[Battle Pyramid] Muito pontudo para ser um disco voador

Pra ser bem sincera, Severino já estava PRESTES A DAR UM ESPORRO. Uma pena que não rolou; seria um ótimo desabafo para o trabalhador já sobrecarregado. Como Hiro mesmo se consertou; bastou Severino ir para as respostas em ordem:
- Sim, é um banheiro feminino. Dos três conhecidos temos sim mulher ou mulheres. Por enquanto não temos pistas do caso. Ainda assim não, o assassinato não foi feito por um pokémon. As suspeitas podem possuir pokémon consigo, mas isso é indiferente. A segunda pergunta sobre pokémons também é indiferente. Ela chegou a se encontrar com o rapaz do Tinder sim.

Logo em seguida ele deu uma pausa e mutou o microfone. Severino estava ocupado folheando um livro de casos estranhos; sendo dele a base e a referência para aquele enigma. Ora ou outra suas respostas demoravam um pouco; até que após alguns segundos de delay, o homem respondeu:
- Sim, é possível encher o saco da narradora no private - Um "hã???" foi ouvido pelo outro lado do microfone, por um instante Severino não entendeu o que ele mesmo falou, tossiu um pouco e logo voltou ao padrão do enigma - Hmm... como estava dizendo, você tem mais doze minutos.

Sabe o que é meio cômico nisso tudo? O Cthaeh cansou de sobrevoar o "corpo" e pousou no chão, bem no meio da marca do corpo.

O Cthaeh, ou Kuth, ou seja lá qual seja seu nome, ficaria ali pelo tempo que levasse. Com, o Cthaeh sabe a resposta; mas veja bem, Mahiro, eu nunca lhe disse que você >precisa< responder, caso contrário perderá o desafio. Só acho que seria de bom gosto vê-lo brincar um pouco mais:

- Oh, agora sim você pegou o espírito da brincadeira! Vamos lá! - Deu uma pequena pausa, arregaçou as mangas e arranhou a garganta - Primeiro de tudo, não posso dizer que a bebida estava envenenada, mas sem dúvidas adulterada. Talvez tenha "falado demais", mas foi uma boa pergunta. Ah é, sim! Um dos conhecidos conhecia a pessoa no Tinder. Além disso, sim, alguns ou algumx conhecidx não estariam lá se sentissem que tinha esta opção. Digamos que ela brigou com alguém antes sim; mas quem nunca brigou na vida, não é?! E por fim... não, não é de relevância saber que pokémons podem entrar.

Era engraçado porque Hiro parecia bem empenhado naquela solução. Na verdade, era impossível que um garoto sozinho desvendasse o caso todo; mas só de saber quem e como, já era mais que o suficiente. Talvez a motivação lhe ajude; seja qual fosse a resposta, Severino já estaria mais do que orgulhoso do rapaz.

Já Cthaeh?! Este já rolava no chão entediado, tentando projetar na parede um novo filtro com cabelos bonitinhos, só que presos em um belíssimo rabo de cavalo. Só assim que ele parou de rolar para um lado e para o outro no chão, apesar de ainda se manter sobre o corpo.

Severino estava um pouquinho animado com a situação; e devo admitir que era ele quem estava animado, não eu! Eu já sei a resposta; enquanto ele, apesar de saber, se divertia em montar um cenário.

Veja bem, eu SEI que esse tipo de jogo é difícil; mas é exatamente por isso que eu gosto deles. Algumas perguntas são irrelevantes, mas há prazer em responder. Severino era um desses que se empenhara em botar "distrações". Hiro já reconhecera uma delas; a existência de pokémons na narração original. Bastava agora ele saber mais algumas e seguir na história que parecia mais coerente.
- Hmmm, não sei se seus múrmuros são perguntas, mas responderei mesmo assim, ok?! - Era engraçado como se tornara possível ouvir o piscar de olhos do homem - Não, ela não tomou um "boa noite Cinderela". Sim, ela tomou alguma droga alucinógena. Sim, ela desmaiou no banheiro. Sim, ela teve algum tipo de lesão grave; apesar de eu não poder averiguar para você a sequência dos fatos como você acha que aconteceu. Talvez ela tenha sofrido uma lesão ao desmaiar ou ela tenha desmaiado por ter sofrido uma lesão... Não foi Ciúmes a causa da "adulteração" da bebida. O cara do Tinder tinha as mesmas intenções que qualquer cara do Tinder: transar.

