1# Romance Dawn

Era uma chave. O que eu faria com uma chave? Bom, a resposta era óbvia: abrir uma porta. Mas eu não sabia que porta que essa chave abriria. Entretanto, era meu primeiro dia como treinador, e aquela chave poderia servir como uma lembrança desse fatídico dia. Com um pouco de nojo - confesso - peguei a chave e assoprei para tirar alguma possível sujeira que estivesse pendurada, então balancei ela e nem sequer em atrevi a sentir o seu cheiro, apenas coloquei no meu bolso. Era um local temporário até eu ter paciência de prender no zíper da mochila. - Ah, vou ficar com essa chave sim. Pode ser como um amuleto de sorte. Se é que a gente vai dar alguma sorte aqui dentro.

Apesar de não ser supersticioso, citei a hipotética sorte que um amuleto traria. Caríbdis liderou a caminhada para o outro lado, já que não havia mais caminho a se seguir aqui. Eu estava contente que Caríbdis estava se soltando naquele lugar, ele parecia um pouco acanhado no começo, mas percebeu que não encontraria um Pokémon tão cedo, ou talvez nunca. Não liguei para isso, estava gostando de explorar um lugar que eu nunca, jamais, nem em sonho havia entrado. Continuei a caminhada para o lado direito da bifurcação, onde a lanterna não alcançava seu fim. Seguindo o mesmo esquema de sempre - seguindo o feixe de luz da lanterna de Ricardo - rumaria até o fim daquele "corredor".

Ainda assim, estaria atento para possíveis surpresas. Tentaria olhar para onde eu andava afim de não pisar em nada estranho ou vivo, além de estar pronto para comandar Caríbdis para um ataque.

Chegamos então a uma outra bifurcação, mas essa parecia diferente das outras por conter dois corredores mais longos e escuros, me deixando mais indeciso quanto a minha escolha. Assim como a luz não ajudava tanto naquela situação, um barulho típico de Pokémon parecia vir de todos os lados. Caríbdis pareceu ficar mais atento quando ouviu o barulho, assim como eu e, provavelmente, Ricardo. - É isso! - fiquei animado com aquilo com a ideia de poder ter mais um companheiro de equipe, mas achá-lo era outro desafio que eu deveria superar. Me separar de Ricardo não era uma boa ideia e, com certeza, correr poderia fazer o Pokémon se assustar e parar de dar as pistas de onde ele estava. - Direita sempre! - falei escolhendo o lado da bifurcação que iríamos agora. Não acelerei meus passos, deixei Caríbdis comandar a caminhada agora, afinal, sua audição era melhor que a minha. Fazia gestos para que tentássemos diminuir qualquer barulho que estávamos fazendo.

- Não dá pra saber de onde está vindo. Como nós faremos pra encontrar esse Pokémon? - indaguei para Ricardo, caminhando seguindo um ruído que não me dava certeza alguma se estávamos nos aproximando ou não. Eu tentaria seguir a trilha até que recebesse alguma pista da localização do monstrinho. Um barulho diferente vindo de algum lugar, o som ficando definido para determinada direção. Qualquer coisa. - Caríbdis, fique atento com qualquer barulho que ele possa fazer, se você conseguir identificar onde ele está, me avise, por favor! - pediria. Minhas mãos formigavam e meu coração estava acelerado. Era a primeira vez que eu fazia isso e eu não tinha certeza se estava fazendo certo. Era tudo tão novo e tão divertido, eu mal poderia esperar para encontrar um desafio novo, um novo integrante para a equipe que me levaria a vencer a Elite dos 4.

- Se eu conheço muito Pokémon? Heheh - meu riso era de nervoso, afinal, estávamos num esgoto escuro, confuso, sujo e com Pokémon selvagem, e sequer reconhecer o grunhido de um monstrinho eu conseguia - Os que eu já cheguei perto dá pra contar na mão. Eu tinha uma Granbull em casa, mas era o Pokémon do meu pai. Acho que é o maior Pokémon que eu já cheguei perto, só pra você ter uma noção. - e continuei os passos cautelosos até o que se demonstrava ser o ponto de desespero daquela rede de esgoto. Agora não era uma bifurcação, era uma trifurcação, se é que essa palavra existe. Meu cabelo ruivo estava suado, grudando na testa, e a mão também suada limpava pifiamente a região. Para onde iríamos agora? O barulho poderia estar em qualquer lado, e eu não teria tempo de explorar todos.

Era a hora de fazer uma decisão. Estávamos num cruzamento, poderíamos escolher qualquer um dos quatro lados para seguir. Eu não queria voltar, então restavam três. Esquerda nem pensar - talvez eu estivesse um pouco supersticioso -, me restando dois. - Direita sempre-- que não é possível continuar em frente! Vamos seguir reto. - fiz a minha decisão, marchando em frente e seguindo a mesma formação. Aquela confusão já me deixava cansado, eu queria ter alguma ação diferente de andar. Caríbdis também estava empolgado para um combate. Mas alguma coisa me dizia que haviam mais coisas perdidas naquele esgoto que poderiam encher os meus olhos. Talvez continuar caminhando fosse render frutos maiores do que uma simples captura.

- Monte Moon? Só vi esse lugar pela internet. Queria conhecer Kanto, mas eles ainda estão com aquele problema das enchentes, eu acho... Enfim, preciso vencer a liga de Hoenn para poder escolher uma próxima região, não é? - estávamos então andando para mais uma das divergências daquele subterrâneo labirinto. Aquilo era perturbadoramente cansativo, afinal, eu já não fazia ideia de como voltar, tomara que eu consiga capturar um Pokémon que mora aqui pra poder nos ajudar a voltar sãos e salvos. A lanterna já não era suficiente mais uma vez, a não ser para identificar mais um objeto, dessa vez no corredor da direita. Sinalizaria para Ricardo manter a luz no local para que eu pudesse ir buscar, sempre tomando as devidas precauções. Doenças estavam em todo lugar. Após pegar o objeto e averiguar do que se tratava, voltaria para o caminho.

Um cheiro estranho e um barulho vinham da frente e da esquerda. Será que esses dois caminhos estavam interligados? Não era uma boa ideia nos separarmos, além de que eu não teria a cara de pau de pedir a lanterna de Ricardo só por conta dele ter um Pokémon de fogo. Era melhor nos mantermos unidos até conseguirmos sair de lá. - Caríbdis, sua escolha. Por onde vamos dessa vez? - o aquático olhou para os dois lados, o nariz um pouco incomodado com o odor - que realmente era ruim - e sem ter muito critério, acabou por escolher o caminho da esquerda. Só assim para seguirmos esse caminho. É... eu estava me tornando supersticioso ali. Apesar de tudo, estava cauteloso, e estava pronto para comandar meu Pokémon para atacar caso nos encontrássemos em uma situação de perigo.