até agora não consegui nenhuma informação sobre ele além de que segue no rastro do amor de Nora, mas acredito que é alguém que precisa ser acompanhado com cuidado.

Aquela altura já esperava um tiro em minha perna ou outra parte de meu corpo. Não era fácil estar na posição de quem fala a verdade tendo cometido um erro capaz de ferir o coração de uma donzela. Doía dizer a verdade e admitir minha falta de experiência no assunto, mas teria que guardar aquela dor para mim e aprender com as lições que ela trazia.

- Nora realmente parece uma boa pessoa assim como você me parece ser um ótimo amigo. No seu lugar eu daria um soco em mim a essa altura por ousar pisar aqui de novo. Perdoe a minha falta de experiência, por favor.

Eu juntava ambas as mãos fazendo um pedido de desculpas. Eu estava errado naquele cenário e não seria ego ou orgulho que me levaria adiante. Precisava ter fé que as coisas começariam a dar certo e tentar ao máximo recuperar os erros cometidos no passado. O segundo homem misterioso chamava muito a minha atenção, mas no momento não tinha pistas o suficiente para poder chegar até ele.