[GYM BATTLE] VS. SABRINA #02

A risada das duas ecoavam e atrapalhavam minha música. "Tsk", emiti em tom irritadiço, logo depois de aumentar o som:
- Use duplo Shadow Ball - Disse, num tom meio 'dando de ombros'.

Eu não havia olhado para o campo ainda, mas se tem uma coisa que eu sei, é que quase todos os pokémons de Sabrina 'mamam' para o Shadow Ball. Eu não precisava ver nada, então mantive-me presa a tela do celular enquanto navegava no aplicativo comunitário de Saffron. Ali eu procurei algum botão de 'denúncia anônima' ou algo do tipo.

Minha ideia era, em suma, denunciar a menina. Quer dizer, eu queria tentar. Eu tinha dois possíveis futuros em mente: Sabrina me descobrindo antes de mais tudo e vindo me confrontar (o que a faria parar de rir) ou a denúncia der 'certo' e até certo ponto eu deixá-la ocupada. Seja lá qual fosse o fim daquilo, eu não estava em 'maus lençóis'. Eu (ainda) não tinha motivo algum para temer a polícia; muito menos os Rangers ou coisa parecida.

Sendo assim, agilizei os dedos e procurei alguma opção parecida com 'chamar a polícia'. Meus dedos ágeis começaram a digitar 'Vi nas proximidades do ginásio um Alakazam carregando um corpo completamente ensanguentado. Pode ter acontecido alguma coisa com Sabrina. Verifiquem.". Antes de enviar, levantaria o olhar para Sabrina para vê-la cara-a-cara e entender o que aqueles malditos olhos vermelhos me diriam em relação a isso. Suas ameaças não surtiam tanto efeito; ainda mais depois de eu ver o timinho bosta que ela carrega consigo.

A questão é que quando levantei os olhos, meus orbes repousaram em Hypno antes de mais nada; vendo que ele tinha consigo um pequeno aparelho-de-zoom. "Oh, Hypno-ose?", pensei em voz semi-alta "Ainda bem que Freya é lerda...". Não há mal em falar mal de Freya uma vez ou outra; ela me põe em situações estúpidas sempre.

- Que fácil - A afirmação saíra, quase como uma frase de efeito. A naturalidade fora tamanha que até eu me impressionei, visto que realmente soava como se eu já tivesse dito isso antes, o que era uma enorme mentira - Você tem que me dar o prêmio, né?

Claro que eu não falei isso sem fazer nada. Num ato um bocado rebelde, comecei a contornar o campo andando devagar; com toda a calma do mundo. Chamei Freya pelo nome para me acompanhar. A fantasma? Bem, esta não parou de rir, mas devo admitir que depois de alcançar certa altura da música, isso não me incomodou mais. Na verdade, fazia até certo sentido ela rir depois de três batalhas tão fáceis:
- Foi meio ridículo, né? - Comentei, dando de ombros e vendo Freya confirmar comigo.

Ali eu já não tinha mais receio algum de nenhum tipo de ameaça de Sabrina. Numa leitura rápida, eu realmente conclui que nem com o time original ela consegue ganhar de Freya e Hati juntas. Sua desvantagem era tremenda e os três pokémons que encurralaram Hati mais cedo só seriam um atraso.

Eu já estava prestes a encostar a mão no ombro de Sabrina quando a sirene atrapalhou minha música. Parei um pouco, olhei para a porta-de-entrada do Campo de Batalha e disse em bom tom:
- É melhor a gente ir logo pegar meu prêmio, né?

Quando Sabrina falara sobre tirar meu prêmio na recepção, apenas ignorei. Isso não seria uma opção; e ela já devia saber disso. Suspirei desanimada, estava prestes a falar que não tinha mais ninguém na Recepção e que queria ir ao banheiro, mas minhas mini-ideias foram todas despistadas quando um grupo de policiais chegara a falara sobre minha denúncia.

A estranheza dos fatos era que eles soavam como não conheciam Sabrina e, para minha sorte, Sabrina não conclamou o título de Líder de Ginásio. Dei um meio sorriso e falei num tom meio perdido:
- Tinha um Alakazam nocauteado ali - Apontei para o tatame, mais especificamente, aonde o Alakazam que nocauteei - Mas eu não vi nada não... mas pera, você não é a Sabrina? - Meu dedo apontado flutuara por um instante, indo de Alakazam para Sabrina de imediato. Para adaptá-lo, virei meu corpo um pouco para a direita e olhei diretamente para a moça - Você... me enganou? Que safada! Ela tava usando esses poderes psíquicos do Alakazam até agora para me mostrar imagens falsas do futuro...

Ali eu tive calafrios porque a imagem de Hati cercada foi rememorada. Sacolejei o corpo por um instante e me afastei lentamente de Sabrina. Estranhamente, Freya se aproximara mais da Líder; ainda que eu estivesse receosa de chegar perto, ela parecia gostar da ideia de assombrá-la por trás.

