Essa é uma lenda que todo mundo deve conhecer...
Ou algo parecido.
Era uma vez uma criança. Dez anos no rosto, dois pais bondosos em casa e um fanatismo por programas de televisão. Em seu último aniversário, ganhou o direito de pedir o que quisesse... ouviram? O-que-quisesse.
Claro, dentro daquilo que seus pais pudessem lhe dar.
Ele, com um sorriso de orelha a orelha não hesitou um instante: eu quero um Pikachu. A escolha era no mínimo estranha, mas fazia certo sentido. Era um garoto (que como eu, amava o beatles e os rolling stones) que vivia de shounen, acreditando cegamente na meritocracia, onde um sujeito BOSTA E FRACO pode sim treinar e ficar forte se tiver força de vontade o suficiente.
Somado a fé cristã, ele realmente achava que ser humilde era o melhor dos começos.
Então pegou um Pokémon não-muito-querido. Seus mais providenciaram esse presente para ele, permitindo que andasse ao redor de Pallet para treinar seu Pikachu e quiçá pegar outros pokémons. Num primeiro dia, nada mudou. Num segundo, nada conseguiu. Num terceiro, brigou com alguns Rattatas e parou no Centro Pokémon da cidade vizinha, e lá... lá ele encontrou o mundo.
Era no bendito centro que as crianças brincavam. Era no bendito centro que os treinadores treinavam. Era no bendito centro que os pokémons evoluíam.
Decidido, passou a ir lá constantemente, batalhar com amigos que fizera no caminho. Óbvio que seu caminho era uma fuga: ninguém podia saber, afinal de contas, seus pais não deixariam ir tão longe. Para evitar “atrasos estranhos”, ia sempre de bicicleta, o que lhe faria percorrer o caminho muito mais rápido.
Num desses vai-e-vem, um pequeno caroço no chão interrompeu a trajetória de sua bicicleta, lhe derrubando com um pequenino trauma na cabeça.
Eu diria que tudo ficou muito bem, salvo pelo fato de nosso querido Ash Ketchum ter acordado apenas 20 anos depois. Num resumo breve de sua vida, descobriu que seus pais morreram e seu Pikachu se sentira muito culpado por não ter evitado o acidente. O problema central foi um Oddish traiçoeiro que estava lá para pregar uma peça, mas acabou se machucando tanto quanto o humano que decidiu cutucar.
Essa culpa se reverteu em devoção. Depois de viver todos os dias ao lado de seu companheiro, o Pikachu se viu obrigado a renunciar a sua corporeidade para resolver o problema. Sim... é isso mesmo que estão pensando.
Numa bela noite, procurou um sábio e encontrou uma abóbora de sorriso macabro. Num milagre raríssimo, conseguiu trocar três palavras antes que uma canção lhe levasse até as tumbas. Seu corpo foi paulatinamente se transformando em retalho, enquanto seu âmago se desconfigurava até se revirar em um esférico buraco-de-minhoca. Sem nenhuma luz sequer, sem nenhuma vida. Sem nenhum som.
O ato tinha cheiro, cor, som e forma de maldição. O maldito do Pikachu virara uma espécie de morto-vivo que, no fundo (bem lá no fundo), não preenchia os pré-requisitos nem para ser um (morto) ou outro (vivo), afinal de contas, nem sequer tinha um corpo mais.
Porém, isso não lhe impediu de continuar as visitas constantes.
Só que agora, passava pela janela, atravessava portas e surgia embaixo da cama. Num outro momento, olhando para o espelho, tomou coragem para tirar de cima de si o capuz amarelado de retalhos, que imitava sua forma original. Quando o fez, Ash imediatamente arfou.
Um homem, por 19 anos em coma, arfou.
Foi a primeira vez neste meio tempo que alguma reação-reflexo foi ouvida. Mesmo entubado, mesmo vegetando, mesmo quase-morto, Ash respondeu. Um sorriso esperançoso cresceu junto d’um macabro. Nosso temido Mimikyu teve uma bendita ideia...
... afinal de contas, a diferença entre o remédio e o veneno não é a dose?!
Se ele é capaz de produzir resposta, um tratamento paulatino talvez lhe produza realidade. Com esta ideia biruta, o devoto Pokémon submeteu seu treinador a doses diárias e homeopáticas de morte. Após sofrer por quase um ano, Ash (durante um sonho terrível) se vê compelido a tossir até vomitar. Essa tosse, levemente exagerada, lhe tira da cama com forças de músculos que não eram para existir (mais).
Veja bem, depois de anos de coma, musculatura não é algo que você pretende ter. Isso só pode ser obra de um Mimikyu.
Só que foi assim... exatamente assim que nosso Ash acordou do mundo dos mortos e veio para o mundo dos semimortos. Com bastante sequelas visíveis, decomposições horríveis nos membros e uma sensação de mal-estar inerente a sua consciência.
É difícil afirmar com todas as letras que Ash está vivo, mas podemos sim confirmar que ele está finalmente acordado. Com 30 anos, sem família, com uma herança moderada numa conta do banco, um Pokémon que lhe ama muito, alguns hematomas, perdas esporádicas de consciência e medo do presente.
Depois de algumas sessões de fisioterapia e muito antibiótico para tratar as feridas nojentas (que absolutamente nenhum médico conseguiu explicar), nosso querido protagonista recebe alta e se vê em um impasse: num RPG que não da para comprar vitaminas ou recursos para treino, o que fazer com a bolada que acabou ganhando dos pais?
