[Evento] Mal feito, feito.

Igneel já era um homem formado, com um belo Charizard que lhe carregava pelos lugares e dessa vez, chegavam em Celadon. O local era conhecido por ser um centro de referência em desenvolvimento sustentável de Kanto, motivo o qual não era raro encontrar árvores espalhadas pelas calçadas, vasos de flores nas sacadas, praças verdes e até mesmo diversas pinturas animadas pelas paredes.

Aquele cenário não era o mesmo a algumas semanas atrás, pois uma onda de ataques misteriosos de Pokémon híbridos causava um caos que, com a colaboração de outros viajantes, era resolvido. Mas, talvez, em algum canto mais remoto da cidade ou ainda bem embaixo do nariz de todos, houvesse algo esperando para ser encontrado.

De qualquer forma, os cidadãos não estavam preocupados: típico de metrópole, as pessoas caminhavam pra lá e pra cá numa pressa incessante. Por vezes, algumas pessoas com trajes mais requintados exibia um andar mais despreocupado, seguidos inclusive de Pokémon com cortes luxuosos, graças aos Salões de referência. As oportunidades eram infinitas para o garoto, porém havia um local que sempre estava lotado e, como tal, sempre era passível de problemas: o Centro Pokémon. Mas cabia somente ao homem decidir seus caminhos.

Igneel de fato tomava rumo ao Centro Pokémon da cidade e encontrou um local bem movimentado. Alguns viajantes faziam fila para comprar itens, outros para vender. Na área externa, as arenas estavam lotadas. Por sorte, a Enfermeira estava livre, embora parecesse exausta com as diversas Pokébolas que entravam e saíam das salas de cura.

- Bem-vindo ao Centro Pokémon, como eu posso... - respondeu ela, depois fez uma pausa. - Vou cuidar de seu Pokémon, porém se me permite fazer um pedido - disse ela, saindo do balcão e guiando o homem até os fundos. - Notei pelo símbolo que é membro da The Wolves, com filial em Saffron, certo? Tecnicamente, isso não é uma missão oficial, mas se puder nos ajudar

Ela então abriu a porta e revelou um banheiro que estava com todas as paredes molhadas. No chão, havia uma gosma verde e grudenta por parte do chão e até em algumas paredes. O rastro terminava num ralo.

- Não é a primeira vez que esse banheiro aparece alagado e com essas marcas. Não temos ideia do que está causando isso e ninguém parece muito interessado em investigar - disse, suspirando exausta. - Os trabalhos aqui já são complexos sem eu precisar limpar esse banheiro dia sim, dia não. Então, se puder dar uma olhada, eu ficaria muito grata

A Enfermeira parecia ficar com o olho cheio de lágrimas com o oferecimento do garoto para limpar tudo e até pensou em recusar, porém o próprio cansaço corporal a dizia que era a melhor saída que tinha enquanto nada estava resolvido.

- Bom, estamos na temporada seca do ano, então normalmente não era pra chover. Mas nos últimos dias tem chovido mais que o comum - ela encostava na parede. - Parando para analisar, os banheiros sempre estão sujos depois de uma chuva. Eu não sei se tem relação - comentou, batendo o dedo no braço como se pensasse.

Porém antes que concluíssem qualquer coisa, repentinamente, as privadas começaram a encher de água e transbordar. A Enfermeira dava um pulo para fora do banheiro e assistia assustada a cena. Quando olhou para trás, viu outro banheiro também transbordando.

- Oh Arceus... o que está acontecendo? Acho que vou ter que checar os canos da área externa - comentou, indo preocupada para o fundo do Centro.

Naquela área protegida por cercas havia diversos canos, porém o portão estava aberto, com um homem de macacão azul e uma mulher de jaleco olhando a situação. A Enfermeira olhava estranho para o cadeado estourado.

- Ei! Essa é uma área restrita do Centro...
- Nos compreendemos, mas não se preocupe - disse a mulher, esticando um papel. - Temos autorização da prefeitura para fazer essa averiguação no encanamento. Está sendo um procedimento padrão nessa área

O homem fazia um barulho de nojo que atraía a todos, revelando que a gosma verde havia se espalhado por toda a tubulação. A mulher, que parecia uma cientista fazia algumas anotações num pequeno caderno, depois o guardou no bolso.

- Apenas conclua o serviço de limpeza no encanamento e está dispensado - proferiu ela. - Encerramos por aqui, agradecemos a contribuição, Enfermeira

A atitude daquela mulher era bem suspeita e não parecia agradar a Enfermeira, que olhava irritada sua partida. Igneel tentaria persegui-la ou deixaria pra lá?

A enfermeira concordava com a cabeça com a sugestão do homem, depois se ausentou para retornar ao Centro. Igneel então seguiu o homem, que simplesmente desceu para a área principal dos encanamento e colocou um aparelho que sugava a sujeira.

Em poucos minutos o primeiro balde estava cheio, depois o segundo, o terceiro. O trabalhador olhava nervoso a fiscalização do treinador, então respirou fundo antes de falar:

- Eu sou só um contratado, senhor. Não estou fazendo nada - ele olhou envolta. - Esse não é um lugar muito agradável não é? - disse, nervoso. - Se eu te falar uma coisa, você vai embora? - sugeriu, depois soltou o aparelho e se aproximou dos canos. - Esse cano é o que liga diretamente no esgoto da cidade, não é o encanamento de água padrão. Obviamente, o que será descartado devia passar por ele, porém essa gosma parece que está empurrando na direção contrária - finalizou, apontando para uma parede. - Se você entrar lá, talvez veja alguma coisa. Tem uma entrada do lado esquerdo do Centro, perto de uma área de arbustos. Se não encontrar nada, sabe onde vai me achar - concluiu, continuando o trabalho.

Igneel, apesar de desconfiado, seguiu as dicas do homem e foi até a entrada do bueiro do lado do Centro. Descendo as escadas, ele ficou na área protegida da água suja, porém foi surpreendido por uma risada feminina e uma luz no rosto.

- Esse é o motivo para não darmos tantas informações a subordinados. Não podemos confiar em ninguém hoje em dia - disse a mulher que estava antes no Centro, porém agora com uma roupa mais adequada para o ambiente. - Contudo, você pode ser útil para mim, então... devemos? - questionou ela, começando a caminhar no esgoto. - Não precisa ter medo, não tenho nenhum Pokémon. Além disso, os rastros estão pra cá, como pode ver

A mulher finalizou, mostrando os rastros que ficavam grudados nas paredes. Eles seguiam no rumo contrário ao esgoto. A mulher olhou para trás uma última vez.

- Não precisa confiar em mim. Apenas me ajude, sim?