Pokémon Mythology RPG
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[Recrutamento de Aprendiz] - Vincent Starchild

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O jovem Vincent se encantava a cada metro quadrado da belíssima Arborville, principalmente com a magnitude do ginásio. Realmente a líder Mina, famosa pelo seu toque e excentricidade artísticas, era uma joia em meio à floresta, e seu ginásio era algo próximo do El Dorado em termos de exuberância! Esse ambiente era um prato cheio para o sonhador treinador, que sentia sua veia artística pulsar somente em estar em contato com tal atmosfera.

Uma simpática atendente o recebia com um largo sorriso no rosto enfeitando seu rosto arredondado, diminuindo seus já pequenos olhos em dois riscos estreitos. - Pois não, senhor Vincent, sinta-se acolhido em nosso espaço! - ela fez um leve gesto, unindo as palmas das mãos e fazendo uma leve reverência, o famoso gesto de “namastê” - Nossa líder está em lhe aguardando! Por favor, me acompanhe! - bem suavemente e delicadamente, ela se levanta, balançando os pequenos cachos cor castanho-escuros e indica o caminho para as dependências do ginásio.

Até os corredores, paredes, chão e teto eram completamente preenchidos com toda sorte de cores, tons, vibrações, estilos… parece que cada espaço daquele lugar era uma grande tela a ser pintada, uma história registrada por traços e pinceladas, um suprassumo da arte! Os olhos de Vincent se enchiam com tanta arte, e ele nem precisava se preocupar tanto com sua Cleffairy curiosa: ela também estava encantada com aquele espaço! E também não havia muito para ser mexido: o que as paredes tinham de arte pulsante os cômodos tinham de decoração minimalista. Um contraste digno de uma expressão viva.

- Por favor, entre!- a moça que o acompanhava estende a mão para um cômodo arredondado, dividido apenas por uma cortina de miçangas. Dentro havia vários baldes de tinta, de várias cores, alguns derramados no chão, outros vazios mas tombados em um canto. A parede também continha muitas manchas, algumas mais novas e outras mais antigas. Logo à frente, assim que entrasse, havia uma tela ainda em branco, e todo esse ambiente era preenchido com uma música de relaxamento bem tranquila e o suave aroma de incensos. O chão também dispunha de grandes almofadas de aparência muito confortável. E sentado em uma delas havia uma figura feminina, com roupas largas, completamente sujas de tinta. Os longos cabelos loiros também tinham manchas de tinta. Ela estava sentada sobre as pernas, olhando fixamente para a tela em branco.

Logo que ela percebeu a presença do jovem Vincent, um gracioso mas contido sorriso surgia em seus lábios. Ali o rapaz também pôde notar que o rosto dela também estava sujo de tinta! - Ah, que grata surpresa! - lentamente ela se levanta e estende suas mãos para envolver a mão direita de Vincent, a mão direita sustentando e a esquerda cobrindo, e uma saudação muito calorosa - Bem vindo, bem vindo… - ela para por alguns segundos olhando nos olhos do rapaz, esperando alguma reação do mesmo - Me perdoe… já nos conhecemos? - ela tomba a cabeça para o lado, lentamente, e a confusão era nítida em seu rosto. Será que ela se lembrava do compromisso com Vincent?    


 

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Capítulo 7 - Aquarela

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A parte interna do ginásio era tudo que eu imaginava - ou devo dizer, sonhava - e mais! As paredes manchadas me lembraram imediatamente das tardes de verão que eu passava pintando papéis de guache junto de Violet. Uma dorzinha se alastrou facilmente pelo meu coração; era aquela angústia azulada que aparecia vez ou outra quando me lembrava de minha falecida irmã. Mas, tão rápido o sentimento veio, mais rápido se fora. Não conseguia resistir às cores quentes de euforia que escorriam por todos os meus cantos. A alegria era contagiante, e a ansiedade também; logo trataram de me manchar inteiro e fazer aquela dor fúnebre parecer uma febre passageira.

