#09 - Chave

 

Bem, o plano de nos dispersarmos era meu, mas não pude deixar de ficar um pouco frustrada assim que ele começou a ser colocado em ação. Suspirei e logo comecei a andar na direção norte.

— Até logo, Ty. — Disse, acenando e indo embora na direção contrária do Ranger. 

Estava sentindo falta de algo... De repente, comecei a ouvir passos. Eles estavam acelerando rapidamente em minha direção. Olhei para trás e lá estava...

Arthur, é óbvio. O símio de dois metros havia sido deixado na base com minhas malas, e eu confesso que havia esquecido disso... Dei um sorriso sem graça para o Pokémon, que me encarou com um olhar meio ofendido e chateado.

— Perdão, Arthur... Estávamos tentando resolver o problema e a solução foi justamente andar até outras casas... Você está bem? E as malas?


Seu silêncio aparente foi suficiente para que eu tivesse certeza que, o que quer que tenha feito com as malas, não foi guardar educadamente em um armário em meu quarto na base.

Bem, acho que agora não fazia diferença. Suspirei e acenei com a cabeça para ele, indicando que deveríamos seguir em frente. Ele fez um sinal positivo com seu polegar e logo começou a me seguir com seu coco em mãos. Não demorou muito para que chegássemos até a próxima residência. Essa que, para minha sorte, já tinha uma pessoa à vista. Isso me pouparia de ficar gritando por alguém. Era um rapaz loiro e sujo de graxa, então supus ser algum tipo de mecânico ou coisa do gênero.

Ah, o carro e a garagem também ajudam nessa dedução.

— Bom dia. — Disse, com um rápido aceno. — Meu nome é Karen. Essa casa aqui é sua? Gostaria de saber se anda tendo algum problema com o encanamento aqui da residência... Tipo alagar, ou alguma coisa assim... — Indaguei, notando que a pergunta talvez fosse meio estranha. — Isso tem ocorrido na base da minha sociedade aqui perto, então estava investigando para ver se era algo só lá... — Completei.

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10h10min  
"Sol forte, poucas nuvens . 32ºC"

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Enquanto caminhava, Tyrant, que brincava com a Pokébola, deixou Toko sair. Isso não pareceu um problema, já que o rapaz conseguia pactuar com ele um pouco de paz no momento, o que não incluía parar suas batucadas no asfalto da rua, causando um som envolvente para o primata. Tyrant, por outro lado, apenas ignorava isso, para ir pegar informações com o dono daquela vendinha, cuja porta tinha alguns jornais do dia amostra e algumas revistas. O homem de meia idade parava de varrer para poder encontrar com o rapaz.

- Opa! Problemas com água?- o homem achou estranho a pergunta, o que significava que parecia ser novidade para ele. Ele pediu uns minutos para poder verificar... De fora da venda, Tyrant notava o homem entrando no banheiro e ouvia duas coisas: coisa 1 – a torneira aberta, enquanto a água descia pelo ralo. Coisa 2 – Uma descarga, que em seguida era acompanhada de um “merda” bem baixinho.

O homem saia do banheiro correndo, enquanto notava a presença de Tyrant logo na sua porta de vendinha. - Rapaz, parece que a água não tá descendo... A da pia até estava indo, mas a água da privada pareceu voltar imediatamente... Isso pode ser um problema... Você tá com este problema também? – agora era o senhor dali que queria saber se era algo na venda dele, que ele teria que consertar, ou algo generalizado, que precisaria ligar para a prefeitura, por ser um encanamento na rua...


Após a troca de olhares e retorno de Arthur, Karen seguia pelas ruas. O símio escondeu sua frustração de ter sido deixado para trás, equilibrando para onde ele deixou as malas de Karen, história para mais pra frente... Agora, o loiro que estava consertando a sua picape deixava os materiais de lado para dar atenção a menina bonita que estava andando pelas ruas. Privilégio ter um sorriso correspondido... Pena que ele notou logo que não era uma resposta ao seu flerte, mas um pedido de informações. Isso fez um sorriso sem graça nele, enquanto suspirava, ao passo em que limpava suas mãos.

