Rosy Paradise

A viagem havia sido agitada e cansativa. Houve alguns movimentos intensos nas águas cristalinas do oceano que me causaram certo enjoo pelo caminho. Apesar dos cantos relaxantes dos Seagulls, as brisas refrescantes e a doce melodia oceânica, não fui capaz de dormir pela ansiedade. Memórias, entretanto, vieram à minha mente: meus Pokémon brincavam pela extensão do assoalho de madeira rangente do navio, apesar de Lairon ficar um pouco excluído, perdido nos próprios pensamentos. Fora no exato momento em que me sentei sobre uma das cadeiras de praia que pelo convés se viam espalhadas para contemplar a visão melancólica dos meus companheiros se divertindo que um incômodo surgiu em minhas costas. Era como se algo vibrasse dentro de minha mochila. Era uma sensação cuja experiência já havia sido vivida por mim. Quando abri o zíper que até então estava firmemente cerrado, minhas esperanças e predições tornaram-se realidade: de um dos ovos, estava para nascer a minha mais nova aquisição ao meu time.

-Lairon, Skrelp e Riolu, corram pra cá! – chamei-os, que em velocidade se aproximaram. Logo, permanecemos rodeando a mochila semiaberta conforme o ovo se remexia dentro desta. Não tardou que uma rachadura surgisse e dela um buraco tomasse forma. Dentro dele, um olho curioso nos encarava. Então, a casca se rompeu num feroz movimento e dela amplas asas surgiram, buscando alçar voo. A criatura castanha que dali surgira deu um grande salto, planando sobre nossas cabeças e se chocando contra o piso da embarcação a não muitos metros longe de nós. Parecia sentir-se ameaçada a pobre criatura. -Acalme-se, não vamos machuca-lo... – disse, buscando ganhar a confiança da ave.

Era Starly, um Pokémon do tipo normal e voador com colorações castanhas, negras e brancas e um bico longo e pontudo de tonalidade amarelada. Parecia hostil, protegendo-se com suas asas enquanto nos fitava com desdém explícito em seu olhar. Não queria assusta-lo mais e criar um trauma durante seu nascimento. Precisava ter cautela; estava lidando com um ser vivo recém-nascido. -Ei... Não vamos machuca-lo, somos amigos. Meu nome é Roderick Fletcher e esses são meus companheiros e seus futuros parceiros de equipe: Lairon, Skrelp e Riolu. – disse, apresentando meus Pokémon. -Não precisa ter medo e nem ficar nervoso, pois iremos acolher você, entende? – a ave me encarou de volta e relaxou sua postura de combate, batendo suas asas em seu corpo para remover a sujeira que se impregnou em suas penas. Estendi minha mão, buscando sua atenção. A pequena ave logo repousou sua cabeça sobre meu palmo, como se clamasse por afago. Carinhosamente acariciei a pele por debaixo de suas belas penas. -Você é Starly, certo? – perguntei, e ele logo respondeu recitando seu nome duas vezes.

Riolu, que ainda não parecia ter se enturmado muito bem com os outros, decidiu firmar um laço de amizade com Starly. Logo, aproximou-se e estendeu sua mão como se quisesse cumprimentar o voador. A ave o encarou, encarou seu palmo e encarou seus olhos novamente. O resultado disso? Uma bicada direta na face de Riolu que fez o coitado rolar pelo navio. Skrelp, como se tivesse se ofendido com as atitudes de Starly, chegou perto deste (obviamente com meu auxílio, já que não possuía patas) e disse poucas e boas para ele. Bom, o resultado foi o esperado: outra bicada que prometeria deixar marca no corpo do cavalo-marinho. Lairon, porém, pareceu nem se importar com a presença de Starly, personalidade esta que intrigou a ave.

-Bom, você não sabe voar ainda, sabe? – perguntei, visto o incidente que havíamos acabado de presenciar. Peguei Starly com as mãos e apontei-o para o ciano celeste, em que Seagulls e Pelippers cruzavam as nuvens. -É simples: bata suas asas, mantenha a estabilidade e plane... Quando começar a diminuir a altitude, repita o mesmo procedimento. – instruí o passarinho, que assentiu com a cabeça. -Agora vá, voe! – urrei, lançando-o para fora do navio, onde graciosamente cortou o vento com suas asas e executou manobras que deixariam qualquer um boquiaberto.

E foi assim que Starly, meu mais novo companheiro, nasceu. Tratei de apresenta-lo à sua Pokébola, bem como ensina-lo os básicos do combate de forma interativa. Então, quando chegamos ao porto, fomos direto para a cidade de Heahea, repleta de palmeiras, lojas e pessoas cuja cultura e costumes eram completamente diferentes dos meus. Era, de fato, a ilha de uma região paradisíaca. O sol parecia estar mais próximo e seus raios eram simplesmente reconfortantes. Rapidamente pensei em passear pelas ruas da cidade, mas logo me lembrei da existência de um parque natural cheio de novos Pokémon, o Pink Park de Heahea. Aquela seria minha primeira parada e visita. Ao chegar lá, solicitei a minha entrada, que não tardou em ser efetuada.

