lost at a sleepover

Sem dúvidas, o dia anterior não tinha sido muito legal. Umas horas no deserto, uma explosão e uma tempestade de areia não são lá o programa mais terapêutico do mundo, e o corpo de Timothy gritava por repouso depois da frustrada aventura. Já tinha voltado ao mesmo quarto de onde saiu em Mauville, quase se sentiu em casa no aposento do Centro Pokémon. Com certeza tinha cara de quem fez besteira na volta.

Depois de alguns cuidados básicos e uma noite longa de sono, era melhor passar o outro dia em descanso, mesmo. As mensagens para Chris não chegavam e ainda não queria criar preocupações para os outros colegas da sua sociedade, então era melhor ficar quieto por um tempo. Provavelmente seu amigo tinha encontrado o que tanto procurava, e Timothy fez uma prece ligeira para que não saísse em situação pior que ele.

De certo que não passava de cansaço e algumas dores causadas pela ação da natureza sobre o corpo, mas o menino sabia que seu corpo não era bem preparado para esse tipo de esforço. Com certeza, depois que ficasse melhor, voltaria a trabalhar em seu condicionamento, como chegou a fazer em Lilycove por um tempinho. Mas, com um dia de cama pela frente, o que fazer? Esse era o questionamento do dia.

Enquanto considerava suas opções entre músicas suaves e que faziam a mente divagar, avistou no Pokénav uma experiência virtual de visita ao... Holi Park! Esse nome era familiar. Outro dia, conheceu o lugar pessoalmente, onde capturou um Flaafy que tinha a cor da sua última forma. De certo que, pensando bem, talvez tivesse sido meio enganado daquela vez. Lã é fácil de pintar, né? Enfim, isso não vinha ao caso, já que aquele bichinho devia estar em boas mãos. O fato é que tinha sido uma experiência legal para levantar os ânimos, e talvez a sorte lhe sorrisse, para variar.

Além disso, outro fator lhe atraiu: A ideia de participar de um evento como aquele de forma totalmente digital era perfeita para passar parte do tempo em que preferia se preservar, e ainda manter o ofício como treinador, de certa forma. Sendo assim, fez um cadastro, pagou o valor necessário - um pouco caro por ter comprado a oferta mais tardia, é verdade -, e esperou uma ou duas horas, até que recebeu um chamado de fora do recinto que ocupava, onde dois itens eram entregues por um simpático Pidove. Ver aquele bichinho era reconfortante. Enfim, depois de receber os itens, voltou ao seu quarto e sentou-se com as pernas cruzadas sobre a cama, colocando os objetos em sua frente.

Um era um objeto tecnológico, parecido com o seu Pokénav, mas com um dispositivo para apresentar hologramas. Também vinha com uma esfera em tons vibrantes muito bonita, que seria usada na atividade. Além disso, ainda podia ter um Pokémon consigo para acompanhá-lo! Sendo assim, liberou seu Altaria da Pokébola, que tinha lhe acompanhado presencialmente da outra vez. Ele gostava do lugar, berço do seu nascimento, era simpático para os outros Pokémon que encontrariam e também não ocupava tanto espaço, então não lhe causaria problemas no pequeno quarto.

- Tudo bem, Rishon? Senti saudade. - Fez um carinho em seu Pokémon dragão, os olhos afetuosos sob um dos seus bichinhos mais estimados. Depois, ligando o aparelho em sua frente, começou a explicar a situação. - Lembra do Holi Park? Vamos visitar de novo, só que através desse negócio aqui. Seja legal com os outros, ok? - Os olhos do emplumado brilharam com a ideia de rever o lugar onde saiu do seu ovo. Conforme o brilho do Holocaster tomava a penumbra do quarto em que estavam, visitariam um lugar familiar de bem longe, com uma forcinha da realidade aumentada.

A verdade é que, a princípio, essa ideia toda de visitar um evento físico mas através da tecnologia só parecia fazer sentido por causa da tecnologia de hologramas. Já tinha visto alguns exemplos de plataformas digitais que supostamente simulavam a vida real, mas eram sempre como jogos de realidade virtual com gráficos questionáveis. Gente rica sempre fica sem coisa pra gastar, né? Pelo menos, quanto a essas coisas complicadas que Timothy ficava tonto só de tentar entender, sabia que os Pokémon sempre compensavam em cuidar da sua terra. Já pensou o que aconteceria ao meio ambiente se não tivessem eles aqui.....?

O fato era: esses hologramas realistas eram muito práticos e, aparentemente, funcionais. Pelo menos era um design com carisma! Confrontado por um sistema de criação de avatares, não fez grandes esforços; mudou as paletas de cor para algo semelhante com a própria aparência, colocou algum dos narizes que parecia com o seu, deixou até Rishon escolher a cor da sua camisa, um roxo suave. Até que ele tem bom gosto! E, afinal, seria representado por um avatar bem melhor do que o seu treinador podia desejar: Ele mesmo, literalmente. Ser um Pokémon tem as suas vantagens.

