[Wants VS Needs] – Power Plant –

Por mais incrível que pudesse parecer e apesar de anteceder a tempestade, o caminho em direção ao limiar que separava a Rota 9 da Power Plant foi, acima de tudo, tranquilo. A caminhada junto de Nidoking havia sido silenciosa, amena, do tipo que permite que os nervos encontrem espaço para relaxar e que as preocupações, pelo menos momentaneamente, se esvaíam junto ao gentil sopro da gélida brisa. E, particularmente, durante aquele breve período que separava um bioma do outro, ela de fato pôde relaxar, independentemente dos demônios que sussurravam à penumbra da própria consciência, insistentes e divertidos, ansiosos pelo belíssimo palco sanguinolento em que a abandonada usina era capaz de se transformar.

...E, apesar de certa discrição e inconsciência no próprio ato, foi por conta dessa situação em específico que a ruiva se deu ao luxo de retornar seu companheiro de jornada antes mesmo que realmente alcançassem os limites do próximo pedaço de rota, o coração apertando com delicadeza ao encontrar-se só, mais uma vez, no meio daquela selva anômala cerceada da pura e bela eletricidade (oh, que lugar seria aquele para compartilhar algumas memórias com Balthazar!): Veja, não era a primeira, e provavelmente não seria a última vez que a energia dourada tomaria as rédeas de seu destino; Havia ocorrido no Monte Pyre, durante o confronto com Zapdos, e agora...

...agora...

...Ela era cercada de morte, não é?

Enfim; Pelo menos inicialmente, não queria pensar a respeito. A desculpa que teve, bem, foi a de retirar do bolso uma de suas esferas bicolores e, relaxada, assim que os pés ultrapassaram as primeiras paredes de Power Plant, permitiu que o objeto se partisse ao meio, libertando uma forte luz ofuscante esbranquiçada e dando espaço para que um pequeno e baixinho monólito se moldasse rente ao chão, o anil vagarosamente pincelando o polígono e o olhar mascarado e fundo se exibindo, inerte, à treinadora. Ela o observou torcer o narigão, olhar de um lado para o outro e franzir o cenho, balançando os bracinhos num vai-e-vem silencioso, ameno; Então, a moça se abaixou, estendendo com certo cuidado o sininho adorado do rochoso, um sorriso simples percorrendo os lábios no processo:

— ...Eu prometi que ia te trazer, não foi? — Sussurrou - bem, em realidade, a promessa era mais... Evoluí-lo; De qualquer jeito, uma coisa acabava sendo consequência da outra então, no fim das contas, tanto fazia. — ...Eu não vou te deixar de lado, baixinho. Você vai ter que me engolir. — Provocou, tocando com gentileza a ponte do nariz avermelhado do pokémon, deslizando para sua ponta em um carinho relaxado. Era quase inacreditável pensar no quão diferente sua relação com aquela sua "sina" irritadiça estava, depois que pouco a pouco havia se dedicado à compreender e cuidar do animal...

Mas, sim, ali estavam.
Reclamar não ia, huh?

Não foi preciso muito tempo para que a eletricidade e o magnetismo atuassem em uma belíssima valsa invisível não só em cumprimento amigável e sensual, mas também para que atuassem em metamorfose delicada de seu relativamente dócil narigudinho que, de um momento para outro, tornou-se um maravilhoso narigudão - acredite, esse diabrete foi mais esperado do que gravidez de vinte meses, e a pior parte é que nem é ironia. 2013? 2014? Alô?

Enfim, o fato é... Foi um sorriso manso aquele responsável por cumprimentar a nova forma do espécime, curvatura labial esta que se estampou assim que o ofuscante brilho prateado envolveu e dominou por completo toda a extensão do corpo monólito de seu companheiro bicolor - e permaneceu até que ele houvesse partido, com um "berro" gutural e ameno do agora Probopass, manso, seus olhos azulados escapando de um lado à outro, curiosos, enquanto os mini-narizinhos flutuavam brincalhões em torno de seu próprio eixo.

— Tá... Um pouco maior do que eu pensei! — Ela comentou, um riso relaxado enquanto os dedos se apoiavam em um dos "ponteiros-bracinhos" do metálico, afagando o local com delicadeza. — Como se sente? — Quis saber, torcendo um sorriso de canto quando a resposta do animal se resumiu em "bater" seu chapéu umas três vezes seguidas. — Bem... Vou te deixar aproveitar um pouco, pode ser? Afinal, também preciso de alguém pra me ajudar a explorar isso aqui. — Acrescentou, afastando o braço com sutileza e começando a caminhar ao interior da Power Plant... Quer dizer, a intenção era, primeiramente, contornar o ambiente; Vai que achava seus belíssimos campistas no processo? — Fique atento em qualquer movimento ao redor, tudo certo? — Pediu ao animal, a atenção se desviando com brevidade ao retirar o aparelho eletrônico alaranjado do bolso, espiando as últimas mensagens e...

Para Luch escreveu:

@Luch:
"Uma cópia de MIM? Rapaz, deve ter sido um pesadelo, hein??? Quantas desgraças que a bendita atraiu na cidade? Mas isso parece meio esquisito, na verdade. Quer dizer... Como que podem conseguir copiar desse jeito a identidade de alguém? Sei não, viu...

