[DUNGEON - POKÉMON MANSION] De férias com o ex?!

Eram pinturas muito interessantes, temos que concordar. Uma pena que, aparentemente, nenhuma delas era realmente valiosa pela qualidade do trabalho, raridade, autoria, tempo. Pelo menos, era o que as pesquisas de Rotom Phone deixavam claro pra mim, ao não me retornarem nenhuma informação desse tipo. Talvez fosse tudo da autoria do dono desse lugar, feitos por hobby, sem intenção de venda nem nada. Em outras palavras, devemos acabar deixando as obras bem onde estão.

— Elas...? — voltei para ver o primeiro quadro quando Ayzen chegou nele e se surpreendeu com o que viu. Sim, eram as aves lendárias ali e uma quarta figura sem definição — Ah, sim. Arrisco dizer que esse aqui possa ser Lugia. Sabe, o das lendas de Johto? Guardião dos Mares? — veja bem, quando se trata de voadores eu sou especialista, e estamos falando de uma lenda da minha região natal, isso pra não mencionar ser justo a lenda relacionada à tarefa que Falkner me deu pra conhecer antes de entrar em seu Gym; eu fiz o dever de casa! — Tipo, parece que ele era branco, pelo que contam, e tem essa ligação direta com as três aves lendárias, tanto quanto Ho-oh tem com os cães. Mas, não sei, também pode ser outra coisa, porque... Bem, ele geralmente é representado na Torre Queimada de Ecruteak, de onde vem a lenda. Só que essa pintura não tem torre alguma... — só um oceano conturbado, mas por quê?

Tinha uma nota de pesar na minha voz, sim, mas só pela leve frustração de não ter uma imagem mais conclusiva da criatura naquela arte, pois eu adoraria fotografar e guardar só pela importância dos símbolos e referências ligados aos Tipo Voador lendários, raridades por si só. Vocês se impressionariam de ver as imagens diversas e controversas que às vezes aparecem por aí, de gente que tenta reproduzir o que supostamente viu ao encontrar um desses Pokémon. Algo tão bem pintado, como era esse quadro, devia ter uma versão muito bonita de se ver.

Consequentemente, não me julguem por não ter tido a mesma empolgação com as outras pinturas, mesmo com a reflexão sem sentido de Ayzen sobre Dittos. Quero dizer, há uns meses atrás tínhamos seres humanos idênticos à nós atravessando portais dimensionais, vindos de outra realidade nos confrontar... Biologicamente impossível? Prefiro acreditar que seja, no máximo, "biologicamente não comprovado, ainda".

E então o loiro viu algo que eu não tinha visto antes. No último quadro tinha aquele R em relevo que nitidamente destoava do restante e o próprio reflexo da luz confirmava isso. Eu podia dizer que seria um gatilho pros meus traumas com Rs quaisquer, mas a Requiem também tinha um R e, portanto, eu sempre recairia no benefício da dúvida. Sendo assim...

— Uhum. Troço estranho. Vai ver alguém arremessou pra danificar o quadro ou coisa parecida, porque não parece ser original da arte... — não fiz muita cerimônia e fui logo estendendo a mão pra passar o dedo sobre o relevo; sentir, tocar, talvez pegar se estivesse solto. Sei lá, eu sou curiosa.

— Oh-ohhh... — não, eu não errei o nome do lendário.

Por um instante eu temi ter mexido numa parte comprometida daquele prédio velho e então feito tudo começar a desmoronar, a começar pela lareira. Recuei alguns passos até a sensatez me encontrar pra me fazer ver que não tinha nem sentido que um quadro funcionasse como parte da estrutura do prédio. Daí, foi só esperar a porta de metal aparecer e eu tinha minha conclusão.

— É... E esse dispositivo ainda parece funcionar. — emendei o comentário de Ayzen sobre tudo aquilo parecer ter resistido bem às inundações.

Era verdade. Até mesmo a presença de um sistema elétrico/eletrônico mais moderno e ainda funcionando me deixava curiosa. Será que eles tem uma fonte de energia própria? Mas como durou tanto tempo? Talvez só tivesse um sistema que o ativa quando alguém vem, economizando a energia. Ou-.

"Só se vive uma vez, né? hehe", por que ele disse isso? Com essas palavras? Gatilho! Um arrepio deixou minha nuca, indo até o cóccix, mas antes se dispersando pros meus braços e eriçando os pelos. Pelo amor da Deusa, não! Não posso cair nesse limbo sentimental de novo, sofrendo exatamente pela fragilidade da vida e tudo mais... Céus, vou ter que seguir ele onde quer que vá. Não posso deixar...

