Cold Cave: Que fria...

Desesperadamente Rayssa gritou o nome de seu Growlithe. Mergulhado nas águas geladas, o cão de guarda se fazia invisível para os olhos de sua treinadora, que, mesmo sem saber se o mesmo a ouviria, proferiu os devidos comandos a seu pokemon, desejando ao máximo que ele pudesse a ouvir.

Muito embora a menina clamasse por ele, era impossível saber se o mesmo havia a ouvido, visto que o mesmo, assim como seu adversário, permanecia submerso à água. Restou como opção para Rayssa apenas manter-se firme, sussurrando para si mesma que ele estivesse bem.

O cientista se mantinha sereno, apenas observando os tormentos sobre a superfície das águas marítimas que, mais intensos do que nunca, pareciam ser um sinal de que ambos os adversários digladiavam bravamente submersos.

Após uma passagem indefinida de tempo, os tormentos cessaram, o mar tornou-se calmo como era antes da batalha se inciar. Não parecia haver qualquer sinal de vida de ambos os pokemons.

Dr. Klaus deixou escapar um pequeno suspiro. Pareceu decepcionado, mas seus olhos mantiveram a austeridade usual. Buscou um pequeno controle no bolso de seu branco jaleco e apertou alguns botões. Não tardou para que emergisse para a superfície marítima um estranho veículo, assemelhado a um mini-submarino.

- Ei, pequena. Parece que o pior aconteceu. Venha comigo. Vamos embora antes que findemo-nos ao mesmo destino.

Rayssa assistia à recente tranquilidade do mar, incrédula. Balbuciava algumas frases também de incredulidade diante daqueles fatos. A menina simplesmente não podia crer que seu companheiro havia partido dessa para melhor, por assim dizer.

Não percebeu as ações do Rocket, tampouco o veículo aquático que surgira perto do mesmo. Inobstante, não pôde evadir-se de ouvir as duras palavras do cientista, imediatamente lançando um olhar furioso imbuído em lágrimas, o qual desestabilizava intensamente Dr. Klaus.

- Nunca! - bradou a menina. - Nunca vou abandonar Akihiro. - e se atirou na água.

O homem se jogou em seguida e, demonstrando uma capacidade física sobre-humana, agarrou a menina em seu braços, submerso às águas geladas, trazendo-a à força para a superfície inconstante de um dos fragmentos de gelo. Invadida pelo frio extremo a menina não conseguiu reagir, caindo deitada sobre o bloco tremendo intensamente.

- Não faça isso! Por favor! - talvez a menina não pudesse ver, mas os olhos do cientista demonstravam um desespero que beirava a loucura. E chorava.

Tendo ciência de que a treinadora não desistiria de seu Growlithe, Klaus voltou seus olhos para o mar. Iria se jogar novamente às águas. No entanto, algo o parou, uma luz intensa vinha do fundo do mar, reluzindo em sua superfície. Subitamente uma explosão ocorria e, em meio a uma chuva de estrelas em brasa, envoltas por bolhas de gás venenoso imbuídas em uma estranha energia negra, surgiam os dois pokemons, saindo d'água na velocidade de um tiro, parando ambos frente a frente em um dos blocos de gelo flutuantes que jazia logo ao lado daquele no qual os treinadores se encontravam.

Akihiro e Koffing não deixavam de se encarar furiosamente, mas não podiam se eximir de demonstrar o intenso estado de desgaste no qual se encontravam.

Diante da inesperada situação que se fazia surgir, Rayssa pedia para que Akihiro se aproximasse dela e desistisse da batalha que, para a menina, já não apresentava qualquer propósito. O pokemon, obediente, fez assim como solicitado por sua treinadora, aproximando da mesma para alentá-la, no entanto não desviou sua atenção sequer por um segundo de seu inimigo, estando preparado para, no menor sinal de agressividade, desferir seu poderoso Estrela Pulsar.

Não obstante, Klaus imediatamente recolheu seu Koffing. Provavelmente o homem já não possuía qualquer motivação para prosseguir em lutar.

- Por que te salvei? Que pergunta! Você acha que eu seria capaz de deixar uma criança se entregar para a morte dessa forma? - o cientista apresentava um sorriso melancólico enquanto pronunciava fraca e hesitantemente suas palavras. As lágrimas ainda continuavam a desabar. - Quanto a meu pranto, nem mesmo eu sei o motivo. Não imagino que uma menina tão nova seria capaz de compreender tal coisa.

Klaus apertou novamente o botão de seu controle, o que fez com que o submarino se locomovesse até ele, abrindo a porta logo em seguida.

- Você vem? - perguntou o homem que, agora, perdera sua aparência austera, mostrando-se intensamente frágil.

Após dirigir-se ao cientista, contando-lhe a concepção que possuía relativa à organização criminosa Equipe Rocket e seus membros, Rayssa optou por acreditar que este que jazia a sua frente se diferia de seus conceitos pré-concebidos e aceitar seu convite.

Adentraram, então, ambos no estranho mini-submarino. Muito embora o veículo fosse pequeno, apresentava-se bastante espaçoso em seu interior, parecendo ter sido mesmo designado para suportar duas pessoas adultas.

- Os membros da Equipe Rocket também são seres humanos. Nada além disso... - respondeu Klaus. - Não sou adepto da tabula rasa lockiana. Tampouco de um essencialismo absoluto. Acredito que todos temos escolhas.

O silêncio predominou no interior do veículo por um bom tempo. O homem parecia estar inquieto com alguma coisa, aparentava tentar dizer alguma coisa, mas se impedia. Por fim, o submarino estacionava na costa de Pallet, sua porta se abria, a menina finalmente colocava seus pés em terra firme. Klaus pretendia partir sem dizer qualquer palavra, mas falhou em sua tentativa. Um ímpeto repentinamente atingiu seu ser, fazendo com que deixasse escapar hesitantemente suas palavras.

- Peço-te desculpas, pequena, pelo mau que te causei. Não sei o que me deu, mas não pude evitar. Minhas atribuições dentro daquele Iceberg já haviam se findado faz tempo, mas eu continuei a vagar por ali. O motivo? Eu havia te visto, durante sua contra o Tentacool. A princípio me afastei e deixei-a de lado, você nem mesmo pôde perceber minha presença. No entanto, não consegui deixar aquele local, precisava vê-la novamente. - o homem falava cada vez mais rapidamente, enquanto matinha os olhos baixos. Parecia querer cuspir todas aquelas palavras, tirá-las de seu peito. Tentava, de quando em vez, olhar aos olhos da menina, mas logo desviava seu olhar. - Você... a sua visão. Não pude evitar. Você era idêntica a Layla. Mais jovem, e claro. Mas, ainda assim, a semelhança era estrondosa. Não fui capaz de esquecê-la. Quando a vi, bem ao longe, através das lentes, no final do corredor, não soube o que fazer. Agi agressivamente. Não entedia muito bem o que estava sentindo, aliás, nem mesmo entendo agora. Não nos dávamos sempre muito bem, mas Layla foi a única mulher que amei. A única que me amou. - essas últimas palavras foram ditas de forma tão veloz e em um tom tão baixo e relutante que mal puderam ser ouvidas. Após proferi-las, o homem subitamente se mostrou intensamente assustado e imediatamente apertou o botão que fechava a porta do veículo submarino. No entanto, a porta se fechava lentamente e o rosto da menina ainda podiam ser vistos através do vidro. O homem mantinha agora os olhos fixos em Rayssa, extremamente assustados, parecia ver algo muito além de uma simples menina.