Lá e de volta outra vez!

– Ah, sim. Eu não contei? – parecia genuinamente na dúvida, também um pouco preocupado pela possibilidade de seu discurso ensaiado estar falhando em algum ponto – O evento todo dura três dias! Estamos aproveitando o feriado local, sabe?! E a prefeitura vai "enfocar" o dia seguinte. – apontava então para o folder, sinalizando que as informações estariam ali também – As batalhas tem início essa noite! Depois das primeiras, as demais chaves acontecerão amanhã ao longo de todo o dia. E a grande final, essa vai ser na manhã do último dia, durante o encerramento do festival!

De fato, o panfleto tinha os horários prováveis das coisas. Digo prováveis porque, sabe como é, sempre podem ver atrasos, né?! Nesse caso, então eis que a primeira rodada das batalhas estava programada para as 17 horas. Na praia, é claro. Certamente os organizadores gostariam de pegar o por do sol, tanto para os registros de imagens quanto para a atração dos turistas e treinadores.

Por falar nestes últimos. Galvanis não era o único de recursos financeiros escassos. Sorte que eles desfrutavam de benefícios e patrocínios que ajudavam em situações como essa. Era o caso da isenção na participação das batalhas, e também a tradicional hospedagem oferecida pelo Centro Pokémon local. No pior (ou melhor) dos casos, certamente que numa cidade turística como essa deva ter um lugar legal com um bom desconto para treinadores. Será que isso se estendia àquelas barraquinhas da feira? Quem sabe tem algo legal por aí também, né?!

Galvanis – Manhã | 32ºC – Slateport

Desfrutando de um tempo livre, Galvanis ficava até meio na dúvida do que fazer com aquilo, já habituado às constantes idas e vindas de uma rotina intensa de treinador. Sua opção mais imediata era, sem dúvida, a feira onde já estava.

Descobriria logo que ela era maior do que parecia, vista de fora. Ocupava o equivalente a um quarteirão, talvez até mais, e se organizava em inúmeros corredores, paralelos e transversais uns aos outros, como se fossem ruas largas o suficiente para no máximo umas seis pessoas lado a lado passarem - ou três, nas vias menores.

Cada parte tinha meio que um eixo temático cujas lojinhas eram especializadas, então já dá pra imaginar que a diversidade era imensa: comidas, insumos, produtos de beleza, artesanato, utensílios, roupas, brechó, música... Tinha até mesmo uma parte só para a diversão, com jogos e brincadeiras típicos de um parque aberto. E, obviamente, como não podia deixar de ser havia também uma área excelente para treinadores. É uma pena que o jovem Ranger não estivesse prestando tanta atenção assim, porque uma delas oferecia até mesmo o ensino de movimentos (vulgo TMs e TRs) com desconto.

Contudo, Slateport não se resume só a essa feira. Há toda uma vida ativa fora dessas ruas. Um porto, com litoral e orla que podiam ser explorados de alguma forma - nado ou pesca, por exemplo. Até mesmo as próprias praias, sobretudo aquela onde o evento mencionado ocorreria. Seria interessante conhecer o lugar e as condições dele? Quem sabe?!

Galvanis – Manhã | 32ºC – Slateport

Eis então que Galvanis se deu conta que definitivamente a feira não resolveria seus problemas e desejos. Já tinha extraído dali o máximo que podia dentro dos seus objetivos, restando nada mais além de informações para colher.

Para aquela que possivelmente seria a sua última naquele lugar, o ranger nem escolheu muito. Virou-se para a atendente na barraca mais próxima, onde um senhor de idade, pele morena e claramente judiada pelo sol, vendia vários artesanatos - cinzeiros, porta-joias, brincos, colares, pequenos quadros, enfeites de resina -, todos feitos com coisas do mar, como conchas, pedrinhas e partes não questionáveis de Pokémon e animais marinhos.

– Uh, hahaha! – ria da empolgação do rapaz – Só um treinador jovem e vigoroso mesmo pra não se perder de apreciar a feira. Não julgo, ah eu na sua idade... – e dava aquele suspiro clássico dos mais antigos lembrando a juventude – Olha rapaz, temos muitas praias por aqui, e nelas sempre tem treinadores buscando ação. Mas, na minha época, os marinheiros do píer leste viviam desafiando uns aos outros por batalhas e outros jogos de aposta. – remexia em coisas na sua bancada enquanto falava – Não acho que tenha mudado muito desde então. Slateport não é uma cidade atrativa pros treinadores pois não temos Ginásio. Então, sabe como é, sempre demos nosso jeitinho. – e sorria um riso já com alguns dentes faltando.

