[GYM BATTLE] VS. SABRINA #02

Tudo (absolutamente TUDO) que Sabrina falou me caia como uma luva. Era como se a moça tivesse me dado em poucas palavras a sessão de terapia que eu precisava e me conquistara com pouquíssimos segundos. Ali eu entendia que não era uma questão tão pessoal quanto devia ser; era algo muito mais profundo que eu não deveria ter me enfiado tão profundamente.

É, já começamos mal...

- Quando eu vi essa missão, eu não sabia muito bem quem era você... quer dizer, eu sabia que era um líder e tudo mais, mas eu não sabia dos boatos. Quando fui pesquisar, eu senti que não era como grampear qualquer líder, mas algo muito mais a fundo e eu já estranhei, porque parecia uma missão difícil demais para alguém que acabou de começar. Eu não tenho disfarce, não tenho as habilidades que eles têm... não tenho nada - Desabafei - Na verdade, a minha única chance era esquecer completamente que eu sabia sobre a missão para ver se você não descobria. Antes de vir aqui, tomei um belíssimo porre e é um dos motivos de eu estar meio trêmula e mais ansiosa que o normal, porque eu tentei ao máximo esquecer tudo e deixar tudo por conta de Hati, só que é meio óbvio que não funcionou. Eu já tinha imaginado que a gente talvez chegasse a essa conversa, por isso coloquei o aparelho como Hold Item na minha Houndoom e coloquei ela dentro da esfera. Meu medo era essa escuta acabar me vigiando pela missão toda, então mandei ela pro 'limbo', se é que me entende...

Dito isso, deixei que meus ombros caíssem por completo. Sabe aquela coisa que todos dizem? Que é melhor ser burro do que sofrer sabendo? Pois é, eu sinto que eu estava a um passo de começar a sofrer-sabendo e eu não sei se eu queria isso. Uma coisa que me dava certo alívio era o fato de Sabrina não ter me contado quem era essa tal pessoa que me mandou fazer isso; eu sem dúvidas preferia não saber.
- Eu não sei... assim, eu TENHO que virar Rocket e acho melhor que eu vire Rocket com certa consciência do que estou fazendo, mas eu queria ser meio burra até certo ponto... - Disse, sendo um bocado sincera - ... é meio útil ser burra. Nessa missão seria uma dádiva, por exemplo, mas vamos lá, né? Mesmo que esse cara tenha feito isso tudo já imaginando uma conversa nossa, ele certamente não consegue nos ouvir, o que já é um avanço, né?

A pausa de Sabrina foi mais que estratégica; foi dramática. A resposta era um bocado óbvia, ainda assim eu quis parar alguns segundos para responder, apenas para seguir o dramalhão da história de conspiração:
- Inteligência... - Disse, dando aval para que ela prosseguisse, enquanto eu ouvia grande parte da história.

Bem, deixe-me parar um pouquinho antes de continuar minha fala; há algo de bastante intrigante na forma como Sabrina vomita algumas conspirações para mim. A primeira intriga é que... bem, nada daquilo me surpreendia. Eu sabia melhor que muitos treinadores que não há consenso entre a Equipe Rocket e que houve um grandíssimo problema que a minou em Tohjo. Provavelmente, eu até sabia o nome desse problema e poderia sussurra-lo em voz baixa: "Mewtwo".

Depois de pensar que isto fazia certo sentido, a moça me contou outra parte da história? Ela é Rocket? Oh, óbvio que sim. Quer dizer, eu não sabia até então, mas não é nenhuma revelação surpreendente; se eu tivesse parado para pensar um pouco sobre o assunto, perceberia bem rápido, talvez só não houve tempo para raciocinar. Certificá-la como Rocket me fez pensar duas malditas coisas, uma delas é que há Rockets inocentes sendo colocados automaticamente nessa guerra por meio de missões-estruturais que (basicamente) lhes obrigam a fazer algo que eles não sabem o que significa e eu fui vitima disso. A segunda coisa, eu vou externar em voz alta:
- Ele pode ser da inteligência, mas ele é meio burro - Afirmei com bastante razão - Se ele de fato me acha forte assim, acredito que seja estúpido me passar de bandeja para o outro lado dessa Guerra Civil. Se há algum plano profundo nisso, acredito que foi um ponto bem arriscado, mas fazer o quê? No fim, você quer que eu fique no seu time... não é? Bem, não é como se eu fosse preferir ficar ao lado de alguém que tentou fazer ao máximo eu reprovar.

