Confusões em dobro!

Golpe após golpe, nossos Pokémon deixavam o gigante metálico cada vez mais perdido e próximo do nocaute... Eu vivia aquele instante em desespero, num misto entre esperança, alegria e aquele sentimentozinho de ansiedade, que vai nos corroendo por dentro e nos fazendo pensar nas mil possibilidades de tudo dar errado, mesmo quando temos tudo para dar certo. Queria constantemente dar apoio e dicas em tempo real para todos os Pokémon em campo, mas não havia realmente mais nada a dizer ou fazer. Estávamos usando a melhor tática possível de combate, praticamente autossustentável e utilizando quase todos nossos Pokémon de uma só vez. O resultado final não poderia ser outro: a união dos golpes ordenados acertou em cheio o corpo cromado e finalmente nocauteou o pesado oponente de uma vez por todas! Só precisávamos tomar cuidado para não ser esmagados quando ele caísse. Entretanto, ele não caiu. Havia algo de muito errado...

— O que há com ele? Ele vai ficar assim mesmo? — Questionei a nossa vitória, fazendo uma cara de pensativo ao observar o metálico com curiosidade. O Pokémon estava claramente nocauteado, mas ao invés de cair no chão desmaiado, ficou parado em sua última posição, como uma estátua! A frente de seu corpo, um golpe carregado pela metade, que não teve nem tempo de utilizar. Sophia tentou não se importar com isso e nos lembrou de que o importante é ter vencido. Resolvi aceitar também esta verdade, correndo até meus Pokémon para abraçá-los  — Tem razão Sophia! Vencemos! Vocês foram maravilhosos e... — Eu me permitia sorrir, fazendo um carinho em cada um dos Pokémon em campo. Bulbasaur, que chegou ao campo apenas para observar o final do combate e se sentir importante por participar, saltou sobre minhas pernas e tentou alcançar o meu rosto com as patas. Já Geodude e Dwebble saltitavam juntos em comemoração, enquanto Lira pulava de um lado para o outro... Como sempre...

Tudo era maravilhoso, com exceção do fato de que não estávamos prestando atenção ao grande Pokémon nocauteado. Ele reluzia com feixes brancos surgindo em várias partes de seu corpo, conforme ele "crackelava" e desmontava. Era bem provável que isso houvesse causado algum tipo de reação em cadeia com o golpe congelado no tempo, gerando uma luz ainda mais forte e intensa que nos acertou em cheio. Depois disso? Eu não sei... Não lembro de nada! Ao abrir os olhos estava em um lugar branco, bem iluminado e na presença de uma simpática enfermeira, que falava comigo e a Ranger. Demorei a entender porque Sophia estava ali e deitada até notar que eu mesmo estava deitado. Só despertei de verdade quando ouvi o tempo que ficamos apagados. CINCO DIAS?!

 — Explosão? Como assim?  — Questionava a enfermeira, Sophia e a mim mesmo, quando meus Pokémon saíram do chão e vieram direto para a minha cama. Eles pareciam preocupados, mas felizmente um fez companhia ao outro com perfeição. Até mesmo Meo-Mey, ainda cabisbaixa e preocupada, aconchegou-se sobre meu colo por cima das cobertas e não resisti em fazer um delicioso carinho em sua cabeça — Desculpe por tudo, Mey... Nós nunca mais vamos nos separar! E vocês pessoal, ótimo trabalho em equipe! Estão em forma e precisamos treinar quando estiver totalmente recuperado! — Eu falava com as criaturinhas, enquanto Sophia contava os detalhes de nossa aventura na Feira de Meteor Falls — Eu confirmo! Estava lá e foi exatamente o que aconteceu... Mas enfermeira... Eu estou preocupado com meus tutorados... São um casal de irmãos, Luci e Yuri Macchiato! Eles estão bem? Estão por aqui? — Eu buscava a face dos dois pequenos por todos os lados, enquanto a Ranger interagia com sua Golbat. Onde estariam os jovens que foram buscar ajuda antes da explosão?

