Pokémon Mythology RPG
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Essa é uma lenda que todo mundo deve conhecer...
Ou algo parecido.



Era uma vez uma criança. Dez anos no rosto, dois pais bondosos em casa e um fanatismo por programas de televisão. Em seu último aniversário, ganhou o direito de pedir o que quisesse... ouviram? O-que-quisesse.
Claro, dentro daquilo que seus pais pudessem lhe dar.

Ele, com um sorriso de orelha a orelha não hesitou um instante: eu quero um Pikachu. A escolha era no mínimo estranha, mas fazia certo sentido. Era um garoto (que como eu, amava o beatles e os rolling stones) que vivia de shounen, acreditando cegamente na meritocracia, onde um sujeito BOSTA E FRACO pode sim treinar e ficar forte se tiver força de vontade o suficiente.
Somado a fé cristã, ele realmente achava que ser humilde era o melhor dos começos.

Então pegou um Pokémon não-muito-querido. Seus mais providenciaram esse presente para ele, permitindo que andasse ao redor de Pallet para treinar seu Pikachu e quiçá pegar outros pokémons. Num primeiro dia, nada mudou. Num segundo, nada conseguiu. Num terceiro, brigou com alguns Rattatas e parou no Centro Pokémon da cidade vizinha, e lá... lá ele encontrou o mundo.

Era no bendito centro que as crianças brincavam. Era no bendito centro que os treinadores treinavam. Era no bendito centro que os pokémons evoluíam.

Decidido, passou a ir lá constantemente, batalhar com amigos que fizera no caminho. Óbvio que seu caminho era uma fuga: ninguém podia saber, afinal de contas, seus pais não deixariam ir tão longe. Para evitar “atrasos estranhos”, ia sempre de bicicleta, o que lhe faria percorrer o caminho muito mais rápido.

Num desses vai-e-vem, um pequeno caroço no chão interrompeu a trajetória de sua bicicleta, lhe derrubando com um pequenino trauma na cabeça.
Eu diria que tudo ficou muito bem, salvo pelo fato de nosso querido Ash Ketchum ter acordado apenas 20 anos depois. Num resumo breve de sua vida, descobriu que seus pais morreram e seu Pikachu se sentira muito culpado por não ter evitado o acidente. O problema central foi um Oddish traiçoeiro que estava lá para pregar uma peça, mas acabou se machucando tanto quanto o humano que decidiu cutucar.

Essa culpa se reverteu em devoção. Depois de viver todos os dias ao lado de seu companheiro, o Pikachu se viu obrigado a renunciar a sua corporeidade para resolver o problema. Sim... é isso mesmo que estão pensando.

Numa bela noite, procurou um sábio e encontrou uma abóbora de sorriso macabro. Num milagre raríssimo, conseguiu trocar três palavras antes que uma canção lhe levasse até as tumbas. Seu corpo foi paulatinamente se transformando em retalho, enquanto seu âmago se desconfigurava até se revirar em um esférico buraco-de-minhoca. Sem nenhuma luz sequer, sem nenhuma vida. Sem nenhum som.

O ato tinha cheiro, cor, som e forma de maldição. O maldito do Pikachu virara uma espécie de morto-vivo que, no fundo (bem lá no fundo), não preenchia os pré-requisitos nem para ser um (morto) ou outro (vivo), afinal de contas, nem sequer tinha um corpo mais.
Porém, isso não lhe impediu de continuar as visitas constantes.

Só que agora, passava pela janela, atravessava portas e surgia embaixo da cama. Num outro momento, olhando para o espelho, tomou coragem para tirar de cima de si o capuz amarelado de retalhos, que imitava sua forma original. Quando o fez, Ash imediatamente arfou.
Um homem, por 19 anos em coma, arfou.

Foi a primeira vez neste meio tempo que alguma reação-reflexo foi ouvida. Mesmo entubado, mesmo vegetando, mesmo quase-morto, Ash respondeu. Um sorriso esperançoso cresceu junto d’um macabro. Nosso temido Mimikyu teve uma bendita ideia...

... afinal de contas, a diferença entre o remédio e o veneno não é a dose?!