- Bom dia, moça. Me chama Dake, moro aqui com meus pais. -dizia, saindo mais da garagem para poder ver a menina e seu primata. - Pokémon legal, o seu... Agora, água? Acho que não... Pelo menos, não que eu saiba...

Neste momento, o rapaz saia por completo da garagem, espremendo-se do lado do carro, enquanto pensava melhor. - Vale a pena conferir... Você quer entrar? – convidava a menina.

 

O rapaz logo se apresentou como Dake. Ele disse que morava ali com os pais. Essa última parte eu não entendi muito bem porque foi dita, mas acho que é indiferente agora...

— Obrigada. É um Passimian, nativo de Alola. — Falei, e Arthur logo mandou um jóinha com sua mão.

O rapaz comentou sobre convidar para que eu entrasse em sua casa para verificar, o que honestamente não me pareceu suspeito ou coisa do gênero. Bem, a menos que ele quisesse fazer alguma gracinha. Mas, neste caso, faria questão de usar meu "Pokémon legal".

— Bem, acho que tudo bem. — Comentei. — Só me dê um minuto.

Após dizer isso, mandei um rápido SMS para o Ty. Já havia feito algum tempo, então talvez ele tivesse alguma posição sobre o que estava ocorrendo do lado dele. Ao que tudo indica, poderia não ser algo da rua, já que Dake não sabia de nada...

SMS 2021 escreveu:

Ty (°ロ°) !
Encontrei um mecânico e vou entrar em sua casa para ver se é um problema do bairro ou apenas nosso. E por aí?
Beijos (´• ω •`) ♡

Hum... Acho que esse "Beijos" foi desnecessário, mas eu geralmente deixo ele escapar as vezes... Bem, já enviei. Agora, tanto faz!

— Podemos ir indo, então, Dake. — Decidi então seguir o rapaz, acenando minha cabeça para que Arthur também viesse em seguida.

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Aparentemente, se tivesse algum problema na área norte, era bem recente, pois Dake não sabia dizer bem o que era. O rapaz avançava para a sua residência, enquanto Karen o seguia atrás. A casa dos pais do rapaz era uma típica casa de classe média, bem limpa, aconchegante, com cara de família. Ele seguia para a cozinha, enquanto Passimian e Karen iam logo atrás. Na cozinha, bem grande, arejada e iluminada, o rapaz ia até a pia que ficava na lateral e abria a torneira. - Bem, pelo menos água está saindo...

O rapaz deixava a água correndo por ali, enquanto, em poucos minutos, o ralo da pia não foi mais o suficiente para poder escoar a água. Claro que na vida real demoraria mais tempo, mas vamos ignorar isso nesta história. - Epa...- dizia, enfiando a mão na pia e fazendo pressão, além de desligar a água e assim esperava que a água descesse. Desceu bem devagar, mas desceu. - Estranho... Minha mãe não falou nada e ontem não estava assim... Onde você mora também tá assim?? – o rapaz questionava, curioso.

Tyrant conseguia a informação que queria: Era um problema na rua, logo, cabia a prefeitura resolver aquilo. O dono do bar ria do comentário da briga e disfarçou como se ele não soubesse nada. Assim, o ranger retornava para a base, enquanto via de longe as irmãs ChingLings continuavam encarando uma a outra, enquanto os trigêmeos permaneciam ao redor delas, evitando uma morte eminente do nada.

Enquanto o moreno chegava mais perto, ChingLing se aproximava, enquanto tyrant notava que não tinha nem mais os turistas curiosos, possivelmente, desistindo tanto de tomar um banho quente, na casa de banho, quanto de ver a briga. - Meste Turant! O que o senhor conseguiu?? Podemos processar a casa de banho?- os olhos de ChingLing brilhavam na esperança de ferrar com a irmã, enquanto a outra era contida pelos pequenos... Ah, tem a mensagem de Karen aí...

 

Segui Dake para dentro de sua casa. Aparentemente, não haviam problemas graves. A partir do momento que saiu água da torneira do rapaz, mentalizei que "não era um problema da rua, então".

Mas bastou pensar isso para que os problemas aparecessem. A água teve dificuldades em descer após algum tempo, indicando que havia sim um problema de encanamento, ou algo do gênero. Coloquei a mão no queixo enquanto Dake me perguntou.