Depois de toda a cerimônia, um hub enorme surgia para a dupla, representado por um espaço aberto que parecia não ter fim, cheio de oportunidades de entretenimento banhadas em cores ofuscantes. Timothy não sabia até que ponto os videogames eram interessantes no lugar, então resolveu começar pelo interesse compartilhado com o Altaria: a música! Ele também parecia ter feito a mesma opção, já que seu avatar partia na frente do garoto, evidenciando o sistema de chat de voz com criaturas próximas, já que via o feedback visual na interface de Rishon cantarolando uma de milhares de melodias que tinha gravadas na caixola.

Seguiu o avatar do dragão para onde ele se voltava, o que, na verdade, era onde a música parecia ecoar mais alto. Discreto em multiplayers, Timothy torceu um pouquinho, talvez em vão, para que seu próprio Pokémon não virasse uma atração no caminho!

Seguindo o avatar emplumado de Rishon, Timothy acabou onde a música tocava mais alto no plaza do Holi Park, e não demorou muito para que começasse a reconhecer os padrões da música presente no lugar. Além disso, as linhas brilhantes sob a escuridão deixavam bem claro que se tratava de algum tipo de balada. Tá certo que a ideia era gerar realismo, mas algo a ponto de ativar as fobias sociais era novidade!

Tá, antes de se meter na multidão, o garoto refletiu um pouco. Um ambiente controlado como aquele, literalmente incorpóreo, seria uma boa oportunidade de confrontar esses sentimentos, né? No pior dos casos, era só curtir a música. Se preocupou um momento com a fidelidade do próprio avatar que escolheu, mas aí lembrou que, na internet, ninguém é exatamente o que diz ser, desde que provasse. Se algum conhecido mais velho lhe reconhecesse em uma rave virtual, paciência.

O último ajuste que pensou em fazer foi abrir as opções da aplicação e diminuir um pouquinho o som do chat de voz público, só pra evitar que machucasse os ouvidos com tantas vozes ao mesmo tempo. Só deu tempo de fechar a guia e perceber que Rishon já se colocava no meio da galera, animado com a batida. Com certeza, queria conhecer o responsável pela mixagem.

- Rishon, me espera! - Falou no chat da sua party com o Altaria, em vão, porque com certeza ele tava louquinho com a música e as vozes no lugar, antes de ativar o chat geral e ouvir uns elogios, com certeza direcionados ao seu Pokémon dragão. Começou a navegar em meio ao pessoal para não ficar muito longe de Rishon, passando conforme a música permitia. Tipo, tem algo na música que faz a pessoa se sentir tão bem, que é como se desse pra prever os seus movimentos, então era uma forma de evitar esbarrar nas pessoas naquela multidão. Enfim, ia tentar não se perder do seu Pokémon, principalmente quando ele estava fisicamente ao seu lado!

Entre as intermináveis interações presentes no lugar, era confortante saber que, na pior das hipóteses, Rishon mostrava ser bem educado. Prestou atenção no pedido do seu treinador e saiu da multidão para um espaço um pouco mais aberto, onde algo pareceu capturar a sua atenção. Sendo assim, não seria difícil perdê-lo de vista.

Se tivessem um lugar para ficar, podiam curtir a música, conhecer o DJ em que o Altaria se interessou, talvez até conversar com algumas pessoas e fazer umas amizades virtuais! Parecia um bom plano para expandir um pouco a lista de contatos, não fosse a surpresa pouco depois.

Apertando um pouco o passo para seguir o dragão, Timothy deu uns passos com mais força no espaço virtual, bem a tempo do chão ganhar propriedades elásticas e colocar todo mundo pra pular! Foi um baita susto subir e cair no chão e subir e cair de novo, mas saber que era um espaço virtual e livre de danos físicos lhe encorajou a recuperar o equilíbrio com mais rapidez e estabilizar os saltos naquele terreno saltitante, antes de perceber o que chamava a atenção do seu bichinho.

Conforme o chão do lugar começava a repelir todo mundo pro céu, todo mundo tirava um momento para recuperar o equilíbrio, tempo suficiente para que o palco fosse tomado por um clima completamente novo. Tirando Timothy, claro, já que Rishon ficou brincando com ele e tirando o seu balanço. Não é justo quando você consegue voar até no multiverso, sabia?

Apesar de tudo, era um momento divertido. Pular era bom, afinal! Se recuperou em tempo de ver a penumbra do lugar aumentar, ressaltando feixes de luz ainda mais fortes, e uma fumaça colorida meio espessa, que ocultava formas enormes surgindo no lugar

Então, meio que apareceu um robô enorme sobre o palco, um mecha digno de tokusatsus, com orelhas de gato e um Pokémon no topo. Seria aquele o DJ? Parecia que sim, e talvez isso fosse o fator que tanto fazia Rishon querer conhecê-lo. Nem deu para ver mais nada, porque outro momento fez com que mais um daqueles bichos enormes surgissem, esse com propriedades mais aviárias e coloridas. Timothy ficou pensando se isso levaria o seu Pokémon à virar a casaca no que parecia virar um duelo de DJs.

Riu um pouco, lembrando de um videogame com um conceito parecido. Depois, tentou aproximar a sua visão para o topo, ou dar um zoom, ou algo que o multiverso permitisse fazer nesse sentido, porque era difícil avistar as espécies lá em cima quando você não é uma nuvem voadora.