Sem muitos rodeios, a água-morta parara logo atrás da Líder Psíquica e botara um de seus tentáculos sobre seu ombro.

- ... Eu vou? - Falei, num ato bem surpreso.

Sendo bem sincera, essa era uma afirmação bastante estúpida e provavelmente outra enganação de Sabrina, mas isso me assustou. Eu não achava (e ainda não acho) que conseguiria terminar essa missão minimamente bem sucedida, o que me faria simplesmente não entrar para os Rockets. Se ela disse que eu vou, é porque provavelmente ela sabe que eu completaria a missão.

Outra coisa meio estúpida é ela falar do convite. Porque diabos carregaria o convite Rocket comigo, ainda mais já tendo o utilizado e ele não ter serventia nenhuma? Óbvio que joguei qualquer papel fora assim que sai da Organização. Além disso, o próprio Nicholas não me dera nada além de um cartão com endereço. Sendo assim, tirei minha mochila das costas e joguei aos policiais, como quem dizia "pode ver essa merda, não tem nada de errado ai". O único item que poderia dar uma certa 'desconfiada' era o cartão de acesso a PokeMansion, mas eu apenas responderia com "ganhei na Cherry Cup, era um dos prêmios. Pode confirmar com qualquer um, ta nos jornais se quiser".

Só que é aquela coisa, eu não consegui ser muito racional depois desses acontecimentos. Primeiro porque Sabrina me pegou de surpresa com uma revelação quase impossível; segundo que... bem, logo que eu joguei a bolsa para os policiais, Freya caiu imediatamente no chão. Meus olhos arregalaram, minha boca formou o 'o' bem redondo e eu dei um grito estrondoso. Num ato quase que reflexo, peguei minha esfera e retornei a pokémon de imediato, tirando ela daquela situação estúpida.

Meus olhos? Vermelhos. Minhas bochechas? vermelhas. Minha testa? Suada e vermelha. Meus punhos cerrados, minha postura inclinada e meus olhos arregalados. O que eu sentia - e muito mais que antes - era ódio:
- VOCÊ É RETARDADA? - Gritei - ELA SÓ GOSTOU DE VOCÊ, FILHA DA PUTA. TAVA TE IMITANDO, ELA SÓ FOI FALAR COM VOCÊ. BRUXA DESGRAÇADA.

Sabe a coisa mais estranha disso tudo? D'eu conversando com Sabrina e a gente se ofendendo sem os policiais fazerem nada. Na verdade, até o fato da minha bolsa cair no chão e fazer um barulho 'oco' foi algo esquisito, visto que eles nem se mexeram para pegar. O ato incompreensível foi visto por mim como desacato, me fazendo virar por completo meu corpo, olha-los de cabo a rabo e perguntar: "não vão fazer nada?". Sabrina fizera um discurso inútil ao fundo, enquanto eu os olhava desesperada, como quem dizia: por favor, me ajudem!

A primórdios eu prezei pela justiça e hoje não sou a pessoa mais justa do mundo, porém algo que sempre acreditei é que não poderiam me punir por um crime que eu não cometi. Eu não tinha motivo algum para temer a polícia e eu (precisava acreditar) acreditava nisso. Eu realmente acreditava nisso. Por isso, quando ambos olharam para Sabrina esperando suas ordens, eu só amoleci. "Eu que os chamei!", pensei com meus miolos desmiolados, até vê-los repentinamente derreterem e, por mais absurdo que isso soe, tudo vez sentido.

Meus olhos saíram da poça d'água policial e voltaram para os imensos orbes vermelhos de Sabrina. Ali, mais um calafrio me tomou e eu chacoalhei meu corpo abandonando-o.
- Isso era... hipnose? - Meu queixo caira e ficara assim até então. Meus lábios trêmulos bambeavam algumas palavras e a única pergunta que consegui fazer fora a mais simples - Então eu não te ganhei? - Sim, eu tinha um milhão de perguntas, mas o fato de eu talvez não ter ganhado de Sabrina tão fácil era a que mais me fazia corar - Por isso foi tão... fácil?

Minha bochecha ficara tão rosa quanto antes, mas agora o sentimento era outro. Eu era, acima de tudo, uma menina envergonhada por ter caído em toda aquela ladainha e ter realmente acreditado em tudo que surgiu para mim como visual. Respirei fundo, tentei retomar minha cor pálida original e dei dois apertos na minha bochecha, tentando descorá-la a base da pressão. Balancei a cabeça incessantemente, como se estivesse com 'pensamentos presos no meu cabelo', e balançá-los os fariam cair como folhas.

Não caíram, ainda assim, eu prosseguir:
- Claro que quero falar com você, é meio óbvio que eu não vou conseguir fazer essa missão por mérito próprio e eu preciso da sua ajuda. Você deve saber que eu não menti quando cheguei falando isso.