— Sim... Aparentemente, é um problema da rua, então... Lá na base da minha sociedade também estamos com um problema desse...

Por sinal, estranho não ter recebido nenhuma  resposta de Ty até agora. Enquanto fitava o celular em minha mão, comecei a pensar... Será que ele não leu o SMS? Bem que podia existir uma ferramenta de mostrar que foi lido, né! Seria muito prático.

— Muito obrigada, Dake. — Disse, desviando o olhar do celular. — Vou voltar para a base e ver o que consigo fazer a partir daqui... Talvez ligar para a prefeitura? — Indaguei, meio que retoricamente.

Bem, acho que era tudo que eu precisava fazer por ali. De qualquer modo, seria meio mal-educado sair abruptamente, então olhei para o rapaz de novo.

— Hum, poderia me levar a saída? — Eu disse, mas mesmo assim comecei a me direcionar pelo caminho que havíamos vindo. Enquanto isso, dedilhei mais um SMS.

SMS 2021 escreveu:

Não é um problema só na rua! Σ(°ロ°)
Não sei se vou chegar a tempo das senhorinhas brigarem, então caso você chegue primeiro, diga para elas isso!

E dessa vez lembrei de não botar "Beijos".

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Confusão, dedo no olho e gritaria. Tyrant voltava para o tumulto, embora não estivessem mais brigando de fato. As duas senhoras estavam apenas em rinchas de olhares, enquanto a movimentação diminuía naquela rua. As duas senhoras continuavam se olhando de um lado para o outro, enquanto o ranger intervia. A prefeitura atendia o rapaz com pressa, em especial, a secretaria de serviços públicos. Pediram desculpas, disseram que iriam mandar uma equipa para lá, mas não deram prazo ou data. O tramite poderia demorar um pouco, mas ao menos estava encaminhado.

Já ChingLing, ainda, espumava uma raiva em sua irmã, possível. Tyrant conseguia tirá-la de perto, enquanto conversava com ela mais de perto. - Meste Turant, esta dissimulada sempre foi cabeça oca, desde pequena. Não faz nada certo!- talvez aquilo fosse uma afirmativa em serem irmãs. - Tudo que toca, quebra, tudo que faz, quebra. Mata até planta!- ChingLing era até engraçada fazendo gestos e caminhando de um lado para o outro, enquanto mostrava seu descontentamento com a irmã; - Teve sorte de herdar a casa de banho do finado marido, agora tá aí! Mas não se preocupe com isso, Meste Turant! Não vai ser a primeira vez que isso acontece aqui, nem a última! Vejo que outro sócio chegou hoje... Se vier a pefetura, eu mesmo recebo e oriento. Pode deixar!- a pequena mulher se mostrava toda prestativa.

Já Karen ainda estava saindo da casa de Dake, quando notou Tyrant de longe. O rapaz loiro que a acompanhava, ainda um pouco sujo de graxa, ia com ela pra saída. - Vou lembrar de avisar minha mãe assim que ela chegar... É estranho, né? Enfim, foi um prazer te conhecer, Karen... A gente sempre ver a residência de vocês, mas achamos que a mulher baixinha que era dona, já que a gente não vê ninguém, além dela, cuidando de tudo. - dizia o rapaz, referindo-se à ChingLing. - A propósito, qualquer coisa! QUALQUER COISA, pode me falar... - e aí surgia aquele sorriso galanteador, tentando informar que qualquer coisa, era qualquer coisa mesmo, inclusive, QUALQUER COISA. Ora, Karen não tinha anel, então Dake não estava errado...



Seja por estar muito ocupado ou por não saber mexer em SMS, Tyrant não respondia a menina de cabelos rosados, fazendo com que ela e Arthur retornassem para perto do ranger depois. Claro que o símio deu uma crise de ciúmes no QUALQUER COISA de Dake, tentando mostrar que o único macho que preste era ele. Talvez não estivesse bem errado... Após um pequeno momento naquela rua, os dois sabiam que contariam com a prefeitura e o belo funcionamento do serviço público para resolver aquela situação... O resto, eram Tyrant e Karen que decidiriam o que fazer... Praia? Laboratório? Jantar? Cinnabar era uma ilha com zona urbana pequena, mas cheia de atrativos...