Pokémon Mythology RPG
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#004 - Sentimento

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Com um arrepio insistente na nuca, acabei chegando na pobre garotinha, separada do seu grupo. Não sei se era impressão minha ou não, mas achava ter visto a sombra negra simplesmente dissolver-se no chão. Talvez houvesse um motivo para a figura sombria ter me atraído e guiado para aquela menina. Talvez fosse só mais uma coincidência; de toda forma, mesmo atrasado para entregar aquele buquê, não podia ignorar uma criança chorando. Mais uma vez, colocaria minha reputação com Vovó em risco para resolver um problema de ordem emocional. Isso já estava virando um padrão!

Olhei para Serena, que parecia encantada ao mesmo passo que intimidade com a garotinha, e assenti, indicando que ela poderia interagir sem problemas. Nossa comunicação era quase telepática; Clefairy se aproximou dando seus passinhos tímidos, e tocou na perna da menina, meio que chamando sua atenção, já que ela escondia o rosto com suas mãos. Enquanto isso, eu agachava para ficar mais ou menos da sua altura, e dizia baixinho:

- Oi. Desculpa te incomodar, mas tá tudo bem contigo? A Serena te achou muito linda e queria falar com você um pouquinho, tudo bem? Por que uma menina linda dessas está chorando aqui? Se eu te der uma flor, melhoraria o seu dia?

E arrancava uma florzinha delicada porém bela do arranjo alvo. Tentava não ser intimidador demais com a criança. Serena lidava bem com os pequenos, então achava que logo mais arrancaríamos um sorriso da figura melancólica.

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Pacifyrinshin • temperatura quente • tarde
A menina desmontava lentamente o rosto e encarava Clefairy, voltando a chorar mais ainda. Ela respirava fundo, balbuciava entre as lágrimas, porém era difícil entender. Após alguns minutos, finalmente, ela conseguia formar uma frase que... fazia sentido.

- Ele se foi - soltou, apontando para o buraco. - Ele... ele estava velhinho. Ele ficava sozinho aqui. Ele ficava feliz quando me via. Mas agora... ele se foi - continuou chorando, antes de encarar a flor. - Você conhecia ele também? Trouxe um presente para ele? Como soube que ele se foi? - questionou, aparentemente afastando as lágrimas que tinha para dar um olhar mais esperançoso.



Resumo da Rota :

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Dar esperanças para aquela garotinha era algo muito cruel de se fazer no momento... Ao mesmo passo que não queria dizer que eu nem conhecia quem quer que seja que tenha falecido, não queria decepcionar aqueles olhinhos tristes dizendo que aquelas flores não eram pra isso... Que situação, viu.

Não tinha muito o que fazer, então comecei a falar (pra variar) como faço quando nervoso:

- Olha só, não sei bem quem se foi... mas sei que dói. Eu perdi a minha irmã, Violet, quando ela tinha mais ou menos a sua idade. Não posso te prometer que será fácil, mas posso te prometer que vai ficando menos difícil a cada dia que passa. Se ele já era velhinho, estava na hora de partir. Todas as coisas no mundo tem seu momento de ir embora... Como essas flores aqui. Elas são lindas, mas um dia vão murchar e morrer, como deve ser... o importante é celebrarmos toda essa beleza enquanto estão vivas! Entende o que quero dizer? - não sabia dizer se era informação demais para uma criança, mas acreditava piamente que subestimávamos muito a inteligência infantil - Quer me contar quem era esse seu amigo, ou o que gostavam de fazer? Podemos fazer uma homenagem pra ele, o que acha? A propósito, meu nome é Vincent, e essa é a Serena. Qual o seu nome?

Perguntei, ofertando o buquê de flores. Não sabia quem havia pedido e me decidi que não saberia também. Usaria aquelas flores para dar um velório digno para o amigo da criança, seja ele quem for. Pagaria depois o prejuízo para a floricultura de Vovó e explicaria o que aconteceu.

Quando ao buraco... não tive coragem de olhar mais adentro. Era melhor esperar a criança terminar de se explicar. Fiquei ainda agachado, ouvindo-a atenciosamente.

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Pacifyrinshin • temperatura quente • tarde
Quando o garoto explicou tudo, a menina começou a engolir com mais facilidade as lágrimas. Apesar de triste, ela demonstrava uma feição mais leve. Inclusive, sua própria aura, que era bem fraca num tom preto, começava a ficar branco, como as flores que ela recebia: seria possível?

- Ele... ele era um Raticate. Um dia eu estava balançando no brinquedo quando outro menino da turma começou a rir do meu cabelo - comentou ela, voltando a ficar triste, porém rapidamente se recuperando. - Eu corri pros arbustos e encontrei ele, paradinho, me encarando. Os pelos dele estavam quase tão arrepiados quanto meu cabelo, então decidi que eu ia me pentear e fazer o mesmo com ele - comentou, tirando duas escovas da mochila - Mamãe não gostou que eu dividi ela com o Raticate, então comprou outra pra ele - ela então se virou, mostrando um pequeno monte de frutas. - Ele roubava frutas de um mercado aqui perto, mas eu comecei a trazer pra ele. Disse que era muito feio roubar - explicou, depois mordeu os lábios tentando não chorar. - Dai... dai... eu cheguei hoje e ele estava parado ali. Só parado e de olhos fechados. Eu encostei nele e... - deixou em aberto, porém o garoto provavelmente já sabia o que ocorrera.