Bem, eram respostas a perguntas que talvez ninguém tenha feito; Severino até se sentia um pouco "bondoso" quando fazia isso, afinal de contas, quem ajuda santo é! Fora só depois desse bocado de respostas que Hiro levantou a cabeça e fez de fato perguntas diretas:
- Oh, eu não sou Juiz nem Júri, mas pra mim foi Culposo sim; porém já não digo que há possibilidade de ser Doloso. Quando ela tomou a bebida, já não estava mais com o cara no Tinder. O histórico dele é Indiferente. A Pessoa que conhecia o homem do Tinder tinha algum sentimento por ele, mas se está perguntando em relação a "amor", a resposta é não. Sim, tinha esse "tipo de sentimento" pela vítima por parte de um conhecido. Sim, mais duas pessoas tinham pedido Gin Tônica junto da vítima. Não, não há mais ninguém relevante na história.

- Hmmmm, começo a entender suas perguntas. Seu caminho é interessante, gostei! Só que você está pensando em intenções em um Homicídio Culposo, talvez não devêssemos começar a pensar em "acidentes onde alguém tem culpa"? - Indagou Severino, já sabendo que começava a "discutir" o caso com Mahiro. Algo que não prometeu fazer; mas que certamente lhe divertia - Bem, eu posso confirmar com certeza que quem colocou a droga na bebida queria que a vítima bebesse. Por outro lado, nego completamente que a pessoa que botou droga na bebida da menina estivesse com a intenção de levá-la para casa. Digo também que nenhum dos suspeitos adulterou a bebida da moça. Assim sendo, também confirmo que não foi um homem que adulterou a bebida da moça.

Quando Severino parou de falar, meio segundo de silêncio tomou a balada. As silhuetas continuavam amontoadas em um canto e Cthaeh mantinha-se entretido com sua sombra. Era engraçado como o robô estava fazendo algo completamente distinto e alheio da situação; ao mesmo tempo que seu alto-falante emitia a voz de Severino.

Só que o que quebrou o silêncio foi um pequeno cronômetro, que logo pôs Severino a falar:
- Ok, sete minutos e meio. Foi metade! Te darei alguns indicativos então - Disse, com a resposta na ponta da língua - Primeiro, vou lembrar você que ela estava tomando Gim no Bar e foi ao banheiro. Eu não disse que ela tomou um gim ou se ela tomou um bocado; fato era que ela estava bebendo no bar. Desde quando? Não posso lhe dizer. Ela só bebeu? Também não posso lhe dizer. Ocorreu mais algo? Talvez. Seja lá o que aconteceu antes ou durante a bebedeira, fato é que antes de ir no banheiro, ela estava bebendo Gim - Uma dica horrível, tenho certeza que sim - Outra dica que lhe dou...  e essa pode mudar bastante o caso... ou não... É que um dos conhecidos dela é o Barman.

- BINGO! O Barman matou ela! - Anunciou Severino, que já comemorava suas boas dicas - Ok, ok... essa não é toda a história, mas podemos dizer que você ganhou certo "passe livre" para ir à frente. Pode ser?! Continuaremos ela mais tarde.

Gastarei um tempo falando sobre Severino. Primeiro de tudo, ele era um viúvo de sessenta e nove anos. Casou-se com uma mulher dez anos mais velha, quando tinha apenas vinte anos. Naquele tempo, o relacionamento deles era um tanto quanto mal visto, mas com muito amor tudo se resolveu. Benedita (sua mulher) não tinha lá tanta sorte assim... casando-se com trinta anos, só conseguiu ter um filho. Digo que isto é um azar, porque o sonho daquela mulher era ter uma renca! Nasceu assim Katalina; os outros três filhos de Severino foram todos adotados.