Quando vi Mina com meus próprios olhos pela primeira vez, quase não acreditei; era um ser humano de verdade, assim como eu! Quando via fotos da líder nas revistas, entrevistas e ensaios, ela parecia tão inalcançável... quase um ser iluminado, que após sua ascensão não precisaria mais dar atenção pra nós meros mortais. Mas era ela ali: carne, osso e tinta. Me cumprimentou com certa solenidade serena. Sua voz era de um veludo doce que quase me fazia esquecer que eu precisava responder logo. Tratei de acordar dos meus delírios coloridos para responder com seriedade; ou quase isso.

- Ah, eu... não, não nos conhecemos. Já te vi pintar um quadro gigante ao vivo, mas eu era menor e não cheguei a falar contigo... Foi em Ecruteak, durante um festival. Minha cidade natal... Ah, mas eu tô devaneando haha... Faço muito isso. Principalmente quando tô nervoso. Isso e falar sem parar.... Mas qual que era a pergunta mesmo? Ah, se te conheço, né? Não. Mas marquei um compromisso contigo hoje! Quero ser seu aprendiz, senhorita Mina. Senhorita é adequado? Ah, e essa aqui é a Serena, minha Clefairy. Tenho outros pokémons fada, se quiser ver. Eu tô falando demais, né? Desculpa, tô muito nervoso...

E corava, com certeza. Sentia quase de imediato aquele rubor quente subir para as maçãs do meu rosto. Será que Mina havia entendido? Tenho a impressão que falei rápido e me atropelando, como era de se esperar de mim em situações como esta; nervosismo era meu nome do meio!

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Mina ainda mantinha a mão de Vincent confortada sobre as suas de forma muito tenra e suave. Os olhos da líder indicavam tanto sua pureza quanto sua… bem, distração talvez seja a melhor palavra para definir! Mas ela não se conteve e deu boas risadas com o desconcerto do jovem. - Hahaha! Ah, que alma gentil você tem! - ela tocou o rosto de Vincent com suavidade - Oh, acabei sujando um pouco, me perdoe! - sim, uma mancha de tinta acabou marcado o rosto do jovem com aquele gesto. Ainda ouvia as palavras dele quando o puxava, tranquilamente, na direção das almofadas. - Agora me lembro de seu pedido! - ela sentou-se, olhando para o jovem e o aguardando sentar-se também - Não precisa ficar nervoso… perdão, não me lembro de seu nome… - ela franziu o cenho e tombou a cabeça para o lado. Um pensamento de que poderia ter perdido o nome do rapaz à sua frente durante a fala passou por sua cabeça, mas ela achou mais prático perguntar.

- Não precisamos de tais formalidades, pode me chamar apenas de Mina! - ela balançou a cabeça, naquele mesmo ritmo suave, e abria mais o sorriso - Primeiro, vamos fazer um pequeno exercício de respiração para acalmar esse coraçãozinho ansioso, está bem? - ela esticou a mão e tocou o peito do jovem, então sentou-se de pernas cruzadas, a famosa “perna de índio” e ajeitou sua postura. - Relaxe, solte os ombros, repouse as mãos sobre os joelhos… - o tom da sua voz, o aroma dos incensos e a música ambiente davam um tom ainda mais místico ao local, esbanjando tranquilidade e paz.

Música :


Ela então sobe os braços lentamente, inspirando com profundidade, deixando que o movimento dos membros dite a velocidade da entrada de ar. Assim que suas mãos se encontram no alto de sua cabeça, unindo as palmas das mãos no gesto de oração, ela inicia o descimento dos braços, expirando na mesma velocidade. - Sinta cada parte de oxigênio invadindo seus pulmões. Sinta cada fragmento de vida eclodindo e partilhando dentro de si. Sinta-se grato por esse momento. - a voz dela estava ainda mais doce, mais suave, como se unisse a melodia como um instrumento chave da mesma. - Esvazie sua mente. Deixe as tensões, expectativas, impressões, de fora. Aceite este lugar como um local de crescimento, de evolução. - ela repete mais uma vez o movimento de respiração, completamente imersa e concentrada. - Sinta todo o universo trabalhando seu interior, unindo sua parte menor ao todo, o grão à praia, a gota ao oceano. Sinta, e cresça! - mais uma vez, ela repete o movimento de meditação.