A menina então pegou o buquê e posicionou cuidadosamente no monte de terra que cobria o corpo do Pokémon. Ela juntou a palma das mãos e começou a falar:

- Obrigada Arceus por esse encontro. Espero que ele se torne uma estrela bem bonita no céu, para que eu possa vê-lo toda noite antes de dormir - finalizou ela, depois olhou de canto de olho se o garoto diria algo.


Resumo da Rota :

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Não pude não me comover com a história da garotinha... As duas escovas diferentes, as frutas que ela levava para o Raticate... Era uma história de compreensão mútua, de amizade verdadeira e de amor em sua forma mais pura. Não tinha como não encher o olhos de lágrima. Imagino o que ela não sentiu e deixou de sentir ao se deparar com o corpo morto de seu amigo. Não era justo; pensei. Não mesmo. Se eu fosse dono do mundo, jamais deixaria tamanha tristeza conviver com o amor e a amizade. Por outro lado, pensei, era um processo natural. Não tinha muito o que lutarmos; o amor só era tão importante pra gente porque um dia ele acaba... Acaba, não: se transmuta.

Com as palmas das mãos juntas em prece, falei em voz alta:

- Querido Arceus... Agradeço que tenha colocado a vida desse Raticate no caminho dessa linda garotinha aqui... Quantas lições eles aprenderam juntos, me pergunto... É triste a dor da partida, mas entendemos que era a hora do Raticate. Sabemos que ele se tornará uma estrela brilhante e que visitará o quarto da garotinha que ainda não sei o nome todas as noites, para que possam brincar em sonhos, quando ela adormecer. Obrigado por todas as bênçãos, e continue abençoando as nossas vidas com mais amigos para partilharmos frutas e escovarmos seus cabelos. Que assim seja, amém.

Quando vi, Serena segurava o choro, se fazendo de forte. Abracei a pequena pokémon estrela e ofereci um abraço para a menina que acabávamos de conhecer. Por fim, dizia:

- Foi um lindo discurso o seu... Mesmo. Você quer ficar aqui mais um pouco ou tem que voltar para os seus colegas....? Precisa de ajuda em mais algo? Eu ficaria contigo, mas estou um pouco atrasado com meu trabalho.

Apesar de um pouco fragilizado, estava bem; depois de tantos sentimentos que me atravessaram no dia de hoje, me sentia mais resistente. Mais forte. Nem mesmo a aura esbranquiçada da garota foi capaz de me assustar... Depois de tudo que vi hoje, não ficaria surpreso se fosse ela quem eu procurava, afinal. Coincidências não existem, e se existissem, eu não acreditaria nelas.

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Pacifyrinshin • temperatura quente • tarde
- Acho que é melhor eu voltar, não quero que descubram esse local... não ainda. Além disso, aposto que ele ia querer que eu fosse brincar, com ou sem ele - disse a menina, retribuindo o abraço e guardando as coisas. - Obrigada por ter vindo. Não sei quem te enviou, mas me deixou bem feliz - finalizou a menina, se enfiando nos arbustos para voltar à praça.

Eudora estava dando uma passeada pelo chão cimentado da praça quando viu o "aprendiz" de sua vó sair de dentro dos arbustos. Ela sorriu e acenou para ele, convidando-o para se juntar a ela.

- Acho que encontrou o dono não é? - questionou, olhando as mãos vazias. - Espero que não seja muito complicado. Pronto para voltar?

[Off: Desculpa eu ter ignorado a parte que você perguntou o nome da menina, eu só vi nessa revisão que fiz x-x]


Resumo da Rota :

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OFF :


Já na Van da floricultura, Eudora me questionava se havia encontrado o dono do buquê branco. Não é como se eu não tivesse encontrado, né? Lá no fundo, sentia que o dono era o Raticate. Pertencia a ele e sua memória agora, independente de quem possa ter pedido as flores. Então sentia que não mentia, apesar de achar estranho admitir ter encontrado quando na realidade não fazia ideia de quem havia pedido.

- Não foi muito complicado não... Complicado é lidar com algumas coisas da vida tão cedo, isso sim é complicado. Mas enfim, depois te conto o que aconteceu detalhadamente. Agora eu queria... refletir um pouco.

Passei o resto do trajeto observando a paisagem de Rinshin, que confundia tecnologia e progresso com a natureza verdejante e as cores tropicais de Hoenn. Que lugar lindo... Fiquei pensando em tudo: na morte de Violet, que fez nossa família buscar um novo recomeço em outro continente... Tudo isso culminaria em eu, um pequeno Vincent no meio do Cosmos, estar hoje nesses locais compartilhando de tanta beleza e tanta tristeza também... Sentia que, lá no fundo, toda beleza é na verdade triste. Mas não uma tristeza ruim, sabe? Uma tristeza que deve ser sentida. A gente muitas vezes foge da melancolia, mas é um sentimento muito nobre. Não fosse ela, não sei se teríamos energia para reconstruir nossas vidas depois das chuvas torrenciais que o universo nos propõe.

