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Chapter I: New Beginnings - [ Part I ]

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THE FOOL
Chapter I: New Beginnings - [ Part I ]


Já estava caminhando há cerca de vinte minutos em completo silêncio, apenas focando nos sons do meu bastão e de Themis caminhando com sua maneira firme familiar ao meu lado. Continuei caminhando como se o mero ato de parar me fizesse voltar para casa, para o isolamento do meu quarto. Espantei os pensamentos conforme foquei no calor do Sol contra minha pele e levantei a cabeça afim de deixar com que a luz banhasse meu rosto.

— O que acha da vista, garota? Parece agradável pra você? - ouço a houndour soltar o ar com certo desdém. — Não me parece muito impressionada mas você é muito exigente, não deve ser meu melhor parâmetro. - solto uma risadinha e percebo minha companheira de viagem grunhindo baixo como se resmungasse. — Ah, qual é... O céu deve estar bonito!

Ela fica em silêncio como se não quisesse mais prolongar aquele debate e me dou por vencido dando de ombros. Ela parece mais tensa que o normal, me pergunto se isso se deve ao fato de que ela quer me proteger do que quer que esteja à espreita. Às vezes a percebo assim, mais rígida como se estivesse se cobrando.

— Você sabe que não foi sua culpa de me levarem embora naquele dia, não é? - paro e abaixo apoiando sobre um dos joelhos enquanto minhas mãos tateiam a houndour procurando coçar suavemente a parte inferior ao seu focinho e seu pescoço, esfregando enquanto tento um sorriso.

Ela me dá uma pequena cabeçada no peito e eu a abraço sentindo meus olhos arderem com as lágrimas que são imediatamente absorvidas pelo tecido que os cobre. Não digo mais nada, apenas aceito seu pedido de desculpas mesmos sabendo que não havia o que ser feito, ela não podia me salvar daquilo sozinha e não era justo que se sentisse assim.

— Melhor a gente ir andando, garota... - dou uma fungada rápida tentando me recompor. — Vamos andando antes que escureça, não podemos acampar por aqui.

Ela parece concordar e então continuamos o caminho lentamente. Tomo cuidado para me manter na estrada pavimentada afim de evitar surpresas desagradáveis como tropeçar em uma raíz ou cair em um buraco. Respiro fundo o ar da floresta e a cada passo me sinto mais livre.


OFF :




001

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OFF: HELLOW

Primeiro dia... infelizmente (ou não), Andrew fora recebido com muito calor. O Suor de Muk que lhe encheu o nariz a pouco podia ser facilmente confundido com o cheiro forte destilado pela língua de seu doguinho, que suava para lhe regular a temperatura. Por sorte (ou não²), Themis não se ofereceu para lamber seu dono, e nem oferecer carinhos gratuitos como de costume: ela apenas lhe segredou o silêncio e ficou rígida a sua esquerda.

O que cortava o silêncio era, em suma, quatro coisas: o farfalhar das árvores, as arfadas ressecadas de Houndoom, o som acolchoado que o bastão fazia ao tocar no chão e, por último, o "crec" inevitável que Andrew fazia ao pisar no chão.

O solo era regular, de fato, mas uma camada de folhas o tampava completamente, indicando que o outono estava por vir. Isso, somado ao cheiro inevitável de berrys maduras, completavam aquele cenário sazonal. Num certo momento, Houndoom corta o padrão e da um espirro forte, depois um segundo e logo em seguida um terceiro.

Ela para de andar, da um quarto espirro fechando os olhos e, por reflexo do diafragma, late involuntariamente. Um pouco confusa, balança a cabeça na tentativa de liberar suas vias respiratórias da coriza chata, mas ao invés disso apenas fica um pouco desorientada. A crise de espirros continuou até que ela parasse por completo de andar.

O curioso foi perceber que, instantes depois, um dos cheiros que Andrew mais gosta tomou a cena: o cheiro de chuva. O cômico foi perceber que esse cheiro viera antes mesmo de sentir um chuvisco, indicando o óbvio - a umidade estava altíssima e iria chover. Em certo ponto, Themis parou de espirrar e voltou a andar, mas no fundo viu algo que lhe fez latir, alertando seu companheiro e enrijecendo mais ainda a postura.

Talvez seja spoiler falar isso, mas se você estivesse muito atento, poderia ouvir pulinhos bípedes. O barulho era quase rítmico, sendo repetido de segundo em segundo. Estranhamente, esse som não se aproximava e nem se afastava, o que não tornava mais fácil a compreensão.