(1) Comprar uma Fazenda e aposentar aos 30
(2) Investir na sonhada carreira de treinador
Ou algo parecido.
Era uma vez uma criança. Dez anos no rosto, dois pais bondosos em casa e um fanatismo por programas de televisão. Em seu último aniversário, ganhou o direito de pedir o que quisesse... ouviram? O-que-quisesse.
Claro, dentro daquilo que seus pais pudessem lhe dar.
Ele, com um sorriso de orelha a orelha não hesitou um instante: eu quero um Pikachu. A escolha era no mínimo estranha, mas fazia certo sentido. Era um garoto (
Somado a fé cristã, ele realmente achava que ser humilde era o melhor dos começos.
Então pegou um Pokémon não-muito-querido. Seus mais providenciaram esse presente para ele, permitindo que andasse ao redor de Pallet para treinar seu Pikachu e quiçá pegar outros pokémons. Num primeiro dia, nada mudou. Num segundo, nada conseguiu. Num terceiro, brigou com alguns Rattatas e parou no Centro Pokémon da cidade vizinha, e lá... lá ele encontrou o mundo.
Era no bendito centro que as crianças brincavam. Era no bendito centro que os treinadores treinavam. Era no bendito centro que os pokémons evoluíam.
Decidido, passou a ir lá constantemente, batalhar com amigos que fizera no caminho. Óbvio que seu caminho era uma fuga: ninguém podia saber, afinal de contas, seus pais não deixariam ir tão longe. Para evitar “atrasos estranhos”, ia sempre de bicicleta, o que lhe faria percorrer o caminho muito mais rápido.
Num desses vai-e-vem, um pequeno caroço no chão interrompeu a trajetória de sua bicicleta, lhe derrubando com um pequenino trauma na cabeça.
Eu diria que tudo ficou muito bem, salvo pelo fato de nosso querido Ash Ketchum ter acordado apenas 20 anos depois. Num resumo breve de sua vida, descobriu que seus pais morreram e seu Pikachu se sentira muito culpado por não ter evitado o acidente. O problema central foi um Oddish traiçoeiro que estava lá para pregar uma peça, mas acabou se machucando tanto quanto o humano que decidiu cutucar.
Essa culpa se reverteu em devoção. Depois de viver todos os dias ao lado de seu companheiro, o Pikachu se viu obrigado a renunciar a sua corporeidade para resolver o problema. Sim... é isso mesmo que estão pensando.
Numa bela noite, procurou um sábio e encontrou uma abóbora de sorriso macabro. Num milagre raríssimo, conseguiu trocar três palavras antes que uma canção lhe levasse até as tumbas. Seu corpo foi paulatinamente se transformando em retalho, enquanto seu âmago se desconfigurava até se revirar em um esférico buraco-de-minhoca. Sem nenhuma luz sequer, sem nenhuma vida. Sem nenhum som.
O ato tinha cheiro, cor, som e forma de maldição. O maldito do Pikachu virara uma espécie de morto-vivo que, no fundo (bem lá no fundo), não preenchia os pré-requisitos nem para ser um (morto) ou outro (vivo), afinal de contas, nem sequer tinha um corpo mais.
Porém, isso não lhe impediu de continuar as visitas constantes.
Só que agora, passava pela janela, atravessava portas e surgia embaixo da cama. Num outro momento, olhando para o espelho, tomou coragem para tirar de cima de si o capuz amarelado de retalhos, que imitava sua forma original. Quando o fez, Ash imediatamente arfou.
Um homem, por 19 anos em coma, arfou.
Foi a primeira vez neste meio tempo que alguma reação-reflexo foi ouvida. Mesmo entubado, mesmo vegetando, mesmo quase-morto, Ash respondeu. Um sorriso esperançoso cresceu junto d’um macabro. Nosso temido Mimikyu teve uma bendita ideia...
... afinal de contas, a diferença entre o remédio e o veneno não é a dose?!
Se ele é capaz de produzir resposta, um tratamento paulatino talvez lhe produza realidade. Com esta ideia biruta, o devoto Pokémon submeteu seu treinador a doses diárias e homeopáticas de morte. Após sofrer por quase um ano, Ash (durante um sonho terrível) se vê compelido a tossir até vomitar. Essa tosse, levemente exagerada, lhe tira da cama com forças de músculos que não eram para existir (mais).
Veja bem, depois de anos de coma, musculatura não é algo que você pretende ter. Isso só pode ser obra de um Mimikyu.
Só que foi assim... exatamente assim que nosso Ash acordou do mundo dos mortos e veio para o mundo dos semimortos. Com bastante sequelas visíveis, decomposições horríveis nos membros e uma sensação de mal-estar inerente a sua consciência.
É difícil afirmar com todas as letras que Ash está vivo, mas podemos sim confirmar que ele está finalmente acordado. Com 30 anos, sem família, com uma herança moderada numa conta do banco, um Pokémon que lhe ama muito, alguns hematomas, perdas esporádicas de consciência e medo do presente.
Depois de algumas sessões de fisioterapia e muito antibiótico para tratar as feridas nojentas (que absolutamente nenhum médico conseguiu explicar), nosso querido protagonista recebe alta e se vê em um impasse: num RPG que não da para comprar vitaminas ou recursos para treino, o que fazer com a bolada que acabou ganhando dos pais?
(1) Comprar uma Fazenda e aposentar aos 30
(2) Investir na sonhada carreira de treinador
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O Mahiro é o melhor do mundo <3