Uma rocket na minha fazenda milionária

— ...Sei. — Foi tudo o que respondeu, suave. Se tivesse que falar alguma coisa, e felizmente não tinha, era que já não ouvia notícias da família há séculos; Mais tempo até do que o "naufrágio" de Tohjo, se é que podia falar assim. Apesar de que, uh, talvez simplesmente "submersão" fosse o mais ideal. — Tenho certeza que caprichou, senhor Master Chef! — Brincou, um sorriso gentil estampando nos lábios. — Te falar, a gente tem que tirar um tempo depois pra mofar dentro da cozinha. Não aguento mais ficar zanzando e me quebrando por aí. — Suspirou, largando o peito em cima da mesa ao se sentar e deitando a cara na madeira. — E aí, Mikael? — Cumprimentou o psíquico, dando um leve aceno de dedos relaxado. O elétrico ao lado, inclusive, fez questão de se aproximar da cozinha ao sentir o cheiro da comida, apesar de manter a expressão vítrea no rosto.

— Acho que é a primeira vez que eu ouço alguém feliz falando de desentupir alguma coisa. Tem certeza que o sol não fritou seu cérebro um pouco demais? — Riu, cruzando os braços em cima da mesa e deitando o queixo por ali. — Bom, se você diz... Ah, ei, me conta; Eu lembro que cê tinha dito que ia nesse tal desafio da pirâmida que tá voando por aí. Como é que foi, no fim das contas? — Tamborilou os dedos no móvel, tranquila. — Ai, qualquer suco eu já fico feliz. Mas, falando nisso, eu tô com umas frutas aqui... Eu te dou, se quiser, e tal. — Comentou. — Não é nenhuma feira, mas talvez ajude...

— ...sério??? Eu espero que com "resolver" você não queira dizer que simplesmente escondeu algum cadáver por aí pra adubar as plantações... — Comentou, erguendo com discrição uma das sobrancelhas. — Inclusive, você não pensa em pintar de novo? Ou foi só uma transformação instantânea de uma oportunidade só? — Perguntou, deixando escapar um bocejo preguiçoso no processo.

— Ué, Shi... — A ruiva riu, erguendo as sobrancelhas de maneira duvidosa. — Um homem do campo desses, forte, sarado, passando fome pra umas escadinhas de nada? — Provocou, pendendo a cabeça para o lado e a acomodando nos braços. — ...um o quê? Cê tá me dizendo que tinha um Registeel naquela piramidezinha, voando lá do topo? Tipo... Grandão? — Franziu o cenho. — E como assim não era nocauteado??? Isso nem faz sentido! — Reclamou. — E pensar que hack chegou na vida real...

— Ah, valeu! — Agradeceu, endireitando a coluna ao que o criador resolvia encher a mesa com os quitutes. — Ah, é? Não sabia disso, não. Mas, vem cá, isso não é, hmm, trabalho... Demais? — Quis saber, puxando a mochila e... Bem, admito que passou algum tempo revirando o conteúdo dali de dentro porque, sabe como é, tinha muita coisa. Talvez devesse tirar um tempo pra organizar melhor ali dentro... — Aqui, achei! — Exclamou depois de mais alguns longos e demorados segundos, espalhando algumas frutinhas pela mesa e as empurrando na direção do companheiro. — Toma, fica pra você. Eu não costumo usar muito, mesmo...

Mas, sim... Sobre as novidades, haha...
...

— ...Ah! Eu cheguei a participar de uma competiçãozinha entre alguns treinadores. Não era nada oficial, na verdade, era só uma comparação no fórum... MAS! Eu consegui mestre das capturas e da felicidade! — Exibiu, abrindo o pokénav e mostrando as duas fitinhas eletrônicas coloridas. — Acho que não é nada muito grande, mas é divertido pensar que esse tempo todo acabou me jogando nisso. — Comentou, um riso besta escapando da garganta. — Fora isso, acho que passei mais batendo em ginásio, esses últimos tempos... Eu te falei que consegui arrancar a insígnia do Juan, lá de Hoenn?

— Aaah, então você só não adubou a plantação porque não deu tempo. Saquei, entendi. — Um sorriso torto no canto dos lábios. — Se quiser, eu posso te ajudar a pintar, alguma hora aí. Até porque, se for fazer em salão, provavelmente vai ter que gastar toda a renda dos açudes pra conseguir cobrir o custo... — Brincou, dando um golinho no suco e permitindo que os ombros relaxassem ao sentir a doçura escorrer pela garganta.

— Ai, nem me fala em escadaria. Da última vez que eu tive que ir brincando de subir e descer degrau, acabei dando de cara com um Zapdos... Essa gente não tem é o que fazer, é o que eu te digo. Tanta coisa que já criaram por aí, mas não podem tirar um tempinho pra construir um elevador que seja... Fica vendo, um dia eu vou parar totalmente de sair por aí de trouxa e vou pegar um pássaro pra ficar só voando pra cima e pra baixo. Graças aos céus que eu não fui nisso aí, se tava ruim desse jeito... — Franziu o cenho, balançando a cabeça em certa decepção. — Mas... Seiscentos??? E pensar que quando eu te conheci, você ainda só tinha um Dedenne... Ah, eles crescem tão rápido... — Brincou, colocando a mão no peito de uma maneira dramática. Não por muito tempo, já que logo a atenção do assunto se desviou para as frutinhas espalhadas na mesa. — ...Não? Ah, então considere um passinho extra na direção desse sonho! — Sorriu, relaxada, antes de finalmente provar o bolinho, uma garfada generosa e sem nenhuma hesitação.

