Cold Shield - O campeão, a sacerdotisa e o patrulheiro

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Que Ayzen Kitshomo é um homem corajoso, não temos mais dúvidas depois de tantos anos a serviço dos Rangers, desde quando ainda era apenas um adolescente. Agora, que a chama ardente da coragem, acesa em seu interior, lhe dá motivação suficiente para encarar uma cordilheira gelada com apenas um moletom e jeans... Bom, coragem é uma virtude e inteligência é outra, né?!

Blackthorn tinha ficado para trás, mas ainda era possível ver alguns de seus prédios lá embaixo, no pé da colina onde a cidade se encaixava e as cordilheiras frias começavam. Já ali a friagem era invernal, e a geografia local sabidamente permitia que essa temperatura caísse progressivamente conforme se avançasse na cadeia de montanhas. Não era chamada de ICE Path à toa, e os sinais disso eram notáveis lá na frente, quando a paisagem abandonava os tons verdes e terrosos e se tornava um branco e azulado predominantes.

Daquele ponto, ainda era cedo para que o sensitivo Lucario pudesse compreender exatamente o que seu mentor desejava. Digo, em outras palavras, era difícil para o Pokémon filtrar suas sensações. Na prática, Ayzen leria no semblante do Lutador que ele identificava sim a presença humana nos arredores, mas eram vários e em várias direções.

Lucario, sem dúvidas, tenderia a indicar a trilha principal e congelada que atravessava as montanhas, pois era onde a maioria das "vidas" se concentrava. Contudo, também apontaria pontos fora desse caminho, onde sentia outras presenças, algumas delas ainda eram avistadas na forma de atletas ou aventureiros radicais que escalavam a montanha congelada pelo lado de fora.

Se você fosse um renomado cientista especialista em Mega Stones, ou uma mulher aleatória que abandonou a filha, por qual caminho você seguiria???

Constatando que sua melhor opção era perguntar a alguém sobre alguma coisa - não sei exatamente o que, já que a mãe de Luna não deve ser assim uma pessoa famosa, Steven talvez -, Ayzen dava seus primeiros passos em direção ao frio mais intenso.

É claro que aquele lugar tinha movimento e a presença de outras pessoas. Estamos falando de uma rota que conecta duas cidades, por mais fria que seja essa passagem, ela ainda é de uso comum, sobretudo em horários de pico como a manhã e a tarde. Por isso, o rapaz não tardou a observar os diversos tipos de transeuntes que circulavam por lá: treinadores como ele, a pé; civis de passagem; crianças brincando de bola de neve ou fazendo bonecos com a neve que chegava até aquele ponto; casais fazendo o mesmo que as crianças, mas com olhares diferentes. Todos devidamente agasalhados com seus casacos, casacões, jaquetas, cachecóis, toucas.

Alguns metros lá na frente, onde a trilha enfim adentrava a primeira das cavernas geladas, uma pequena aglomeração destoava das cenas comuns do entorno. À esquerda da entrada da caverna, malas, caixotes e equipamentos diversos tinham sido dispostos de modo planejado e, perto deles, um grupo grande de pessoas (cerca de 10) trabalhava. Ayzen não precisaria de muito esforço para reconhecer aquilo como um pequeno set de filmagens/fotografia/qualquer coisa assim, graças às suas experiências até mesmo indiretas com sua irmã.

Do lado oposto a equipe de trabalho, à direita, duas figuras conversavam com empolgação. Estavam um de frente pro outro, mas o padrão nos uniformes e os símbolos neles não deixavam brecha para dúvidas: um de azul e outro de tons terrosos e laranja; um policial e um Ranger - só que esse devidamente vestido para suportar o frio intenso. Ayzen também não teria que se esforçar muito para concluir que aqueles dois estavam de plantão, zelando pela segurança naquele local árduo.

Bem, opções foram dadas sobre quem Kitshomo pode abordar para perguntar, resta que ele se direcione a alguém, pode ser mais de um, é claro. Mas, exatamente o que gostaria de perguntar?

Ice Path – Tarde | 10ºC – Ayzen

– Alô, colega. – cumprimentava o outro Ranger, erguendo uma das mãos para um aceno.

O Policial apenas arrumou a postura, se calou e gesticulou um cumprimento rápido com a cabeça, aproveitando para analisar Ayzen dos pés a cabeça, franzindo levemente o cenho por alguns segundos, em resposta ao traje inapropriado do moço.

– Ah, sim, o Steven. Conheço. Meu patrulheiro tava acompanhando ele por esses dias nas montanhas. Sabe como é, o cara não queria de jeito nenhum usar a trilha segura... Cientistas, tsc. – dava de ombros e mexia a cabeça negativamente – Mas aí ele encontrou as sacerdotisas e nos dispensou... Bom, são mulheres, já viu. Ele disse que ia tentar dar um tempo pra explorar com elas, então infelizmente não vou conseguir te dar a localização exata do cara. Pelo menos elas usam rotas mais seguras, que a gente já inspecionou, e até arrisco dizer que podem conhecer essas montanhas melhor do que nós. Se quiser tentar ir atrás, posso pedir pra um dos meninos te acompanhar até onde elas geralmente se reúnem; ou boto no seu mapa a localização, se estiver seguro de ir só ou quiser mais um tempo pra se preparar.

