Fur Elise

Meu Deus: eles tem um shotcaller. Assim que dei minhas ordens, ouvi Malamar com a voz mais esquisita da face da terra: era fina, elétrica, com tons desequilibrados e um chiado esquisito no fundo. Demorei perceber que aquilo não vinha de um rádio ou de uma escuta. Era de dentro da minha cabeça, mas não proveniente de um fone de ouvido; era Morpeko.

Tapei minhas orelhas para ter certeza que a altura não diminuía. Depois percebi que não era um som; era um pensamento. Dei um suspiro sincero e respondi, pensando com certa clareza "vocês não tão aqui pra me dar folga, né?". Meus ombros caíram e e eu deixei de ver alguns golpes para observar como Morpeko se posicionava na batalha.

Eu já tinha usado aquela estratégia antes, mas era algo TÃO RARO que eu nunca pensei que ia ser usado contra mim. Fafnir era meu Gravity User e eu de vez enquanto usava ele para Focus Blast e Hypnosis num pokémon ao lado; nunca tentei com Hustle. Na verdade, esqueci completamente que antes de um Hydregion flutuar, ele bate muito forte.

Nesse aspecto, sabia que Malamar já tinha feito a missão dele, mas o Superpower, junto do Hypnosis, seria um problema maior para Tyranitar do que o resto do leque do Pseudo-Lendário. No meio da terceira rodada as chances poderiam passar para o meu lado e contar com a sorte é melhor do que contar com nada. Sendo assim, ordenei:
- Ran, Taunt no Malamar, se conseguir dar algum golpe use U-Turno no mesmo pokémon. Kouman, duplo Crunch no Malamar. Se ele cair antes por algum milagre, Ice Punch no Zweilous.

Não pensei que um pokémon batalhando fosse me dar mais trabalho que um Líder de Ginásio. O fator surpresa realmente "piorava" tudo, mas com ou sem ele é preciso admitir que Morpeko tirou limões de limonadas: até essa Eviolite prova que não há brincadeira nenhuma aqui. Começo a cogitar que dentro desse grupo só tem peso-pesado e talvez - apenas talvez - Ran não passe no teste. Minha esperança era Kouman: ele precisava bancar o mal-encarado. Meu T-Tar não podia ser o bebê mimado que costuma ser; não agora.

Mu Island

OFF: Quase ctz que você não contabilizou o dano do Superpower e o HP do T-Tar ta 93.

Ao cair, Malamar se silênciou. Não sei ao certo dizer que foi uma inevitabilidade do "nocaute" ou simplesmente uma falta do que dizer; era minha vez de atacar e a voz de Morpeko não deveria vir. Além disso, ele não caíra como Greninja, desmaiada no chão. Malamar foi mais "elegante", se retirando estrategicamente frente ao fato de que não tinha mais energia alguma para lutar.

Olhei para Ran com um olhar um tanto quanto triste. Eu odiava ver meus pokémons nocauteados? Sim, mas devo admitir que o que mais me doeu foi vê-la falhar num teste. A pokémon é extremamente ansiosa e sempre se vê num conflito interno ENORME, onde ora acha que deve se apressar para alcançar seus "irmãos" e outrora acha que ir rápido demais lhe causa atropelos e acaba sendo paralisada pelo medo. A experiência de (talvez) não ser digna de um grupinho de Pokémons Dark pode lhe causar qualquer um dos dois sintomas: ou se sentirá na obrigação e na cobrança de se tornar, ou não irá mais querer saber disso.

Caberá a mim, independente de qual escolha ela irá fazer, gerenciar isso. Ser treinadora é cansativo, viu?! Por isso, fiz o máximo que pude: retornei-a da esfera apenas para tirá-la do campo. Depois disso, a materializei bem ao meu lado, numa caixa ou mureta qualquer da viela, lhe deixando sentar e descansar. Fiz questão de tocá-la no topo da cabeça e aferir sua consciência ora ou outra, mostrando que ao menos amor e carinho ela teria. Enquanto isso, continuei a batalha:
- Duplo Ice Punch no bipolar! - Comentei, mais fazendo uma piada com as cabeças e seus conflitos do que com o diagnóstico em si.

Para um alívio meu, Kouman estava indo EXTREMAMENTE bem. Quem diria que o pokémon que mais me deu problema para treinar me daria tanto orgulho em plena missão de sociedade, né?! Rememorei todo o chororo e empacamento do T-Tar no dia de sua evolução; até do sonho medroso que teve em Unova. Realmente nunca pensei que o dinossauro fosse ser um pilar de suporte e sustento um dia, eu devia acreditar mais em Kouman, né?!

Mu Island

OFF: Posso aproveitar o pretexto pra ir no CP e dar curar/dar Candy pros meus mons? Preciso por a Gatonha no lvl 10 pra breedar. Não vou narrar interpretativamente pq teoricamente Winnie não recebeu ela ainda, já que ela ainda n foi no battlefield KKKKK é só pra adiantar.

