As desventuras de Shuckle & Wooper #2

Devia ter deixado ele morrer, mesmo.

Não vou mentir pra você: Não era a primeira vez que algo do tipo lhe acontecia... Desde que se lembrava, pelo menos. Ou será que já estava delirando também? O fato é que a ruiva instantaneamente recuou assim que o homem não só chamou por outro nome (já tinha um falso, não precisava de dois!) e até fez menção de mexer o braço em sua direção. Na hora, nem soube bem o que responder além de... Existir... E arregalar de leve os olhos, escondendo-se quase que instantaneamente atrás de Karinna.

Não precisava lidar com isso também, precisava?
PRECISAVA???

...Precisava. Claro que precisava, e Karinna fez questão de jogar o peso do ouro dos tolos na sua querida mão. Foi quase com certo suplício que a encarou; Sinceramente, não estava muito na vontade de seguir com um velho doido daquele jeito, mas... Claro, tinha que inventar de acordar ele, né? Não podia só MATAR DE VEZ E SE VIRAR DEPOIS, não, claro que não. Vai tomar no cu.

— ...Não? — Resolveu falar. — Não pareceu, pela força que fez... Na verdade, me pareceu bem proposital, isso sim! — Foi o que conseguiu ensaiar. Será que ele ia sequer entender se falasse de qualquer outra coisa? Ah, sei lá...


@(

...E graças aos céus não havia resolvido ir com tudo nesse lance de "você é Maria". Não por qualquer caos momentâneo, mas simplesmente pelo fato de que bastou bater os olhos em Karinna para que o homem não só as reconhecesse, mas também se desse conta outra vez, aparentemente, com o destino que os Rangers supostamente teriam sido forçados a enfrentar. De qualquer jeito, a perda da oportunidade não era realmente um problema pois, acredite ou não, aquela situação a presenteou com uma belíssima carta nas mangas.

— ...Não. Não sou. E também não sabia que policiais se associavam com assassinos. — Cresceu com a acusação pra cima do homem, finalmente se recompondo para sair detrás de Bley... E aproveitando para, deliberadamente, inverter os papéis naquela situação. — Ou será que não sabiam, ou só suspeitavam, e você fez questão de se livrar deles pra que continuasse assim? Aqueles bichos todos eram selvagens, mesmo? Porque me parece muito conveniente que só você tava com eles, mandando ninguém se defender, e só você que a gente encontrou! — Acusou. Não era uma situação muito difícil de se manipular, principalmente quando tinha um enorme, musculoso e um tanto quanto ameaçador Grimmsnarl ao seu lado que fazia questão de encarar, atentamente, cada movimento do capitão largado na areia. — E que papo é esse de redemoinhos pra Whirl Island? Acho que você tá devendo muita explicação por aqui... Ou a gente vai ter lidar contigo pra não acabar que nem os outros, é o que você quer me dizer? — Pontuou, um simples acenar de cabeça sendo suficiente para que o noturno desse alguns passos na direção do senhor, um certo ar de ameaça defensiva que não era exatamente amigável.

...é tão fácil ser hipócrita, né?

Claro. O que é que um maluco que já tá de fraldas de novo tinha a perder, e por que diabos ele ia querer ajudar? Chegava a ser meio patético; Não tinha como simplesmente ameaçar quebrar ele de porrada porque não ia adiantar muita coisa...

Então, bem, você tem que bater onde dói.

— Se a gente tem a mente fértil, então diz aí, por que é que você não fala nada? — Retrucou, revirando os olhos com discrição. A mão se apoiou no ombro do noturno faérico para o impedir de avançar, e a ruiva se inclinou por cima da imagem do capitão após respirar fundo, sem muita emoção no olhar. — Eu não ligo pro que você acha de mim. Se eu tô em paz ou não com o meu coração, não é da sua conta. — Foi direta, foi sincera. Acreditou que aquela era simplesmente a abordagem ideal de se tomar. — Mas também não tenho culpa, e não mereço o peso que você carrega, simplesmente por ter cometido um pecado há... Anos atrás. — Disse, devagar. — A gente não precisa fazer nada com quem não fez nada com a gente. Mas, se você não quer mesmo explicar o lance dos redemoinhos e carregar mais o peso de três com você... — Pausa. Respirou fundo, e endireitou a coluna, sem pressa. — ...porque, sim, esse peso também vai ser seu, já que foi você quem trouxe a gente pra cá, e se preocupou mais com seu barquinho do que com deixar a gente ter uma chance de cinco contra alguns... — Relembrou, balançando a cabeça com discrição. — Aí é contigo. — Decidiu.

Suave, os calcanhares se viraram e caminhou para perto de Karinna, a mão se apoiando com discrição no ombro da garota; Balançou a cabeça em negativa, discreta. Não tinham nada para fazer ali - o homem já estava quase morto, talvez nem conseguisse voltar pra casa... E, mesmo que tivesse uma chance, não tinha provas ou sequer ideias do que tinham ido fazer ali.

— Vem, Su. Vamos embora. — Encolheu os ombros, ajeitando as alças da mochila sobre eles. — ...Quer saber, ainda bem que a Maria não tá aqui pra ver isso. — Enfiou o dedo na ferida, e esfregou sem hesitar. — Pelo menos ela não tem chance de se decepcionar. — Acusou, dando de ombros com discrição. Um leve aceno de dedos foi o suficiente para chamar seu noturno para seguir consigo. — Vamo, a gente tem que achar os meninos. — Sentenciou, apertando com discrição o ombro da companheira e permitindo que os pés começassem a se distanciar na areia.