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THE FOOL
Chapter I: New Beginnings - [ Part I ]


O calor do Sol a princípio me agradava mas com o tempo foi ficando mais intenso, me obrigando a subir meu capuz e abaixar a cabeça. Podia ouvir a respiração ofegante de Themis ao meu lado.

— Está com sede, não é? Só mais um pouco e faremos uma pequena parada, tudo bem? - pergunto de forma retórica e continuo a caminhar com mais teimosia do que determinação.

Os espirros começaram de forma repentina e fiquei confuso por um momento. O cheiro das berries estava afetando o olfato sensível de Themis? Achei estranho e reduzi meu passo até que senti a mudança no solo ao pisar nas folhas secas. Por um momento temi ter saído da trilha principal e então bati ao redor rapidamente, tomando cuidado com Themis e então me certifiquei pelo baque seco de que ainda estava no caminho pavimentado e essas folhas provavelmente vieram com o vento. Suspirei aliviado, tinha vontade de apressar o passo mas não me sentia confiante o suficiente para isso por fazer muitos anos que não caminhava por aqui. Themis continuou espirrando e isso me fez interromper o trajeto.

— Ei garota, o que está te incomodando? - me inclino um pouco passando a mão pelo dorso da houndour que deu uma mordida suave na minha mão.

Foi então no ato de me abaixar que pude sentir o cheiro de chuva fazendo meu nariz coçar um pouco e me mergulhando em um poço de lembranças nostálgicas de quando Themis e eu brincávamos na chuva enquanto mamãe estava no trabalho. Alessa participava muitas vezes, me levando para saltar em poças. Themis não gostava muito dessas brincadeiras por ser um elemento com o qual não se dava bem mas participava para me fazer companhia, sempre por perto.

— Isso me traz tantas lembranças... Mas parece que vai chover, deveríamos nos apressar.

Pego minha mochila e tiro um cantil extra que trazia para Themis, ponho em sua vasilha e lhe ofereço. Ouço ela tomar o líquido com avidez e sorrio, não pego minha garrafa pois sei que aguento um pouco mais. Quando ela termina guardo novamente e me preparo para seguirmos adiante e realmente vamos em frente mas não levo mais de seis passos até algo chamar minha atenção. Um som que parecia diferente do que eu costumava ouvir mas antes que eu pudesse me concentrar para tentar decifrá-lo, Themis começou a rosnar e emitir sons de alerta.

Senti meu coração disparar e uma das minhas pernas foi para trás me deixando em uma posição de ataque conforme eu segurava meu bastão com firmeza o mantendo rente ao corpo.

— Q-Quem está aí? - tentei deixar minha voz firme e confiante e na minha cabeça realmente estava mas ao deixar meus lábios ouvi algo bem diferente. Um tom rouco, trêmulo e hesitante. Nem um pouco como eu esperava.



002

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Talvez o calor não viesse diretamente do sol, mas sim do abafado úmido que pode se formar antes chuva. O céu estava, infelizmente, se fechando, e um trovão anunciou o início deste processo. Claro, ele não estava muito próximo - ainda -, mas a chuva brava estava por vim. Ainda nenhum pingo, mas se houver a possibilidade de apertar este capuz, eu recomendo.

No mais, Houndour respondeu de forma mais afirmativa a seu treinador: preferira sinalizar que não havia nada lhe incomodando, afinal de contas, nem sabia porque diabos estava espirrando tanto. Olhou em volta, tentou achar algum padrão distinto mas nada lhe apeteceu muito o nariz. Provavelmente era apenas reflexo de uma vida em Saffron: cachorros que se acostumaram com o monóxido de carbono no ar podem demorar se adaptar a pureza.

E ai, tudo mudou...

... quer dizer, quase tudo. Os pulinhos foram interpretados como humanos e Andrew estava certo em pensar isso, afinal de contas, porque diabos Themis ficaria tão esperta frente a qualquer outra coisa?! A ideia de perigo alertou nossa dupla e Andrew - que não costuma falar - bradou por uma pergunta.