Havia recebido cápsulas de captura diferenciadas, específicas do Pink Park, supus. Decidi então por libertar Riolu, que seria meu companheiro durante aquela aventura.

A viagem, por mais extenuante que tivesse sido em toda sua extensão, havia sido compensada. As paisagens exuberantes primordialmente apresentadas a mim, numa sequência de panoramas fantásticos e repletos de maravilhas desconhecidas, apenas demonstraram uma pequena porção do que Alola possuía ainda a me mostrar. Os biomas se alteravam conforme eu me aprofundava na ilha, deixando ambos eu e Riolu boquiabertos, chocados com todo o expressionismo que fluía em cada folha de árvore e em cada pequena pedra granulosa. E, vigiando-nos de cima, o sol tropical nos acolhia com seu calor acalentador.

Inconsequente como de costume (provas logo durante a vinda à Alola, em que julguei necessário forçar pássaros a voarem logo depois de nascerem), decidi me dirigir primariamente à região que considerei mais cativante e interessante: a praia. Sendo a região paradisíaca que era, o que esperar da boca do mar se não grandes coisas positivas? Assim que chegasse por lá, pensaria em averiguar o local e patrulha-lo para encontrar alguma espécime nova de Pokémon.

Dadas poucas passadas profundas sobre a areia macia da praia tropical de Akala, uma movimentação e barulhos incomuns atiçaram a minha curiosidade. Originavam-se de um punhado de arbustos do jardim lateral. Com um olhar observador, pude perceber uma criatura rósea presa num emaranhado de folhas e ramos clamando por socorro. Mesmo que sem interesse no potencial daquele desconhecido Pokémon, meus próprios princípios não me permitiam deixar a pobre coitada naquela situação. Aproximei-me da criatura que mais parecia uma espécie de planta colorida e busquei remover os galhos do cabo de sua cabeça, que se via entrelaçado. Tentei não danificar tanto os ramos, visto que era um jardim local e talvez fosse proibido faze-lo.

-Calma, vou te tirar daí. – disse, visando interromper o pânico e desespero do Pokémon que ali se encontrava.

Apreço, satisfação e tranquilidade compunham o misto de sensações apresentadas por Bounsweet em seu semblante ao ver que estava livre dos ramos do jardim. Por mais que não pretendesse fazer da pequena cereja minha mais nova companheira de viagens, ainda assim não gostaria de desperdiçar a chance de registrar sua espécie em minha Pokédex. A criaturinha logo me chamou, suplicando para que agachasse e abaixasse minha face até a altura de sua própria. Assim o feito, Bounsweet agradeceu por meu auxílio em sua enrascada com um beijo em minha bochecha, um ato de carinho que eu ainda considerava incomum. Pude perceber uma leve hostilidade por parte de Riolu, que silenciosamente assistia à cena, talvez envolto de ciúmes.

Quando tudo se acalmou, resolvi erguer-me e seguir pelos caminhos que as areias da praia me conduzissem. A Pokémon planta logo iria estar próxima de seus amigos, isso, é claro, se não encontrasse outros obstáculos em seu caminho, o que não era tão improvável visto como havia ficado presa. Resolvi, porém, acreditar nela e seguir o passeio. Riolu rodopiava enquanto seguia ao meu lado, dando cambalhotas e praticando suas acrobacias para aquecer seu corpo antes de um eventual combate.

Após o encontro com a criatura-cereja, mal respiramos e já havíamos nos deparado com um novo Pokémon. Era familiar. Ao consultar a Pokédex, vi que era um Rattata. Aparentemente alguns dos monstrinhos mudaram suas formas e costumes ao vir para Alola; como a teoria de Darwin diria: constante processo de adaptação e transformação. Era um rato negro e bigodudo de fato curioso, porém vistas as suas capacidades em combates já estaria em posição para “descarte” em meu time de “adoradores de batalha”, portanto preferi nem ao menos cogitar a captura deste.

Ao encara-lo por alguns instantes, finalmente percebi o que ele queria: alimento. Possuía, de fato, alguns chocolates e nozes que foram distribuídos no navio durante a viagem. É, possuía e continuaria possuindo se não fosse o grupo de gulosos – quero dizer, adoradores de batalha. Logo, mostrei meus palmos vazios ao Pokémon, sinalizando que também estava na procura. Talvez pensasse em seguir para algum local com o intuito de conseguir comida para a versão paradisíaca do Rattata (que parece ter enfrentado problemas ao invés de ter aproveitado as férias), mas tudo dependia do desenrolar da trama.