A sorte nem sempre me sorri, mas desta vez ela gargalhou pra mim. Uma das cabeças ficou como se tivesse tomado um picolé de limão extremamente gelado, tendo o cérebro congelado por completo. A outra, provavelmente por não conseguir controlar sozinha aquele corpo enorme, ficou batendo cabeça (literalmente?) e acabou por não agir. No fim, a paralisia poupou Kouman de um enorme machucado e um chororô, tirando toda a tensão dos meus ombros frente ao resultado positivo.

- Boa grandão! - Anunciei, com o dedo opositor fazendo sinal de "joinha". T-Tar, do jeito dele, respondeu.

E ai, após a vitória, eu fiquei olhando pro mon desmaiado no campo inimigo e esperando um "passe livre" pra entrar. Meu olhar ia ora pra Malamar e outra ora pra Zweilous, esperando algum "pensamento intrusivo" me parabenizar e abrir as portas. Só que, para meu espanto, um chiado irritadiço foi a única coisa que consegui ouvir; e não foi pela telepatia de Malamar.

Meus olhos foram em direção ao som e eu vi um outro Pokémon no lugar de Morpeko: de mesmo formato, porém de olhos muito mais semicerrados e um tom obscuro, que misturava o roxo-escuro com o vermelho-sangue (nos olhos). Espanto foi minha primeira reação; não tive medo mas minha boca caiu num "o" perfeito e eu tentei falar algo, mas não tinha o que dizer. Ao invés disso deixei-o ir sem falar absolutamente nada e quando ele deu uma cabeçada na porta e saiu de cena, pronunciei um "hã?" completamente confuso.

Malamar me dera uma pequena demonstração do que eu ganhara com aquele duelo, dando finalmente o "passe" que eu queria. O problema é que esse maldito passe parecia MUITO uma armadilha motivada pela vingança de uma criança mimada que perdeu. Péssimo perceber isso; mas era a realidade. Em resposta apenas vocacionei um:
- ...tudo bem.

Todos saíram de cena e restou eu, Kouman e Ran dormindonga ao meu lado. Olhei os dois pokémons e concluí o óbvio: se vou voltar aqui, ao menos tenho que me preparar. Fui caminhando até o Centro Pokémon com calma, pensando um pouco no assunto. Parei num supermercado e comprei coisas básicas e/ou rápidas, como um Cup Noodles, pão de sal, água engarrafada e três cervejas. Na volta, pretendia passar no apartamento que aluguei pra ~pensar~ numas coisas.

A primeira coisa que eu precisava pensar é: eu devia levar só pokémons Darks? Se eu concluísse que sim, teria que aceitar me vulnerabilizar e abrir mão de Togekiss. Apesar disso, usá-lo podia criar uma balburdia ainda melhor naquele clube-noturno. Era uma decisão importante de se tomar, mas apesar disso, não foi nada disso que ocupou minha mente nesse caminho até o CP. O que eu realmente pensei foi na mudança drástica de um Morpeko pra outro, me fazendo chegar numa simples e idiota conclusão:
- AAAAAAH é por isso que ele é Dark. Faz sentido. Se ele não tivesse essa transformação ele seria só Elétrico... - Devaneei sozinha.

Mu Island

OFF: Jellicent - Power Band
Greninja - Focus Sash
Tyranitar - Mega Stone
Houndoom - Power Lens
Araquanid - Sitrus Berry
Togekiss - Shell Bell (nem sabia que tinha isso)

Passei no Centro Pokémon e usei a máquina de cura rapidinho. Ajeitei algumas trocas rápidas, peguei alguns itens no correio e fiz a parte "burocrática" de ser narrador. No fim da tarde, carreguei todos para a base que arranjei e liberei-os um de cada vez. Freya penúltima, Sleipnir última. Admito que o raio vermelho que materializou o inseto me dera um pequeno ataque-cardíaco já que, ao seguir a projeção da pokémon com o olho, não a vi. Por um instante achei que o apetrecho estava com defeito ou que Araquanid tivesse fugido, sabe-se lá quando ou como. Olhei com mais afinco no cenário, balancei a cabeça um pouco nervosa e finalmente falei:
- Slê?! - Questionei em tom médio, demonstrando uma preocupação contida.

A pergunta retórica foi vista como um chamado e de trás de Jellicent sai uma bolha d'água rosa, com os pés encolhidos e escondidos atrás de algum móvel. As bolhinhas que protegiam sua articulação eram rosa-clarinho, quase branco, e ela posicionara bem ao redor da bolha grande, tornando-se extremamente semelhante à Freya num mimetismo EXTREMAMENTE BIZARRO.

