[PUYUMI] 001 - O Caminho de Influencer

OFF: OIEEEE!!! Vamos brincá

O mundo moderno está cada vez mais estranho... quando eu entrei aqui, o Whatsapp, o Instagram e essas redes tudo já existiam, mas a "3G" era um pouco cara e os jovens (não financiados pelos pais) acabavam se esforçando para economizar o máximo o possível de seus dados durante seus momentos fora de casa.

Hoje em dia?! Cagaram. A Revivo, a Flash, a TSM (Telecom Sinnoh Mobile) e a Olá estão cada vez mais permissivas. Só não tem dados móveis quem não quer, não é mesmo?! E isso cria essas coisinhas esquisitinhas que a gente vê por aqui hoje: uma mocinha nova-demais, com um pokémon novo-demais, atravessando uma rua sem olhar direito e distraída com um celular.

Alguns podem dizer que Cyndaquil foi grosseiro, mas talvez ele tenha sido um salvador. Da onde? Salvador dali mesmo, de onde a guria estava. No pé de uma rodovia semi-movimentada, pronta para ser atropelada por olhar demais o Pokéeter, seja lá o que for isso.

Só que o pobre do injustiçado não fez só isso não, ele foi mais além! Você pensa que esse Cyndaquil é bobo? Pois é, desde que saiu de sua esfera a primeira vez e "conheceu" Puyumi, teve seu contato mediado por um bendito de um "celular". Ele já tinha certeza que aquele aparato era uma espécie de prótese da garota, então quando a cabeceou, fez questão de bambeá-la um pouco mais.

Tanto que seu celular caiu próximo dali. Ninguém manda andar e digitar, não é mesmo?! Essas coisas acabam acontecendo.

Por sorte, ele não quebrou por completo no chão. Quer dizer, por sorte não: pelo Salvador Que-ta-bem-ali. O mesmo que causou o desastre fez questão de pegar o celular com sua boquinha de dentes-de-leite e correr para o outro lado da pista.

Enquanto Puyumi reparava o que diabos acontecera, o Cyndaquil deitava o aparelho na calçada do outro lado e tentava desbloquear o bichinho. Numa dessas, um pop-up de notificação surgiu na tela e ele 'clicou'.

Num bug bastante comum no meu Xiaomi, ele conseguiu desbloquear o aparelho sem a senha, só clicando na notificação. Segurança nota 10, viu Xiaomi?! ENFIM! Leu o bendito do texto com seu rasíssimo português, ou seja, não leu, e clicou numa câmerazinha ao lado, tentando responder a notificação sem nem mesmo saber (1) quem era, (2) o que era ou (3) se devia mesmo fazer isso...

... ai ai, essas crianças de hoje em dia. Puyumi podia dar três passinhos no sentido Norte e acharia uma faixa de pedestres. Seria mais fácil atravessar.

OFF: Então menino, eu to com um trato com meus narrandos (que não sei se é bem um trato, porque eles não tem muita escolha), que é basicamente eu pedindo desculpas por narrar muito pouco e eles aceitando com ódio no coração. Meio que se você quiser que a rota volte pra fila, eu entendo, mas se quiser ir continuando devagar... eu to com emprego novo, cheia de problema, com projeto de avançar na clínica e ainda fazendo bico. Se for um problema pra você, só falar comigo o/ mas por mim, vamos que vamos nessa rotinha, adoro te narrar.


Quando você prova o mel dos deuses, dificilmente verá graça no resto do mundo. Foi assim que Cydaquil, com alguns segundos de tela, se desconectou completamente no mundo a sua volta e se entreteu apertando botões e vendo a resposta automática do aparelho. Você já parou para pensar nisso? Quantas coisas processam respostas mais rápidas do que (as ditas cujas) máquinas? NENHUMA! Quando você aperta um ser humano com um focinho DO NADA, ele demora ao menos alguns segundos para entender o que diabos aconteceu e ter uma reação...

... já as máquinas? Pff, você aperta e VAI! ELA SEMPRE FAZ ALGO! E se não fizer, você fica super impaciente.

E é exatamente essa atenção IMEDIATA que fez Cyndaquil se apaixonar pelo treco bem rápido. Veja bem, um bichinho que é completamente ignorado pela treinadora 24/7? Pois é, meus queridos, ele achou outra forma de ter atenção.