Já estavam perto o suficiente para que a fonte do som escutasse bem e virasse a cabeça de imediato, vendo do que se tratava. " Hum?", emitiu o tom duvidoso, um pouco confuso. Logo em seguida, puxou o ar tão forte que era possível ouvir de longe:
- Ei, ei, ei! - Aproximou-se meio alvoroçado em direção ao protagonista. Houndour, estressada, latiu e rosnou mais um pouco - Pera, pera! - Disse para a canina - Calma tio! Só queria seu bastão pra tentar tirar minha pipa dali. Prendi ali sem querer, tio.

A voz era afinada, quase andrógena, indicando que a criança deveria ter pouco mais que sete anos. Ela até apontou para a árvore, e fora Houndour que viu o item colorido e quadrilátero em cima da árvore. A rabiola vermelha enrolara no tronco, mas isso podia ser cortado e desperdiçado sem muito problema. O que o menino queria - verdadeiramente - era retirar sua pipa de lá antes que a chuva viesse.

Depois de alguns segundos encarando Andrews e esperando uma resposta, ele emendou uma nova fala:
- Que óculos maneiro, tio!

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Chapter I: New Beginnings



Estava em minha jornada há menos de meia hora e já podia me deparar com minha primeira situação inusitada. Franzi a testa sentindo o tecido roçar contra minhas sobrancelhas de forma que só eu sabia que estava fazendo essa expressão e abaixei a cabeça na direção de onde vinha a voz.

— Não é um óculos, mas obrigado. - virei a cabeça para o lado um tanto constrangido. Nunca tinham elogiado minha venda, sempre me chamaram de esquisito por usá-la. Me recuperei do elogio e pigarreei. — Não deveria estar aqui, vai chover daqui a pouco. Volte pra casa, seja lá quem você for. - respondi com firmeza sem pensar, sentindo a preocupação borbulhando dentro de mim juntamente das memórias. Eu estava sozinho em uma dessas rotas quando aquilo aconteceu. Eu estava sendo descuidado.

Themis cabeceou minha perna e percebi o seu apelo.

— O que deu em você? Sabe que preciso desse bastão e que não é uma boa ideia ficar mexendo com essas coisas quando se tem o risco de que um raio caia na sua cabeça! - levantei a voz, surpreso com a atitude da houndour.

Themis não costumava ser agradável com estranhos e agora há pouco estava rosnando para essa criança então o que a faria mudar de ideia tão rapidamente? Percebeu algo que eu não percebi?

— Não sei o que você tem mas parece que ela vai com a sua cara. Qual é o seu nome? - coloquei uma das mãos no quadril enquanto passava o peso para a outra perna, aguardando a resposta da criança. — Está aqui por conta própria? Onde estão seus responsáveis? - eu sabia que eram muitas perguntas mas estava começando a me envolver demais, não podia evitar... Talvez acabasse tendo que escoltar essa pequena criatura de volta para sua casa.



003

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- Aaah, que massa!! - Deu um sorriso sincero ao ver Andrew falando que aquilo não era um óculos, mas logo em seguida botou a mão no queixo e questionou - Oxe, mas então é o que?!

Havia algum bastante espontâneo na sua mudança repentina de voz ao tratar do mesmo assunto. Era como se ele houvesse ido do entusiasmo para a completa dúvida de uma hora para outra, sem muito menear em um sentimento intermediário. Depois disso, começou a ficar um pouquinho ansioso, porque o "Tio" não emprestava o bastão.

Já ia chover e ainda nada de emprestar o bastão. O doguinho estava do seu lado, mas ao invés de ajudar, apenas introduziu uma conversa. Claro que o garoto não era mal-educado, mas é importante reforçar que ansiedade é algo que pode estar presente desde as primeiras experiências da vida e, neste menino, ela era evidente.

Começou a balançar o pé, um pouco nervoso com o fato de que poderia perder sua pipa. Nem ele sabia porque aquela pipa era TÃO IMPORTANTE pra ele naquele momento, mas tinha um sentimento completamente irracional de que a queria bem. Ok, ok, não é qualquer pipa; tinha uma historicidade toda, mas Andrew não sabia disso, e talvez nunca saberá...

... o que ele podia perceber eram os pézinhos nervosos do rapaz, que balançavam enquanto ele respondia as perguntas:
- É... eu me chamo Raul - Falou um pouco trêmulo, mudando o tom mais uma vez - Eu moro logo ali, aqui na floresta mesmo, mas era pra eu tá de castigo, não conta pros meus pais que eu vim soltar pipa não, por favor tio...