Quando a vi, meus olhos simplesmente se arregalaram.
- Mas o quê... ???- Foi a única coisa que consegui dizer. A reticências de "pontos" não eram suficientes para expressar a pausa abrupta na minha pergunta; era uma "reticências de interrogações". A aranha, sentindo certo orgulho de sua nova coloração, esticou as pernas e veio até a mim, emitindo um barulho um tico aquático, comum de Freya também. Não sei explicar porque isso me irritou TANTO, mas em certa medida já era ruim lidar com uma Freya, ter que lidar com duas era o meu inferno particular. Levei a mão até a testa num tapa e tanto, me recuperei e disso - Ok a gente NUNCA MAIS vai num psicólogo. Vocês não estão preparados pra isso.

Depois disso sacodi a cabeça e fui fazer o que tinha que fazer: alimentar minhas feras, vitamizar minhas feras, cuidar das minhas feras e principalmente: dar e receber carinho das minhas feras. Eu tava um pouco triste, devo admitir; eu sentia que precisava entregar Morpeko para as autoridades mas eu simplesmente não queria. Esse embate ético SEMPRE me causa uma angústia e um sofrimento muito grande.

No fim, decidi o que sempre decido: "vou fazer o que quero e pronto-cabô". A noite caiu e eu fui com minha trupe até o lado de fora do condomínio. Retirei QUASE TODOS os Power Trainers Itens e distribui itens certos dessa vez. Retornei cinco para a esfera e deixei apenas Kouman comigo, andando ao meu lado a noite. Fomos em direção ao mesmo beco em que estávamos e eu já tinha tomado minha decisão: eu iria entrar pra esse tal Clube de Luta e sobreviveria a essa noite.

Levei também um bocado de bala Fini pra dar pra Morpeko, já que minha imagem não ta muito limpa pra ele; é melhor tentar conquistá-lo pela barriga um tico.

Mu Island

Enquanto andava na rua, comecei a me sentir mal. Olhei para Kouman e vi um dinossauro extremamente monstruoso. Logo em seguida pensei na imagem fofa do Morpeko que outrora encontrei dormindo na rua; se houvesse uma luta direta, ela seria no mínimo injusta. Um arrepio me subiu até o topo da cabeça e eu comecei a me achar um tanto quanto malvada.

Se antes eu achava "overkill" usar Hati naqueles confrontos, não me parecia tão menos "overkill" usar Tyranitar com uma Mega Stone. Ainda assim, eu vi do que eram capazes e eu sabia que eles podiam me ganhar no cansaço. O problema central era que dois dos meus três pokémons darks eram "bazucas" e eu realmente estava mirando num ratinho com elas.

Bleh, tudo bem, eu vou dar um jeito... né?! Acho que sim. No mais, segui com a consciência pesada em todo o trajeto até enfim botar os pés naquele galpão abandonado.

A priori, a única coisa que pensei foi: de quem é este galpão e porque a prefeitura está deixando que façam especulação imobiliária em um troços TÃO PERIGOSO. Certamente daqui uns dias o teto disso vai cair na cabeça desses pokémons e dezenas de treinadores perderão seus preciosos pokémons-rebeldes. Enquanto isso não acontecia, Morpeko usava a área nobre pra algo ainda mais nobre que a área-geográfica: treinar.

Eu começava a ter simpatia pelo grupo, que claramente era forte como era porque treinavam entre si. Devia ser muito estranho para um treinador perceber que seus pokémons Darks estão "crescendo sozinhos" e deixar isso acontecer; comigo não seria assim. Andei ao lado de Kouman por todo o trajeto, tendo certeza absoluta que todos ali saberiam que ele tinha uma treinadora que lhe amava e lhe treinava. Não precisava sair abandonado por ai treinando; eu posso dar algo para ele que rebeldia não lhe dava.

Aqui preciso admitir que tive um sentimento que a tempos não tinha: apesar de todos os pesares da minha ética e da minha personalidade, eu sou uma boa treinadora. Há amor envolvido nas minha relações com meus pokémons e também há uma parceria um bocado bonita com alguns; isso era bom de se mostrar pra quem pudesse ver.

No mais, como éramos novatos, logo fomos recepcionados por uma espécie de trote. Quis muito liberar Araquanid para esse confronto, mas senti que ainda não era o momento de por um pokémon diurno em campo, então liberei Ran mais uma vez. A sapa, já imaginando o que lhe esperava, se posicionou bem ao lado de Kouman, que SEM MINHA PERMISSÃO deu um rugido forte e Mega Evoluiu.

Ele QUERIA se mostrar pros colegas; ele QUERIA ser reconhecido como o fortão. Quase me aproximei dele e dei um tapinha na sua bunda pra deixar de ser trouxa, mas depois pensei com meus dois neurônios lúcidos: talvez isso seja bom. Deixei-o fazer e só ordenei o que já iria ordenar:
- Some com esse Anger Point daqui! - Falei ao Jacaré, brincando um pouco - Ran, a gente não consertou seu Moveset antes de vir e não da tempo de ver isso agora, mas vamos usar duplo Ice Beam no Krookodile e Mega-Kouman vai focar ele também, usando duplo Ice Punch!

Mu Island