Não dava para estimar quanto tempo se passou desde o início daquele exercício, mas aquele momento deixou o rosto de Mina mais iluminado, mais… místico. - Então, sente-se melhor? - ela tomba novamente a cabeça, abrindo um singelo sorriso, daqueles que fazer os olhos virarem somente dois risquinhos. - Adoraria conhecer todas as criaturinhas que te acompanham nesse jornada, Vincent, e adoraria saber mais sobre sua trajetória. Por que não me conta? - então ela se vira na direção do garoto e cruza as pernas, abraçando os joelhos e olhando no fundo dos olhos de Vincent, como uma criança completamente interessada em ouvir uma história.


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"Nunca mais vou lavar o rosto", pensei, assim que Mina me manchou de tinta.

- Ah, Vincent. Pode me chamar de Vincent.

Apresentações feitas, a líder era sensível o suficiente para perceber minha afobação. Não que se fizesse necessária muita empatia - era evidente que eu estava ansioso - mas me senti contemplado por sua natureza acolhedora mesmo assim. Fui seguindo seus comandos, passo a passo, e me permitindo relaxar cada vez mais. Com a facilidade que tenho em sonhar acordado, foi simples embalar nas sugestões de Mina. Não sei quanto tempo ficamos naquilo, mas a sensação que tive foi de flutuar num grande mar, escuro, pacífico e tranquilo. Senti-me renovado. Por muito tempo, minha mente se encontrou vazia no silêncio quase etéreo daquela sala.

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Quando Mina finalmente me tirou do transe, demorei um pouco para respondê-la.

- Bem melhor. Obrigado por isso, Mina. Acho que eu precisava, você viu hahaha... Bom, eu nasci em Ecruteak e sou apaixonado em pokémons desde muito pequeno. Eu tinha uma irmã, Violet- quer dizer, ainda tenho, e nós dois éramos inseparáveis quando éramos menores. Nós três, né, já que Serena sempre esteve conosco, desde quando era uma pequena Cleffa. Né, Sereninha? - A Clefairy deu um sorrisinho tranquilo. Parecia relaxada. Me pergunto se ela entendia os comandos de Mina e se meditara conosco. - E um dia... Enfim, Violet ficou bem doente e acabou... indo embora, eu acho. Sobramos eu e Cleffa, e eu acabei fazendo uma promessa pra mim mesmo: honraria o sonho de Violet de conhecer todos os pokémons do mundo, sobretudo os tipo fada, espécies que eu e minha irmã sempre fomos apaixonados, de verdade. Treinar e conhecer melhor as fadas não é só por paixão pra mim, mas por promessa. Honrarei esse contrato com Violet. Sei que de onde ela estiver, está feliz em me ver desbravando o mundo e criando laços com tantos serzinhos feéricos como a Serena aqui. Sei que você é uma especialista nesse tipo, o que me trouxe até aqui para ser seu aprendiz. Mas não é só isso, Mina! Seu misticismo, seu jeito sonhador e artístico, tudo isso me trouxe até aqui! Sinto que... vibramos a mesma energia, por assim dizer. Acho que temos muito em comum e que posso alcançar novas alturas com a sua mentoria. O que me diz?

É claro que não mencionei já ter interagido com o espírito da minha irmã, que me fez mais de uma visita em sua forma espectral e crescida. Não contei essa parte nem mesmo pra Ambrose, meu namorado. Ou pros meus pais. Apesar de já confiar em Mina, e sentir que partilhamos do mesmo misticismo mágico, não queria assustar a minha futura professora, assim espero. O que será que ela pensava de mim agora?