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Chapter I: New Beginnings - [ Part I ]


A aparente animação da criança me fez ficar ainda mais desconcertado por um momento. Passei a mão no braço e murmurei:

— É só um pedaço de tecido que eu uso em volta dos olhos. Acho confortável. - ocultei o fato dos meus olhos de alguma forma serem hipersensíveis à luz desde meu sequestro. Nunca havia contado isso a ninguém e não seria agora que contaria.

Os segundos foram se passando mais longos que o habitual para mim, como se eu estivesse em algum tipo de dimensão alternativa que se passa em câmera lenta. Toda vez que precisava falar com alguém que não fosse minha mãe ou irmã, tinha essa mesma sensação. Pigarreei tentando me recompor e então percebi a criança ficando cada vez mais ansiosa pelo som repetitivo que fazia com os pés e sua voz que soava trêmula com tendência a ficar mais aguda como se estivesse fora do seu controle. Cerrei o punho livre com força e travei a mandíbula tentando focar no que estava acontecendo.

Eu ia ajudar esse garoto ou não? Tive a impressão de que se eu não fizesse nada ele tentaria de outra forma e poderia acabar se machucando. Não, eu não podia lidar com esse tipo de peso na consciência, principalmente no primeiro dia da minha jornada.

Sempre tive alguém para tomar as decisões por mim ou fazer alguma coisa por mim. Essa era minha chance de resgatar o primeiro fragmento significativo de autonomia que era meu por direito. Fiquei calado e pensativo por um momento curto sabendo que não tinha tempo suficiente para ponderar todas as possibilidades por um tempo satisfatório então foquei no que me parecia mais intuitivo.

— Tudo bem. Se vamos fazer isso, devemos fazer agora. Não me importo com o que você deveria estar fazendo, não sou responsável por te educar, mas não vou deixar que se machuque tomando alguma decisão estúpida.

Minha voz saiu monótona e eu mantinha o ar inexpressivo apesar do cansaço mental ligeiramente aparente. Minha escolha de palavras pode não ter sido a mais afável mas não é como se eu fosse um especialista em lidar com pessoas, principalmente crianças. Me aproximei da árvore recostando em seu tronco e Themis emitiu um som de aprovação, interessada em ajudar. — Themis, por enquanto não há muito o que você possa fazer para pegar a pipa, mas fique atenta aos arredores no caso de termos companhia, sim?

Ela concordou com uma lufada de ar pelo nariz demonstrando sua autoconfiança e isso me fez sorrir ligeiramente. Themis estava sempre mais do que pronta para mostrar sua bravura e eu amava esse traço dela.

— Raul, tome esse bastão e me diga qual lado devo recostar. Vou juntar as mãos e você poderá subir nelas pra ficar mais alto e alcançar sua pipa mas temos que fazer isso agora. Pode vir. - Meu tom era determinado, inspirado pela coragem de minha houndour. Era um pequeno gesto mas uma vitória ainda seria uma vitória não importa o tamanho, certo? Valia a pena tentar.




004

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O menino estava se perguntando em seus miolos como diabos o rapaz conseguia enxergar com um pano confortável nos olhos, mas só depois de algumas falas ele compreendeu o óbvio: ele não enxerga. Por isso, meneou um pouquinho ao marchar em direção a árvore e dar as informações necessárias para Andrew agir.

Não por não saber onde levá-lo ou indicá-lo, mas por não saber como.

De início, caminhou até a árvore e usou indicativos inúteis, como "aqui" e "ali", mas com a ajuda de Themis, entendeu que teria que ir ao local para pontuar a origem do som e falar um "aqui" mais firme, além de descrevê-lo bem.

No fim, Andrew precisava parar bem próximo da árvore, apoiar-se no tronco e ficar entre as duas raízes mais grossas, pisando um ponto bem acolchoado por folhas. Nesse processo, o rapaz também - inevitavelmente - descobriu que a trilha estava cercada de árvores como aquelas, o que dificultaria a descrição caso ele fosse um mero visual.

Como não era, a confusão do cenário era menos pior... enfim. Já estavam todos posicionados e Themis ficou de "dar o sinal". Ao seu latido, a operação começaria e o garoto saberia quando se aproximar. Não haviam ensaiado, mas ele pretendia fazer como estava acostumado a fazer com sua irmã: apoiar os dois braços em seus ombros, botar o pé esquerdo entre suas mãos e esperar ser levantado. Era leve - graças a Deus -, e um bocado flexível.

