Oblivion

---

É isso mesmo, caro Luke. Não tem como não ficar animado e ansioso só pela ideia de uma fucking pirâmide toda turbinada, carregada de tecnologias, mistérios e aventuras. Ou pelo menos era o que se tinha propagandeado por diversas mídias ao longo dos últimos dias.

Brandon, um dos Cérebros da Fronteira e residente de Hoenn tinha resolvido das as caras depois anos. O próprio tinha aparecido em jornais, falando diretamente com os treinadores para desafiá-los a toda sorte de coisas que poderiam encontrar em sua Battle Pyramid. Isso, é claro, com a promessa de glória e muitas recompensas.

A pirâmide do Cérebro da Fronteira viajaria de cidade em cidade, por Hoenn e Tohjo, recolhendo para seu interior os treinadores dispostos a encarar os desafios, sobretudo um Lendário igualmente misterioso que o próprio Brandon apresentaria ao fim... Mas, fim do que exatamente? Descobriremos em breve.

Horan e seus filhos deixavam o Centro Pokémon sem precisarem se desviar muito para encontrarem a Pirâmide. Não só pelo tamanho dela, que permitia vê-la de longe, mas também porque praticamente toda a cidade parou para ir até lá também.

Aqui em Mauville a Pirâmide precisou pousar no próprio aeroporto, já que era o único lugar com espaço aberto disponível para ela. A mídia estava lá, com suas câmeras e flashes e microfones; até Wattson estava ali, rodeado de seus aprendizes, o orgulho saltando até pelas frestas dos dentes que ele expunha em largos sorrisos.

Aos treinadores estava reservada uma passarela única, isolada do restante do público. Ela os conduzia direto até uma das laterais, onde a larga porta se abria para um grande salão monocromático, cinza, com uma música instrumental ambiente. Lá os treinadores se reuniriam, podendo desfrutar de petiscos e bebidas não alcoólicas pelos próximos minutos. A expectativa e ansiedade eram quase palpáveis, mas nada haveria de acontecer até que as portas se fechassem e a pirâmide levantasse voo para a cidade seguinte...

Eu falei aeroporto?! Vamos fingir que seja na área de um futuro aeroporto, que Wattson esteja planejando instalar na cidade, já que pra ser honesto fui ver ali e ela ainda não tem um... Detalhes, detalhes.

Lá dentro cada treinador encontrou sua própria forma de passar o tempo, comendo, bebendo, conversando, se encostando nalguma poltrona; enquanto mais e mais dos seus iam se reunir ali naquele salão. Até que, finalmente, a estadia da Pirâmide em Mauville se encerrou e as portas começaram a se fechar. Também tivemos aqui nossa versão de "atrasados do Enem", com gente se espremendo pela fresta das portas até o último instante; bem como os que ficaram de fora. Desespero tolo, já que se fossem ligeiros conseguiriam reencontrar a Pirâmide na cidade vizinha em alguma hora do dia.

A música ambiente, que já quase não podia ser ouvida pelas conversas, parou de vez e, numa parede onde antes os painéis mostravam os logos de patrocinadores, agora havia de um lado uma imagem do exterior da Pirâmide mostrando a geringonça alçando voo. Outra parte do telão deu lugar a imagem de um Rotom Drone que tinha os olhos vidrados voltados pra outra direção.

- Natasha, buonassêra Natasha. Buonassêra Katuxa. Natasha ééé... Te coza algura la nossa grande diva Brandola lançar questa cera que veni con de le grandi novitá per tutti nói... Tá gravando?! - interrompido num momento íntimo o Pokémon-aparelho olhou na direção da tela, que também devia ser a da câmera que o captava; seus olhinhos se "apagaram" por um instante e quando voltaram a surgir ele sorria.

- Buon-Bom dia treinadores! É com prazer que Brandon, o Cérebro da Fronteira lhes dá boas vindas à sua Battle Pyramid! Em instantes serão separados em grupos para entrarem. Mas, uma vez lá dentro, estarão sozinhos para enfrentar as provações e obstáculos que irão surgir; espero que estejam com as mentes e Pokébolas afiadas, hehehe! - tremia de um jeito exagerado ao rir - A partir desse momento, meus colegas, seus Rotom Phones, não terão mais comunicação com o mundo exterior, então não adianta mandar mensagem pro coleguinha ou pesquisar no Pookle. Glória, força e riquezas aguardam os que conseguirem chegar até o centro da Pirâmide. Mas não será nada fácil, pois até seu aliado pode se tornar seu pior inimigo. - sua voz robótica se tornava mais grave pra repassar seriedade nesse último trecho.

