[MISSÃO ROCKET] 020 — i know the end

Veja bem.

Poderia ter sido me dado um mapa com todas direções e situações possíveis em que tudo poderia sair tranquilamente que... eu escolheria o caos. É intrínseco a mim, de forma que quando o nervosismo começa a tomar conta, a única saída que conheço é bater de frente. Aquela situação me exigia algo diferente, mas era impossível dentro da minha cabeça fazê-la funcionar. O dano, os traumas, tudo tornava minha mente um caleidoscópio de pesadelos, prontos para me fazer agir antes mesmo de pensar.

E foi assim que tomei uma drástica decisão.

— Filha. — respirei fundo com as orbes cerúleas fixadas nas de Ivy, aproveitando para sentar de frente para ela — Preciso que você faça algo, mas você não vai gostar. — os olhos da dracônica se arregalaram; Dragonite conhece muito bem a mãe que tem — M-me dê um soco no rosto. Forte o suficiente para me machucar e talvez quebrar meu nariz, mas não ao ponto de me desmaiar. — acariciei seu focinho quando Ivy começou a negar meu pedido — Eu tenho um plano. Eu sei que você nunca me machucaria de propósito.

Cerrei os olhos, retirando as mãos do rosto de Ivy e colocando-as apoiadas no chão, atrás do corpo, de forma que equilibrasse-o após o soco. Abri um sorriso e sinalizei com a cabeça para que Dragonite prosseguisse e, bom, demorou um pouco talvez pela hesitação da pequena, mas aconteceu. "Se Natalie fez isso e aguentou, não deve ser tão difícil", foi o que pensei quando essa ideia surgiu na minha cabeça. Que nada. Foi por muito, muito pouco que não desmaiei de dor, mas havia conseguido o que queria inicialmente: fazer meu nariz sangrar e ficar com o olho roxo. Aproveitei para bagunçar minhas vestimentas e madeixas e sinalizei para Ivy me descer para frente do container.

— Vou fingir que estou desmaiada aqui. Você, fica em cima do container escondida. — resmunguei de dor — Quando ele se aproximar, utilize seu Extreme Speed e contenha-o. No ruim, teremos que matá-lo, mas acontece, né?

Por que diabos você teve que me contar que fez isso, Wooper?

Agora é me fingir de morta e esperar.

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Que dor. Sério... Mal consegui me concentrar ou perceber o que acontecia quando Ivy atingia o guarda com seu ataque extremamente rápido. Quando o vi desmaiado, peguei uma echarpe que sempre carrego na bolsa, rasguei em duas e prendi as mãos e os pés do guarda. O revistei, mas não sei se encontraria alguma coisa com ele além de um walkie-talkie, que eu seguraria para saber informações. Suspirei, apoiando a cabeça na pancinha da dracônica, que me abraçava em solidariedade por conta da dor.  

— Tá tudo bem, filha. Só uma dorzinha. — a cara da pequena parecia muito culpada, o que cortava meu coração — Fui eu que pedi. Fica tranquila. — apertei seu focinho, dando uma risada beeeem dolorida — Vamos até o nosso contâiner. Queria dar um jeito de entrar na Área de Registro de Carga... Mas como? — subi nas costas de Ivy para que pousássemos em cima do R6001 — Veja se consegue encontrar um jeito de não ativar esse bendito alarme.

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Observei cada detalhe desse galpão escuro, de cabo a rabo. As orbes iam de um lado para o outro tentando identificar algo que não tinha visto antes, até que... Lembrei do bendito mapa. Antes não me ajudou em muita coisa porque sou burra, mas agora me dava um caminho perfeito para acessar a área "administrativa" logo ao lado sem ativar o alarme.

E assim Ivy e eu fizemos.

Algo sobre voar com a cara toda quebrada de um lado para o outro em cima de uma dracônica me fez começar a gargalhar sozinha. Claro que abafei o barulho com as mãos, mas Dragonite estava certa que eu havia enlouquecido, até parando um tempinho no meio do caminho para ver se eu não ia surtar de vez. Por enquanto não... Foi só uma lembrança de como minha cabeça já estava mais pra lá do que pra cá e minhas escolhas são péssimas. Por que diabos não escolhi ser Ranger? Não precisaria esconder nada do homem que eu gosto, minha irmã seria uma agente da lei em vez de do crime e poderia passar meus dias resgatando felinos em cima de árvores.

Não aqui, toda fodida.

— Vamos, filha. Foi só um leve surto. — tentei colocar a mão no nariz, mas doía de mais — Vamos na segunda sala, a primeira parece ter gente.

A sala de registros. Talvez se encontrar vestígios de para onde levam a R6001, eu consiga ver os responsáveis por tais cargas e talvez interceptá-los antes do tempo.

Hora de vasculhar papelada.

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Foi mais fácil do que imaginava. Na minha cabeça seriam necessárias várias acrobacias, passar por raios-laser, aquela coisa bem de filme de ação, sabe? Sorte minha que estava enganada. Imagina fazer isso tudo toda quebrada e cheia de dor? Sem condições.

Adentrei a sala e, de imediato, recebi uma mensagem. Com que entidade Etérea essa mulher tem pacto? Ela sabe exatamente onde estou... Parece até uma força superior, mas não Arceus, já que se dependesse dele já estaria morta há anos. Mas toda ajuda é bem-vinda, né? Com a senha, finalmente pude acessar o computador e não ficar procurando papel como se estivesse em 1975.

— Filha, olhos abertos. — pisquei — Não hesite.

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Não que eu não seja uma pessoa tecnológica (spoiler: não sou), mas não conseguia encontrar nada sobre a carga, como se tivesse desaparecido, por mais que revirasse todas as pastas e arquivos naquele computador velho e empoeirado. Parecia de alguma forma que estava perdendo um tempo valioso, já que a qualquer momento a situação poderia mudar e tudo virar contra mim.

Sorte nossa, né, Ivy?

Inclusive, a pequena não conseguia tirar os olhos de mim. Eu conseguia sentir a culpa corroendo o corpo da dracônica, como se ela não conseguisse ficar em paz com o fato de que me machucou, mesmo tendo sido ordenada por mim mesma. Suspirei, enviando um beijinho no ar para ela: não tinha tempo pra isso agora, mas depois definitivamente seria necessário tirar alguns dias para tirar esse trauma dela.

Arquivos físicos, então; é isso. Falei e falei antes e agora vou ter que ficar folheando pasta atrás de pasta.

Preciso ser rápida.

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