Resting ~

Caminhei olhando o visor do celular como alguém que não queria falar muito com o humano ao lado; e realmente não queria! Eu não estava de fato magoada com Vicent, e ele devia saber disso, mas as vezes é bom evitá-lo de vez em quando, ele precisa saber que não manda em mim, ainda mais quando o assunto é sobre treinar pokemons, eu ainda estava treinando os dele! Não é como se ele não estivesse aproveitando em nada aquilo tudo. Ok! Certo que ele não é o tipo de Treinador focado em batalhas e evoluções, ele está muito mais para um explorador, mas o que posso fazer se eu sou? Não precisa ficar agarrado em mim, certo? Errado. Até que eu queria a companhia dele.

Entrei no estabelecimento e me posicionei na fila curta, do lado de Market do centro hospitalar, esperei ser atendida até então pedir a moça:
- Me vê um daqueles TMs disponíveis? O quarenta e um, por favor. - Disse enquanto entregava 700 Pk$ para a moça do balcão e enfim dava meia volta - Ok, agora podemos ir - Afirmei, agora para Vicent.
Efetuada a compra, sai do local e marquei em meu PokeNav a famosa doceteria que iríamos, assim localizando o caminho mais rápido a seguir. Começamos a caminhada.

OFF:
Will-o-Wisp no lugar de Astonish
Ominous Wind no lugar de Water Sport
Feint Attack no lugar de Scratch
Taunt no lugar de Bite

Andamos um curto caminho que mis se assemelhava com uma maratona; se fosse uma corrida, teria perdido de lavada, até mesmo Teddiursa que estava em meu ombro - lhe soltara durante a ida tediosa - me ganharia. Qualquer um ali estava mais animado que eu com o passeio. Meu Pessimismo vinha a tona, em minha cabeça já imaginava não só ser a doceteria errada, como também ser horrível! Já imaginava cada fala minha na briga que teríamos daqui a alguns minutos e já me armava para um combate violento de um contra um, porém, meu pessimismo não foi suficiente: a situação conseguiu ficar pior. O local podia até ser o mesmo de Johto, porém dez ou vinte vezes mais lotado, além disso, mal conseguira pisar para dentro do estabelecimento quando fui abordada por uma pessoa muito pequena, porém com um poder gigante de potencializar meu mal humor; isso mesmo, a gerente!

Em minha cabeça a primeira pergunta que criei fora "o que você está fazendo aqui ao invés de ir gerenciar isso tudo?", porém logo em seguida me viera a resposta óbvia; se não conseguisse atender os clientes, não teria o que gerenciar. Suspirei revoltada. Onde você me meteu Vicent? Retornei Loki para pokebola e olhei ao lado como quem procurava meu irmão, mas de um segundo para o outro ele já se perdia na multidão. Por favor não me diga que você aceitou isso? Pensei, ainda bastante pessimista, porém realista. A possibilidade de minha família negar ajudar um restaurante era quase que nula; estava no sangue, na cultura, na história. Pois bem, meu pessimismo fora ouvido e, como quem parecia ouvir todos os meus pensamentos, Deus brincara comigo mais uma vez. Lá vinha Vicent não só uniformizado, mas com um bloco de notas na mão. Passou direto e foi até o cliente no topo da fila, anotando algo rapidamente e já passando ao próximo. A este ponto, já olhava para a gerente e confirmava com a cabeça quase que em câmera lenta, não é como se eu tivesse opção.
- Vamo lá né, fazer o que - Reclamei. Estava tão desanimada que mal parecia ter acabado de sair de um treino que fora um sucesso - Posso ficar no caixa ou na cozinha? Sou melhor nisso.

Percorrir o circuito movimentado até a entrada da cozinha e, ineditamente, me deparei com uma infinitude de pokemons iguais. Não haviam humanos naquele lugar, muito menos variedade. Era todas pokemons ruminantes. Eu já deveria ter suspeitado disto antes, não é a primeira vez que vejo trabalho de pokemons em estabelecimentos, porém minha ética não me permitia apoiar muito isso. Hipocrisia a minha por ser treinadora? Provavelmente sim, mas em minha cabeça eu era justa e não explorava demais nenhum dos meus amigos; por mais que os envolva em brigas desnecessárias e abuse um pouco as vezes, ainda me julgo uma boa treinadora com meus pokemons. Ok! Vamos tentar não exagerar nesse tipo de pensamento Winnie? Você vai acabar se sentindo uma bosta e reparando no quão hipócrita é, melhor pensar que esta gerente da franquia, é tão justa e honesta quanto eu e não há nada ilegal ou que envolva exploração de pokemons aqui. É, vou pensar assim; mesmo que eu veja isso como vista grossa, posso dizer que olhar de outra maneira é preconceito, não?

