Admito que se não fosse a necessidade urgente de se distanciar do oceano o mais rápido possível e também o fato de que não podia simplesmente se largar de qualquer jeito para que Karinna e ela própria não acabassem simplesmente morrendo na praia, talvez a ruiva tivesse prestado um pouco mais de atenção nos arredores. Talvez reparasse com mais cuidado o caminho por onde vinham, por conta da necessidade eventual de voltar - mas, bem, levando em consideração que talvez a melhor coisa que pudessem fazer fosse simplesmente abandonar a ilha pelo lado oposto pelo qual vieram...
Você entendeu.
Sobre a parada repentina de Bley: Na real, não teria percebido. Não deveria, não fosse o fato de que os dedos se agarravam com até certo desespero sobre seu pulso e, bem, ao sentir o corpo ser "puxado" para trás como se estivesse tentando arrastar uma mula empacada, é compreensível que o susto a tenha feito puxá-la com ainda mais força pelo temor de que alguma coisa a houvesse simplesmente agarrado - mas, quando o rosto voltou para trás e ela se deu conta de que a única coisa as segurando ali era a irritação da criminosa, o alívio veio num rompante, os dígitos se afrouxando de maneira súbita sobre o seu pulso.
— ... — Não se pronunciou durante o ataque de pelanca da irmã - ela própria já havia tido o seu lá na praia, por conta de um peixe dourado. Não poderia culpá-la por surtar por conta do caos que havia se instaurado repentinamente ao redor, né?
— ...K- — Pensou em tentar argumentar, mas não acreditou que valia a pena. Se manteve quieta, percebendo repentinamente as pernas trêmulas e, para evitar simplesmente ir com tudo no chão, logo após se dar conta de que o barulho dos tambores parecia um tanto quanto mais distante, os músculos cederam e as pernas tombaram como se fossem dois fios de macarrão, a bunda largando-se na terra batida e a respiração tentando se recuperar de toda aquela maratona maldita. O próprio Balthazar também o fez, coitado, se largando no chão e rolando sua mangueirinha por uns vestígios de gramíneas que botavam a cabeça pra fora do solo. O eletrodoméstico já tinha tido que lidar com a experiência de ser um prisioneiro e, por mais rápido e resistente que fosse quando se tratava da necessidade de velocidade, ele ainda não havia tido um tempo justo para descansar.
— ...Mww... — Murmurou, um suspiro cansado, esfregando o rosto com o dorso de uma das mãos quando Bley a chamou. Primeiro estava com preguiça da simples ideia de se mexer mas, com um pouco de coragem, arrastou o corpo para mais pertinho do da outra. Não para o que ela havia pedido: Acabou só se largando e acomodando no colo da irmã, buscando um ninho que há muito não se dava ao luxo de aproveitar.
— ... ...Viu? — Disse, devagar, após alguns segundos de silêncio.
— Eu falei que ia ser mais fresquinho. — Brincou, o olhar desviando com delicadeza para o rosto da mais velha, um sorriso torto despontando no canto dos lábios.
...
— ...Você acha que eles ainda vão vir atrás da gente? — Perguntou, a atenção esquivando com certo nervosismo na direção da entrada da clareira. Agora que o coração se acalmava aos poucos dentro do peito, eram três sofrimentos que tinha de lidar: O primeiro era o cansaço, óbvio. O segundo, as dores que se espalhavam e agarravam aos músculos por conta daquele arranque desesperado e...
— ...Ngh... — ...O terceiro, a dor latejante na cabeça causada pela cocada que havia levado sem dó nem piedade. A treinadora levou uma das mãos ao local da pancada, esfregando-o devagar e com certa pressão, apertando as pálpebras com sutileza.
— ...De onde diabos vieram essas coisas, mesmo? — Murmurou, as pupilas batendo na imagem da fruta quebrada que tinha largado no chão assim que pararam para "descansar". A moça esticou um dos braços, puxando o alimento com a pontinha dos dedos em uma tentativa de descobrir o que é que tinha dentro que havia chamado a atenção de seu fantasma elétrico.
— ...Acho que a gente vai ter que sair pelo outro lado... — Divagou, devagar.
— Será que se a gente for pro topo da montanha a gente consegue uma visão boa do melhor jeito de sair daqui? — Ponderou, um murmúrio perdido no coração da clareira. Não tinham muitas opções, mas... Alguma tinham que tomar, né?
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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?