Se ele é capaz de produzir resposta, um tratamento paulatino talvez lhe produza realidade. Com esta ideia biruta, o devoto Pokémon submeteu seu treinador a doses diárias e homeopáticas de morte. Após sofrer por quase um ano, Ash (durante um sonho terrível) se vê compelido a tossir até vomitar. Essa tosse, levemente exagerada, lhe tira da cama com forças de músculos que não eram para existir (mais).
Veja bem, depois de anos de coma, musculatura não é algo que você pretende ter. Isso só pode ser obra de um Mimikyu.

Só que foi assim... exatamente assim que nosso Ash acordou do mundo dos mortos e veio para o mundo dos semimortos. Com bastante sequelas visíveis, decomposições horríveis nos membros e uma sensação de mal-estar inerente a sua consciência.

É difícil afirmar com todas as letras que Ash está vivo, mas podemos sim confirmar que ele está finalmente acordado. Com 30 anos, sem família, com uma herança moderada numa conta do banco, um Pokémon que lhe ama muito, alguns hematomas, perdas esporádicas de consciência e medo do presente.

Depois de algumas sessões de fisioterapia e muito antibiótico para tratar as feridas nojentas (que absolutamente nenhum médico conseguiu explicar), nosso querido protagonista recebe alta e se vê em um impasse: num RPG que não da para comprar vitaminas ou recursos para treino, o que fazer com a bolada que acabou ganhando dos pais?

(1) Comprar uma Fazenda e aposentar aos 30
(2) Investir na sonhada carreira de treinador


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Gente estropiada se reconhece em gente estropiada, né? Aqui temos os Deuses do destino definindo que desgraça pouca é bobagem, mandando o jovem para a forca pela segunda vez. Posso estar sendo dramática? Posso sim, mas eu gosto deste tom tenebroso...

... e talvez seja realmente uma enorme desgraça que vocês vão gerar.

Será?! Bom, já lhes adianto que, desta vez, nosso amigo Ash optou por não usar sua bicicleta mais. Ao invés disso foi com seu Pikachu-fantasma nos ombros, caminhando lentamente pela trilha padrão.

Um problema que vocês devem imaginar que há, é o receio de ir longe-demais tendo ficado anos em coma. Sabe como é, né?! Você não entende muito bem as tecnologias atuais, se perde nas novas Pokebolas e fica por horas olhando o totem de autoatendimento do Centro Pokémon. Além disso, há toda uma questão de falta de costumes em fazer coisas básicas, como andar, comer e até cagar. Tudo isso exige paciência e Ash acabou tendo que aceitar isso.
Claro que esse aceite foi algo muito mais OBRIGATÓRIO. Sim, obrigatório! Porque, apesar de estar relativamente próximo dos quarentões, Ash tem uma mente jovem. Todas as suas estruturas psíquicas pararam um pouco depois dos dez anos de idade e, por isso, ele é uma criança impulsiva em um corpo velho e cansado.

Ele queria já botar o pé na porta e sair andando por ai com seu Mimikyu, plantando problemas e colhendo aventuras. Infelizmente, quando viu que seu metabolismo lhe obrigaria a dormir mais que doze horas por dia (por enquanto) e que sua fome era irreconhecível, decidiu voltar e ficar por perto...

... ao menos até ele dominar seus instintos de novo.

No final das contas, ele ia ali e voltava. Como tinha dinheiro, as vezes se arriscava a viagens mais distantes de avião, mas durante os dois primeiros meses, ele sempre voltava para sua casa em Pallet e dormia em sua cama.

Quando começou a sentir que seu corpo estava mais “regulado”, Ash se considerou saudável o suficiente para partir. Nesta altura, dois ou três jornalistas já haviam publicado seu caso e ele havia ajudado algumas pesquisas importantes para os estagiários de Oak.

Veja bem, eu não estou dizendo que Ash é famoso, ou ainda uma subcelebridade, eu estou apenas dizendo que em cidades pequenas a fofoca corre rápido, então todo mundo sabia quem era Ash e quais podiam ser as suas dificuldades. Por isso, quando decidiu ir-para-não-voltar, anunciou a decisão com dois dias de antecedência, se despedindo de seus antigos amigos (que hoje também têm 30 anos) e as carinhosas enfermeiras e médicas que cuidaram dele.

