Desgraça de mulher grossa. A resposta dela me fez até dar um passo para trás; como se eu tivesse tomado uma espécie de soco. Minha única reação foi sussurrar um "ta" meio perdido, que ela (provavelmente) não ouviria. O que eu fiz? Sério, o que eu fiz? Levantei meu rosto e meu olhar foi até o fundo do cenário; passando Sabrina e fitando a parede mórbida e inerte por trás dela.
Difícil pra cacete fazer essa merda de missão. O mais estúpido é que me mandaram fazer da forma mais estúpida possível: desafiando Sabrina para uma batalha. Sério? Não poderiam me mandar vir aqui na calada da noite, contornar o ginásio ou jogar algum tipo de distração-"natural" para a moça? Prendê-la em um engarrafamento? Organizar um sequestro fora do ginásio?
Eu precisava mesmo fazer isso ENQUANTO A DESAFIAVA? Cara a cara? Sem experiência alguma? Isso é estúpido. É óbvio que ela já descobriu, se ela não descobriu tudo, ao menos grande parte.
Mulher estúpida, instituição estúpida, missão estúpida, ginásio estúpido. É tudo estúpido. Eu posso não ter emitido uma palavra sequer, mas se Sabrina de fato consegue ler mentes, ela sem dúvida ouviu meus gritos internos e ofensas deliberadas. Não que eu ligasse muito; a esse ponto, eu já estou certa de que ela me descobriu.
Retomei minha posição original, dei dois passos a frente e quando me ajeitei na posição-de-enfrentamento, Alakazam chegou. O diálogo entre os dois foi no mínimo estranho; para não dizer falso. A moçoila falara algo sobre corpo e Alakazam emitia uma aura um bocado mística. Uma encenação digna de novela mexicana eu diria.
Tinha tanta coisa errada naquela cena, que eu simplesmente não a levei a sério por um segundo sequer. "Isso é uma ameaça? Ou uma peça cômica?" Apesar de soar ignorante e estúpida, a mulher não chegaria a ponto de confessar um assassinado para uma treinadora (relativamente) forte. Ela não pode estar falando sério e, ao mesmo tempo, eu não acredito que ela acredite que isso iria me intimidar.
Sem saber como reagir, não reagi. Aqui eu já sinto que meus atos precisam ser muito bem atuados para fazerem sentido nessa cena, então eu simplesmente não atuei. Não fazia sentido; se os atos dela não são pensados, não seriam os meus que seriam influenciados por isso. Eu só fiquei inerte, olhando a cena, esperando aquela merda acabar para poder falar ALGUMA coisa.
A questão é que aquilo não "acabou". Quando eu achei que tivesse, ouvi um sussurro no pé do ouvido; extremamente parecido com a voz de Sabrina. Num ato reflexo, virei o rosto para ver quem falava. Como esperado, ninguém. A princípio eu tomei um pequeno susto, mas quando "entendi a situação", um sorriso um bocado cínico veio ao meu rosto e eu retornei meu olhar àqueles orbes vermelhos e horríveis:
- Isso é uma ameaça? - Perguntei, num tom um bocado debochado - Eu só queria sua ajuda, vagabunda - Eu juro que o final saiu sem querer, quase como um arroto - Que seja, eu não acho que você me ganhe. Freya, é tua vez.
Quando eu joguei Freya em campo, a fantasma sentira uma certa aura irritadiça emanar de mim. Quando viu-se nessa situação, Freya genuinamente sorriu. A fantasma, apesar de quieta, gostava de caos; era essa a exata sensação que sentia. O cenário, o sorriso cínico, o desafio... tudo isso fez Jellicent se sentir em casa como poucas vezes se sentiu desde que foi capturada.
- Para de rir, não tem nada tão engraçado assim - Ordenei, num tom incisivo - Duplo Shadow Ball.