O homem também aproveitava pra apontar a Galvanis algumas das artes que vendia ali, como que pra atrair o rapaz para as compras, nem que fosse de um peso de porta que era apenas uma estrela amarela-dourada que muito se parecia com a que decora a cabeça de um Crawdaunt.

Galvanis – Manhã | 32ºC – Slateport

E foi com gentileza e humor que o velho senhor fez um cliente! É claro que atendeu aos pedidos com um largo sorriso, tratando de separar os itens pedidos pelo rapaz e embalar cada um deles.

Os brincos foram num saquinho delicado de pano amarelo dourado, também artesanal, fechado num laço simples de corda; rústico mas elegante. O pingente, não sendo para presente, foi acomodado numa embalagem de plástico transparente antes de ir para um saquinho de papel pardo.

– Ora ora, vai fazer um par então! – resmungou assim que se deu conta de que uma das aquisições era outro pingente de concha.

As mãos enrugadas escondiam a habilidade que o artesão revelou ter com elas, quando tomou o colar do ranger e tratou de tirar o pingente do cordão antigo. Como aquela não era nenhuma joalheria de luxo, a conchinha de inúmeras lembranças foi parar num cordão novo, tão grosso quanto um cabo de carregador, feito de linhas bem trançadas e firmes, nos tons e cores desejados pelo rapaz.

– Aqui está, camarada. Se estiver do agrado, te faço tudo por 50 Pokédólares. – ficava na expectativa, é claro, pois também sabia que a barganha existe para ser praticada, quando possível!

Galvanis – Manhã | 32ºC – Slateport

– Uhuhuuu, eu é que não vou reclamar! Muito obrigado, meu jovem. Volte sempre e boas aventuras! – despediu-se o vendedor, muito grato pela generosidade recebida.

Quando recebeu o acessório, Kinney ficou um pouco surpresa, até sem jeito pelo gesto. Enrubesceu, mas escondeu a face inclinando a cabeça pra baixo. Ela entendia o que significava aquilo e o que seu treinador dizia. Estava lisonjeada com tudo, mas não sabia como demonstrar a não ser sorrindo e resmungando, tímida, um agradecimento em sua língua.

Enfim, de volta pelas ruas da cidade e se distanciando progressivamente da feira, Galvanis começava a encontrar uma nova paisagem. Os caminhos que levariam para o píer que o vendedor mencionou eram bem menos agitados que aqueles tomados para chegar até a galeria de barraquinhas onde esteve. Já via ruas mais estreitas, que cabiam apenas um veículo em cada sentido, e algumas ainda menores onde só um veículo passava por vez.

Deixava também a área mais comercial, vendo vias inteiras só de pequenos prédios residenciais, uns até nem tão bem cuidados quanto se esperava. Quando os Wingull começaram a gritar pelo céu foi também o momento que o ar salgado vindo do mar pôde ser sentido novamente; para o olfato apurado de Kinney, até um precoce odor de peixe veio junto, mas o moço só sentiria este minutos depois.

A partir de certa esquina, a rua abandonava o asfalto para se apropriar dos blocos de concreto, e as casas foram substituídas por muros envelhecidos e grandes galpões. Dali dava pra ver a orla, indicando que ao fim dele estava o cais. Tinha aquele aspecto rústico típico de galpões para onde as mercadorias dos navios eram levadas. Por falar em navios, havia alguns deles atracados ali, com uma movimentação até bastante intensa em suas áreas abertas e também no próprio cais [[imagem ilustrativa].

Talvez nem fosse preciso procurar muito pelas aventuras desejadas, já que de metro em metro, a tripulação dos próprios navios se reunia ao lado deles fazendo atividades diversas. Enquanto comércio, carga e descarga ocorriam, havia também os grupinhos que bebiam, comiam, riam; um barril improvisado como mesa servia de base para jogos de carta, outro mais adiante para apostas. Sempre com círculos de gentes reunidas para ver o que rolava; certamente um com batalhas devia ser dos maiores aglomerados, e dos mais intensos também. A propósito, havia um destes, já quase no fim do cais, mais ao norte, numa parte já bastante distante das ruas de acesso.

Galvanis – Manhã | 32ºC – Slateport