~ O que é uma Aventura? |02| ~

Talvez Leander de fato nunca viesse a saber a história daquele pequeno Starly afinal ele não seria capaz de contá-la. Porém, lá no fundo, naquilo que aqui podemos chamar de intuição ou sexto sentido, é possível que o rapaz sentisse a segurança no palpite de que Starly por algum motivo tinha sido desgarrado de seu bando. Houve até uma nuance de sentimentos no olhar do voador quando o rapaz mencionou o fato para o estimular.

Starly cerrou os olhos, positivamente provocado pelas palavras de Ottocard, e então se pôs a correr depressa pela grama até que, no momento exato, pudesse saltar com impulso e abrir as asas, atingindo Notredam por baixo com uma cabeçada. O Bronzor recuou em reflexo, mas logo girou seu corpo na vertical de um modo que fez seu corpo produzir e emitir finas ondas róseas que flutuaram na direção de Starly, deixando o pequeno selvagem atordoado e literalmente confuso.

Ainda a pouca distância Starly saltou mais uma vez, agora tentando atingir bem a margem do corpo delgado de Notredam o que fez o psíquico se desequilibrar por uma fração de segundos. Só que Notredam era um poço de resistências e isso ficava cada vez mais nítido. No instante em que se recuperava, o Pokémon de Leander obedecia lançando densas rajadas de energia psíquica na direção do oponente, o que fez Starly rolar pelo chão deixando um rastro de folhas amassadas por onde passou.

A ave se erguia, agitando a cabeça para tentar aliviar a confusão que não passava. Starly podia ser tão novo quanto Notredam no que diz respeito aos combates, mas certamente seus instintos já lhe alertavam para a desvantagem na qual se encontrava. Ainda assim, ele não ia recuar!




Campo: Bosque com árvores e arbustos espaçados, deixando a luz solar penetrar pelas copas. Chão de terra e grama.

Hearthome – Manhã | 23ºC – Leander

Mesmo intimidado pela dureza de Notredam, Starly não hesitava em preparar o ataque seguinte. Agora, o pássaro usaria um tipo diferente de investida, uma que abusava da sua agilidade em campo a ponto de torná-lo quase um borrão acinzentado sobre a grama, até que num piscar de olhos estivesse em cima de Bronzor atingindo-o com todo o peso do corpo. Mas nem aquilo parecia suficiente para transpor as defesas do Bronzor, então Notredam repelia o oponente imediatamente usando seu poder psíquico, lançando Starly ao chão.

Nos segundos seguintes Leander tinha preparado uma tática adicional ao ataque à queima roupa, orientando Notredam a se posicionar a favor do sol, de modo que o corpo metálico do Pokémon inclusive refletisse os feixes de luz em direções diversas. Assim, quando Starly veio fazer uma nova investida ele deve ter encontrado alguma dificuldade em se orientar, atravessando direto pela lateral de Notredam sem sequer atingi-lo e, ao invés disso, acertando a árvore atrás do Pokémon Psíquico.

"Impiedoso" e certeiro, Notredam lançava uma nova rajada de energia psíquica, dessa vez atingindo as costas de Starly que se via visivelmente confuso com o próprio erro. A ave também ofegava, já demonstrando os primeiros sinais da sua fadiga.




Campo: Bosque com árvores e arbustos espaçados, deixando a luz solar penetrar pelas copas. Chão de terra e grama.

Hearthome – Manhã | 23ºC – Leander

EXP!
> Bronzor recebeu 309 de Exp, subindo para o Lv. 7 [89/142], +6 de happiness [6].
> Starly capturado! +1 Bottle Cap.

Starly recuava alguns passos, desconfiando da aproximação do humano, misturado com um pouco da confusão que ainda persistia e fazia ele ter alguma dificuldade em absorver parte das falas do rapaz. No começo os olhinhos da ave iam de Notredam para Leander, como se achasse que aquela era uma estratégia de batalha que contrariava seus próprios instintos. Mas, depois de um tempo manteve os olhos fixos apenas em Ottocard até que a pokébola apareceu para dividir a atenção e contribuir para que o Pokémon compreendesse a parte principal da mensagem, o convite.

Houve quase um minuto inteiro - que pareceu ser muito mais - de tensão entre o fim do discurso de Leander e a troca de olhares de Starly. Dava para sentir a dúvida do selvagem no ar, mas não uma dúvida que pusesse em questão seu alinhamento com a proposta do treinador, não. Um olhar experiente perceberia que era mais uma questão da imaturidade de Starly, que ainda tinha vivido muito pouco para saber escolher o que era melhor para si.

No fim, Starly direcionou um olhar orgulhoso para Notredam, abriu suas asas e deu um pio bem longo, como quem acaba de declarar uma rivalidade amigável! Com suas perninhas ligeiras Starly correu na direção de Leander, parecia até que atacaria o rapaz com o mesmo Tackle de antes e, bem, de certa foi mais ou menos isso que aconteceu, só que o alvo era a pokébola!

– Oh! – surpreendeu-se a senhora que vinha observando tudo em silêncio.


Leander teve que segurar a esfera agitada na palma das duas mãos abertas, pois Starly parecia disposto a fazer algum charme em demonstrar sua teimosia. Mas, ora, ele tinha escolhido entrar ali afinal, então o resultado não poderia ser outro... A pokébola parou de se mexer, emitiu o som oco do sucesso e lançou faíscas brilhantes no ar.

