A cada movimento do brutamontes Rhyhorn, meus músculos contraiam de apreensão, afinal, apoiando-me em seu tamanho e peso, era super possível que ele lançasse um golpe inesperado que detonaria com Shelmet e Golbat de uma vez só, bastava ser um pouco mais poderoso e super-efetivo. Minhas apostas e sobretudo esperanças, estavam debruçadas sobre a capacidade dos nossos companheiros derrubarem o Pokémon de pedra o quanto antes. Graças a sua velocidade, Batgirl foi a primeira a agir, interceptando o grandalhão no meio do caminho com mais um de seus movimentos do tipo planta, que o frearam em meio ao percurso, fazendo-o praticamente capotar e acertar o chão com tudo. O estrondo causado foi absurdo, pois o impacto havia sido tão forte que rachou o solo e levantou uma onda de poeira, fazendo todos na proximidade protegerem os olhos para não acabarem cegos.

Quando a nuvem de poeira baixou, todos os presentes pareciam aliviados pelo fim dessa loucura. Eu não era uma exceção, aproximando-me de Gaiden para parabenizá-lo pela vitória com maestria — Muito bem, amigão! Fiquei impressionado com o bom trabalho, resistiu aos golpes que nem um muro de concreto! Você é um herói! — Disse ao inseto fazendo um carinho em sua carapaça e recendo um agudo zumbido de alegria em retorno. Shelmet estava razoavelmente ferido e não daria a chance de algo o acertar de surpresa e acabar nocauteando-o, por isso o retornei para sua Pokébola, erguendo-me novamente. — Acho que deu tudo certo, não é mesmo Sophia? Vou deixá-la assumir sozinha novamente a situação, mas se precisar de um sidekick de novo é só falar! — Comentei com a garota, que também me parabenizava e para minha surpresa, solicitava mais uma ajudinha,, para que eu conversasse com o rapaz, agora abraçado ao seu desmaiado Rhyhorn. Olhei para Luci e Yuri ainda à distância e pedi para que esperassem um pouco mais, fazendo um sinal com a mão aberta.

— Ei, relaxa colega, seu Rhyhorn ficará bem... Ele e você se reencontraram e tem tudo para superar o que aconteceu... Afinal, o que aconteceu? Como seu Pokémon foi parar com aquele vendedor? Ele parece tão poderoso...  — Disse, aproximando-me do garoto choroso e abaixando-me ao seu lado. Abri minha mochila e retirei uma de minhas Poções, oferecendo para o menino, caso fosse preciso — Vamos, não precisa chorar... Enquanto me conta melhor o que houve, tome essa poção e use em seu amigo, assim ele vai voltar a ficar em melhor forma — Comentei, fazendo um afago de amigo com duas batidinhas no ombro do menino. Se ele contasse como tudo aconteceu, seria uma forma de incriminar ainda mais o meliante. Enquanto isso, notei que Sophia pegava um objeto interessante, algo como uma caixa, dentro da mochila agora destruída. Será que era isso o que ela procurava anteriormente nos pertences do "suspeito"? Ficaria atento na explicação do menino, mas também no desfecho daquela prisão.