Infelizmente (ou não), o assunto bombou em toda a cidade e decidiram fazer uma pequena despedida para nosso queridinho protagonista. Quando ele estava calçando o tênis, encaixando seu Pikachu-de-Chernobyl no ombro e abrindo a porta para sair, se deparou com Oak e metade de sua cidade gritando “SURPRESA!!”. Óbvio que o menino deu um pulo para trás, tropeçou em um degrau e caiu de bunda no chão.
Por sorte, este não é um repeteco do capítulo anterior, então ficou tudo bem. Ele apoiou em uma parede, segurou a maçaneta com a outra mão e pegou impulso para levantar-se, dando uma risada amarela e segurando o choro de emoção.

O mais comovente disso é que Oak tinha consigo três esferas bicolores, nas quais entregava ao Ash com bastante devoção. “Não é porque você começou a 20 anos atrás, que não merece um recomeço digno”, disse o homem bondoso, “Você deseja começar com um Bulbasaur, um Charmander ou um Squirtle?”.

A pergunta era inesperada, e causava reações adversas nos nossos dois amigos. Se por um lado Ash ficava eufórico com a oportunidade de ter um segundo Pokémon, Mimikyu sentia um enorme ciúme de tal situação...

... quer dizer, ele sabia que não deveria. Seu treinador estava feliz e ele deveria acompanhá-lo nesta felicidade, mas ele também sabia que não era um Pokémon TÃAAO forte e... bem... como é um clássico Pikachu-do-Ash, nunca evoluirá. Tinha medo de ficar para trás e ser substituído por outros seis pokémons-elite.

Claro que não o impediria de escolher, mas é importante deixar claro que ele estava descontente... tão descontente que assumiu uma forma mais “caída”, deixando de sustentar sua fantasia por alguns longos segundos, enquanto tentava engolir um sofrimento-por-antecipação, que poderíamos chamar mundanamente de “ansiedade”, que neste caso seria o medo de ter de ter medo num futuro “próximo”.

(1) Bulbasaur
(2) Charmander
(3) Squirtle


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Com os olhos arregalados e o peito repleto de alegria, Ash abriu um sorriso de orelha e orelha e, como uma boa criança-grande, anunciou: “EU QUERO O BULBASSAUR”. É impossível não pontuar seu amor por Squirtle, mas este não seria sua opção por muito pouco... provavelmente por ouvir dizer que ele é um pouco démodé demais.

Que seja, a história não acaba aqui.

Nosso protagonista comeu, bebeu, riu e cuspiu um copo de cerveja que confundira com refrigerante, afinal de contas, ele ainda tem um paladar bastante infantil. Depois de algumas horas, botou sua mochila nas costas e foi-se, mas não sem antes liberar o Bulbasaur e se apresentar.

Como essa não é uma história sobre amor, afeto e carinho por pokémons, importa dizer que eles se deram bem. Depois disso, um longo período se passou até que a vida de Ash se tornasse mais interessante de novo.

Apesar de treinar constantemente e explorar alguns Landmarks, havia uma dificuldade que Ash tinha de capturar pokémons. Sim!! O primeiro dilema que todo o treinador (bonzinho) tem: será que devo tirar um pequenino de seu habitat natural usando a força?

Veja bem, a pergunta não é se “posso” e sim se “devo”. Neste dilema ético, ficou esperando (sentado) que pokémons viessem até seus pés e quisessem ser capturados por ele. Como não ocorreu, ficou por muito tempo com apenas dois pokémons.

O engraçado é que Mimikyu começou a se acostumar com a companhia. Os dois, apesar de um bocado ciumentos, eram até bons amigos, e essa mudança-de-ares do fantasma foi bem rápida. Naquele mesmo dia inaugural, quando sua fantasia perdeu a sustentação, foi Bulbasaur que lhe ajudou a mantê-la de pé enquanto o demônio se costurava.

Num outro dia, brincaram de lutinha para se fortalecer.

