001 - A mudança se encontra ao Sul!

OFF: Oi! Espero que seja divertido <3 Postzinho introdutório

Dezesseis anos... por Deus, garoto, porque saiu tão cedo numa trilha! Se bem que, parando pra pensar, é o momento exato onde nós, do mundo ocidental, temos que ter a difícil escolha de decidirmos nossa carreira. É onde se dá pra trabalhar, acumular alguma mísera riqueza e ter certeza de que seus laços - mundanos ou não - são um tanto quanto mais firmes que o inevitável navegar de um rio.

"Um rio", falando dos aspectos volúveis e voluptuosos desses corpos aquosos, importa-se dizer que a cada passo que Tiar - posso lhe chamar assim? - dava em direção à trilha, mais ele ouvia o farfalhar dos galhos frágeis que tentavam enfrentar o rio grande, cheio e forte. A correnteza não estava nem um pouco satisfeita com o volume de chuva que fizera nos últimos dias e se esforçava - dia e noite - para carregar toda aquela água para algum lugar.

Talvez por isso nosso protagonista decidiu ir por cima, já que a parte basal & seus túneis estavam ou alagados ou inundados; uma diferença sutil que determinava o que era possível de se pisar (e atolar) e o que era impossível de sequer ver. Na dúvida, atravessaria pontes improvisadas que estão ali a mais de décadas.

Podia não ter nenhuma fé em seres divinos, mas será que teria nas pontes?! Até que ponto a estadia delas datar décadas é algo bom? Se por um lado significa que está a um bom tempo ali, sem cair, sem falhar, sem desobedecer, também há um aspecto do tempo que a gente nunca pode negar: as coisas envelhecem. Mães e pais envelhecer, crianças se tornam adolescentes, fantasias se tornam bobas, pontes se tornam... podres.

Pera, estou falando da ponte ou da vida de Tiarnán?! Desculpe, me perdi.

O que importa é que o garoto seguia pelo meio/topo das áreas montanhosas e avançava um pequeno-pico. Ao fim deste, precisava ir ao próximo. Para isso tinha duas opções: uma ponte que ia à trilha de subida e outra que iria à trilha do meio, que mantinha a altitude em que estava. Tal decisão parecia muito simples de ponderar, já que poderia ser respondida com uma simples questão: "para onde eu quero ir?"

Essa pergunta importava porque a ponte mais baixa ligava sua trilha à Dark Cave, enquanto a outra contornava todos os picos até a Rota 18.

Por sorte, a ponte era mais certeira que a cabecinha de Tiar, que devaneava sobre tudo. Passou com bastante tranquilidade e pôde chegar do outro lado com algumas hipóteses; uma delas poderia ser de que a ponte duraria mais boas décadas. Do outro lado, precisava subir mais um tico para alcançar a trilha da nova montanha, que ficava num pequeno sobressalto, ou melhor, um planaltinho.

Nada muito alto, é claro. As pessoas o subiam constantemente e era possível ver as marcas deixadas na rocha firme, causadas pelas repetições de pegadas e de impulsos. Colocando um apoio no topo e impulsionando-se para cima - seja com os braços, com as pernas ou com qualquer ferramenta que fosse -, podia facilmente chegar lá.

Como pode ver, este pequeno planalto era uma dificuldade de rota, mas não era um obstáculo aos pés. O que ele barrava - de fato - eram os olhos; graças a sua elevação, tornava impossível ver o pequeno vale que se dava logo em seguida. Ao subir - se é que vai -, nosso protagonista daria de cara com uma cena um bocado bonita, em que Tiar era apenas um figurante ainda não percebido.

A cena era um declive longo, que convertia o pico convexo da montanha em um vale côncavo. Este formato de bacia tinha o terreno de saibro nas bordas e, no fundo, uma graminha verdinha bastante rasteira, como se fosse nova demais para ter volume e altura. Na grama, em silêncio, um homem se deitava com uma enorme máquina fotográfica, daquelas que pesa HORRORES. Ao seu lado, uma ou duas lentes de zoom, além de uma bolsa preta, jogada em qualquer quanto. Da cintura para cima, seu corpo amassava a grama enquanto se encaixava por trás de uma lente fotográfica, tentando a qualquer custo - e em qualquer silêncio - encaixar os olhos numa caixinha. Da cintura para cima, suas pernas se deitavam no saibro, deixando-o vermelho-amarronzado. Estava quieto e, ao mesmo tempo, inquieto. Sua câmera apontava para algo que Tiar talvez não esperasse ver: um ninho de Phanpy, com uma Donphan deitada bem em cima, num sono profundo...