- Ah, tecnologia, né? Eu fico meio besta também, o Casal Siena mesmo reconstruiu um continente inteiro e fundou uma cidade só com base nisso, elas certamente devem ter informações sobre tudo que acontece em Tohjo, mas eu gosto delas - Deu uma pequena pausa e me questionei o quanto isso era relevante ao assunto; a resposta foi zero, então deixei que Sabrina falasse.

Só que sua próxima fala eram as que eu menos queria ouvir. Falar sobre mim nessa situação é um bocado difícil, mas eu devo a Sabrina o mínimo por me ajudar com a missão e por revelar pra mim grande parte de uma história escondida que ela faz parte:
- Assim, passou da época que eu me importava em fazer todo mundo ficar bem, hoje eu me preocupo com um grupo bem seleto de pessoas - Eu não preciso dar nome; Sabrina aparentemente já sabiam quem eram antes mesmo de mim - Tirando a minha integridade física e talvez mental, além da integridade física e mental das pessoas que eu amo, eu não sei muito bem o que eu quero. Eu sinceramente acho que ser Rocket é o melhor caminho para eu conseguir isso da forma mais rápida e eu já não ligo mais para a ética no meio disso, só que pelo jeito que ta andando a carruagem, mal começou e eu acho que já não fiz a escolha mais saudável não... de qualquer foram, eu quero passar por essa fase com certa redução de danos a mim e às pessoas em volta... mas se tem uma coisa que eu descobri durante minha vida de Treinadora, é que é impossível viver nesse mundo sem no mínimo pender por um lado, então não acho que meu "objetivo" diverge muito do que o que você ta me pedindo.

Chegava a ser até bobo o quão legal Sabrina se tornou repentinamente, a sensação que eu tive era de que ela fizera um enorme teste para desabá-lo na minha cara e ver minha reação. Não sei se eu acertei ou não, mas suas respostas e o caminho pelo qual ela me conduziu pareciam extremamente coerentes com seus interesses.

O único problema é que isso soava estranho demais.

Eu devo admitir, ter uma certa ajuda dentro da organização é uma ótima coisa, mas vindo de alguém que parece ser tão grande, me parece um pouco que ela quer me usar. Não que eu ache isso um problema, mas há sempre a questão do 'como'. Eu não pretendo ficar na Equipe Rocket como ativa para sempre; assim como não pretendia ser usada como arma em Guerra Civil. Se por hora há de se entrar nisso e rebolar um pouco para manter-me bem, farei.

É aquela coisa: um passo de cada vez. Talvez esses passos me levem para o abismo, mas ao olhá-lo, precisarei certificar que ele não olhe de volta.

Passei todo o período que Sabrina falara em silêncio, e quando a moça começou a caminhar para fora, eu me vi obrigada a olhá-la sair. Meus orbes seguiram seus cabelos rubros, que de certa forma me lembravam Nicholas. Engoli a seco e tomei coragem para dizer o que já devia ter dito a um tempo:
- Obrigada - Eu não sei se era a palavra que Sabrina queria ouvir, provavelmente não, porém para mim esta é sempre uma opção certa.

Deixei-a ir e liberei Hati. A pokémon pousara no cenário meio ansiosa; ela estava esperando ser solta a muitíssimo tempo e não foi. Sua expressão era a própria "O que diabos aconteceu? Por que não me chamou? Deu algo errado?", já reparando as interrogações em seus olhos, lhe respondi calmamente e me pus a andar em direção ao fundo do cenário, tentando procurar algum tipo de escritório:
- Ta tudo bem, Hati, eu já resolvi... - Meus olhos caíram ao chão, fiquei fitando-o enquanto andava. Minha cabeça baixa dessa vez não refletia baixa-estima, e sim uma cabeça que não parava de pensar. Minha consciência pesava - ... eu acho que resolvi.

Ali, eu botaria a escuta embaixo de qualquer mesa que pudesse ver. Colaria com uma fita mais densa e seguiria ainda com calma para a recepção pegar meu prêmio.