– E-he! Parabéns, rapaz! Ora, fazia tanto tempo que não via isto que quase não me lembrava mais como era. – ela se aproximava a passos lentos, admirando a pokébola com saudosismo no olhar – Você é novo nisso, uhm?! Tem um belo pensamento, a propósito, acho até que conheço alguém que adoraria te conhecer e... Ah, deixe as desculpas pra depois. Eu sei que o Starly não fez por maldade. – sorria, evidenciando ainda mais suas rugas – Por falar nisso, vejamos... Acho que tem umas árvores de Oran Berry por aqui, pra você recuperar seus Pokémon... – olhava os arredores, ajustando os oclinhos nos olhos.

Hearthome – Manhã | 23ºC – Leander

A mulher continuava sorrindo e começava a caminhar pelo bosque, gesticulando com a mão livre para que Leander a acompanhasse, pois seguiriam agora em busca das berries, por isso que os olhos da velha senhora se mantinham voltados mais para cima do que para frente.

A propósito, ela disse que se chamava Roberta mas "... como não é só o nosso corpo que encolhe na velhice, pode me chamar de Berta, como todo mundo.", alegava não se ofender com os diminutivos, principalmente os carinhosos. No fim ela dirigia o olhar por alguns instantes na direção de Leander, sem perguntar mas discretamente esperando uma apresentação da parte dele também.

– Eu não me consideraria uma treinadora, não, mas muito já ouvi dizerem que eu era, mesmo com meu jeito diferente de viver minhas aventuras. – começava a contar, ainda caminhando por entre as árvores e eventualmente parando em algumas para observar os galhos altos – A maior parte da vida eu acompanhei Arno, meu marido, na jornada dele. Ele sim era um treinador! Eu mais desenhava, assistia e lhe fazia companhia. Batalhei aqui e ali mas... É, não posso dizer que fui uma treinadora das melhores, hehe. – ela ria, já confortável em "ignorar" rótulos e julgamentos.

Enquanto falava Berta tinha parado ao lado de uma árvore de tronco fino e copa não muito alta. Ela deu batidinhas no tronco e então apontou para cima, indicando a Leander o que ela já tinha encontrado lá: pequenas frutinhas arredondadas e azuis que se escondiam nas sombras das folhas.

– Oran Berry! – declarou – Essas são pros seus Pokémon, pode pegar. Elas curam! As que eu procuro são as vermelhinhas e pequenas, as Cheri. Mas se encontrarmos Pecha rosadas e suculentas quem sabe eu mude a receita, uhm?!

Dito isso, Berta já começava a se afastar de novo à procura das outras frutas, mas Romildo ficava para trás e finalmente botava seus talentos à mostra, voando - mesmo que um pouco desengonçado - para os galhos altos da árvore e se pondo a ajudar a coletar as frutinhas azuis.

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Berta sorria ao ouvir a reflexão empática de Leander até que ela própria o complementou dizendo sabiamente que "... Cada treinador tem seu próprio jeito de viver uma jornada, e isso deveria bastar.", mesmo que ainda não houvesse sintoma de desconforto ou revolta na alegação dela. De certo modo a velha senhora reforçava pensamentos antigos que a levarem a evoluir na aceitação do seu próprio estilo de viver com os Pokémon.

Enquanto a conversa desenrolava, Notredam era apresentado a frutinha azul, da qual se serviria à sua própria maneir... Bronzor tem boca? Nem sei! Quanto a Starly, um convite formal não seria necessário para que ele saísse da pokébola com a mesma empolgação de sempre, atacando uma porção de berries sem pensar muito. Berta e Romildo dispensavam a refeição por hora, estando focados em buscar outras frutas em outras árvores. Já os Pokémon selvagem das redondezas resolviam mostrar seus rostos novamente, carinhas familiares como Buneary, Aipom, Glameow e até outros Starly.

– Ah, bem... Não somos nativos daqui, mas depois de tanto tempo acho que posso dizer que estamos estabelecendo algumas raízes em Hearthome, sim. – respondia a curiosidade do rapaz – Eu sou de Vermilion e meu marido era de Fortree. Nossa filha nasceu na antiga casa dos meus pais, mas entre idas e vindas das nossas jornadas os ventos do destino nos empurraram para cá e... Ora, veja só, agora tenho três netos e só um deles parece ter herdado nossa veia aventureira, ehehe! – sorriu de novo, passando o dedo enrugado pelos olhos.

Romildo emitia um zumbido agudo e deixava o lado da sua treinadora quando enfim encontrava a árvore que procuravam. Lá estavam as Cheri Berry, pequenas como cerejas, por isso quase imperceptíveis. Estavam em uma árvore nem tão alta a alguns metros de distância habitada por um tímido Aipom que fazia questão de colher um par das frutas para si antes que os humanos chegassem.

– Ah, lá estão elas! Sabia que tinha visto Cheri por aqui semana passada, hoje me parecem bem maduras! Será que você me ajuda a pegar algumas? – perguntava para Leander com o dedo apontado para as frutinhas, indicando até que havia uma outra árvore ao lado que continha a mesma fruta.

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