— ... ... ...mwwwwn! — Um gemidinho satisfeito foi a reação imediata. — Ai, tá tão macio que dá vontade de deitar em cima! — Suspirou, cutucando o doce com o garfo e o amassando entre os dentes do talher, um sorriso bobinho enquanto observava a massa subir e descer. — Ah, juice? Aceito, sim, na verdade! — Sorriu, relaxada, antes de deixar um riso escapar em resposta à "provocação" do albino. — Eeei! Eu não tenho culpa se eu vou ser a maior mestre pokémon do mundo, ok? Pra isso, tenho que capturar! — Deu língua. — Inclusive, esses tempos aí criei vergonha na cara e evoluí meu Sneasel, um Elekid e uma Chinchou! E... Até revivi um Lileep, na real. Apesar de que eu já tava com o fóssil desde o lance lá no deserto com a Karinna... — E, admito; Era com certo orgulho que dizia isso, fazer o quê? Não era fácil dar atenção para todos os seus bichinhos, mas até que estava conseguindo fazê-los crescer, pouco a pouco. — Ah... Não sei se é o mais forte, eu não lembro... Mas, pra ser sincera, eu tive um pouco de sorte, também, pra variar! — Riu, guardando o pokénav mais uma vez no bolso e tomando outro golinho de suco.

... ... ...mas, sim, vamos ao assunto que esperava que não fosse surgir.
Não que realmente estivesse se iludindo com isso; Em realidade, até era surpresa que houvesse demorado tanto para que o fazendeiro resolvesse puxá-lo, levando em consideração que ele não era cego, apesar dos olhos claros.

Os ombros se encolheram quase que imediatamente, e um riso desconcertado veio como resposta inconsciente à situação em que havia se metido. Inquieta, a moça se remexeu na cadeira, revirando o taler entre os dedos e espetando o pedacinho de bolo diversas vezes, devagar, despedaçando-o aos pouquinhos em uma atitude quase distraída.

— ...Uhn, então... — Começou, incerta de para onde devia levar a conversa. Por algum motivo, não acreditava que Taito ia simplesmente engolir um "ah, então, eu caí da escada, haha" ou um "nada não pô, deixa quieto". Ele não era burro, afinal. — ...ah, cê tá ligado que eu não tenho lá muita... Hm, sorte, por assim dizer, com as coisas que eu encontro por aí? — Deu um riso sem graça, remexendo um dos cachinhos com o indicador, hesitante. — Digamos que... Uma dessas situações me... Pegou de... jeito, sabe? — Outro riso sem graça. — ...mas eu tô bem, sério! Só dói quando eu pisco ou respiro!!! — Tá, essa foi uma tentativa de piada. Não muito boa, tinha que confessar; Mas, se arrancasse um sorrisinho que fosse, já tava ótimo.

Ah, a vida do crime.

— Olha, não vou te dizer que eu sou oh, a pessoa mais experiente do mundo em mexer com tintura... — Admitiu, mas franziu o cenho em um ar de deboche discreto. — Mas, assim, mesmo que eu seja horrível nisso... Eu tenho quase certeza que não vou conseguir transformar preto em amarelo neon, viu? — Disse, esticando o braço pra acertar um peteleco na testa do rapaz. — Ah, eu lembro! Pior que cê tinha levado um tentacool pra bater no bicho, né? Acho que eu nunca vou esquecer! — Riu, um sorriso relaxado se estampando nos lábios diante do elogio próprio do albino.

— ...ué! É rápido assim? — Perguntou, erguendo as sobrancelhas ao receber o suquinho embalado em uma garrafinha simpática. — Achei que fosse mais trabalhoso, sei lá! — Comentou - mas reclamar que não ia, né? Tanto que só guardou o trequinho, feliz da vida. — Ah! Então acho que vou ter que pegar um pouco mais pesado nos treinos, né? Imagina só, perder assim... — Balançou a cabeça, indignada. — Não se pode nem relaxar um pouco que já se arranja competição assim, nunca vi...

— ...Ah, ainda dói, mas... A gente supera, né? — Respondeu, um pouco aliviada pelo criador não resolver bater demais naquela tecla. — Eventualmente deve melhorar. Eu cheguei a passar uma coisa ou duas, sim... Mas, ei, até que já tá bem melhor, sabia? — Comentou, apoiando o queixo na mão por um instante. Além disso, apesar de consciente de que o rapaz não tinha a menor ideia do que estava oferecendo, um sorriso pequeno aquarelou na boca diante da oferta de auxílio - independente de quando, independente do problema. Não era como se pudesse realmente aceitar aquilo, levando em consideração que estava metida na bosta até o pescoço, mas... Era um pouco reconfortante ouvir aquilo de outra pessoa, sabe? — Eu sei, Shi. Valeu.

"Você também.", pretendia dizer; E só pretendia, pois foi interrompida por uma algazarra estranha do lado de fora, a atenção imediatamente voltada para a janela - quer dizer, estavam um pouquinho longe da porteira, então era um tanto quanto esquisito que o fuzuê chegasse daquele jeito até ali, sabe? Enfim, ela não demorou em se levantar, espiando pela janela junto com o companheiro e erguendo de leve uma das sobrancelhas ao vislumbrar a... "Locomotiva" do lado de fora.

— Será que é um treino? Ou eles tão vendendo alguma coisa, sei lá? — Ponderou, franzindo com discrição a ponte do nariz. — ...'Cê acha? Bom, dá pra tentar, né... Vai que ele tem alguma coisa interessante pra oferecer? — Comentou, encolhendo os ombros com suavidade. — Vamo dar uma espiadinha só. — Sugeriu, já se preparando para ir para o exterior do lugar.

Mal não fazia, né?