Depois de alguns pares de semanas, Mimikyu começou a assombrar Bulbasaur de brincadeira, ameaçando tirar seu cosplay e impulsioná-lo numa viagem sem volta à morte. Claro que ele não faria isso (ou faria?), mas o que importa aqui é que estavam se dando bem. Uma relação tipicamente de irmãos: um mais velho implicante e ciumento, um mais novo trouxa e condescendente. Apesar das disparidades, ambos aprenderam a se amar.

Num belo dia, Ash decidiu voar para Hoenn. Se lembram das chuvas de Tohjo? Pois é, é importante pontuar que, neste meio tempo, um avião ambulância transportou o garoto para o grande-continente-do-Kyogre, e foi nesta mesmíssima época que seus pais morreram.

Claro que Ash só soube desta história meses após acordar, quando uma tia de Pallet lhe revelou o quanto o mundo ficara caótico neste meio tempo. Deste conto, duas coisas ficaram em sua cabeça: (1) morara uma vida inteira em Hoenn e não conhecia nada por lá e (2) seus pais nunca tiveram os corpos encontrados, mas houve um memorial importante erguido no Monte Pyre, por isso queria ir lá rezar e avisar a eles que finalmente acordou.

Com isso, foi. Subiu o morro até a entrada do santuário e depois foi de escada. Respirou fundo o cheiro pútrido de morte e rememorou o forte odor de decomposição que tinha em suas feridas. N’outro momento fechou os olhos e tentou sentir as almas-penadas que ali rondavam, num impulso aventureiro e iludido. De início, não conseguiu, porém no quinto andar percebeu que uma mão pairava sobre seu ombro.

No reflexo, virou-se imediatamente para ver quem diabos o havia tocado.

Um vento mal-cheiroso invadiu suas narinas, mas nenhum ser vivo pôde ser visto...ponho em evidência o “vivo”, pois era possível enxergar Mimikyu sob uma lápide recém-instalada, bem atrás do nosso protagonista.

Um calafrio lhe tomou completamente, arrepiando todos os seus pelos dos pés à cabeça. Seus ouvidos miraram um pequeno grunhido do Pokémon, que parecia conversar com alguém, enquanto seus olhos começaram a correr pelos escritos em mármore, que sinalizavam uma lápide-abandonada; uma lápide de Charles Netero.

Sei que muitos são novos, mas devo rememorar quem fora Charles Netero neste mundo. Ele era o Criador da Circulus Virtutum. Aquele que separou os anéis, designou líderes e montou uma das primeiras sociedades de Hoenn, focando nos princípios básicos e éticos que alguém deveria focar.

Anos depois, foi denunciado por pedofilia e outros crimes, sendo expulso da própria sociedade e levando consigo um bocado de outras pessoas junto. Após isso, o homem sumiu.

Claro que Ash não fazia ideia disto, e provavelmente nunca iria saber. O que o marcou foram apenas duas coisas que pôde ver neste encontro: que a morte deste aqui é tão recente quanto sua retomada de consciência e que ele não estava nem um pouco contente.

Mimikyu, depois de dois longuíssimos minutos, virou-se para seu treinador e sinalizou para que se aproximasse. Confiando naquele que sempre lhe quis o bem, foi. Subitamente um riso maléfico ocupou seus ouvidos, ecoando por sua cabeça-oca e ficando ali preso por um bom tempo.

Tapou os ouvidos, abriu a boca e deu um belo grito, mas estava sozinho o suficiente para não ser acudido por ninguém. Após o cessar dos gritos, uma voz rouca e velha anunciou: eu quero vingança. Eu quero vingança... Eu preciso de vingança.

Rígido como uma pedra, Ash não se atreveu a perguntar “de quê”. Seu Mimikyu, bem mais corajoso, tocava seu joelho banbo, enquanto nosso NPC fechava os olhos e pensava por dois segundos no que deveria fazer...

(1) Ouvi-lo
(2) Correr



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Vertigem. Muita vertigem.

Quem já teve as pernas bambas, viu o mundo escurecer aos poucos e sentiu que o ar não era suficiente sabe bem do que eu to falando. Aquela sensação horrível, quando por alguns longuíssimos segundos você está certo de que não está dentro de si.

