[003]Continue: Vongole

Jack deu um tropeço pra trás quando viu Numel sair da pokébola, parecia que toda a razão dele viver tinha sumido por um instante, mas logo voltou a se animar, Numel era realmente lindo.
- Isso é muita decepção pra um treinador só lidar - Jack ainda se remoía por dentro, estava até meio bambo, andando de um lado pro outro. - Sim, Apple é minha única companheira até agora, estamos aqui procurando um novo integrante pra trupe.

Jack sentou-se em uma pedra próxima a que a garota estava momentos antes. Ele olhou para o céu e o examinou, recuperando o folego que fora tirado dele com tanta brutalidade.

- Eeu acho que preciso de uns instantes pra me recompor - O garoto se deixou cair para trás, na terra, ainda olhando para o céu e pensando no que faria agora. Apple se aproximou e começou a lamber o rosto do treinador, tentando passar algum conforto. Jack então, um pouco mais casual, indagou-se sobre uma coisa - Aliás, uma coordenadora com medo de palco? Isso não pode ser muito comum...

Jack passou a entender melhor a garota e seus motivos, ela e seus Pokémon formavam realmente um belo time, mas antes que V. pudesse dizer mais alguma coisa, a conversa fora interrompida.

Um rapaz saía da caverna por onde Jack chegou, e insultava Agnes. Jack rapidamente levantou do chão e se pôs ao lado da menina.

- Falando em decepção, olha aí a decepção da família - O treinador sussurrou para a menina, mas ainda assim alto o suficiente para o outro cara ouvir. - Perdeu alguma coisa por aqui amigo? Além da sua prepotência, claro, essa você bem que podia perder um pouco.

Jack agora olhava o menino, indiferente, quase com preguiça de discutir. Realmente parecia que o garoto não tinha aprendido nada, principalmente onde sua boca podia leva-lo, como da ultima vez, onde por pouco não foi morto por rir da cara de um assassino.

Apple se juntava também ao grupo que se formou ao redor da garota, ficando ao lado de Flareon.

- Desculpa, as vezes eu falo um pouco demais, se importa? - Apesar de abusado, Jack tinha um minimo de bom senso, não ia botar a garota numa situação constrangedora - Quer cuidar disso sozinha? Se quiser, prometo tentar manter minha boca fechada ao máximo...

Um tremor interrompeu o ego do rapaz que tentava insultar o treinador e a coordenadora. Agnes sugeriu ir embora, e ela tinha razão, mas por algum motivo o outro garoto não parecia preocupado.

- Certo, se esse cara quer se matar, que fique a vontade.- Jack chamou Apple de volta para a pokébola, não era seguro ela ficar fora agora. - Mas com certeza não é uma boa ideia passar por uma caverna num terremoto, tem algum outro lugar por onde sairmos?

Jack ignorava o garoto por completo, e tentava conversar com Agnes como se ele nunca tivesse aparecido em primeiro lugar. Sabia que tudo que o garoto queria era se mostrar machão, mas como Jack bem disse, se esse cara quer se arriscar assim só pra manter uma pose, o problema é dele.

Jack estava desacordado, o chão se abriu sobre eles, e com um estrondo, caíram numa caverna subterrânea. Alguns momentos escuros se passaram até que ele ouvisse a voz fraca de Agnes o chamando.

O sol iluminava poucas partes da caverna, mas o suficiente para mostrar o estado de todos. Por sorte, Jack só tinha alguns arranhões, Agnes tinha um roxo no braço, mas o problema era o "machão".

Sua perna estava em um angulo que nenhuma perna deveria estar, e o rapaz estava desacordado. Jack não passou tempo o bastante observando o rapaz para saber se tinha mais alguma coisa... não natural... com o corpo dele.

- Deus, que nojo- Jack virou rapidamente o rosto quando viu o estado do rapaz, mas logo se pôs ao lado dele, o carregando, com o braço do mesmo envolta do pescoço de Jack. Jack também tentava acordar o garoto com alguns tapas no rosto - E você Agnes, está bem? Acho que não dá pra subir por onde entramos, então vamos seguir a caverna...

O rapaz era irritante? Sim. Petulante? Sim. Prepotente? Com certeza. Mas não significava que merecia ficar preso naquela caverna. Jack iria ajudar o cara como precisasse, mesmo que tudo dentro dele gritasse o contrário.

Agnes tentava aguentar a dor e passar confiança, mas era claro que ela não estava bem. Por hora ela teria que aguentar, ela era forte, se algo piorasse, Jack tentaria ajudar com algo além de palavras.

Um som de corredeira chamou a atenção de Jack, o que significava que existia uma saída, talvez essa fosse a unica boa notícia do dia. Mas eles ainda tinham que lidar com o "colega" desacordado.

-Você consegue, vamos, está ouvindo esse som?- Jack ponderava com Agnes. - Tem uma nascente aqui por perto, o que geralmente significa saída. Mas antes... - Jack se virou para o rapaz, relutante, o botou no chão mais uma vez e evitou ao máximo olhar para sua perna. Mas antes deu uma advertência para Agnes. - Você provavelmente não quer ver... ou ouvir isso - Jack então voltou seus olhos para o garoto e botou as mãos em sua perna quebrada - Olha, isso vai doer em nós dois, mas bem mais em você.

Um grande 'crack' ecoou na caverna. Jack empurrou o osso para onde nunca deveria ter saído. Tinha aprendido como com sua avó, que foi enfermeira. Como uma família de médicos virou uma família de artistas é uma pergunta que Jack nunca quis saber a resposta, mas tinha suas vantagens.