Enquanto Puyumi se esforçava para meditar, acalmar e não morrer atropelada, ele acessava os tantos exemplares, se localizando mais pelos desenhos do que pelas letras. Num momento, clickou em algum ícone de Pokeball e acabou baixando um aplicativo. Num outro, foi nos aplicativos relacionados e baixou mais uma penca: um com símbolo de brasa, outro que parecia ser uma PokeDex, outra que tinha a cara do Professor Rowan. Por fim, um pequeno autofalante, que tornava o celular 100% funcional para pessoas cegas ou analfabetas, ou seja, lia em voz alta todo o texto e vibrava/reagia aos toques em áreas específicas da tela, como as áreas de "fechar" e "abrir", ou ainda "confirmar" ou "senha". Cada área era responsável por um som e uma cor, tornando mais fácil entender o que é isso ou aquilo lá...

... eu posso dizer que esse Cyndaquil é o gênio da informática?!

Num desses movimentos, pegou o celular com a boca mais uma vez e foi caminhando para longe da beira da estrada, passando por baixo de uma cerquinha que tinha no terreno ao lado e invadindo um quintal de uma propriedade privada. Sentou na graminha fofa e hidratada e ficou ali, vidrado na telinha.

Conectou o Aplicativo da Pokedex com o da Pokeball desenhada, descobrindo que este segundo era uma espécie de babá eletrônica de pokémons. Pedindo permissão para acessar seus dados da Box, o aplicativo mantinha todos os dados importantes de seus pokémons e vigiava sua saúde e evolução.

Quando permitiu que o aplicativo soubesse tudo da vida de Puyumi, acabou sem querer dando permissão para que o aplicativo lhe projetasse e nosso pequenino tomou um belíssimo susto ao se ver numa tela de celular.

Mas não um susto ruim, foi mais uma surpresa agradável, sabe?! Ele largou o trambolho todo no chão, com a câmera virada para cima e começou a acenar desesperadamente, chamando o bichano para brincar. O Cyndaquil Virtual, incapaz de responder a altura, apenas acenou de volta. A tentativa de contato se repetiu várias vezes até que uma voz eletrônica saiu das caixas de som do aparelho e invadiu os ouvidinhos do monstrinho:
- Você está entediado? Veja algumas opções saudáveis para ocupar seu tempo! - A voz robótica deu uma longa pausa e quatro grandes botões apareceram na tela, quando Cyndaquil clickava, o aplicativo-autofalante lhe dizia o que era o quê - Treinamento Livre ou Específico, Fazer Presente para sua Treinadora, Brincadeiras para fazer com sua Treinadora, Denunciar sua Treinadora por Maus Tratos.

Desta vez - e apenas desta vez - o Cyndaquil clickara em uma das opções dadas na tela e a voz-cibernética não anunciou em alto e bom som qual delas seria.

O suspense se tornava ainda pior quando um "gif" tomara toda a tela, e por preguiça de descrever (eu já perdi um post hoje, não me julgue), farei como o Sckar normalmente faz e botarei o Gif aqui:


Um som chiado de "xiu" fora emitido e a voz robótica anunciou:
- Em uma distância segura, aponte a câmera traseira do celular para sua treinadora e aperte o botão vermelho no centro inferior da tela.

... eu diria que Cyndaquil poderia ter dificuldades de entender o que diabos é uma câmera traseira, mas depois de se embananar com a "câmera dianteira", ele tirou isto de letra. Pegou o aparelhozinho com as duas mãozinhas, o apoiou na grama úmida e lhe inclinou, de uma forma que a câmera apontasse um pouco para o alto, pegando da cintura-para-cima de Puyumi, sem um enquadramento perfeito.

Em alguns momentos, o filme pegava apenas parte de um dos braços da garota, além de sua fala pouco-sincera.

A filmagem fora sendo feita e, quando o celular vibrava, Cyndaquil tomava cuidado para re-emoldurar Puyumi na câmera. Toda sua aproximação fora gravada. No ponto em que a influencer estica seus braços para pegar o pequenino, um barulho clássico, emblemático e infantil de peido ecoa bem da sua cintura, fazendo TODOS olharem para ela.

Sim, TODOS.