Será que era errado de minha parte achar aquela enfermeira tão estranha? Ela tinha uma risada no mínimo "exótica" e toda vez que emitia uma nova risada, fazia até os pelos de meu braço se arrepiarem... Mas enfim, talvez não fosse o momento para pensar nesse tipo de coisa enquanto tanta informação surgia ao nosso redor. Estávamos mesmo há cinco dias internado? Era basicamente o tempo que eu havia levado entre sair de casa em Verdanturf e chegar até Meteor Falls... Ficamos também sabendo pela enfermeira que o aparecimento daquele Pokémon não havia ocorrido apenas conosco, mas também em outros lugares de Hoenn, inclusive com alguns casos de relatos falsos e que culminaram em prisões. Fiquei impressionado no início, mas depois me bateu a dúvida: será que ela achava que estávamos mentindo também e chamaria a Polícia? Entretanto, antes de conseguir refletir sobre o assunto, fui informado de que os Macchiato estavam bem e vivendo no mesmo abrigo de meus Pokémon, tendo vindo me visitar durante a manhã por todos esses dias. Eles deviam estar extremamente preocupados! De certa forma, falhei com eles e com seus pais no sentido de sempre protegê-los e agora precisavam ficar em um abrigo, com pessoas "estranhas".

— Obrigado pela informação... Eles devem estar bem preocupados, não vejo a hora de poder vê-los e pedir desculpas por tudo isso... — Disse de forma cabisbaixa, suspirando em seguida. Enquanto eu me dirigia à enfermeira, Sophia conversava com sua Golbat, lhe presenteando com uma espécie de bala, que foi prontamente devorada pela Morcego. A Pokémon ficou extremamente feliz com o presente e o fato de reencontrar sua treinadora consciente e isso levou a uma brilho prateado que envolveu todo seu corpo, gerando uma transformação bem diante de nossos olhos. Todos ficaram espantados e mal se ouvia uma respiração, até que a evolução foi completada e um morcego gigante com asas incríveis surgir. Procurei então minha Pokédex junto aos meus pertences para apontar na direção do Pokémon e saber mais sobre ele:

"Beep! Crobat! Pokémon Morcego! Este Pokémon voa tão silenciosamente na escuridão utilizando suas quatro asas, que não pode ser notado mesmo a uma curta distância. Suas presas acabam mordidas e tendo seu sangue devorado sem sentir qualquer dor, antes mesmo de notarem o que aconteceu. Crobat consegue sugar uma grande quantidade de sangue do alvo no tempo de uma única batida do coração. Quando não se alimenta suficientemente, não tem forças para voar. Seu par extra de asas lhe concede um voo mais veloz. Entretanto, o fato de suas pernas terem sido transformados em asas, dificulta o pouso para descansar. Quando atravessa grandes distâncias a voo, este Pokémon costuma trocar o par de asas que utiliza, descansando assim o outro par. Beep! Boop!"

Antes mesmo que eu pudesse parabenizar Sophia por esta nova evolução, a garota simplesmente desmaiou! A enfermeira então tratou de expulsar todo mundo dali pois a animação em demasia não faria nada bem para nossa recuperação. Os Pokémon foram todos recolhidos para suas esferas e levados de volta ao abrigo, mas antes disso eu dei um último abraço coletivo em todos eles, prometendo que nos veríamos em breve e continuaríamos nossa jornada. Assim que eles foram levados, resolvi questionar a mulher sobre o tratamento e o tempo que continuaríamos ali, mas nem foi necessário já que ela disse que ficaríamos mais 15 dias por lá — Mas... É muito tempo! — Exclamei, no momento que uma mulher entrava no recinto. Pelas suas vestes parecia ser uma autoridade, talvez uma policial. Segurei minhas reclamações e atentei-me a ela. A mulher explicou que tomaria meu depoimento em particular, já que Sophia havia desmaiado e pediu que eu contasse tudo. Sentei-me melhor na cama então, detalhando cada momento de nossa "aventura", desde a chegada na caverna até o momento da suposta explosão que nos deixou nessa situação.

Não pude acreditar quando a Enfermeira nos informou que passaríamos mais quinze dias em recuperação dentro daquele Hospital. Não podia reclamar do atendimento realmente, mas era tedioso demais ficar deitado em uma cama por tanto tempo assim quando lá fora o mundo passava em uma velocidade alucinante para todos os treinadores ainda em jornada. Havia ocorrido tantas coisas na minha, que só de cogitar passar o triplo do tempo que vivi, enfurnado numa cama, era a morte. Durante a "entrevista" com a Policial, quando a mulher tomou meu depoimento, eu só conseguia pensar nisso e em como o desmaio de Sophia era preocupante. Quando ela se foi, acabei aceitando o fato de termos que descansar, afinal um desmaio daquele em uma caverna como Meteor Falls poderia ser falta. Desisti então de qualquer chance de escapar e me "entreguei" à rotina hospitalar, que não me dava muitas opções de diversão ou atividades lúdicas, apenas uma alimentação insossa e banhos diários de Sol, com direito a um tratamento de pele de tempos em tempos. Como não tinha exatamente mais nada para fazer, resolvi aceitar os "bônus" que ganhei.

