Floresta de Viridian - Kaneko Ugo

Os passos do novato treinador ao adentrar aquela floresta denotavam um misto de êxtase e medo. O local por onde teria que passar agora - Viridian Forest - poderia ser considerado o primeiro grande desafio aos treinadores.

Aquela densa floresta inspirava terror na mente da maioria dos viajantes iniciantes, porém, Ugo já estava familiarizado com o lugar. Natural de Viridian, quando era mais novo costumava escapar para a floresta com o intuito de passar um tempo sozinho e refletir - além de, ocasionalmente, observar os pokemons que lá habitavam.

Mas, no momento em que entrara aquele já conhecido espaço, o menino teve uma sensação inédita, não sentira a familiaridade usual por aquela terra, aquelas árvores, aquela grama. Muito pelo contrário, Ugo recebia em seu ser uma sensação de estranheza de uma forma que não se fazia passível de se compreender.

Talvez a razão desse inusitado sentimento perante ao já familiar terreno fosse o fato de que, atualmente, o menino observava a floresta por outra ótica: deveria agora, pela primeira vez, enfrentá-la, como um treinador.

Após tendo estado algum tempo parado a poucos passos após a entrada, Ugo retomou sua viagem em ritmo acelerado, tinha uma entrega de pokemons para ser feita na Casa de Yoko e o prazo estava correndo, precisava chegar à Pewter logo.

Mesmo tendo a pressa e a responsabilidade tomando sua mente, o menino não pôde evitar a observar bem o local, trazendo intensamente a seu peito uma sensação de nostalgia e, ao mesmo tempo, estranheza, ao reencontrar lembranças perdidas por entre árvores e galhos, que já pareciam estar tão distantes no tempo.

Ugo sentia dificuldades em atravessar aquela densa mata. Muito embora já fosse familiar àquela floresta, nunca - na verdade, quase nunca - havia a explorado profundamente. Apesar da travessia complicada, o jovem treinador encontrava-se confortável, o cheiro de solo úmido era agradavelmente nostálgico à seu olfato e as enormes árvores protegiam sua alva pele do sol.

Apesar do trajeto arisco, o jovem treinador mantinha-se obstinado em sua responsabilidade e tentava cada vez mais apertar o passo. Era sabido por ele que poderia haver uma grande quantidade de pokemons elétricos no local, por isso mantinha-se atento ao seu redor, não gostaria de provar novamente da dor pela qual passou num episódio pouco afável em que experimentou uma descarga elétrica de um pequeno, porém temperamental, Pichu.

Ao ver uma senhora aparentemente indefesa sendo perseguida por um Pidgey, o menino não pensou duas vezes. Imbuído por um sentimento de solidariedade - que lhe era bem comum - e que, dessa vez, se somava por uma sensação de dever heroico inato a qualquer treinador - pelo menos àqueles treinadores de filmes de mocinho -, o garoto levou as mãos até uma de suas pokebolas e, sorrateiramente, sem nem mesmo atirar a esfera, liberou seu Bulbasaur, que, imediatamente reconheceu qual seria seu inimigo: o pokemon pombo.

- Bulbasaur, vamos atacar esse Pidgey de surpresa. - Ugo falava baixo, para não atrair a atenção de seu alvo - Primeiro, acerte uma Leech Seed em cheio naquele pássaro. Seja preciso nesse ataque, é crucial que ele seja bem sucedido. Em seguida, surpreenda-o com um rápido Headbutt. Seja veloz e furtivo, Bulba. Vamos aproveitar de um ataque surpresa para salvarmos aquela senhora.

Ao notar que a senhora se posicionava próxima a ele, buscando proteção, Ugo se colocou em frente àquela dama e, com um sorriso forçadamente calmo e triunfante (assim como o menino costumava ver no cinema), dirigiu a ela palavras de consolo:

- Não se preocupe, estou aqui para protege-la. Permaneça perto de mim. - o menino proferia aquelas palavras docemente. Sua interpretação era digna de um romance piegas Hollywoodiano.

Após confortar heroica e virilmente - e de forma bem desajeitada - a indefesa senhora, o treinador rapidamente voltou o foco à batalha.

- Bulbasaur, muito bem! Agora quero que preste atenção nos comandos que irei lhe fazer. Quero que use seu Vine Whip para segurar fortemente as asas do Pidgey, amarre bem seu chicote em volta do pombo. Em seguida, puxe-o fazendo com que ele se choque com o chão. Após fazer esse movimento, mantenha seu chicote bem amarrado ao seu adversário e puxe-o para si, então desfira um poderoso Headbutt. Vamos, Bulba, força!

A batalha era intensa, os olhos do treinador seguiam de forma incessante os rápidos movimentos dos pokemons que ferozmente duelavam. O calor da batalha inspirava o menino de tal forma que ele mal conseguia prestar atenção em qualquer coisa que fosse exterior a ela. Porém, ao perceber que a senhora se dirigia elogiosamente a ele, Ugo esforçou-se para ser simpático com ela:

- Meu nome é Ugo, Sra. Cece. Muito prazer. Permaneça próxima a mim enquanto a batalha prossegue, não deixarei que se machuque. - essas palavras eram proferidas de forma apressada, o menino deveria voltar sua atenção à luta rapidamente.

E foi o que fez, focou-se novamente ao campo de batalha e proferiu firmemente ordens à seu pokemon:

- Bulba, quero que firme bem seus pés ao chão, espere seu adversário atacar e prepare-se para desviar. Aguarde uma oportunidade boa de usar seu Vine Whip para agarrar as asas do Pidgey, quero que aperte-as com força para impossibilitá-lo de voar e lançe-o contra uma árvore. Aperte seu adversário com toda força e mantenha seus pés bem presos ao chão para que dessa vez ele não se solte. Se for preciso, morda uma dessas raízes que estão saindo do solo para ganhar maior apoio. Então, puxe-o para si e ataque com um poderoso Headbutt. Vamos, Bulbasaur, quero ver esse movimento funcionar dessa vez!