Você não sabe dizer se há alguém dentro de do seu próprio corpo, mas se tem, não é você.

O pior é quando você precisa se mover nessas horas. Quando sua consciência não foi suprimida o suficiente para que você a perdesse, mas há algo de muito errado nessa relação.

Dizem (apenas dizem) que é nesse exato momento que uma possessão pode ocorrer. É neste lapso que um espírito se aloja e você perde um pouco do espaço dentro de si.

Com Ash este risco foi possível, mas eu devo lhe lembrar de uma coisa: alguém que passou por 20 anos em coma sabe melhor do que todos nós o que é não ter domínio do seu corpo.

Por isso, e só por isso, ele não bambeou tanto assim. Apesar de toda a vertigem que o tomava, deu três passos a frente e optou por ouvir o que Netero tinha a dizer. Mimikyu, já tendo descido da lápide, caminhou até os joelhos de seu melhor amigo e o acompanhou.

Passo-a-passo. Seu amigo sempre ao lado...

O estranho é que, apesar de sentir a estranheza de não dominar “tanto assim” seu corpo, não era como se o espírito que deveria o aguardar estivesse ali. Aquela voz roca, suplicando por vingança, foi a última coisa que pode ouvir.

Receoso, não tocou a lápide. Ter um Pokémon (confiável) fantasmagórico ao lado era um bocado conveniente, pois só faria aquilo que seu amigo lhe indicasse a fazer. Inesperadamente, um silêncio tomou conta do recinto e este enorme silêncio só foi quebrado por uma batida forte contra a parede.

O som era estilhaçado, como se alguém tivesse jogado algo quebrável em direção ao concreto. Ash, de reflexo, olhou imediatamente para trás, porém não viu nada. Um torcicolo insuportável tomou o canto direito do seu rosto e ele perdeu parte do movimento. Devagar, com uma das mãos na escápula, virou levemente para a lápide e, quando viu, um corpo desfigurado paulatinamente passava a compor o perímetro de sua visão.

Era Netero.

Magro, desfigurado, corroído e pútrido, ainda assim, era Netero.

Com um dos joelhos apenas com ossos, o homem dobrou suas pernas e se sentou sobre seus calcanhares, deixando a ponta dos dedos de ossos-e-unhas bem pressionados contra o chão. Ali, colocou uma de suas mãos decompostas no queixo, deixando o dedo mindinho completamente pendurado do restante do membro. Um filete de pele bastante fino era a única coisa que mantinha aquele dedo ainda preso à mão.

Ali, diante de Ash, Netero abriu sua boca esburacada, deixando que seu hálito de vermes-e-restos tocasse a ponta do nariz do garoto como uma brisa fresca acaricia um rosto. Depois de alguns instantes caçando a voz dentro da garganta comida por larvas, conseguiu achar um tom:
– Tu vai e tu volta – A falta de lábios tornava impossível ver o sorriso que o morto se esforçava para fazer – e me leva – sem pálpebra, dera uma inclinada tosca na cabeça e fizera um de seus globos oculares cair, simbolizando uma piscada.

Nesse exato momento, os orbes de Ash não conseguiram desviar do movimento ioiô que aquela esclera fez. Repentinamente, quando a pupila do garoto dilatou e tentou focar o movimento de subida e decida causada pela elasticidade do nervo óptico, um teto preto lhe falhou a visão.

Desesperado, ergueu sua cabeça para cima e pressionou os olhos com força. O desespero do coma, o medo da morte e o terror do sono lhe tomaram e ele deu um grito avulso e curto, como um “OH”, parecido com o som emitido quando tomamos um empurrão no peito, despreparado.

Era um gemido alto.

Quando seus olhos desanuviaram (afinal de contas, eles sempre desanuviam), o cadáver que conversava com ele havia se tornado terra, enquanto o olho pendurado ao ar ganhara um tom amarelado e um caráter rígido. Sem pupila. Sem nervos. Um pouco impressionado, ergueu seu dedo indicador e tocou o orbe amarelado, que perdera seu fio-condutor. Estava certo de que o objeto cairia no chão.