Depois de uma crise interna de ética e moral, que não durara mais que o tempo de atravessar a porta, dividi mentalmente todas as habilidades efetuadas no local e as classifiquei como "estão ao meu alcance" e "não estão ao meu alcance". Certamente extrair o próprio leite era um item da segunda lista. Todos os outros itens pertenciam a primeira:
- Vou revezar - Disse a uma das vaquinhas ali perto de mim - Vou começar pela massa!
Dito isso fui ao primeiro setor e disse para uma das vaquinhas - a que estava a mais tempo ali de preferência - que descansasse um pouco, já que tomaria seu lugar. Observei como elas faziam, como esticavam, batiam, socavam, dobravam e dividiam a massa para fazer os bolinhos. Demorei uma ou duas batidas tortas para então pegar o jeito da coisa, eu estava bastante destreinada, mas depois disso, mantive o ritmo e comecei a produzir.

OFF: Ain que narrador lindo xenty, olha ele narrando

Ficar sovando a massa me lembrara duas coisas muito importante do meu passado; o quanto aquilo era divertido e o quanto perdia a graça. Felizmente com tantas opções de trabalho, eu podia revezar. Larguei mão do meu posto depois de um tempo, mais precisamente, logo depois de eu ignorar completamente a presença de Vicent naquela cozinha, fora só depois dele sair que me levantei e fui até as grandes cadeiras, reparava que a diminuição de velocidade das ruminantes cansadas podia empelotar ou desandar o doce, então fui! Substituindo agora aquela que eu interpretara mais lenta e já entrando com prática, não era muito difícil fazer aquilo, só era o lugar mais quente existente no mundo. Com a mão esquerda esporadicamente pegava lenços umedecidos e limpava a testa do suor inadequado.

Oh deus, quantas horas devem ter passado? Perguntava, enquanto pegava meu celular e me deparava com a mortal notícia de que nem sequer metade do que eu esperava tinha se ido. Olhei para as pokemons do lado e perguntei:
- Que horas acaba o expediente de vocês? - Indaguei, sem esperar uma resposta em palavras, mas sim em mímicas ou apontamentos.
Ao que meu visor indicava, ainda era de tarde; aquele momento em que o sol estava no topo do céu castigando quem andava sobre a terra.

OFF: Amor prolixa sou eu nas minhas provas, você é maravilhoso

E finalmente o tempo acabou. O calor da caldeira não me fizera desanimar, no final, eu até gostara um pouco da nostalgia que senti, por mais que meus braços fossem doer por alguns muitos dias inteiros. Ao soar do sino de recreio - claramente imaginário e audível apenas para mim -, estava eu livre de mais um dia de trabalho. Divertido? Sim. Iria pedir segunda dose? Certamente não. Desci do local e fui até as louças, meu despreparo físico e cansaço me fez perder velocidade e eficiência, mas o mais difícil e necessário já havia passado, agora era hora de descansar. Em pouco tempo já ia para fora apreciar as tais fornadas que eram pra mim. De fato era engraçado ser paga em cupcakes, me lembrara um dia que um amigo me pediu dez centavos emprestados para comprar bala pra mim mesma, não fazia muito sentido, se eu quisesse trabalhar por cupcakes, eu os faria eu mesma, mas ainda assim, não questionei, no final, não trabalhei por recompensa e sim pelo meu irmão. Até que sou uma boa familiar! Refleti.

Sentei perto de Vicent, finalmente quebrando a barreira, olhando a ele atentamente e perguntando tão sincero quanto podia:
- Está feliz? - disse, mostrando um sorriso curto ao meio das bochechas rosadas - espero que sim.
As vezes eu conseguia ser uma irmã agradável. Fofa também, mas este era mais raro.