#00 - Combustível de Foguete

- Você vai se arrepender disso! - esbravejou ela.

Minha tia me encarava com desdem. Seu rosto era uma confusão cachos ruivos, rugas e a fumaça que saia de seu cigarro. Era como encarar um Pyroar, pronto para me atacar com suas chamas. Ela bebericava um café amargo, que já devia estar frio, devido a várias pausas que ela deu para pontuar seus sermões. Eu tentava ignorar suas palavras, afinal eu tinha feito minha decisão. Muito tempo tive pra isso, e nem ela poderia mudar.

- Está feito! Eu vou sair em jornada e irei buscar por eles.

- Você vai achar é perigo!

- É isso que eu desejo! Estando em perigoso, estarei mais perto de achá-los e assim poderei conseguir o que eu quero.

Minha tia olhou para de baixo da mesa e viu minha mochila. Aquilo não era uma conversa, mas sim uma despedida. Eu marquei de encontrar com ela num café no centro de Mauville. Tirar minha tia de casa não era serviço fácil, e agora que ela sabia o motivo real, estava furiosa. Desde que meu pai foi preso, ela foi minha guardiã legal. Uma mulher reclusa que trabalhava em casa. Não via muito do mundo, apenas na tela de seu computador. A hacker mais astuta que eu conhecia, e que me ensinou tudo que sei. Não foi tranquilo para ela criar um garoto em seu lar. Nem lidar com as mudanças de um garoto para um adulto. Ainda mais quando comecei a me vestir como as garotas, e arranjar brigas com os outros garotos. Ela ficou mais tranquila quando aprendi seu oficio. Mas a paz não durou muito quando passei a seguir o caminho da família. O crime era um mundo que ninguém desejava ao próximo.

- Eu vou entrar em contato. Irei te mandar mensagens sempre que parar em alguma cidade...

- Você não vai!

Um raio cortou o espaço entre nós. Uma bola de metal flutuante surgiu no ar, com imãs circulando seu corpo. Zyos, meu Magnemite. Ele estava sonolento e soltou faíscas preguiçosas quando abriu os olhos. Isso afastou minha tia. Ela não gostava muito de Pokémons. Ao me ver, Zyos flutuou até mim e esfregou sua superfície fria na minha bochecha, fazendo alguns fios de meu cabelo se arrepiarem. O pequeno Pokémon elétrico foi um presente contrabandeado de um cliente de minha tia. Ela o me deu, e desde então o crio como meu parceiro.

- Zyos irá me proteger. E eu a ele.

- Você não sabe onde está se metendo, garoto...

Eu me levantei e a abraçei. O afeto a pegou de surpresa. Nunca fomos muito carinhosos, apesar de sermos compania diaria um do outro. Tentei transmitir a ela toda a confiança que eu sabia não ter. Eu tinha um plano idiota, que poderia me custar a vida. Mas eu tinha que fazer algo e isso significava sair por aí. Eu não tive uma jornada como outras crianças mais novas que eu, mas esta séria minha chance. Colocar o pé no mundo. Não para descobrir mais dele e conhecer Pokémons.

Eu tinha que caçar os Rockets. Eu precisava chamar a atenção deles. Me tornar um deles e assim conseguir inocentar meu pai.

Eu a soltei e parti e não olhei para trás.