- Quando seus nomes forem chamados, por favor se dirijam até as cabines elevadoras no fim da sala. Com isso, desejamos sorte e diversão à todos! Estarei acompanhando cada um de vocês, porque tenho olhos em todos os cantos, porque EU SOU O CÉREBRO AQ-desculpa, chefe. Até logo! - e sumiu, dando lugar aos patrocinadores de novo.

Battle Pyramid - Manhã | 22ºC - Seth

- Lukas Specter Horan. - chamou a voz robótica do além - Lukas Specter Horan. Cabine sete. - como ele sabia o nome completo das pessoas? Sincronização de dados remotos com os dispositivos de identificação que todo treinador possui, é claro!

Até aquele instante, a voz já tinha convocado outros tantos treinadores, sempre em grupos de sete pessoas, que se dirigiam até o fundo do saguão. Lá a parede tinha sumido, dando lugar a um conjunto de sete "cabines", como eram chamados os elevadores completamente de vidro onde cabia uma única pessoa por vez. Cada cabine tinha ainda um pequeno suporte, também de vidro, onde uma bandana de pano, de cores diferentes, se encontrava.

- Pode pegar sua bandana de identificação e usá-la como desejar. - ele ouviria só para si, quando já estivesse em sua cabine.

A bandana de Luke era Roxa, coincidência ou não, a sétima, pois cada uma das outras representava as demais cores básicas do arco-íris. Por falar nos outros; Horan, como o último, poderia ver todos os demais "colegas" já aguardando em seus respectivos postos. Era um grupo bastante diverso em gêneros e idades, o que não dizia muito sobre critérios para selecioná-los.

Assim que o especialista estivesse em sua posição e com a bandana colocada, a porta de sua cabine fecharia, no melhor estilo Katniss Everdeen sendo trancada pra ver seu mentor morrer antes dos jogos começarem. Em segundos, ele teria a sensação característica de quando o elevador sobe, mas fora isso sua viagem seria bastante silenciosa e mal iluminada, pois só a luz branca ambiente da cabine servia de apoio.

Em alguns minutos ele finalmente veria algo além das paredes metálicas que o cercava; enxergaria o chão, enquanto sua cabine saía dele e subia, pouco a pouco. Os vidros só iriam se abrir de novo quando Luke estivesse com os pés no nível do solo. Se encontraria completamente sozinho num longo corredor de paredes muitíssimo altas naquele mesmo metálico monótono. O teto não se ligava a elas, ficando a ainda mais metros acima.

- Que a sorte esteja sempre a seu favor. - ouviria a voz robótica uma última vez, seguida de uma musiquinha instrumental melancólica. Assim que Luke deixasse o elevador, ele sumiria, pois voltar não era uma opção.

Battle Pyramid - Manhã | 22ºC - Seth

Assim que Luke deu os primeiros passos, antes de chegar ao centro do corredor - que a propósito não tinha nenhuma saída - sentiu o tremor sob seus pés. Pela inércia que o jogou para o lado esquerdo, fica evidente que o corredor inteiro se movia para a direita. Isso também ficou notável quando a pequena área onde o elevador pousou começou a sumir, aos poucos, dando lugar a uma parede sólida.

Muito lá adiante, acima de todos os muros, onde a percepção de Luke diria ser o centro da pirâmide, devia haver um grande letreiro eletrônico, pois o número dez apareceu instantaneamente, assim como a voz robótica aumentada. A contagem regressiva registrou os exatos dez segundos em que o corredor se deslocou, fechando o caminho por onde Horan veio, e abrindo um novo à sua frente.

- ... Quatro, três, dois, um. - encerrou a voz, ao mesmo tempo em que o contador tornou a sumir no ar, lá na frente.

