[CONTO] Andros

Nascimento

"Semana 20 | 26/12/2021 ~ 01/01/2022"

”No início, tudo era escuro. Um líquido espesso envolvia todo o meu corpo e me nutria, me deixando bastante confortável dentro daquele invólucro apertado. As coisas pareciam boas, já que eu não precisava fazer nada além de relaxar no calorzinho que transpassava a casca protetora do meu invólucro.

Alguns dias haviam se passado desse que minha consciência tinha despertado, e o calorzinho que vinha de fora parecia aumentar. Era uma sensação tão gostosa, que me dava vontade de me esticar todo para receber o calor em meu corpo, que já não estava mais tão molenga quanto eu me lembrava. Então, comecei a me mexer. Era engraçado pensar que antes meus membros ficavam apenas na mesma posição, mas agora eu conseguia mexe-los da forma que eu queria, ou pelo menos podia, já que ainda estava preso naquele lugar apertado e escuro.

Meus movimentos aumentavam com o passar do tempo. Até que o líquido espesso começou a secar. Aquilo me dava um pouco de medo, já que não sabia muito bem o que aconteceria comigo. Será que tudo ia acabar? ’Crack!’ Um som chamava minha atenção para o outro lado do invólucro. Tão brilhante. ’Crack-crack!’ Incrível! Se tudo vai terminar assim, será maravilhoso. Mais uma mexida, e ’crash’. Meus olhos não estavam acostumados com aquilo. A luz passava pelas rachaduras em meu mundo, e o calor ia embora aos poucos, sendo substituído por um arrepio. O que estava acontecendo?

Um pedaço se soltava. Eu me sentia exposto. Fechava os olhos. Abria os olhos. Piscava freneticamente. Não podia acreditar no que estava vendo. Tudo era tão cheio de cor, cheio de vida, cheio de tudo o que eu nunca tinha visto antes, ou sentido até. Era um mundo novo, e na verdade estava apenas começando.” - A voz rouca parava de falar.

- Continue vovô! – Dizia o filhote. Suas patinhas se sacudiam animadamente. O pequeno Gible estava sentado em uma pedra na entrada da caverna. O Garchomp mais velho terminava de preparar a refeição, algumas frutas picadas em uma folha. - Você prometeu.

- Calma, vou continuar. Mas coma primeiro. – Ele dizia arrastando a folha para próximo do pequeno Gible. - Assim que terminar, eu continuo. Preciso terminar uma coisa primeiro.

Enquanto seu neto começava a comer, Garchomp seguia para o interior da caverna.

- Pronto! Terminei! – Gible tinha engolido tudo de uma vez só, com sua bocarra. Seus olhos até lacrimejavam, já que tinha se entalado um pouco com as frutas.

- Nossa, você não tem um pingo de paciência. Mas vamos lá então, depois eu termino meus afazeres... – Garchomp dava meia volta e se sentava ao lado do garoto para continuar a história.

”Era a primeira vez que via o mundo exterior. Então, virava meus pequenos olhinhos para baixo e via meu ovo pela primeira vez. Olhei mais uma vez ao redor, e finalmente começava a reparar nas árvores e outras plantas. Eu estava sozinho ali. O medo voltava logo depois da surpresa. O que fazer naquele lugar tão grande? Tentei me mover, mas ainda não tinha certeza de como andar. Assim, fiz o ovo rolar para o lado, e mais uma parte da casca caia, ’crash’.

Finalmente eu estava livre. Livre em um mundo totalmente novo. Sozinho. Não sabia exatamente o que pensar sobre aquilo. Foi aí que senti o cheiro pela primeira vez. Era doce, suculento. Minha boca começava a salivar, e algo em meu interior gemia. O que era aquilo? Aquela sensação de vazio era insuportável. Eu precisava saber de onde vinha aquele aroma delicioso.”