Hoje eles estão relativamente crescidos. Com a morte de Benedita, Severino vive um bocado "sozinho" e decidira virar um escritor de romances policiais. A pouco ele foi convidado para escrever os personagens, os cenários e as armas da nova versão do jogo "Detetive", da fabricante Estrela. Não é muito, de fato; mas este é um homem que se alegra com pequenas coisas.

Num lapso, ele imaginou Benedita rindo daquela bobeira, batendo em seu ombro e lhe dizendo "assim não vale, você deu a resposta!". Talvez por isso o "tipo de riso" que Severino deixou vazar no microfone foi um riso meio choroso... um riso nostálgico.
- Você quer saber mais da história da moça, Mahiro?! Eu posso te apresentar ela se quiser... - Uma pausa o fizera clickar um botão - Cthaeh, pode continuar o caminho?!

Só assim para o robô sair do "corpo". Com o comando, a inteligência artificial voou até a parede onde estava o amontoado-de-sombras e lhes disse:
- Xo,xo.... vocês tão escondendo o caminho - Era engraçado como ele balançava todo; parecia até que tinha mãos para enxotar alguém. Mais engraçado ainda era as sombras obedecendo, como moscas que voam ao ser espantadas por QUALQUER COISA - Vem cá, Hiro. Vamos continuar!!

Como alguém que colocou apenas >um caminho< para Hiro seguir e como alguém que >sabe da pressa de Hiro<, tomarei a liberdade de dizer que ele foi. Caso não tenha ido, peço que desconsidere tudo que aconteceu a baixo.

Ele passou pelo corredor escuro. Severino, levando aquilo como um aval, começou a comentar:
- Seu nome era Mariana. É uma garota de alta classe, mas que ao começar a usar drogas, começou a conhecer pessoas que seus pais chamariam de "ralés". Aqui, me desculpe a expressão, mas chamarei como ela e as amigas delas... Zé Droguinhas... - O corredor continuava escuro; enquanto a música ficava completamente para trás. Aos poucos o único som ouvido e ecoado era a voz de Severino - Sabe como é, né?! Existem relacionamentos saudáveis e relacionamentos ruins. No caso desse, ele era bem ruim... Mariana e Nicholas brigavam o tempo todo; e isso quase custou o emprego do rapaz. Ele trabalhava de Barman em várias boates, fazendo freelance. Ela de vez em quando ia até um desses lugares e bebia um bocado, se drogava o quanto podia e arranjava problema com Nicholas...

Nesse momento da história, Severino precisou parar. O motivo não era muito óbvio; haviam chegado ao vim do corredor, o que impedia Severino de continuar a história. Ainda assim, lhe afirmo que isso não era muito óbvio. Por quê? Bem, porque ao se distanciar do salão-de-dança Mahiro também se distanciou do único foco de luz daquele circuito. Seus passos o levava para um breu completo; onde ele não conseguia ver as paredes que lhe cercavam.

Claro, ele podia as sentir, tocar  e tudo mais. As placas pretas emitiam uma pequena atmosfera gélida que fazia o rapaz reconhecer sua presença ali. Sendo assim, seria apenas pelo tato que Mahiro conseguiria reconhecer a "mudança de ambiente". Ele seguia sem ver; mas se esticasse as mãos, veria que não há o que tocar. Não sentira a frígida presença do metal e assim talvez reconhece-se o "fim do túnel".

Só que a questão é: para onde diabos esse túnel o levara?! O menino cego não tinha como saber; mas lhe informo que se fosse pisando aos poucos, sentiria uma espécie mureta, que lhe impediria de continuar. Se tentasse olhar sobre a mureta, veria que lá embaixo (em um desnível de quatro metros, dois pokémons "iluminavam" o local.