Estranhamente, o encontro da ponta indicadora com o objeto esquisito causou um calafrio na criança adulta, além de um som muito reconhecido por ele: o tilintar de um sino de recepção. Ao fazê-lo, percebeu que o que segurava aquele orbe amarelado ali era um pino que estava logo atrás, enterrado no monte recém-formado, de poeira & cinza, que substituíra aquele corpo mórbido que outrora ficou ali.

Com o tilintado, algo começou a se remexer. A sino, agora já completamente autônomo, continuou as badaladas e nosso Ash doou mais alguns segundos do seu tempo para entender o que diabos estava acontecendo ali.

Quando possível, um Chimecho escavou a poeira e revelou ser o a causa daquele som. Quando ficou completamente a mostra, parou seu guizo e olhou atentamente para seu novo treinador. Olho-no-olho, cada ponta do sorriso no ápice de sua bochecha. Quando abriu a boca, apenas sons de borboletas e pássaros saíram de lá.

Como nosso treinador estava perdido demais para fazer algo que não fosse ficar-completamente-parado-e-mais-branco-que-uma-vela, o próprio Pokémon tomou a liberdade de entrar na mochila dele, retirar uma das 6 esferas bicolores vazias que tinham lá, apertar o botão central e ser capturado. Um beep da pokébola anunciou o sucesso da captura.

Depois disso, quarenta minutos de completo silêncio foram dados a Ash. Ele, como uma boa criança (presa num corpo adulto), usou cada minuto desses com muita sabedoria: primeiro vomitou, depois começou a chorar, logo em seguida se jogou no chão. Repetiu este ciclo até que seu nariz catarrento já não tivesse mais muco para produzir, e sua garganta vomitada ardesse como se estivesse em carne-viva. Depois disso, passou o braço sujo-de-terra na cara, limpou grande parte dos fluidos corporais, ergueu-se sob suas pernas, botou sua mochila nas costas e ajeitou sua roupa nojenta.

Quando colocou as mãos nos bolsos, reparou um bilhetinho singelo escrito “Rinshin – Maid Café – 10:00h”. Balançou a cabeça num caguete comum, tentando realocá-la no lugar e começou a andar...

(1) Para fora do Monte Pyre, começando a planejar sua viagem para Rinshin
(2) Para o topo do Monte Pyre, indo atrás do santuário que outrora cogitou visitar





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Seu caminhar ia em direção ao topo do Monte Pyre, mas uma risada macabra o ameaçou. Temeu pela própria vida, por isso não deu um passo a mais. Ao invés disso, levantou o pulso e olhou o relógio, se certificando de que eram pouco mais que sete da manhã.

Sem Pokémon voador ou quadrúpede, aceitara que TALVEZ chegasse lá a tempo. Por via das dúvidas, deu meia-volta e meteu o sebo nas canelas... Descer é mais rápido que subir, né? Ainda mais correndo. Se chegasse em meia hora no pé do morro, poderia tentar aparecer em Lilycove às 08h e chorar por um transporte informal de Crobat ou Swellow. Aeroporto? Não tínhamos. Metro? Levaria uma eternidade.

Era isso ou, obviamente, deixar para amanhã.

Claro que Ash não pensou isto tudo que digo aqui. Na cabeça desesperar hoje TINHA QUE SER HOJE. Ou isso, ou uma morte para um Chimecho. Mimikyu até tentou o acalmar, mas não funcionou muito, visto que para acalmar alguém você precisa CONVERSAR COM A PESSOA, e Ash não ia perder tempo fazendo isso.

Retornou seu Pokémon e, num desespero, chegou a Lilycove 07:35. Tinha que ser um Swellow ou um Crobat, um Pokémon mais lerdo que isso não bastaria, então gritou: PRECISO DE FRETE. PAGO QUANTO FOR PRECISO.

Ai pessoal, sabe como é, né? Qualquer treinador que viesse de Fortree pararia para lhe ajudar. Sua ideia funcionou como uma luva, visto que um estagiário da Winona (que precisava de dinheiro) se ofereceu para levá-lo.