A sensação que tinha era de que uma tempestade de granizo com ventos dignos de um furacão havia passado por Meteor Falls e depois de muito correr para me proteger, finalmente ela havia cessado, dando aquela sensação de alívio, apesar dos prejuízos. De qualquer modo, estar ali ao lado daquele garoto e ver a forma como Rhyhorn e ele se reconectavam aos poucos, era de tocar bem fundo no coração. Um Pokémon gigante, mas com o coração tão grande quanto, acariciava seu treinador com o chifre diante do arrependimento deste em uma troca claramente fajuta com o vendedor meliante. Ao menos tudo havia terminado bem para eles e eu ficava feliz de ter ajudado, inclusive com a Poção que presenteei. — Aquele vendedor enganou muita gente... Não se sinta tão mal... Entendo que tinha muita vontade de ter um Bulbasaur e tenho certeza que achará um algum dia para capturar, mas até lá ame e cuide de seu Atlas, ele certamente vai te ajudar com seus objetivos! É isso que um Pokémon faz pelo seu treinador, quando confia que seu treinador fará o mesmo por ele, quando foi preciso — Comentei com o menino, passando a mão em sua cabeça, como um gesto de carinho e depois alisando o gigantesco Rhyhorn, tomando cuidado para ele não acabar irritando-se — E por falar em confiança... Agora que tudo se acalmou, você saberia me dizer se viu alguma Meowth perdida pela caverna? Estou atrás de minha companheira. Ela gosta de se esconder para dormir, mas demorou muito para voltar e estou realmente preocupado... — Comentei com o menino, esperando ao menos uma dica.

Independente da resposta do garoto, após ouvir o que ele tinha a dizer e me despedir, segui na direção de Luci e Yuri, que estavam empolgados com a vitória de Gaiden, mas também bastante assustados com o tamanho de Atlas, por isso não se aproximaram em momento algum. Assim como eu, Luci dizia estar preocupada com Meo-Mey e tratou de falar isso com urgência no momento em que me viu se aproximando — Você e Gaiden foram demais Luch! Aquela menina e o Golbat dela também, ela luta tão bem e com tanto estilo!  — Dizia a garota, fazendo movimentos de batalha, como se estivesse dando ordens a Pokémon imaginários e rindo em seguida — Por que não chama Sophia para vir conosco? Ela é uma Ranger e vai nos ajudar muito a explorar a caverna, até mesmo a achar Meo-Mey! Vai Luch! Eu quero aprender a ser uma treinadora maravilhosa igual a ela! — Comentou Luci, muito animada e puxando a minha camisa. Yuri sorria e concordava com a cabeça, mas não dizia nada, pois mantinha seu jeitão tímido e reservado, como sempre. De certa forma eles estavam certos e se não houvesse mais nada que eu pudesse fazer por conta própria, procuraria a menina. Lembro-me que o estranho Professor tinha assuntos pendentes a resolver comigo e eu me sentiria mais confortável em lidar com isso na companhia de Sophia, que já o conhecia.

Agora bem mais aliviado com o fim daquele turbilhão de emoções, pude voltar até o professor e conversar mais pacificamente com ele. Estava feliz com o resultado de tudo, por isso mantinha um sorriso em meu rosto ao me aproximar — Professor, perdão pela forma como saí da última vez... Agora está tudo resolvido! O que me contava mesmo sobre uma Meowth? — Indaguei bastante curioso. O homem então comentou sobre relatos de uma Meowth andando perdida pela caverna, fato que foi confirmado pelo garoto de antes, agora montado em seu Rhyhorn, uma imagem que me deixou bastante feliz — Se for mesmo Meo-Mey, deve estar precisando muito de mim. Eu nunca abandonaria minha parceira de jornada! Vamos crianças, precisamos achar ela! — Disse para os irmãos Machiatto, já arrumando minhas coisas para partir. Contudo, Luci novamente me lembrou que eu deveria esperar Sophia e ela tinha razão. — Não seja bobo! Vai lá e chama eeeeela! Não custa nada, o não você já tem se ficar calado! Hiihihi  — A garota parecia entender mais do mundo do que eu, o que era espantoso. Eu só tinha mesmo é vergonha de chamar ela para ir conosco, ainda mais vendo que a Ranger estava tão ocupada resolvendo os detalhes finais do caso dela. Pensei bastante antes de agir e respirei fundo, pedindo licença aos Professor e ao garoto, agora aproximando-me da garota — Ern.. Sophia? Eu estou de partida para o interior de Meteor Falls, nas cavernas. Vou procurar minha Meowth que desapareceu no meio de toda aquela confusão. Parece que viram ela por lá, sabe? Hmm.. As crianças, gostaram bastante de você e disseram que gostariam que você viesse conosco.  — Disse um tanto sem graça, no momento em que fui pisado por Luci. A menina me olhou feio e virou-se para Sophia com um sorriso — Na verdade a ideia foi dele! Ele só é muito tímido para dizer. Vem com a gente! Por favorzinho!  — Insistia a garota, com um olhar de cachorro pidão. Eu não sabia onde enfiar a cara de tanta vergonha, mas esperei para ver qual seria a decisão dela.

