Centro Pokémon - Riyado

Assim que Winnie dava fim a brincadeira, eu finalmente entendia que não era sério e ria de alívio. Já era piada 24h por dia, sem motivos! Se eu lhes desse algum, certeza que jamais perdoariam. Por fim, Winnie me convidava para tomar um café, e eu aceitava de bom grado, até ria da piada. - Tudo bem, tudo bem. Você ta certa, eu preciso muito de um café.

Eu juntava rapidamente as minhas coisas e acariciava Zhár, enquanto chamava por ela para me despedir e colocá-la momentaneamente em sua esfera bicolor novamente, e assim eu caminhava com a garota até a lanchonete, pegando o expresso e tomando um gole. - Acho que eu precisava mesmo disso. Estudar é mais cansativo do que eu me lembrava. - E ria, esfregando a mão na nuca meio sem graça enquanto falava com a jovem de cabelos rosados.

O movimento dele de tornar seus pokémons a esfera me lembrou minha falta de noção. Bragui ainda ocupava o espaço da sala como se fosse um humano utilitário. Não era o caso! Apesar do tanto de espaço vazio, optei por retorná-lo à Pokebola e ficar a sós com o rapaz:

- Ta estudando pra que, garoto?! - Era uma dúvida real. Eu não entendi pra que tanta teoria; para mim vida de treinador sempre foi bem prática e pouco entediante... dormir em um livro? Nunca fiz.

No mais, minha pergunta era acompanhada de um bom gole de leite. Segurei o copo de isopor com as duas mãos, aqueci-me por um breve momento, sai da "linha de ataque do Ar Condicionado", ajeitei o vestido e ouvi sua próxima desculpa.

Todo mundo me fazia a mesma pergunta. Não que eu estivesse farto de responder, mas eu me sentia tolo em estudar. Todos os treinadores eram tão práticos e conseguiam entender bem os seus Pokémon, mas para mim, cada um deles era um mistério maior do que o outro. Dei um gole no expresso antes de tornar a respondê-la.

- Então... Não sei se você viu, mas eu não tive o melhor dos desempenhos na Battle Tower. E não só nela. Meu desempenho nas batalhas não tem sido dos melhores e eu acho que não é algo que falte em meus Pokémon. Acho que o problema sou eu. Não consigo entender suas dificuldades, não consigo desvendar do que são capazes, então eu tô estudando para conseguir tirar o máximo deles. E pra conseguir entendê-los melhor também... - Dizia enquanto olhava a garota, mas assim que acabava desviava o olhar. Tinha certeza que ia parecer um completo idiota e começava a me questionar se era o único que adotava essa estratégia.

- Acho que você vai entender mais seus pokémons conversando com eles do que enfiando a cara em modelos anatômicos - Dei de ombros; era rude demais da minha parte dar esse tipo de lição? Eu mal conhecia o garoto. Certamente ele me odiará ou falará mal de mim por ai, mas eu acho que alguém precisa avisá-lo disso - Treinar não é só prático, sem dúvidas. Acabei de vir de uma aula e.... definitivamente entender e antecipar os problemas passa pela teoria. Mas você tem um pokémon em mãos, porque não apalpa, acaricia, aperta e força pra saber o que quebra e o que não quebra? Aproveita. Você é um treinador de pokémons, mas não de todos os pokémons... sei lá, você é um treinador dos seus pokémons.

... talvez o fim do discurso quebrara tudo, mas fazia sentido né?! Virei o restante do copo e tirei minha mochila das costas, apoiando-a no chão:
- Inclusive, esse aqui é mais um que tu vai ter que conhecer - Retirei o ovo alaranjado, com uma brasa amarela assinada na base - Espero que dê a atenção que ele merece, ok?! Quero só ver como ele vai ta quando eu voltar.

Eu ainda não sabia o quanto meu "sermão" havia caído mal para Daisuke...

Dava mais um gole no expresso enquanto ouvia o que Winnie tinha para falar. Aceitava de bom grado suas palavras, cada um tinha um meio para fazer as coisas, mas antes que eu pudesse de fato respondê-la, a garota me dava o ovo do combinado. Com um sorriso, eu recebia o ovo, mas diante do voto de confiança da garota, eu dava voz as minhas reais intenções por volta dos estudos.

- Mas não é só por questão de rendimento... sabe, eu era lutador antes de virar treinador. Eu costumava participar de muitos torneios juvenis e cresci treinando artes marciais, e eu queria treinar meus Pokémon em alguma. Talvez não sirva de nada para eles, mas eu estou tentando fazer isso somar ainda mais. Se eles puderem se defender e se disciplinar para maximizar seu rendimento e não se machucarem tanto então, bem... Acho que seria perfeito, não? - Dizia, enquanto dava mais um gole no expresso e apoiava o copo numa bancada próxima, enquanto colocava o ovo de Torchic em minha mochila.

- Eu entendo... só não concordo - Fora nesse exato momento que estendi meu braço até a máquina e peguei um segundo copo de achocolatado - Vem vem, vamos sair de frente da máquina.

Caminhei contornando o saguão e indo de volta à recepção. Eu queria liberar alguns de meus pokémons para provar um certo ponto. Eu via no discurso de Daisuke algo muito comum com os dizeres policiais... na verdade, ele me lembrar um pouco Ayzen. Sua forma bastante esforçada, sua convicção pelo treinamento, sua vontade-de-crescer e, principalmente, a atenção que ele me dava... que eu definitivamente não merecia:
- Esse é Bragui - E joguei ao ar Togekiss - Ele é bem novo, na verdade. Completamente mimado, nunca perdeu uma batalha, mas nunca o coloquei em perigo de fato. Se batalharmos agora, ele vai ter certeza que vai vencer, mesmo que você use um pokémon level 40 contra mim. Acho que eu posso afirmar pra ti que ele não é disciplinado... e se ele precisasse ser, eu falhei miseravelmente em ser uma treinadora.