Não que fosse uma rua movientada, mas ter um ou dois transeuntes já era o suficiente para que risinhos de vergonha-alheia fossem ouvidos.

Que iam ao encontro com o riso frouxo de Cyndaquil.

Num desses risos, o pokémon deixara o celular tombar no chão, com a tela virada para o alto. Ali Puyumi podia ver dois grandes marcos: um círculo que incessantemente rodava, com os dizeres "publicando", e um pequeno botão vermelho que fora sobrepujado por esta notificação. Este botão era a opção que outrora Cyndaquil escolheu dentre as outras tantas, cortando o mistério e revelando que ele optara por "brincar com sua treinadora".

MAIS DRAMÁTICA DO QUE EU, EU AMEI?! O mais importante é que o choro descabido de Puyuumi não só foi ouvido por quem passava, mas também por seu pokémon. Nestas horas o pequeno Cyndaquil ficou TÃO ASSUSTADO com a reação de sua treinadora que olhara em volta para procurar o problema. Quando caçou, caçou, caçou e não achou, percebeu que o problema era ELE MESMO.

Sim, ELE MESMO. Ele não conhecia sua treinadora o suficiente para entender como diabos aquilo foi se transformar em um surto, muito menos entendia de tráfego digital, mas percebeu que aquele celular era realmente importantíssimo e nada daquilo era uma brincadeira para ela.

Em um ato de compaixão, o pobre pokemon caminhou em direção a sua treinadora desolada e estendeu suas duas mãozinhas, apresentando a mocinha seu sagrado smartphone, oferecendo-o de volta.

Aquilo era um tratado de paz? Bem, eu diria que não, já que Cyndaquil não pediu nada em volta. Estava mais para uma "doação de paz". Não havia comércio de bens ou interesses envolvidos, era apenas um pequenino inicial se sentindo mal pela sua treinadora, lhe devolvendo o que era seu e se oferecendo a apagar o vídeo.

E esse era um detalhe importantíssimo: apesar de estar vinculado a conta de Puyuumi, o vídeo foi postado nas redes sociais recém criadas de Cyndaquil. Por não estar diretamente na rede da nossa protagonista, não havia como ela apagá-lo sem descobrir a "senha" de Cyndaquil, mas havia um lado bom nisso: a viralização foi um pouco mais lenta, se comparada com o que seria caso tivesse sido postado diretamente nos storys da blogueira.

OFF: Eu demorei 3...

Sabe quando você não entende NADA? Tipo NADINHA DE NADA? E ai você olha a pessoa que mais parece saber o que ta acontecendo e IMITA ELA? Pois é, foi exatamente isso que Cyndaquil fez, ele imitou sua dona.

Posso chamar isso de "alegria contagiante"? Acho que sim.

O importante é saber que Cyndaquil não fazia ideia do que era um sorvete, ainda assim pareceu extremamente animado com a ideia de experimentar. Os roupinhas? Também. Não pensara em dizer um não sequer, afinal de contas, se sua treinadora gosta, deve ser bom, né?!

Uma coisa que este serzinho percebeu é que sua treinadora tem bom gosto. Ela gosta de celulares e eles são ótimos. Ela gostou dele e ele é ótimo. Ela... não sei. Quando ela está dando atenção para ele, ele fica muito feliz. Agora, por exemplo, ele tem toda a atenção e felicidade do mundo e isso era o suficiente.

Poderia morrer agora que morreria feliz.

É meio medíocre falar isso, mas tudo que ele queria era um pouc(ÃAAAO)o de atenção. No fim, estendeu a patinha e tocou nas mãos de Puyumi, ficando bípede. Tentou andar como sua dona, apenas nas duas pernas, enquanto apoiava-se firmemente nas mãos da influencer para não cair.

Deu uns seis passinhos e depois começou a bambear. 'É difícil andar só com duas patas', pensou, mas sentiu que era o jeito ~certo~ a se fazer, então forçou-se a continuar de pé. Não queria largar a mão de Puyumi e muito menos que ela voltasse a ficar vidrada no celular, mas também não sabia qual seria sua nova estratégia para impedir isso.

O que importa neste momento são duas coisas: (1) Cyndaquil estava se esforçando para ganhar a atenção de Puyumi e (2) havia uma praça de alimentação por ali perto. Se quiserem testar o tal do sorvete, o momento é agora.