Felizmente minha vergonha não havia sido tão terrível assim, já que Sophia gostou da ideia e eu pude relaxar um pouco mais, apesar das insistentes provocações de Luci. Ela estava se tornando uma "aborrecente" rápido demais para meu gosto, mas certamente fazia parte da "criação" de uma criança. A Ranger só pediu um tempo para resolver todo o problema com o mercador, ao menos até a Polícia de Mountock chegar para levá-lo embora. Ao que parecia, a Batgirl de Sophia nos seria muito útil nessa busca e eu ficava aliviado com a ideia de tê-la ao nosso lado. Ela até propôs que eu seguisse na frente para ir procurando que ela nos encontraria depois, mas... Correndo o risco de acabar me perdendo na caverna e piorando a situação de Mey, resolvi esperar — Certamente a Polícia já deve estar a caminho, então acho que podemos esperar... Mey é esperta e logo logo nos encontraremos, não é mesmo crianças? — Chamei a atenção dos pequenos irmãos, que responderam animados, mas com uma expressão que logo entendi ser de fome — Ah, claro! Não tomamos café da manhã tão bem e já está na hora do almoço... Vamos comer aqueles sanduíches que eu trouxe — Informei aos Machiatto, já abrindo a bolsa para retirar a comida. Os jovens sentaram no chão para aguardar serem servidos e enquanto isso, Luci tratou de liberar seus Pokémon da cápsula. Joltik e Cleffa. O inseto elétrico subiu em sua cabeça e aninhou-se em seus cabelos para um cochilo, enquanto Cleffa apenas ficou saltitando ao seu redor. Já a menina, pegou seu Ovo de Pichu e colocou sobre o colo, acariciando-o e aquecendo-o com um abraço. Aproveitei para liberar também todos os meus Pokémon: Dwebble, Shelmet, Geodude e Magikarp, lhes dando um pouco de ração e colocando um pouco para os companheiros de Luci também.

— Os Pokémon também devem estar morrendo de fome, mas aviso que será um lanche rápido! Só até a Polícia chegar, porque Mey também deve estar faminta e não é justo comermos sem ela — Comentei em um tom bastante neutro, enquanto servia comida para Yuri e Luci. Resolvi oferecer um para Sophia também e, independente da resposta dela, me serviria em seguida, dando uma super mordida no meu sanduíche — Espero que esse Pichu nasça logo! Não vejo a hora de abraçá-lo! A parte em que os ovos chocam é incrível! Lembro quando Cleffa nasceu, não é mesmo fofinha?  — A menina disse, dando um mega abraço em Cleffa, que até se assustou, mas depois sorriu. Já Yuri, mantinha em suas mãos a Friend Ball, certamente pensativo sobre quando iria usar uma dessas e ter seu primeiro companheiro. Aproximei-me dele e passei a mão em sua cabeça, bagunçando seu cabelo como sempre fazia. Felizmente ele não se importava... Muito... — Sophia, acho que você pode dar uma ajuda para Yuri. Ele ainda não possui um companheiro Pokémon, mas certamente pensa nisso todo dia e deve ter muitas dúvidas sobre qual caminho seguir. Por que não explica um pouco sobre como é ser Ranger? Assim ele tem um exemplo sobre esta carreira  — Questionei a menina sobre o assunto, o que deixou o garoto radiante, esperançoso de ouvir de uma própria Ranger sobre como é ser um — Sim senhorita Sophia, eu adoraria saber!  — Completou o garoto.