Talvez, com o pézinho, nem precisasse do bastão. Vamos ver, né?!
- Fica com o bastão então, tio - Falou, em tom já bem menos trêmulo - Se eu precisar você me passa, vou subir no tronco depois de você me levantar, ele é bem grosso e me aguenta. Já fiz isso antes.


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Confesso que me irritei um pouco com a forma que o menino tentava me orientar, mas por sorte Themis estava habituada com esse tipo de situação e logo tratou de ajudar. Essa garota não cansava de me deixar orgulhoso, pude sentir minha impaciência se dissipar como uma névoa sobre a minha cabeça e cruzei os braços esperando pelas instruções de Raul e aos poucos começamos a nos entender. Com o sinal dado, me preparei posicionando as mãos entrelaçadas na altura dos meus joelhos me agachando um pouco e apoiando as costas contra o tronco da árvore. Acenei com a cabeça ao ouvir o plano do menino de fazer isso sem meu bastão.

— Vamos lá, garoto. Tome cuidado. - Meu tom baixo e arrastado tentava mascarar minha preocupação ao menos tentando fazer com que parecesse menor do que realmente era de fato.

Como irmão mais novo, nunca tive a experiência de cuidar de alguém mais frágil, de ser um exemplo... E agora esse menino me fazia pensar nisso. Imagino se Alessa sentia algo parecido ao cuidar de mim, se ela sentia como se fosse minha heroína ao enfrentar os comentários cruéis de meus colegas ameaçando bater em todos eles. Embora eu ficasse ainda mais constrangido com seu jeito barulhento chamando atenção por toda parte, podia ver sua intenção genuína de me ajudar e sua indignação ao ver as pessoas caçoando de mim. Já estava quase sentindo falta daquela cabeça de vento.

— Você tem irmãos? - não pude evitar de perguntar, já que não iríamos a lugar nenhum pelos próximos minutos e o silêncio de alguma forma me parecia ainda mais estranho. Talvez eu tivesse me acostumado tanto ao jeito tagarela de minha irmã que estava prestes a assumir eu mesmo esse papel. Balancei a cabeça com a possibilidade, eu estava apenas curioso sobre esse garoto estar sozinho por aqui.



005

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Um impulso foi mais que o suficiente para que o garoto alcançasse o galho que desejava. Agarrou-o já na altura do peito, fez força com os cotovelos e se projetou para cima... ah, a infância, né?! Tão cheia de músculos e tão pouco sedentária. Lembro que eu fazia ponte e espacate, mas hoje não consigo nem ficar em pé por mais de 30 minutos sem a lombar reclamar.

Não seja um adolescente sedentário, criança que está lendo isso (realidade, nenhuma criança está lendo isso).

ENFIM, saudosismos e arrependimentos a parte, o importante é que ela conseguiu. Ainda arfando, ouviu a pergunta de Andrew com certa naturalidade e respondeu assim que seu fôlego voltou completamente - o que não demorou muito.
- Ah, minha irmã morreu no mês passado, tio - Era estranho a naturalidade com que falava isso - Mas sim, eu tenho essa irmã - Seu tom era morno, como se estivesse satisfeito com a resposta que havia dado, mesmo ela não fazendo sentido algum.

Depois disso, levantou. O movimento fez o galho balançar um pouco, fazendo algumas folhas caírem e planarem até o rosto de Andrew. Uma ficou presa em sua venda, pendendo até o nariz, lhe fazendo sentir o cheiro característico de néctar: um pouco adocicado, um pouco suave. Enquanto resolvia esse problema - que não era tão incômodo assim -, o rapazinho se esticava todo e pegava a pipa, fazendo algumas onomatopeias meio estranhas e até liberando um xingo ou outro quando as coisas davam erradas. Ao fim, pegou a pipa e reparou algo posterior:
- Nossa sinhora, tio, você tem que ver isso! - Falou em empolgação, mas logo em seguida reparou na gafe e se apequenou - Quer dizer, sentir, sentir! Pera!

Esticou-se mais um pouco e agarrou alguma coisa. Ao puxar, um tronco mais alto chacoalhou e fez o barulho característico. Depois disso, o garoto pediu atenção de Andrew:
- Levanta os braços ai e se prepara que eu vou jogar esse troço e você pega, ta?! - Foi bem simples e direto, sem ter certeza se aquilo iria dar certo. Depois de um certo tempo, deu um suspiro e tentou adiantar Andrew - Mas vai logo que esse troço ta quente!!!


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