“O mais rápido que puder?”, perguntou Ash. “Sim, o mais rápido...”, confirmou o maluco. Só sei que... bem, não lidarei com número exatos, mas até pousar, achar o local e entrar no bendito estabelecimento, o relógio passou a marcar (mais ou menos) 10:15.

Parou na porta, esperou as pernas desbambarem um pouco e marchou em direção à cafeteria. Lá, além das várias mesas de clientes, havia uma grande e redonda, com uma plaquinha de “Reservado” e, logo abaixo “Virtuum; 10h”.

Para a decepção de alguns, o único que havia chegado no horário fora Shion, e apenas porque fora fazer algo nos Campus dali pouco antes. Fingindo ser um membro qualquer, Shion caminhou até aquela mesa e sentou na ponta oposta de Shion, cumprimentou e anunciou que era o novo membro da Virtuum.

Era estranho? Era. Ele estava fedendo, suado e tudo mais. Ainda assim, não havia muito do que desconfiar, afinal de contas, quem diabos faz o controle de lá, né?! A bonita aqui foi procurar as regras da sociedade de vocês e não achou nada. Sendo assim, se alguém perguntasse, ia só seguir o script que outrora Chimecho lhe cochichou: era um novo membro sim, um Whisher, e fora recrutado por Klaus. Se perguntarem onde ele está, diga que ele disse que estaria a caminho, mas que não estava certo de que isso iria acontecer.

O tempo se passou e a mesa foi se completando. Thomas, Tyrant, Karemachena, Daisuke... muitos faltaram e alguns até esqueceram, mas houve um encontro relativamente colorido. Depois de um tempo, com Ash praticamente muto, todos decidiram ir à residência. Ainda sem dizer muitas palavras, o garoto foi atrás.

Tyrant foi o primeiro a suspeitar da estranheza do garoto. Ele não parecia saber onde ficava o depósito, como adentrar o espaço e muito menos onde ir. A desculpa de ser um “novato” não explicava por que diabos ele estava naquela reunião e, muito menos, o mais importante:
–  Porque você não ta no pokézap? – Questionou o Ranger, depois de conferir no seu celular a veracidade dos fatos.

Um calafrio tomou o garoto de cima a baixo. Gaguejou um pouco e enrolou para responder. A saída que encontrou, além de desprender um filete fino de suor em sua testa, foi catar sua mochila e pegar seu celular para ganhar tempo. Quando o fez, reparou que uma esfera estava faltando, mas tinha coisas mais importantes para se preocupar.

Pegou o aparelho com uma das mãos, rodou para um lado e para o outro, olhou para o carrasco e afirmou que Klaus devia ter esquecido de o colocar, já que não tinha nenhum grupo recente no seu zap-zap.

O problema principal era que o garoto era um ZERO-A-ESQUERDA com tecnologia, por isso não conseguiria explicar ou mostrar muito mais que isso. Ademais, Tyrant pareceu engolir esta resposta e pedir o celular do garoto para o adicionar. Num foliar rápido, não encontrou nada suspeito, então deixou para lá.

Já um pouco mais tranquilo, foi até um canto levemente isolado e liberou as esferas que tinha, revelando o óbvio: Chimecho tinha sumido. Bulba e Mimikyu enfeitavam bem aquela sala mas isto não mudava o fato de que o mais importante dos pokémons não estava lá.

Tyrant, ainda um pouco encucado, caminhou até o garoto e questionou se havia algum problema...

Ash respondeu:
(1) “Parece que meu Chimecho sumiu, você viu ele por ai?”
(2) “Ah, ta tudo bem!!” e deu um risinho simpático.



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No sorriso mais frouxo da face da terra, completamente nervoso e já descabelado, de tanto tirar o boné e passar a mão nos fios ensebados, Ash confirma: sim, eu estou com um problema. Meu Chimecho sumiu.

Na contramão do que o bom-senso diria, o pobre Ash decidiu ter pena de um fantasma carniceiro, dentro de uma carapaça fofinha de um guizo folclórico. Tyrant, um pouco encafifado com isso, deu um suspiro bucólico, balançou os ombros e disse um ok desanimado. O garoto esperava uma certa “aventura”, se é que me entende, mas no fim acabou apenas olhando as câmeras de segurança.