O primeiro "falar sozinho" não foi escutado, mas a segunda pergunta... a segunda pergunta o tirou do abismo de concentração que ele havia se enfiado. Num susto, achando que aquela era a voz da consciência, o fotografo logo deu um tremelique de espanto, que lhe fez derrubar a câmera no chão. O espasmo veio junto de um gritinho abafado, porém relativamente alto, que ele logo tratou de tapar de sua boca. Virou o rosto em direção da pergunta e viu Tiar. Com os olhos confusos e irritados - até vermelhos pela irritação fisiológica e sentimental -, bufou com suas narinas e perguntou:
- Que que foi? - O tom era grosseiro, mas também era baixo, como quem não quisesse fazer barulho algum.

Ao tirar os olhos da elefanta-tatu, ela deve ter se sentido mais confortável pra mexer-se um pouco mais. Não acordou, mas emitiu um grunhido sonolento e jogou seu corpo um pouco pra esquerda, deixando a parte da direita do ninho desprotegido. Dali era possível ver um pouco do conteúdo daquilo que guardava: num buraco de terra e areia, a Donphan estava deitadinha em cima de 5 ovinhos. Quatro tinham o tamanho, formato e cor idênticos uns aos outros, o quinto era menorzinho, de coloração diferente e pintinhas também; quase não encaixava lá. Apesar de não parecer fazer parte da ninhada, ele estava lá, extremamente confortável, se aquecendo no calor corporal da mamãe.

O fotografo, percebendo um bom ângulo, voltou a encarar a ninhada, ignorando - mais uma vez - a presença do nosso protagonista.

Ao se desculpar, o fotografo se sentiu extremamente mal por ter sido grosso com... digamos assim... uma criança. Não que Tiar seja uma criança, mas o fotografo era muito mais velho, próximo dos 30 anos, e deveria ter a paciência de lidar com alguém mais novo. Rodou seu corpo e virou de lado, olhou-o diretamente nos olhos sem muito pudor e lhe disse:
- Tudo bem, te devo desculpas também - Foi sincero e deixou um dos ombros relaxar - Eu estou só fotografando, mas já tenho fotos suficientes desse vale - E largou um pouco a câmera. Com cuidado começou a se levantar.

Aqui, nosso protagonista tomou uma atitude NO MÍNIMO inteligente. Ao reparar a discrepância do ovo com Donpham, usou seu Rotom Dex da forma mais ágil e possível para ganhar algumas informações a mais. O fotografo, que não sabia muito bem o que fazer enquanto isso, começou a passar suas fotos e avaliar uma por uma, vendo se alguma poderia ser usada ao seu favor.

Enquanto isso, a PokeDex dava as seguintes informações na tela:

1 Egg desconhecido, espécie nunca antes vista. Identificado como pokémon de porte bem pequeno e leve. Egg Group: Grass
1 Donphan, evolução de Phanpy.
4 Eggs de Phanpy

Encontros registrados na sua PokeDex

Esta fora a primeira informação, proveniente do scanner de identificação. Logo em seguida, o RotomPhone tratou de responder a dúvida de Tiar o mais rápido o possível.

Donphans são pokémons de vida comunitária e nômade. Para proteger o próprio grupo, tende a rechaçar seres diferentes, por medo ou malícia. Não tem hábitos predatórios mas tem hábitos territorialistas. Uma mãe Donphan tende a ser extremamente protetora com suas crias, mantendo elas muito próximas de si antes e depois do nascimento. Com estas informações, não consigo processar uma resposta.

Ao fim dessa leitura - seja lá quanto tempo durou -, o fotografo virou-se para o garoto e falou:
- Muito prazer, sou Vagner.

- Eu sou contratado da Geo.dude - Falou, como se todos conhecessem a empresa. Depois percebeu que ela não era tão famosa assim e explicou - Uma empresa que cataloga relevos de Tohjo - Deu um sorriso.

Se a conversa pareceu bem iniciada, o fim abrupto não daria este mesmo tom. Tiarnán, determinado, despediu-se do fotografo e foi caminhando, fazendo sua rota, enquanto Vagner o olhava com uma sobrancelha arqueada e se perguntava com MUITO RECEIO: "o que diabos este menino está fazendo?".

Bom, ele estava fazendo "um caminho", se é que me entende. Um caminho que leve para o ninho não era nada muito difícil de achar; qualquer descida gramada podia resultar numa rota silenciosa, com os sons dos passos sendo abafados pela grama macia. O homem adulto observou de longe, um pouco preocupado, mas não interviu a priori; sentia que Tiar era crescido o suficiente para ter algum tipo de convicção de perigo. Continuou a olhá-lo atento e, a medida que Tiár se aproximava mais e mais do ninho, ele começava a se ouriçar. Queria gritar "VOCÊ TA LOUCO?" "SAI DAI!", mas sabia que um grito de aviso podia ser muito pior; o risco de acordar a mãe Donphan era iminente.

Com medo de mais atrapalhar do que ajudar, apenas começou a fazer gestos com as mãos, chamando atenção do garoto e tentando repassar um sinal para que ele voltasse. Tiarán já estava a uns 4 metros do ninho quando Vagner começou a se agitar.