Flesh without Blood

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Era estranho pensar que eu realmente estava julgando a maneira como Winnie tratava seus Pokémon. Ela sempre serviu de exemplo como treinadora para mim, em todos os aspectos, sempre a achei perfeita demais em tudo que fazia em jornada, e meu maior objetivo sempre foi ter a mesma conexão que ela tinha com seus Pokémon, principalmente a maneira como ela e Freya e Loki eram tão perfeitos juntos. Invejava aquela relação, pra ser sincero. Mas agora, vendo como ela deixava eles livres e sequer impunha limite algum, não é algo que eu quero para mim e meus monstrinhos.

Não há meios de se comparar relações, é óbvio, todos somos pessoas e Pokémon diferentes, mas eu gostava de pensar que minha relação com eles (principalmente Manigold, Pandora e Kaiser) estavam em pé de igualdade com os laços dela. Claro, eu não tinha o tempo que ela tinha com os dela, mas tinha total confiança nos meus pequenos. Talvez todo esse tempo longe dela e de toda a Requiem me fez criar um estilo mais próprio de lidar com as emoções deles, afinal, todo esse tempo éramos apenas nós por nós mesmos. Ninguém estava lá para me defender quando Maxima me atacou, além dos meus Pokémon. Eu não impunha limites para ser controlador ou qualquer coisa do tipo, mas sim para ajuda-los a se manterem calmos e aguçar sua inteligência para lidar com diferentes situações.

Meu pensamento foi interrompido quando o Ventríloquo reapareceu e começou a falar novamente, dessa vez, trazendo consigo cinco diferentes charadas. Winnie se prontificou em dizer que a última era Leaf Guard, e eu concordava. - Acredito que seja False Swipe, sim. A segunda com certeza é Mummy. - Comentei mais para o boneco do que para ela. - Acha que a quarta pode ser Sky Pillar? - Eu tinha noventa por cento de certeza que se tratava desse local, mas queria saber a da garota. Ela rapidamente pediu ajuda a ele sobre a primeira; eu imaginava ser um Aron. Eles comiam ferro e eram bastante fortes, além de viverem isolados em montanhas e serem bem pequenos, mas talvez com a ajuda tivéssemos certeza.

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O grupo se reunia para discutir as charadas, tentando manter a concentração com todas as luzes e as voltas que a sala dava. Quem estava mais engajada na resolução definitivamente era Ran. Violate até tentou ajudar, mas sem muito sucesso. Thetis se distraía com facilidade com as luzes, Hati ocupou seu tempo ao lado de Kouman, que se controlava para não surtar. Já Miyan não parecia muito interessado naquele concurso. Bom, as respostas e novas perguntas surgiram, e algumas respostas eram dadas.

Uma sineta, “ding-ding!”, junta de luzes verdes surgiam da placa de número cinco, junto do som de um bater de palmas. O mesmo aconteceu com a placa de número dois. Já na placa de número quatro, as luzes eram de cor vermelha e o som de uma buzina “bzz-bzz!”, surgiu, junto de vaias. Pelo visto, eles conseguiram dois acertos e um erro. E agora era a hora das dicas!

Dica para a Charada 1 escreveu:

Sou um Pokémon pequeno e duro na queda!
Meu corpo de aço puro aguenta quase tudo e não se entrega!

Dica para a Charada 3 escreveu:

Meu golpe pode não ter muita utilidade!
Mesmo que acerte, sempre deixa com uma unidade!

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As buzinas sinalizaram nossos acertos e erros. Aparentemente, acertamos duas e erramos justamente do Sky Pillar. - Mas que droga, jurei que tava certo... - Comentei em alto tom, dando de ombros no final, já que o saldo havia sido positivo. Pelo menos, com as dicas que vieram a seguir eu tinha certeza do que dizer para as outras duas perguntas, mas resolvi consultar Winnie primeiro, afinal, era melhor garantir que estávamos na mesma página. Não queria outra treta sem motivo. - Eu tenho quase certeza que é Aron e False Swipe... O que você acha?.

De toda a interação, meus Pokémon se mantiveram de fora. Aparentemente estavam focados demais em se comportar na frente do Ventríloquo que sequer falaram tanto. Até eu estava impressionado, principalmente com Thetis, sempre muito vocal. Depois que Winnie me respondesse e chegássemos em um consenso, checaria eles. - Alguma coisa a acrescentar? - Questionei para eles. Ninguém parecia muito interessado no jogo de perguntas, inteligência não era bem o forte de nenhum dos três. Sem uma resposta concreta, voltei a atenção para o jogo e esperei a resposta positiva, claro.

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Depois de muito pensar e refletir, as dicas ajudaram a fundar a dúvida que restava acerca das duas últimas questões. A sineta e as luzes verdes se acendiam na terceira placa, indicando a resposta certa. Depois, um ruflar de tambores de mais ou menos dez segundos ecoou, até que… DING-DING! Certa resposta! A primeira placa acende em verde, indicando mais uma resposta correta! Após isso, estouros de papel colorido picado seguido de cornetas eclodem. Tudo que estava rodando para de rodar, e as luzes voltam ao normal, trazendo de novo o aspecto de salão de um castelo medieval. - HYAHYAHYAAAA! - gargalhando, o Ventríloquo ressurge, novamente do nada, no meio do ar. - Parabéns, parabéns! Entre e deleitem-se, sem pressa! Aconteça o que for, espero que se divirtam à beça! - e saltando para trás, com um mortal, ele volta a desaparecer.