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Mina ouvia as palavras de Vincent de forma paciente e serena. Cada pedaço de vida conta uma história, e cada história tem pedaços de vida, e juntar esses pedaços com cores e traços é o sentido da pintura, das artes plásticas no geral. É assim com a música também, com a poesia, com a dança, com todas as expressões de artes, na verdade. Essa maneira de ler e traduzir o mundo, os sentimentos, as pessoas, as interações, as relações… todas as nuances que fazem do mundo ser mais do que um conglomerado atômico renovável e sustentável.

Seria essa a tal relação mística ao qual Vincent falava? Mina olhou de uma maneira curiosa para o rapaz, depois soltou um leve risinho. - Mística, eu? Imagina, sou só apenas uma pessoa tentando fazer arte! - ela se encantava com a pureza de Vincent, sabia que aquele tipo de tela, aqueles tipos de cores e traços, eram coisas bem raras no mundo atual. Um coração e uma alma pura, ansiosa por aprender e conversar sua arte para o mundo e para aqueles que ama, estando entre nós ou não. - Sabe, não acho que sua irmã… Violet? - ela tombou de novo a cabeça para o lado, esperando uma confirmação quanto ao nome - Acredito que ela ainda esteja com você… bem aqui. - ela estica os braços e toca o peito do rapaz, na região do coração, e abre um sorriso muito mais doce que os anteriores. Então ela volta o seu corpo para a frente, para o sentido da grande tela em branco. - Me diga, Vincent, o que vê nessa tela? - a pergunta foi feita sem nem ao menos ela se voltar para o rapaz, ainda encarando a tela em branco.


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Assim que Mina disse sentir que minha irmã ainda permanecia comigo, suei frio. Por um segundo que mais pareceu uma eternidade, jurei ter meu segredo revelado, como se subitamente estivesse desnudado na frente da líder, uma figura de autoridade tão importante para mim. Engoli a seco. Logo depois, entretanto, a artista revelou o que de fato queria dizer. Assenti silenciosamente; de fato, Violet ainda estava no meu coração. Aqueles que nos deixam nunca vão realmente embora, né? Enquanto sua memória perdurar, sua existência será perpétua.

- Eu vejo... - pensei em responder um grande campo nevado; acho que ainda estava com Yue na cabeça, já que das últimas vezes que treinei meu time, foquei na raposa-das-neves, que por mais de uma vez desabou uma nevasca no campo de batalha. Mas não era essa a resposta certa... Se é que existia uma. - Vejo o mundo. Não necessariamente o nosso, mas um mundo a ser desbravado. Um destino ainda a ser manifestado. Acho que é... onde estou agora. Quer dizer, eu já teria dado umas pinceladas em algum lugar, mas em geral me sinto assim: um quadro branco que ninguém pode dizer o que se tornará.

Uia, falei bonito. Espero que Mina tenha entendido.

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Mina mantinha seu olhar na tela em branco diante de si enquanto ouvia as palavras de Vincent. A música ainda tocava no salão e o incenso ainda queimava, deixando aquele local mais acolhedor e tranquilo. Ao terminar de ouvir aquelas palavras, a líder abaixou seu olhar e respirou fundo. - Então é isso que você vê… - ela finalmente volta para Vincent, agora com um olhar um tanto entristecido e mais distante. Nesse momento, a mesma atendente que conduziu o rapaz pelo ginásio entra na sala segurando uma bandeja com um bule e duas xícaras de chá, muito perfumado e quentinho. - Obrigada! Por favor Vincent, sirva-se! - ela voltou a desenhar o sorriso no rosto enquanto tomava um pouco do líquido, ainda imersa em seus pensamentos.