Era um fato; tudo que fiz à Bragui foi mimá-lo e transformá-lo nesse pássaro orgulhoso que ele era. Eu botei ele contra Norman e, diferente de Cleffa, eu TERMINEI A BATALHA. Eu o chamei de Golias; fiz ele acreditar que ele era muito mais forte do que deveria ser e... bem, resultou em evoluções, mas para mães-de-pets, eu "estraguei a criança"
- O problema é que Togepis são bebês e bebês não podem viver no mundo real para serem evoluídos. Eu sei que não usei o melhor dos métodos, mas evoluir um Togetic, uma Clefairy, um Espeon ou um Umbreon... bem, eles passam por situações irreais. Se a disciplina em si fosse tão importante, talvez um desses pokémons quase nunca serão 'bons'... - Era um exemplo idiota, nem eu acreditava no que estava falando - Acho que eu me importo mais com a maturidade do que com a disciplina e... bem, a maturidade vem com o tempo; a disciplina já é muito mais forçada. Menos espontânea, sabe?

Eu ouvia atentamente as ponderações de Winnie, e elas até faziam sentido para mim. - Mas bem. Eu não falo somente pela disciplina. A disciplina de si é o de menos, digo de ter disciplina com seu corpo, de ser capaz de dizer o que é capaz de fazer ou não. Entender melhor quais são seus limites e explorar seu potencial da melhor forma possível, é disso que estou falando. Por exemplo, não importa a genética de um homem e o quanto ele faz academia, se ele encontra outro homem de mesma estatura, com um porte-médio mas que saiba lutar, o segundo não teria um certa vantagem? - Dizia e dava mais um gole no expresso.

- Não se treta apenas de bater numa luta, mas sim, de conhecer a melhor forma de bater e como fazê-la. Entendeu? - Perguntava com um sorriso e dava mais um gole no expresso. Em seguida, eu sussurrava para a garota. - Não sei se é saudável alimentar mais o ego dele e dizer isso em voz alta, mas seu Togekiss é muito bonito.

Eu tive que rir, não só pela conclusão cômica em relação à Togekiss, mas por toda a forma como Daisuke falava. Mas eu ri mesmo! Não em sinal de desrespeito, mas uma imagem veio em minha mente... aquele Togepi, contra aquele Slaking. Ah, mas eu tive que rir! Minha mão fora na barriga; talvez fosse a primeira vez que eu ria daquela situação toda.

A cara de Norman me veio a tona, e a cada risada eu me deliciava de forma sádica daquela situação. Entre as risadas puxei o ar desesperada, esperando um certo nível de calmaria para conseguir falar. Demorou, mas consegui:
- Ah, mas vai falar pro Norman que meu Togepi recém nascido tinha mais disciplina que o Slaking dele - Acho que quem tem o ego muito grande sou eu, em?! Não posso falar muito de Bragui - Eu acho que você é muito humano, em?!

Expressão completamente vaga de sentido ao rapaz, mas na minha cabeça?! Completamente sã. Eu completaria, se achasse que precisasse; por hora, deixaria ela no ar. Ele que lute para contestar, tendo ou não entendido.

Eu não entendia direito do porque Winnie estava rindo tanto diante o elogio que fazia para seu Togekiss, mas assim que ela falava de Norman eu ria. - Não... Você não ganhou do Slaking dele abusando de Toxic e Protect, né? - E ria, prevendo que sim. - Eu ainda não entendo porque ele nunca fez uma requisição para ter batalhas em dupla no Ginásio dele. Tudo o que vai fazer com um Slaking em batalhas individuais é passar vergonha. - E balançava a cabeça.

Eu não entendia a última expressão de Winnie, então... Tudo o que fazia era olhar para ela com cara de interrogação, pedindo por uma luz.

- Sim!! Eu até cogitava ser aprendiz dele, mas depois disso, acho que ele nunca mais vai querer olhar na minha cara - Era um fato. Ele não teria como ter deixado isso mais claro naquele encontro - Eu sinceramente não sei porque ele ainda usa aquele bicho, de verdade...

Fora ai que um silêncio constrangedor tomou nossa conversa. Ok, nem tão constrangedor assim; mas acho que era o ponto de eu me explicar. Explicar-me e já ir me despedindo, né?! Caso contrário, ia virar uma vaca de tanto tomar leite.
- Pokémons não funcionam na base do auto-conhecimento, isso de consciência freudiana é coisa de gente - Ri. Um cachorro que corre atrás do próprio rabo poderia provar isso - Infelizmente o que faz um bom treinador é dinheiro... muito dinheiro. Contatos... muitos contatos. E o principal de tudo?! Dinheiro e contatos para conseguir experiência e maturidade... que você pode chamar de 'passar level' também. Dois pokémons nunca vão ser iguais, sempre vai ter um mais bem investido que o outro. Toxic e Protect custam três mil e duzentos reais. Nem todo mundo tem esse dinheiro, né?! Não vou nem fingir que sou melhor que alguém, ser um pouco mais forte que você é puro privilégio.

Um pequeno "beep" tomou meus ouvidos... era o grupo da Requiem. Katakuri ainda estava preso na tal fazenda; Noah e Robin me esperavam no campo e eu ainda tinha que encontrar Lukas para entregar o Skorupi. Olhei para a PokeNav um pouco entristecida:
- ... minha sociedade ta tendo um treco. Se eu ficar muito tempo aqui, um policial vai vir me buscar a força e me levar pra nossa horta.