Como tão as coisas por aí? EU TÔ VIVA, apesar de às vezes não parecer. Aliás, dá só uma olhadinha: Será que você lembra do que eu tinha te dito? Deu trabalho, mas... Oof.

"

Era... Um pouco estranho, se tivesse que falar a verdade. Aquele ambiente vazio, quero dizer - o barulho silencioso e ameno da natureza ao redor, os fracos guinchos distantes que denunciavam a presença selvagem de sabe-se lá o quê que se embrenhava nas vísceras de Power Plant. Ora, há quanto tempo lidava com o som único de um bioma selvagem a envolver-lhe, levando em consideração que só vinha sendo agraciada com o caos urbano ou o silêncio áspero do deserto escaldante?

— ...Eu não sei o que eu esperava, mas com certeza isso é mais tranquilo do que eu imaginava. — Murmurou para si mesma - e, consequentemente, aos ouvidos de seu narigudo companheiro. — Não deve ser muito difícil encontrar um acampamento, então, se realmente tiver algum. — Comentou, encolhendo os ombros com suavidade, os orbes acinzentados passeando de um lado à outro na usina abandonada...

E os pés, então, frearam com violência diante do berro agudo que fez com que os pelos de sua nuca se erguessem de vez (não era a eletricidade, juro!), os ombros voltando alguns centímetros para trás e a pupilas vagando em frenesi imediato ao redor, recuando alguns poucos passos em um temor mudo. O próprio Probopass não se agradou muito com a situação - ora, como poderia, tendo sua calma afetada por um escandâlo ocasionado por sabe-se lá qual motivo? -, olhando com cuidado ao redor e batendo seu chapelão algumas vezes contra a própria cabeça.

Não foi a ruiva quem foi atrás de descobrir a origem daquele barulho, aliás; O próprio metálico fê-lo, incomodado por ter seu momento de paz perturbado e curioso, admito - flutuou na direção do anômalo grito de aflição, e sobrou para sua treinadora ir atrás após alguns segundos, com a sorte de que o rochoso não era veloz o suficiente para simplesmente desaparecer em uma fração de segundo. Devia ter um pouco de tempo para explorar algo aqui ou ali, huh?

Digamos que... Não era o tipo de pessoa que gostava, realmente, de obstáculos. Quer dizer, não que realmente alguém chegue a idolatrar esse tipo de coisa, sabe como é - o fato é que, pelo menos ultimamente, estava lidando com mais portas fechadas (literalmente) do que gostaria de sequer pensar em mencionar. Probopass foi quem menos se agradou, porém, diante do metal que não cedia diante de sua mera aproximação - e chegou a dar uma batida na porta com a base de seu corpo mas, é, nada realmente demais.

— E pensar que ainda tem isso na frente depois de todo esse tempo. — A ruiva suspirou, balançando a cabeça com discrição. Em realidade, seu primeiro impulso era querer tentar arrebentar aquele caminho o mais rápido possível para simplesmente seguir em frente como se nada tivesse acontecido mas, bem, digamos que uma voz interior resolveu que não queria frustrar imediatamente o titereiro de seu destino naquela área.

Então, sim... Porta aberta, raio amarelo, né?
Não custava nada checar, vamos combinar.

E sua mestranda aqui compreende plenamente, mister - tanto que é por isso que ela sequer ousará sair passando desgovernadamente por cima de tudo e de todos, afinal, de jeito nenhum é uma boa ideia frustrar todas as ideias e planos cuidadosamente preparados pelo narrador na base da força bruta, ainda que tenha o suficiente para tal. Vê como ela é um amor? Trate com carinho, não é todo dia que se consegue alguma assim.

Enfim... Vamos dizer simplesmente que, após tantos passeios consecutivos em bueiros, esgotos e ambientes completamente pútridos, um pouquinho de fumo, ainda que em uma sala fechada, não chegava mais a realmente incomodar a protagonista que aqui é citada. Quer dizer, tudo bem, até chegava a torcer um pouco o nariz, mas ouso pontuar que esse já não funcionava mais como antes ou, pior, simplesmente já tinha perdido uma boa porcentagem do coitado do olfato.

E creio que você compreende, também, que já tinha passado por muita coisa pra ser afugentada por duas esferas venenosas flutuantes de pedra.

— ...Uh... — Murmurou, os orbes acinzentados passeando pela escuridão enquanto tentavam distinguir de onde diabos tinha vindo aquela luz amarelada que havia visto há pouco. — ...sabe, eu até vim aqui pra isso, mas às vezes eu esqueço que tem esse tipo de bicho em uma usina. — Comentou para ninguém em específico, encolhendo os ombros e revirando uma de suas esferas bicolores entre os dedos. Inicialmente, planejava permitir que Zuby cuidasse da situação, mas... No fim das contas, mudou de ideia; Quer dizer, seu narigudo também merecia um pouco mais de experiência em batalhas, né? — Nos... Probo. — Corrigiu-se, devagar, ajeitando com delicadeza uma das madeixas por detrás da orelha. — Duplo Flash Cannon no da esquerda. — Pediu, relaxada, enquanto usava a outra esfera para lançar sua querida Shellos em campo porque, sim, queria simplesmente se aproveitar da experiência. Tamo junto. — Shell, Scald no da direita. Se o da esquerda ainda estiver de pé, use Scald nele, também; Do contrário, mantenha o alvo. — Sugeriu à rosada, movimentando o pescoço, relaxada, pra lá e pra cá.