Um silêncio contemplativo tomou forma entre os dois, com Mina observando o quadro enquanto segurava a xícara. Até que uma nova inspiração de ar profunda o quebrou, e a líder novamente voltou-se para o jovem. - Sinto que há um conflito dentro de você. - ela olha para os olhos de Vincent, sua voz adornada com calma e leveza - Você traz consigo tantas cores, tantas experiências de vida, tantos sentimentos, mas ainda mantém seu quadro, a tela de sua vida, em branco. É bela essa visão ampla do que virá, de estar aberto às possibilidades, mas isso não significa que tenhamos que deixar o que passou de lado. Sem o azul e o vermelho, o roxo não existiria. Sem o verde e o amarelo, o céu não teria o seu azul. Sem nossas experiências passadas, não teríamos um futuro. - ela dizia, cada palavra e sentença parecia carregada com pesos diferentes, pesos de alguém que já pintou e experimentou várias formas de ver o mundo e interpretá-las, das mais belas às mais densas. - Você disse que tem consigo outros Pokémon além de Clefairy. Onde estão as cores deles em seu quadro? E para além disso, onde está o tom “violeta” dele? - aquela provocação era proposital, algo que talvez despertasse algo dentro do rapaz. Mas ao mesmo tempo era uma provocação reflexiva. Talvez Mina quisesse ver algo que até mesmo Vincent não pôde ver ainda, algo que despertasse dentro do jovem esse sentimento sonhador que suas palavras limitavam. Talvez fosse essas cores que Mina quisesse usar em seu quadro.          


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O chá era bom.

Enquanto o sorvia, ouvia atentamente ao discurso de Mina. De fato, eu estava em conflito; acho que tantos horizontes pela frente me deixaram cego com suas luzes. Eu queria me especializar em pokémons fada. Eu tinha certeza disso em meu coração. Mas não conseguia não me questionar o quanto desse desejo vinha naturalmente de mim e quanto vinha de promessa que fiz a Violet...

- Entendi, Mina. Bom, a Serena você já conheceu: ela pode ser meio destrambelhada e facilmente impressionável, mas nunca me decepcionou em batalha! Nem mesmo contra contrabandistas, né Seri? - a pequena Clefairy fazia uma pose de balé; exibida... - Ah, e ela costumava praticar ballet comigo e Violet. Faz tempo que não danço, mas a Sereninha nunca deixou de lado essa paixão! Combinamos movimentos de ballet com seus golpes para encaixar combinações brilhantes e imprevisíveis em batalha!

Clefairy dançou um pouquinho, encenando uma batalha. Era graciosa em seus movimentos, mesmo nos mais desajeitados. Havia um charme inerente ao seu ser.

- Bom, depois de Serena, veio o Link! - disse, liberando da pokébola uma lebre azulada. - Link é o meu escudeiro mais fiel! Heroico e bravio, lidera o meu time junto de Serena. Confio plenamente nas suas capacidades! Se tem alguém responsável que jamais me deixaria na mão, é o Link!

A lebre, que não sabia bem o que acontecia, parecia um pouco envergonhado, mas manteve a pose heroica mesmo assim: peito estufado e barriga (roliça) pra dentro.

- Que tal uma breve demonstração? Link, lance Bubblebeam contra a Serena, que lançará um Flamethrower! Potência mínima, hein! Não queremos botar fogo em nada.

Com delicadeza, vi os dois executando os movimentos que eu ordenara: enquanto as bolhas translúcidas e iridescentes de Link se chocavam com as línguas de fogo de Serena, um vapor silencioso e cintilante invadia o ambiente. Graças a Arceus que ambos souberam controlar a intensidade; numa batalha de verdade, a coisa podia ficar bem mais violenta.