— Cuidado. E se essa casa velha for assim de propósito? Digo, pra realmente esconder alguma coisa mais importante com essa "máscara" de abandono. — era o que eu tinha pensado antes de ter meu gatilho disparado.

Era um alerta, apenas. Uma preocupação. Que por sinal vinha meio tarde agora que o loiro já tinha tirado o cartão e experimentado ele no dispositivo da porta. Fazia sentido? Fazia muito. Mas, uma parte de mim não iria se surpreender caso não desse certo. Sei lá, era um cartão muito velho e borrado.

Já diria meu irmão mais velho: "quem tá na chuva é pra se molhar". E, nesse caso, parece que Ayzen estava decidido a lavar até a alma na chuva e, se possível, se jogar de cabeça na lama também. Digo, olha só! Colocar o cartão no dispositivo só pra ver o que acontece, okay, não parecia ser algo tão arriscado assim. Mas daí a entrar num elevador que parecia igualmente abandonado, com botões faltando, e ainda por cima ousar apertar um dos botões estando dentro do elevador... Bom, aí foi quase um atestado de ousadia, quase loucura.

— Hey! — me apressei quando capturei o olhar maroto dele, dentro do elevador.

As portas começavam a se fechar e ele teria ido embora sem mim se eu não tivesse saltado pra dentro num impulso - físico e mental. É bem possível que as gotículas de suor que se aglomeram nas minhas têmporas e costas sejam mais fruto de uma ansiedade do que do calor em si.

Dorgas, não sei o que é pior. Se antes eu tinha receio de o lugar ainda estar sendo operado por pessoas, escondidas em algum lugar ali dentro, agora meu temor se voltava pro elevador. Caso alguém ainda viesse pra esse lugar, esperaria um elevador limpo, novo, com manutenção em dia. Esse tá longe disso... E se ele cai? Se para de funcionar e ficamos presos? Não me sinto nada segura em ambientes muito fechados ou muito fundo no subsolo... Nem tenho como abrir um buraco. Como voar.

— Vem cá, falando sério. Você já teve aqui antes e tá armando uma pra mim ou o quê? — eu ri de nervoso, tentando pelo menos não ficar num silêncio inquietante.

Sei, no fundo, que a resposta seria "ou o quê", porque por mais que Ayzen tenha um senso de humor duvidoso às vezes, armar e atuar a esse ponto pra me causar uma surpresa seria trabalho demais pra sua loirice. Tipo, algo que ele não teria tanto trabalho de planejar, sabe?! Não, Ayzen costuma ser mais prático pra essas coisas. Enfim, agora já é tarde. Vamos descer.

AAAAAAAAAA!!! Eu devia ter dado mais valor a minha intuição. Todas as coisas pareciam apontar pra famosa Lei de Murphy, e eis que ela se fez cumprir. No pior momento, como tem que ser. Agora estávamos simplesmente presos num elevador enguiçado, sabe-se lá em que altura do subsolo, num prédio aparentemente abandonado, com uma fonte elétrica desconhecida e, muito provavelmente, ninguém pra atender o chamado de emergência do aparelho - se é que existia um no painel quebrado.

— Ai, que ótimo... Era tudo que a gente precisava, hein?! — resmunguei, ajudando Ayzen a recuperar o equilíbrio depois do tombo — Espero que Nydon esteja bem disposto, porque pra sair daqui só na base da força, eu aposto!

Sim, a situação inevitavelmente disparava meu pessimismo que antes era só um punhado de receios. Eu disse que não me sinto bem em espaços fechados e abaixo do nível da terra - claustrofobia, talvez? -, e estamos em Cinnabar! Qualquer coisa abaixo do nível do solo é um caminho para o fundo do mar OU lava vulcânica.

— Vamo lá, vamo lá... Funciona! — suava um pouco mais, agora sim a soma de nervosismo com calor do elevador abafado, e uma pitada de pânico pra saborizar.

Brigava com o painel do elevador, apertando todos os botões possíveis, mesmo sem enxergar direito ou enxergando nada no escuro. Se o troço desse o mínimo de sinal de vida ajudaria. Instintivamente, também olhava para todos os lados daquela "caixa" metálica, confiando que o Rotom de Ayzen ainda esteja com a lanterna ligada... Esses lugares tem uma saída de manutenção/emergência no teto, não tem? Eu vi isso em muitos filmes já, não é possível!