[Ashes] – Mt.Pyre –

...bem, não dá pra dizer muito mais além de que essa cicatriz era 100% muito feia, mesmo. Não que tivesse muito a dizer - ela própria já tinha as suas de tanto sofrer inúmeros golpes violentos ao longo de toda uma jornada. Na verdade, entre todas as coisas que já tinha visto, um projeto alternativo de Harry Pokker provavelmente não estava no ranking das piores.

— ...Ótimo. — Um suspiro aliviado foi o que escapou da garganta após a confirmação do fantasminha. Claro, teria que fazê-lo caso necessário, mas era ótimo descobrir que não seria preciso escavar toda uma ala desabada pra tentar descobrir onde diabos estaria um indigente. — Você leva, grandão? — Pediu ao albino, afinal, infelizmente não teria como levar o bonito em um caixãozinho fofo.

Mas, sim, escalar a montanha?
Já tinha feito uma vez, então meio que já conhecia o caminho - e acreditava que não encontraria um Zapdos no topo, dessa vez.
Hora de andar, né?

A grande questão a respeito de Netero era que - já o conhecera certa feita.

Ao contrário de Ash, ele não era um nome qualquer. Não se tratava de alguém que simplesmente ouvira algum dia por acaso, ou sequer só um nome que havia visto por cima por meio da própria sociedade. Ele era um homem que simplesmente havia tido toda uma história de construção de toda a comunidade da Circulus que, mesmo que não existisse mais em toda a sua glória como outrora, ainda haviam resquícios e consequências que mantiveram seu nome em alta.

...era alguém que já tinha conhecido e interagido pessoalmente, independente de todo e qualquer rumor e escândalo que possa ter se erguido depois.

Daquela vez, ao se dar conta dos Shuppets, não se intrometeu com os pokémons. Duskull já havia dado trabalho o suficiente (filho da puta) e, a menos que algum oferecesse agressividade imediata, não acreditava que precisava se preocupar com os animais. Pelo contrário: Sua única ocupação foi pedir que Grimmsnarl ficasse atento, os passos se encaminhando na direção da próxima escadaria e parando no primeiro degrau antes de...

...tirar o seu pokénav do bolso.

Veja, não brigue comigo, caro narrador. Claro, seria uma ótima feita se conseguisse sinal e pudesse encontrar alguma notícia a respeito de Netero, mas sua intenção ali não era exatamente aquela. A maior esperança do momento foi, em realidade, buscar notícias antigas salvas no Pokénav ao longo do tempo (ou seja, tudo em off, graças a Gilatina!), ou mesmo mensagens/e-mails que pudessem ter anunciado o fato, tentando identificar alguma possível informação a respeito do enterro de Charles.

...era mais rápido que procurar de andar em andar, é verdade, conseguindo ou não fazê-lo.

Não me xingue, às vezes eu vacilo mas eu aprendo na porrada - tipo evitar socar à toa um exército de Shuppets depois daquele Duskull, viu? Mesmo que às vezes eu esqueça detalhes completamente (talvez não) insignificantes, tipo a ausência de sinal de Pokénav. MAS AGORA EU JÁ SEI E NÃO VOU COMETER O ERRO DE NOVO, TÁ BOM??? Te amo.

Mas, sim, graças à entidades superiores, lá estava a bendita informação. E com isso, restava ir subindo de degrau em degrau, diretamente ao andar mencionado na notícia abandonada pelo tempo e que, só por ser eletrônica, não havia tido que tirar poeira. Resolver rinha de fantasma não é mole não, viu.

Vandalizar um túmulo não era exatamente do seu feitio.
Ao mesmo tempo, não era como se ligasse tanto assim - quer dizer, não era como se um pedaço de carne podre embaixo da terra fosse despirocar por algo do tipo... Eu acho. Também não era como se pudesse ter certeza disso, considerando todos os motos que já tentaram arrancar sua cabeça fora na dentada.

A preocupação do momento, então, foi simplesmente chegar na cova. Pra variar, demorou, e aquela foi a segunda vez que o fato de não existir um elevador lindo naquele monte a deixou completamente indignada - mas fazer o quê, o pessoal gosta de gastar as canelas, pelo que parece. Pelo menos não ia ter que ficar procurando a cova do homem que nem uma surtada, já que agora já sabia onde tinham enfiado os restos.

E, por isso, foi direto pra lá. No caminho, também se deu conta de que, ei, se aquilo tudo era uma invenção do Mimikyu ao seu lado, a melhor coisa que poderia fazer era deixar o bicho rodar a baiana pra cima da cova de pedra. Foi por isso que, assim que deu de achar a sepultura correta indicada nas notícias, simplesmente a apontou e deu uma indicada para o fantasma:

— ...Era com o Netero que você tinha uma rixa, néra? — ...e, pra alguém que queria vandalizar o negócio, tinha a sensação de que a única menção bastava. Do jeito que o bicho era meio maluco da cabeça, não acreditava que precisaria de muito mais para que ele descontasse a frustração ali. E aí, todo mundo ficava feliz.

Menos Netero, eu acho.

...considerando todo o tempo que já havia passado, me pergunto se ainda existia carne podre no esqueleto do velho, principalmente que ele era velho e a pele já era fina, magricelo. Considerando esse detalhe, acredito que dê pra imaginar que tudo que tenha se espalhado por aí eram simplesmente fragmentos de osso - ou não -, mas não importava muito. A questão era que, passada aquela cena, queria poder enterrar o bonito do peixe podre que estavam carregando para que pudesse tirar aquela máscara de vez por todas.

A pior parte é que tinha a sensação de que ia ter que passar nove horas no banheiro pra tirar aquele futum de cadáver.

Mas, sim, era inegável ficar ponderando a respeito de toda aquela situação. Quer dizer, era muita raiva pra um pokémon só, entende? Era simplesmente impossível não considerar o que diabos tinha acontecido entre o velho e o bicho mas, para aquele tipo de emoção negativa, muitas vezes tudo o que se podia fazer era respeitar.

Tinha seus próprios fantasmas para compreendê-la, no fim das contas.

— ...Foi tão ruim assim? — Foi a única pergunta que lançou ao faérico, suave, os orbes passeando pela sua imagem com delicadeza enquanto acalmava as mãos no bolso do moletom. Ela se manteve observando a cena por alguns instantes, mas não demorou muito antes de voltar a atenção para as escadarias e seguir em direção ao Memorial de Tohjo.

Não era inteligente ficar enrolando com um corpo apodrecendo ao lado, afinal.