Decidi liberar minha raposa invernal:

- Bom, depois veio Yue, que consegui através de uma troca. Yue é bem manhosa, pra não dizer tirana, mas o que ela tem de vaidade, tem de poder! Yue é capaz de invocar o inverno quando entra numa batalha, soterrando nossos inimigos em neve. É uma princesa sim, e tal qual uma monarca se preocupa com seus... súditos, eu acho hahaha. Yue pode não ser uma fada ainda, mas quando atingir seu potencial pleno, terá o brilho eterno de uma. Depois veio a Kirlia! - disse, liberando mais uma integrante do meu time. - Conheci Kirlia quando ela era só uma Ralts carente. Kirlia ainda está buscando a sua independência e voz interior, estou ajudando ela a ser mais dona de si! Como era muito apegada a sua mãe, sair pra viajar o mundo comigo é um desafio e tanto! Mas eu acredito no seu potencial. Né Kirlia?

A pokémon emitiu um leve murmúrio que parecia ecoar dentro da minha cabeça; provavelmente foi isso que aconteceu mesmo.

- Ah, e Kirlia consegue ler a aura das pessoas através de cores. Ela já até me fez ver isso! Sua telepatia permite que ela transfira esse dom para outros por alguns segundos. - disse, orgulhoso. Kirlia seguia tímida. - Bom, essas são minhas fadas! Tenho outras no depósito, se quiser ver posso ir em algum PC e trocar... mas por enquanto, são essas que mais passaram tempo comigo e que estou treinando atualmente. Não sei como ficará meu time daqui um tempo, quero aproveitar bem com cada um e ver quais se destacam melhor para a batalha. Não quero forçar nenhum a ser o que não se é. Além de combatentes, meu time é sobretudo constituído pelos meus companheiros de viagem, meus amigos. Compartilhamos batalhas sim, mas também risadas, sonhos, sonecas, paisagens... Pode ser bem solitário o mundo lá fora sem eles. Não sei como ou onde estaria sem ter cruzado com cada uma dessas criaturinhas. O que acha?

Perguntei, ansioso. Será que tinha respondido a questão de Mina? Sentia que ainda havia muito a se explorar. Me sentia, sobretudo, imaturo.

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Aquele momento era encarado como um misto de partilha e avaliação por Vincent. Aos olhos do rapaz, a questão levantada era parte de algum tipo de processo seletivo, de decisão entre acolher como aprendiz ou não. Apresentar seus parceiros um a um e mostrar um pouco de suas habilidades e personalidades como um tipo de show fazia também parte da forma com que Vincent via o mundo. Parte dança, parte interpretação, até um pequeno show off de contest! Realmente era impressionante os companheiros que o garoto havia reunido e treinado, com as situações que a vida lhe apresentou e os pequenos pedaços da mesma que colidiram e geraram aquele encontro.

Já aos olhos de Mina, a resposta da questão veio na forma de mais um pouco de partilha. Já na primeira fala, com a apresentação mais formalizada de Serena, a líder sorria e batia palmas para a Clefairy. - Haha, bravo, bravo Serena! - ela sorria levemente com a graciosidade da fadinha! Com a chegada de Link, as coisas realmente esquentaram. - Eu não acho que seja uma boa… - antes que Mina pudesse terminar de falar, os dois ataques se colidiram com a intensidade certa, e os olhos da moça brilharam com aqueles efeitos e cores. Mina apenas conseguiu bater palmas, meio boquiaberta com a demonstração de controle dos Pokémon de Vincent. Depois veio a chegada da pequena raposa da neve de Alola e da fada dançarina empática, as últimas do time de Vincent, e com isso ele terminava de apresentar o time para a líder.

- Você tem ótimos companheiros, Vincent! - ela abriu novamente o sorriso, mantendo o semblante doce e suave - Vejo que são bem treinados e têm um vínculo bem forte, tanto com você quanto entre eles. - era um elogio, e Mina novamente se voltava na direção de Vincent - Vejo que você tem várias cores e tons para pintar o quadro da sua vida então por que decidiu mantê-lo em branco para um futuro incerto? - a pergunta veio de forma direta e com um tom quase que retórico, mas era uma reflexão a mais - Nós artistas muitas vezes sentimos o vazio da inspiração para fazer nossos traços, mas raramente sentimos falta das cores para eles. Quando as cores nos faltam, nos faltam os traços, logo as telas ficam em branco. Percebe? - ela tomba a cabeça, com medo de estar sendo complexa demais para o entendimento do rapaz. - Como pintaria essa tela com as cores que me apresentou? - a perguntava retornava. O que será que Vincent entenderia dessa parte?    