Sim, câmeras de segurança. Se Ash não tivesse perdido seu Pokémon, talvez elas nunca tivessem sido inauguradas. Agora, e esta altura, nosso Ranger e nosso protagonista iam até um escritório qualquer e pegavam um controle-remoto meio arcaico, apertando para um lado e para o outro, voltando esta e aquela cena.

Não foi difícil achar o Chimecho, vide que ele havia acabado de sumir. O meliante estava, nada mais nada menos, que nos depósitos. A câmera filmou o exato momento que ele usou sua “cauda” para digitar um código, deixando claro que já sabia a priori que código era aquele.

Isso era estranho? Sim, isso era estranho. Talvez por isso o Ranger encarou Ash com o olha mais arqueado possível, porém a resposta dele fora rápida-e-clara, sem deixar beiras para nenhuma dúvida: “ora, Perriraz me contou. Meu Chimecho é quem guarda minhas senhas pra mim...”.

Bleh, isso respondia uma estranheza, o que ainda ficava em aberto era porque diabos o tal do Chimecho fizera isso tudo com a sua própria esfera na mão. Tyrant, ainda encafifado, não deixou que o garoto fosse sozinho “resgatá-lo”, o seguindo durante todo o trajeto.

Na hora do code, esperou para ver se Ash teria a iniciativa de digitá-lo, mas tão bem quanto a desculpa que o rapaz outrora dera, ele disse que não lembraria sem o Chimecho. Depois de uns “tecs” de dedos calejados, a porta se abria e a surpresa mais estranha era não ver nenhum Chimecho ali.

Hmmm, isso é estranho. Se ele entrou por aqui, por onde saiu?! Num olhar meio rápido de Sherlock Holmes, Ash tentou desvendar o mistério, mas fora o próprio Tyrant que reparou numa esfera um pouquinho fora do lugar. Estava numa prateleira de pokémons “livres”, ou seja, sem dono, mas estava balançando um tico e levemente estável.

Estranhando o movimento involuntário, Tyrant deu um peteleco no botão central do dispositivo e automaticamente um Chimecho se revelou. “É esse aqui?”, questionou o Ranger, recebendo um polegar afirmativo em resposta.

Seguiram com o resquício da reunião e Ash optou por não sair tão cedo, visto que Chimecho começou a lhe encarar enfezado, como se este tivesse destruído seus planos. Com medo, tentou não ficar sozinho pelo maior tempo possível, até que todos decidiram ir para casa e dispensaram a companhia do desconhecido. Mais tarde, naquele mesmo dia, a solidão veio. Numa rua qualquer de Rinshin, pouco antes de atravessar a rua pouco-movimentada da madrugada, um frio na barriga tomou nosso jovem explorador.

Se outrora pensou que ficar até tarde era uma boa ideia, agora se arrependia. A solidão das estradas causava um pavor enorme e, apesar de não haver uma alma-viva sequer para lhe fazer mal, era dos mortos que tinha medo.

Deu mais dois passos em direção ao ponto de ônibus, apoiou-se na cabine e imediatamente ouviu um sino semelhante ao da recepção de seu hospital. O som veio em conjunto da silhueta de um Chimecho boquiaberto, com os olhos sem íris ou pupila, e de esclera bem enegrecida.

Pela segunda vez, Ash é consumido pelo trágico destino de um Pokémon lhe causando injurias, mas desta vez, não parecer ter como reaver esta alma perdida.

Logo no raiar da manhã, uma moça que entraria no trabalho às 7h lhe encontrou. Caído, duro, morto e fedido. Algumas moscas provavelmente já haviam depositado seus ovos nele, mas ainda não havia passado tempo o suficiente para eclodir.

Meio desesperada, ligou para o camburão e eles o levaram. Sua bolsa estava perdida porque, afinal de contas, Netero teve a decência de dar àqueles pokémons a liberdade. Bulbasaur, depois de um tempo, se adaptou ao bioma da Illex Forest. Mimikyu, por outro lado, não quis sair de Rinshin, acreditando piamente que lá havia a resposta para resgatar a alma de Ash...

FIM

Spoiler :


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