[Rota atemporal] Filler de Natal v2

É dito que em Snowpoint neva durante todo o ano, e é uma região muito fria, no entanto, eu mal havia conseguido sentir a temperatura amena. Por ter viajado com Panic e Kenma do meu lado, praticamente não senti nada, ainda mais com o bendito aquecedor da dita cuja mansão. No último ano eu havia estragado o natal da Karina, tomado um esporro da Mísia, e ainda fui encorajado por mais uma metade de bêbados. Parando pra pensar, foi deveras constrangedor, então dessa vez, eu queria acertar, pra variar.

Tratei logo de arrumar um pinheiro bem grande e colocá-lo no centro da sala, e, com Panic e Timid ajudando, rapidamente terminamos de decorar nossa árvore de natal. Tinha pisca-pisca, as tais bolas de natal, um frufru aqui e deixei um enfeite meu: um pequeno par de luvas de boxe.

Tendo isso em mente, Lisanna logo chegou e fui ajudá-la a preparar algo para comermos, só esperava ser útil pra ela de alguma forma...



Fala sério, se tem alguém no mundo que seja tão inútil na cozinha igual o Fernandez, eu juro por deus, essa pessoa merece ser sacrificada. Daisuke, novamente, havia me convidado pra participar do natal da sua sociedade, e claro, fiquei animada. Chegando em Snowpoint, tratei de passar no mercado e trazer um monte de ingredientes para fazer a ceia. Tinha de tudo! Mas se você acha mesmo que eu ia cometer o mesmo erro da vez passada, ta muito enganado! Não recheei os pratos da noite com os pássaros que fizeram o Luch quase cair pra trás, não, não, dessa vez só trouxe carne de terras distantes! Carne de um tal de Bombirdier que me garantiram que era muito macia, além de cortes de primeira dos Tauros de lá, para os amantes de peixe, um pouco de Dondozo e Tatsugiris.

Mas bem, como meu irmão mais novo é extremamente jeitoso, ele conseguiu, não só salgar a porra do peixe esbarrando no saleiro como queimar a carne que eu estava assando! Idiota! - Fernandez, tu só tinha que vigiar o caralho da carne no forno!!! - Gritei, muito puta, enquanto ele nem tentava se defender. Só perguntava o que tinha que fazer e mandava ele sumir no mercado pra buscar outra picanha paldeana.

Puta que pariu, era só o que me faltava. Será que nenhuma alma caridosa podia chegar pra me ajudar?

Era o primeiro natal que ia passar longe da família. Quer dizer, não o primeiro, mas em circunstâncias completamente diferentes. Sim, já sei que não sou o tipo de cara mais sociável possível e meu mau humor é palpável em até mesmo em quilômetros de distância. Prometo que vou tentar ser um pouquinho mais legal, contudo, não posso garantir; sempre tem alguma variável que faz toda a diferença em um gráfico.

Escolheram Snowpoint. Era a primeira vez que enfincava os pés em Sinnoh e dessa vez em uma cidade bem afastada, conhecida pelo seu frio rigoroso que amenizou um pouco conforme voava sobre as costas de Balerdroch. O ígneo tornava a temperatura mais aprazível com seu calor corporal inato. Ainda assim, precisava de uma roupa reforçada para que não morresse de hipotermia: um sobretudo bem quente e um cachecol iam bem nessas ocasiões.

Chegamos à dada localização. Pedi para que Charizard descesse perto da porta e ele o fez sem pestanejar. Em uma manobra segura, o réptil alado fez conforme o comandado. Foi algum tempo ínfimo para que tomasse minhas coisas e um... violão. Sim, sei tocar violão, como guitarra também; eram um dos meus passatempos preferidos, ainda mais quando não estou com saco para nada. Nunca cheguei a tocar para meus monstrinhos, ainda que eles me pedissem de todo o modo.

Frente à porta, suspirei.

— Se bem te conheço, você não está cansado — inferi a Balerdroch, que assentiu prontamente com um sorriso faceiro. — Então vê se os outros precisam de ajuda em algo. Se for algo específico, eu desço e ajudo depois. Preciso tomar um banho e trocar de roupa. Só toma cuidado, tá bom? — com certeza o desastrado inicial diria que não faria nada demais, mas já conheço a peça.

E, por fim, adentrei a mansão. Com os aquecedores ligados, foi ficando mais quente conforme o tempo junto a Balerdroch. Só espero conseguir chegar até meu quarto sem que nada demais aconteça e não aconteça nenhum desastre.

Antes mesmo de entrar, uma garota que parecia ser da sociedade acenava ao longe. Tive de cerrar as pálpebras até perceber que a aparência batia com uma tal de Artemísia. Acenei ao longe e acheguei para ajudar com aquele monte de coisa que carregava, pedindo que Balerdroch auxiliasse também; claro, uma chamada não verbal para que o ígneo fizesse nenhuma besteira.

— Ei — cumprimentei de volta. Meu natural é não mostrar muita empolgação em qualquer situação, contudo, estava sendo cortês. — Não conheço todo mundo, mas acho que dá pra dar uma relaxada — comentei, sucinto.

Entrando, o que me surpreendeu foi uma criança me cumprimentando. Quem foi a ideia de recrutar uma criança, sabendo de tudo quanto é perigo que cerca o mundo? Garanto que dou uma surra de Meowth morto até o bicho grunhir. Para não parecer — ainda mais — antipático, dei um breve aceno de cabeço para ela.

Então ajudei a entrar e colocar algumas coisas no balcão, e o cheiro de queimado empesteava todo o recinto. Claro, tinha que ser o ranger imprestável fazendo cagada; preferi nem me pronunciar e somente deixar a cozinha. Talvez, único e somente talvez, aquela criança que me cumprimentou tenha mais utilidade que esse encosto. Acho que agora era a hora que trocaria aquelas roupas de frio exageradas depois de um banho.

Se não fosse um estrondo vindo do quintal que atiçou minha curiosidade. E desastrada, como sempre, Karinna fazia o seu pouso dos sonhos. “Tinha que ser”, era o que pensava, lançando olhar de reprovação e um singelo balançar horizontal da cabeça.

Agora, era só aguentar ela com o grude exacerbado; nada que acho que já não esteja acostumado.

— Ei, já faz um bom tempo — abracei-a de volta. — Só tenho preguiça de cortar mesmo. Ela tá com algumas amigas em Kalos, deve passar as festas por lá — por fim, respirei fundo. — Agora, se me dão licença, preciso me arrumar decentemente.

Agora, enfim, liberado para ir pro quarto tomar banho. No meio do caminho, uma caixa de som; não vou negar que, provavelmente, meu gosto musical seria claramente crucificado aqui, então pela política de boa vizinhança, vou colocar uma que case com o clima de festividade. Ademais, não acho de todo ruim; não, não sou um curtidor assíduo de Rock Wins. Coloquei no máximo, conectei a RotomDex e entrei para tomar banho.


Enquanto isso, um Charizard pidão chegava na cozinha em passos lentos, inebriado pelo cheiro de carne queimada. Após o primeiro passo, mais uma boa fungada, seguido de um suspiro aprazível como quem visse uma bife à parmegiana. Balerdroch, então, corria os olhos por todo com a sua cara manhosa, apontando para o forno, esperando que recebesse um pedaço de carvão temperado para se alimentar. “É pra mim...?”, grunhia, fazendo sua carinha de cachorro sem dono para ver se descolava um grude.