Permaneci devaneando todo o trajeto de volta; quase nem lembrava o que tinha me trazido até a floricultura para início de conversa! Ou de Adam, que ficou de me ligar e até agora nada... Me perguntava o que fazia nesse momento.

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Pacifyrinshin • temperatura quente • fim da tarde
Eudora respeitou o pedido de Vincent, levando-o num completo silêncio. Quando chegou na floricultura, ela desceu rapidamente e abriu a porta para que o garoto entrasse. A Vovó parecia estar esperando por eles.

- Ora, sejam bem-vindos de volta. Como foram as entregas? - questionou docemente.
- Teriam sido melhores se você tivesse nos informado quem pediu as últimas flores
- Bom, pois eu te digo quem pediu: as cores! - disse ela, rindo logo em seguida. - Minha doce Grace sentiu uma aura negra correr a cidade desesperadamente. A cor do luto. Somente o branco poderia trazer um pouco de paz e conforto afinal - continuou ela. - Além disso, uma aura rosada precisava fluir em um local específico. Mais importante que ter tudo o que o dinheiro pode comprar, é ter aquilo que ele não pode - finalizou ela, olhando para Vincent com mais uma risadinha de quem sabia mais do que revelava. - De qualquer forma, venha querido, vamos tomar um chá. Me conte mais sobre suas experiências - convidou, indo para o jardim na parte traseira, onde havia uma mesinha.


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Não sabia muito bem como reagir ao que Vovó acabava de revelar: como era possível uma Gardevoir ser empática o suficiente para pressentir energias pela cidade? Acho que existe muito para aprender ainda sobre os pokémons fada... Eu posso ser considerado um "especialista" por possuir e cuidar de tantos, mas ainda sou muito leigo perto da imensidão de conhecimentos que ainda vou adquirir. E que bonito pensar que Vovó usa da habilidade psíquica de sua pokémon para o bem! Tenho certeza que muitos na posse de Grace agiriam de outra forma, deturpando o poder mental da pokémon para o mal. Era um dom e uma maldição ser poderoso; que bom que Grace estava com Vovó.

Acompanhando a dona da floricultura até uma mesinha em seu jardim, reencontrava com Link e Taillow, que descansavam juntos debaixo da sombra de uma palmeira. Deveriam ter trabalhado muito, imagino. Me servindo de chá, conversava com Vovó:

- Olha Vovó, eu não fazia ideia de que sua Gardevoir podia tanto! E essa sua teoria das cores... Faz tanto sentido! Não sei como não está mundialmente famosa! Vivendo ainda numa cidade de cientistas como Rinshin, você deveria transformar esse seu conhecimento em estudos! Mas enfim... Só queria agradecer, antes de tudo... De alguma forma, eu precisava passar por tudo isso que passei hoje... Precisa me alinhar melhor com os meus... Sentimentos. Sabe o que digo? Vou levar as histórias que vivi hoje pro resto da minha vida!

Estava verdadeiramente agradecido. Pensava na felicidade que eram meus dias enquanto observava Serena acordar de supetão Link e Taillow, assustando os dois perversamente. Que espírito boboca... Como amava ela e o resto do time... e a minha vida.

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Pacifyrinshin • temperatura quente • fim da tarde
A idosa abria um sorriso ao ouvir os comentários do garoto, apesar de torcer um pouco os lábios ao ouvir sobre tornar seu conhecimento público. Ela então deu uma bebida no próprio chá e depois olhou para o céu, que no final de tarde, possuía exatamente sua cor favorita.

- As pessoas daqui costumam exigir sempre que as coisas sejam provadas. O ceticismo deles nas habilidades profundas que os Pokémon podem possuir bloqueia a própria capacidade deles de se comunicarem de novas formas - começou, olhando agora para Grace. - Minha doce Grace é uma Gardevoir cega, por isso só pode interpretar o mundo através do que conhece: emoções. Ela me ensinou, dia após dia, como compreender os sentimentos e como eles se manifestavam ao nosso redor - ela então voltou o olhar para Vincent. - Amarelo é a felicidade. Azul escuro é a tristeza. São as auras mais comuns e mais fáceis de interpretar, pois muitas vezes basta olhar para o rosto de alguém para reconhecê-las. Porém, se realmente tentar, verá um novo e completo mundo se abrir para você... ainda que não possa enxergar a luz - finalizou ela, se levantando com uma risadinha e fazendo um sinal para Gardevoir. - Volte sempre que quiser mais criança. Ou então ouse aprender em conjunto. De qualquer forma... - interrompeu, mexendo um pouco nas flores do jardim. - Essas flores parecem um tanto desanimadas. Elas amam dançar. Poderia fazer essa última gentileza por mim? - finalizou, adentrando a floricultura.  


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