(019) — solar power

Então, era isso. Depois de irritar uma chefe de segurança em Pewter e quase tomar uma coça, descobri onde encontrar o homem que vai me dar as respostas que preciso. Caminhar com esses sapatos por essa rota meio esburacada não é lá uma das melhores escolhas que já fiz, mas Kanto é sempre imprevisível, fazer o quê. Ivy, por outro lado, desfilava curiosa, subindo em todas as pedras, árvores e se enfiando em todos canteiros possíveis. Desde que evoluiu para Dragonair, a pequena se aproveita do tamanho gigantesco para se esticar e explorar tudo o mais rápido possível. Dei uma gargalhada sozinha, igual uma maluca... Imagina a surpresa dela quando descobrir que quando evoluir de novo terá asas.

— Devagar, hein. — aproveitei para prender as longas madeixas em um coque; caminhar faz a gente suar, né? ainda mais sedentária como estou desde que Daisuke não me obriga a treinar diariamente — Estamos procurando uma caverna.

Mega Stone. Até o nome me deixa meio desconfiada, mas se Natalie disse que funciona, quem sou eu, né? Supostamente esse Steve Stone é quem vai me dizer qual é essa que eu carrego desde que derrotei Regirock em Shimmer. Inclusive, sei que isso é pra ser uma fonte de poder imensa e bla bla bla, mas só de olhar pra essa bolinha de gude me trás calafrios: relembrar tudo que aconteceu naquele deserto de sílica é um pesadelo. Minha mão que o diga, aqui, estendida diante do meu rosto, com essa marca eterna no dorso. Hoje os dedos não doem mais e tudo está como deveria, mas ainda assim... O sangue jorrando é quase que palpável na minha cabeça.

— Deixa pra lá, Karinna. — bufei, abaixando a mão e batendo-a sobre a barra da saia — Já passou.

E já passou mesmo, né? Foi-se o tempo que eu deixava isso me afetar, agora é só balançar a cabeça algumas vezes que esses pensamentos vão embora. Tentar focar no futuro e achar essa maldita caverna é prioridade, acho.

Espero.

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Sim, é culpa minha mesmo. Difícil entender a sociedade que impôs esse padrão de que mulher tem que usar sapatos desconfortáveis o tempo inteiro... Por que diabos não posso sair andando de crocs por aí? Mas não há nada que eu possa fazer por agora, né? Ivy não vai gostar se eu decidir voltar para Cerulean, já que parece entretida demais com as reentrâncias rochosas e pedir pra voltar só para pegar Braviary ou Sigilyph vai ser um balde e água fria na pequena.

— Vem cá, filha. — ela fingiu que não me escutou, acredita? — IVYYYY! — coloquei as mãos na cintura, balançando a cabeça negativamente com um sorriso estampado no rosto — Sonsa.

Que calor, viu? Nada como um deserto em Hoenn, a terra do Sol, mas ainda assim quente em proporções descomunais. Nunca entendi porque nunca peguei um trem ou avião até Sinnoh e fui me entocar naquela cidade de neve lá no alto das montanhas já que detesto calor. Acho que a preguiça de ficar horas e mais horas sentada vence qualquer futuro conforto. Culpa minha mesmo, huh.

— Deixa eu ver se esse calor não te faz mal. Você vivia em uma caverna úmida, né? Não custa ver. — acariciei a pequena, limpando o suor na testa com o antebraço em seguida; a Pokédex, agora na mão, quase caía — Eita. — dei uma risada sem graça enquanto buscava a entrada de Dragonair no aparelho eletrônico — Tá, aparentemente você regula a própria temperatura corpor... Quê? — até aproximei a Pokédex do rosto, arregalando os olhos — Você pode voar?

Queria ter filmado a cara de Ivy. Ela ergueu o corpo esguio e inclinou a cabeça como quem dissesse: "quê? como assim?". Pois é, filha. Nem eu sabia. Isso que dá ser especialista em psíquicos e inventar de treinar dragões do nada.

— É isso mesmo, filha. Parece que você pode projetar suas asinhas da cabeça e voar com elas. — guardei o aparelho, levando ambas as mãos até as asinhas da pequena — Pra mim isso era só pra você ficar bonitinha. Que graça. — dei um beijinho no focinho da dragoa, dando dois passos para trás em seguida — Pois vamos tentar isso agora. Projete elas e tente fazer movimentos repetidos com elas para cima e para baixo.

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E nada acontecia, a não ser a expansão das asas da pequena. Aquilo me encucava bastante: se batê-las não é suficiente para sair do chão, o que seria? Respirei fundo e levei o indicador até o queixo, pensando em alguma solução. Decidir treinar dragões do nada sem estudá-los tem se provado cada vez mais uma escolha ruim, mas ao menos tenho meus bebês.

— Tenta mais uma vezinha. — e nada aconteceu; tenho certeza que se Ivy tivesse braços estaria com ambos na cintura me encarando — É, não é isso.

Como eu queria que Teriyaki estivesse aqui, ao menos me ajudaria em como tentar ajudá-la. Mas vou me virar. Se força não é o problema, só pode ser algo mental, né? Talvez ela precise focar como meus psíquicos fazem.

— Vem cá, filha. Senta aqui comigo. Ou deita, não sei. — parei, sentando no chão quente, mas onde estava sombra para não queimar minha bunda toda. — Fecha os olhos e se concentra nas suas asinhas. — fiz o mesmo, respirando fundo umas três vezes antes de continuar — Limpa a sua mente e só pensa nelas. No que deseja fazer com elas. Confio em você. — sorri — Respira fundo comigo. Um... Dois... Três... — fiquei em silêncio e sincronizamos nossa respiração — ...

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E não é que a meditação funcionava? Para quem achava que só levava jeito com psíquicos, até que eu não estava me saindo tão mal, huh. Abri um pouquinho o olho e a pequena estava flutuando com um sorriso estampado no rosto. Minha vontade era apertá-la e enchê-la de beijos, mas não queria assustar. Só senti meu coração encher de ternura mesmo.

— Muito bem, filha. — sorri, acariciando seu focinho — Vamos tentar voar? — levantei toda desajeitada, montando e abraçando seu "pescoço" — Vamos tentar seguir sul... — apontei na direção — Tudo bem?

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Sério. Podem falar o que quiser de batalha, mas não tem nada melhor do que ver seus pequenos crescerem de forma orgânica. Não só Ivy conseguia voar junto comigo, como também parecia extremamente encantada e feliz de conseguir me proporcionar essa experiência enquanto explorava o mundo, como a prometi quando a capturei em Dragon's Den. Não tinha quem tirasse esse sorriso estampado no meu ros-

— Ah, não.

Mankey. Conheço essas peças de outros carnavais. Barulhentos, feios, chatos e inconvenientes... Como a maioria dos lutadores. Só consegui ver as pedras voando na direção de Ivy, que ao menos conseguia desviar sem que caíssemos e eu MORRESSE. Sim, esses desgraçados são sádicos a esse ponto. Pois mal sabem eles que lutador eu lido no soco...  É, só Natalie pode atestar aquele Throh que eu derrubei com minhas próprias mãos.

— Eles vão ficar lindos amassadinhos. Pare um pouco, Ivy, só tente desviar das que já estiverem vindo. — busquei a esfera de Lairon na bolsa — Vamos resolver isso. — apertei o botão central, liberando a metálica no ar — Esmague-os, filha! Earthquake! Você, Ivy, Ice Beam no que estiver mais próximo!

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