Nas últimas palavras, o próprio Ranger também deu a olhada básica dos pés à cabeça do capitão. Moletom, jeans, botina e uma bolsa tiracolo?! Kitshomo não parecia estar preparado para uma aventura numa cordilheira congelada; tampouco devia estar carregando equipamentos de segurança naquela sacolinha quente. Mas, a decisão é dele afinal.

Ice Path – Tarde | 10ºC – Ayzen

É, Capiton, vamos deixar essa história de Bunnearys e capturas em dupla para depois. No momento, ainda mal sabemos se encontrará ao menos um dos coelhos! Não é fácil encontrar um alvo móvel, sem muitas referências ou pistas, num lugar desconhecido e tão estranho quanto este.

– Uhum. Sim. – respondia o policial, saindo do silêncio – Um filme de Natal, é o que tão gravando. Eles quase sempre vem aqui quando precisam de algumas cenas no gelo que não dê pra fazer em estúdio. – pertinente. Natal, frio, gelo...

O casal que era o centro das pessoas e equipamentos tinha um ar familiar. A moça com sua pele negra e cachos bem definidos. O rapaz alto e loiro, muito parecido com Ayzen - de costas, porque havia diferença no rosto - usando um uniforme militar, de frio obviamente. Destoava só o bronzeado de ambos, que não combinava com o clima invernal do Ice Path. Era quase como se eles tivessem acabado de sair de voltar de uma aventura numa ilha tropical e ensolarada; um clima diferente pra um filme de natal.

– Aqui, parceiro. – chamava o outro Ranger, devolvendo o Pad do colega loirinho – Com sorte você acha eles parados aí. Se não... Só mais um pouco de sorte pra adivinhar pra onde foram. Vou deixar meu pessoal avisado que você procura o homem. Qualquer coisa, sabe como nos achar. – dava uma piscadinha e um joinha com o polegar, enquanto o policial meneava a cabeça.

Pelo que indicava o mapa, Ayzen precisaria adentrar a maior das cavernas geladas primeiro. Essa logo adiante, onde começa a rota que atravessa o Ice Path. Depois, havia um claro desvio de rota que até o faria passar de uma montanha para outra. Como? Só indo até lá pra descobrir.

Ice Path – Tarde | 10ºC – Ayzen

O encontro "desnecessário" com outras criaturas será a menor de suas preocupações, meu querido Ranger. Pelo menos nesses primeiros metros do seu trajeto, pois percorreria a parte designada pelos seus próprios colegas como segura para qualquer civil e bem usada há muitos anos, o que faz os Pokémon evitarem essa área ou passarem por ela sem desejar encrencas.

O caminho até a caverna era íngreme, subindo, se aproximando mais e mais do frio. Por isso, a temperatura em si começava a despencar depressa, e a sensação térmica acompanhava numa velocidade quase exponencial. Isso é, ficava mais frio do que a temperatura marcada pelo termômetro, principalmente porque, uma vez dentro da caverna, não havia mais o calor do sol para amenizar as coisas; ali era tudo mais fechado, úmido, e fortemente gelado.

Desde a entrada, uma trilha era indicada através de uma cadeia de lâmpadas em corrente, penduradas pelo teto através de uma grossa fiação. Aquele era o guia principal do caminho, depois da primeira placa que se avistava no pé da caverna, até as demais que alertavam coisas como "Cuidado! Piso escorregadio" ou "Atenção! Estalagmites e estalactites!".

Embora todo cuidado com quem passava por ali, o fluxo de pessoas era consideravelmente menor que do lado de fora. Vindo no sentido contrário, Ayzen só cruzou com uma senhorinha que mais parecia uma bola de neve ambulante, entroncada e baixa, toda enrolada num casacão felpudo e amarelado. Já no mesmo sentido que ele, bons metros a sua frente, um treinador seguia a rota acompanhado de um Numel quentinho; atrás do Ranger, vinha um casal de moças risonhas, de mãos dadas, trocando gracejos com seus cachecóis bem grossos.

A temperatura já se encontrava nos graus negativos quando Kitshomo chegou no ponto referenciado, no mapa, como seu desvio. Havia ali uma larga e firme ponte de madeira, cruzando acima do que devia ser um amplo e congelado lago, pelo que indicava uma placa no começo da ponte. Uma faixa de isolamento tinha sido armada nas laterais do espaço aberto, indicando que não era permitido descer para o lago. Lá na outra ponta, um outro Ranger se posicionava, patrulhando; esse era fácil de reconhecer por conta das faixas refletoras que ele trazia coladas na parte superior de uniforme - tipo as que ciclistas e caminhões usam na parte traseira, para serem identificados no escuro.

Enfim, pelo que dava a entender no mapa, em algum lugar por ali devia haver um desvio, algo que levasse Ayzen até uma saída alternativa desta caverna, rumo à próxima ao lado. Agora, onde ficava essa passagem? Obviamente não haveriam placas indicando, já que não era algo recomendável para qualquer civil. Tampouco era possível ver, daquela parte da ponte, um outro caminho ou mesmo aberturas alternativas do lado esquerdo (onde o desvio devia estar). O teto, contudo, era bastante alto e abobadado. Não dava pra ver passagem alguma nele, já que nenhuma luz entrava ali, mas isso podia ser causado por outros fatores também, né?!

Ice Path – Tarde | -2ºC – Ayzen