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Tudo que Mina me dizia certamente ressoava no meu âmago. Ficava claro para mim que a garota não fora escolhida como líder só por suas óbvias habilidade em campo e no manejo dos tipo fada; havia uma maturidade e uma visão do mundo incomuns e peculiares, além daquele brilho em seu ser que deixava mais do que claro que Mina era um humano entre muitos.

Fiquei em silêncio alguns segundos, sentindo todos os olhares da sala se voltando para mim. Meu time todo parecia em absoluto silêncio, somente esperando o que o seu mestre faria ou diria agora. Mas não me sentia pressionado; isso ficara para trás. Depois de tanta meditação, conselhos e acalantos, me sentia pronto, apesar de um pouco imaturo.

- Tem razão, Mina. Sinto que estou deixando as coisas para depois... Fazer planos é importante, claro, mas viver o agora é... sublime. Por isso ando tão ansioso. Acho que era disso que eu tava precisando, desse empurrão do universo! Ou de você, Mina hahaha... Agora eu entendo as cores que me fazem ser quem eu sou. Quer dizer, não posso falar que entendi em alguns minutos algo tão grandioso. Mas sinto que estou em processo de aprender...

Percebia com a fala da líder que eu estava tentando traçar rascunhos demais sem perceber as tintas que possuía. O formato de um desenho é importante, de fato. Mas e as cores que o preenchem? E suas aquarelas estonteantes, seus sombreados e as sensações que transmitem? Teria eu focado somente nos traços e esquecido de suas cores?

Respirei fundo e me concentrei.

- Bem. Tem o violeta no centro. O violeta não, talvez um lavanda, mais puxado pro azul, um tom bem sereno. Essa é Violet. Sinto que está no centro de todas as coisas. Não sei até que ponto isso é saudável... sei lá. Mas é o que eu sinto. É quase como a gravidade que me mantém no chão, uma força que me mantém alerta e vigilante. E tem também... Esse talvez você ache engraçado, mas, apesar da distância, sempre penso no meu namorado, Ambrose... Acho que de uns tempos pra cá ele tomou uma grande proporção desse quadro. Não é como se precisássemos um do outro pra viver nem nenhum desses clichês, mas ter encontrado Ambrose é uma dádiva. Ter algum pra partilhar minhas experiências na estrada e torná-las um pouquinho menos solitárias me salvou inúmeras vezes. Gosto dele. Acho que Ambrose seria uns traços verdes e amarelos aqui embaixo, como um campo de grama fresca... é, Rose definitivamente é o verde. Com alguns pedacinhos vermelhos salpicados. E por último, viria uma explosão de cores e texturas! Seria eu e meu time, juntos. Não tenho como descrever em cores ou palavras, mas quando estou com cada um deles, eu... me sinto tão poderoso! Quase imbatível. Não tenho medo de nada. Sinto como se... como se fosse o que eu nasci pra fazer. Eu, que sou tão hesitante e confuso na minha vida, me sinto decidido no campo de batalha com eles. Resignado. As muitas cores que representariam a gente seriam joviais, quase imaturas, mas possuiriam aquele calor que sinto no campo de batalha! Ufa, falei demais... Não sei se estou sendo um bom ouvinte, ou se estou me fazendo entender, mas é por aí que quero começar, Mina. Sinto que algo dentro de mim despertou pra nunca mais voltar a dormir.

Estava satisfeito, apesar de tudo. Mesmo que falhasse no teste - por imaturidade ou simplesmente não ser minha hora - sentia que tinha dado um grande passo. Algo em mim mudou. Será que eu acompanharia essa mudança?

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