Agora sim o labirinto se mostrava. O corredor de Luke se abria a um outro igualmente comprido, sem saída à vista lá na frente, mas ramificações para os lados onde ele podia acessar; exatamente duas em cada lado. O primeiro caminho à direita, ele viria a descobrir caso testasse, o faria apenas andar em círculo, culminando na segunda ramificação da direita. Já o primeiro caminho à esquerda daria em outra curva, esta definitivamente sem saída.

Quer por intuição, sorte, praticidade ou simples tentativa e acerto, Horan descobriria que o caminho correto era do segundo à esquerda. Ele se estendia por alguns metros, fazia uma curva abrupta para a esquerda, e por mais pouco metros à frente se dividia numa bifurcação clássica... Tudo naquele metálico monótono que só refletia a imagem do rapaz de uma forma bastante embaçada e distorcida. Nenhum sinal de outros participantes, nem de pistas, nem desafios. Só um labirinto, por enquanto...

Battle Pyramid - Manhã | 22ºC - Seth

É, definitivamente aquela falta de desafios ia durar pouco. Por mais que ele não fosse encontrar o primeiro depois de muito caminhar pela opção da esquerda, a escolhida. No espaço de três minutos em que entrou ali, um som grave e alto soou em algum lugar do labirinto, como um canhão; uma música solene soou em seguida, e de onde devia ser o centro da pirâmide um pó amarelo foi atirado para o ar e começou a cair com leveza, até sumir de vista.

Voltando ao nosso especialista. Ao se ver sempre em curvas sem saída, que só o faziam perder tempo, Luke descobriria que a única opção possível era voltar ao começo da bifurcação e, óbvio, escolher o caminho da direita. Este também tinha suas transversais sem saída no começo, e em certo ponto a última das curvas revelaria outro canto sem saída. Ou ao menos era o que pareceria à primeira vista. Isso porque, diferente de todos os outros trechos que terminavam numa parede sólida, este aqui tinha um par de obeliscos; um em cada lado no fim do corredor, poucos centímetros mais altos que o especialista.

Luke precisaria se aproximar deles para acionar um mecanismo que fez surgir na parede uma tela, e abaixo desta se projetou uma espécie de gaveta, contendo um dispositivo similar a uma mesa de digitação, com caneta especial própria pra usá-lo. Mas só quando estivesse quase lado a lado com os obeliscos é que as coisas tornariam a reagir de uma forma mais significativa.

Digo isso porque foi só aí que um "zunido" pôde ser ouvido, vindo de cima. Era Rotom Drone quem se aproximava, sabe-se lá de onde tenha surgido. Tinha aquele sorriso esquisito no rosto quando falava na mesma voz robótica que se ouviu todas as vezes até aqui, no melhor estilo Orianna.

– Olá! – quando se aproximou, seus olhos foram automaticamente atraídos pela braçadeira roxa do rapaz, quase como mágica, e aí assumiram a mesma cor (antes estavam vermelhos) – Parabéns, Lukas, chegou ao nosso primeiro desafio! Já deve ter notado que nenhum caminho mais tem saída, porque a única está aqui. Pra passar, precisa encontrar a resposta correta. – foi então que na grande tela e também na mesa apareceu a mesma imagem: um quadrado reticulado, contendo séries de números em cada linha e coluna.


– Cada número representa a quantidade de quadrados que você deve preencher em cada linha e coluna. Para uma sequência ser considerada válida, ela precisa ter o espaço mínimo de um quadrado vazio das demais na respectiva linha ou coluna; ou encerrar nos limites do diagrama, é claro. Seu objetivo é, com isso, formar a imagem de um Pokémon. Ao pressionar o botão amarelo no canto inferior direito, você diz ter concluído sua tarefa. Você tem 3 chances para acertar a imagem do Pokémon. Qual será ele? Deve decifrar a charada para descobrir. – e então, na base da tela, abaixo da imagem principal surgiu um texto em versos curtos e simples, a pista:

Desafio 1 escreveu:

Se o corpo ele espicha,
Frubbles te esguicha.

De dia não o restrinja,
Que de noite vira ninja!

– Que a sorte esteja sempre a seu favor. – desejou Rotom, antes de voar até o topo de um obelisco, de onde podia ter o melhor ângulo para filmar Luke em sua tarefa.

Battle Pyramid - Manhã | 22ºC - Seth