Haviam caminhos para seguir e locais para explorar. Dois corredores se estendiam tanto para a direita quanto para a esquerda, além do caminho ainda não descoberto seguindo pelas escadas à frente. Mas algo era notável, tanto nestes caminhos quanto no salão onde estavam: as paredes eram cobertas por quadros de todos os tamanhos possíveis. E cada um desses quadros retratavam uma coisa diferente. Um deles mostrava um Plusle brincando ao lado de um Minun em uma campina verdejante. Outro mostrava uma Vulpix recolhida no canto de uma viela escura e suja de uma cidade. Já outro mostrava um Persian alolano sentado diante de uma infinidade de Meowths, todos o revereciando como realeza. Agora cabia aos dois indicar para qual caminho seguir. Mas antes disso havia algo próximo ao pé de cada um deles. E pareciam ser… itens?

- Super Potion x05
- Exp. Candy S x05
- Stardust x02

Pra cada um

 

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Fiquei feliz que de fato acertamos mais duas, e que no final nosso saldo foi super positivo. Talvez eu estivesse dando menos crédito a nossa dupla do que realmente merecíamos. - Imagina, eu também tinha certeza de que era Sky Pillar aquela resposta... - Comentei, coçando atrás da cabeça e esboçando um pequeno sorriso. Depois do boneco desaparecer novamente, o castelo tomava conta de meus olhos mais uma vez, e finalmente poderíamos prosseguir; estava contente em suceder em algo com ela depois de tanto tempo, sinal de que ainda conseguíamos trabalhar bem juntos.

Depois de comemorar com a garota, notei alguns pequenos itens surgirem no chão: alguns pós rosados, duas poções e alguns doces. Havia quantidade suficiente para eu e Freda dividirmos, então o fiz, guardando aquilo na minha bolsa dos sonhos. Os caminhos subsequentes se puseram diante de nós, mais uma vez em formato de escolha, quase como se o castelo estivesse testando nosso poder de discernimento; Winnie parecia querer ir pelo lado alegre, onde haviam os ratinhos brincando, mas aparentemente seu Pokémon gostava mais do pobre Vulpix isolado. - Acho melhor nos mantermos juntos... Você já viu algum filme de terror? Isso é literalmente como tudo começa a dar errado. - Comentei, dando risada.

Sempre fui bastante fã de horror e seguir os clichês não fazia parte dos meus planos. - Podemos ir pelo Vulpix, se Kouman realmente fizer questão. - Dei de ombros. Não tinha uma opinião concreta sobre qual caminho seguir, então qualquer um que ela decidisse estaria ok para mim, sendo bem sincero.

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Os quadros se espalhavam por todo o lugar, e os Pokémon acabavam por se distrair. Koumam se emocionava com a realidade do pequeno Vulpix, enquanto os demais não se distraiam com aqueles quadros. Winnie começa a puxar a fila para seguir adiante, enquanto Luke não aprova a ideia de separação e a segue. Para qual lado? Não definiram, então este narrador que vos fala jogou um dado de seis lados, que definiu o destino como sendo o caminho da esquerda. Não havia um lado de quadro felizes e outro de quadros tristes, estes estavam espalhados de forma aleatória pelos espaços, mas talvez o destino reserva algo para os jovens exploradores de castelos.

Caminhando, sem muitos alardes, pelo corredor repleto de quadros e decorações típicas da arquitetura medieval, algo interrompeu o fluxo dos caminhantes. Era Ran, a Greninja, parando abruptamente diante de um quadro em específico. De punhos fechados e cara fechada, ela bufava. O quadro em questão retrata um Froakie em meio a uma multidão. Ele está com medo, recolhido, tentando não ser pisoteado por pés estranhamente maiores que o normal. Ou talvez ele fosse menor que os seus semelhantes, portanto tudo era maior para ele? Enquanto todos se movimentavam para perceber o porquê daquela parada abrupta, o som de um Nidoking soltando um “hummm” muito reflexivo se fez ouvir da parte de trás do grupo. E lá estava Violate, diante de outro quadro, olhando para o mesmo com os braços cruzados, olhos semi-cerrados. O quadro retratava ele próprio, um Nidoking em posição de combate, rugindo para um grande Dragonite voando pelos céus. Pelo visto, todos resolveram parar e, estranhamente, observar algum quadro em questão!

Hati sentou diante de um quadro, balançando o rabo tranquilamente de um lado para o outro, soltando um suspiro de satisfação. A imagem do quadro mostra ela mesma, deitada em um gramado bem verde, sob a sombra de uma árvore frondosa, cheia de berries. Deitada sobre seu torso, sem mostrar o rosto, havia uma jovem humana com uma preferência pela cor rosa, tanto nas roupas quanto no cabelo. O próximo a reagir ao seu “quadro” era o Muk galariano, que se via diante de um grupo grande de Grimes, sendo ele um tipo de “senhor” ou “líder”. Kouman se deteve também, mas não gritou como antes. Ele ficou pasmo, boquiaberto, diante da peça de arte. Ele estava diante de uma cena incomum: ele próprio, com óculos de sol e tudo, gigantesco, andando por uma cidade minúscula aos seus pés, com os prédios chegando até a altura de sua caoxa. Mas em seu rosto não havia a expressão raivosa dos monstros dos filmes de destruição. Pelo o contrário, ele sentia medo, insegurança, como se não quisesse destruir nada. Tudo parecia convergir para cara um deles observando alguma cena que de certo modo os faziam lembrar de lago, até que… - ÉEK! - Thetis, a Toxapex de Luke, solta um grito agudo e assustado. Ela começa a tremer, se recolhendo dentro de sua carapaça articulada, soltando pequenos gemidos. O que ela viu? Um quadro retratando uma Mareanie caindo, apavorada, em uma escuridão sem fim. A única coisa que quebrava essa escuridão eram grandes olhos iluminados em um amarelo vivo, como se a pequena indefesa fosse cassada e julgada por algo, a todo instante.