Os dias foram se passando e meu cronograma resumia-se a acordar 7 horas da manhã, fazer uma caminhada leve até o Pátio, tomar Sol até as 10:30, ir para o Spa até as 12:30 e então almoçar. A tarde tinha que ficar no quarto, sendo proibido passeios para não perder o importante lanche. Já durante a noite meu horário meio que "batia" com o de Sophia, o que nos permitia conversar até a hora de dormir. Alguns dias éramos obrigado a ficar em silêncio já às 22 horas, mas em alguns outros dias conseguíamos escapar da fiscalização, indo até mais tarde. Sophia tinha consigo o PokéNav e era nosso único contato com as novidades do mundo exterior. Às vezes nos revezávamos em usar o aparelho, mas a maior parte do tempo conversávamos sobre Pokémon mesmo.

Uma coisa que havia me chamado muito atenção era a Jaqueta de Voo que a Ranger possuía. Ela disse que conseguia voar facilmente para qualquer cidade de Hoenn usando seu Pokémon, Noctowl. Assim ela não pagava qualquer tipo de passagem de ônibus, metrô, trem ou barco e tinha a Região inteira a sua disposição. Só de pensar no que dinheiro que havia perdido ao tomar uma condução até Mountorck, dava vontade de chorar. Felizmente o resultado disso tudo havia sido bom, conheci Sophia e também Bulbasaur, a quem ainda não tinha decidido um apelido. Pensando ainda sobre o voo, lembrei que havia encomendado pela Internet um Ovo de Murkrow de algum treinador da Região. Infelizmente não tive tempo para marcar em alguma cidade a troca, então nem sabia se a transação ocorreria ainda. Talvez fosse melhor tentar alguma transação com Sophia, que estava ao meu alcance.

A rotina se repetia dia após dia e meu bronzeado foi ficando cada vez mais forte, mais dourado. Por fim, a coloração já parecia até um tanto laranja de tão queimado. Além disso, o Spa havia feito uma verdadeira mágica com a minha pele. O tratamento diário deixou a superfície do meu corpo verdadeiramente cintilante, principalmente quando alguma luz externa incidia sobre ela. De certo modo eu tinha vergonha de ficar contando sobre minha rotina de embelezamento para Sophia, então guardei a informação para mim e torci para que não fosse notado por ela e por outros estranhos, o que acho difícil de ter acontecido depois de tanto tempo... Quinze dias foram necessários para chegar até esse resultado e me perguntava quantos seriam necessários para essa cor desaparecer.

Por fim, havia chegado o décimo quinto dia de internação e fomos surpreendidos logo de manhã por uma chegada nada agradável. A Enfermeira gargalhante veio nos visitar bem cedo e já nos recebeu com sua voz alta e com as cortinas sendo puxadas com selvageria. A luz inundou o quarto e me assustou, fazendo com que levantasse em um salto. Sophia também teve a mesma reação, tampando os olhos com as cobertas. O que aquela mulher tinha a dizer é que recebemos alta. Afinal, finalmente uma boa notícia. Depois disso, falou que poderíamos recolher nossas coisas e sair. Rapidamente Sophia e eu juntamos nossos pertences em nossas mochilas e escapamos dali o mais rápido, alcançando a recepção e depois a calçada.

— Bem, a Enfermeira falou que estão em um Abrigo, mas deve ser perto porque vinham nos visitar sempre pela manhã... Vamos esperar na recepção mesmo. Acho que vão ter que passar por aqui — Respondi a Ranger, fazendo algumas suposições sobre o local de encontro com os irmãos Macchiato, que apesar da Enfermeira ter dito que estavam contentes em comer e beber de graça, certamente deveriam estar cansados de ficar reclusos e não viajando conosco — O que importa mesmo é termos saído de lá. Depois de encontrarmos com as crianças eu só quero é continuar viajando! Mas enfim... Espero que venham logo, estou preocupado — Comentei com Sophia, esperando as crianças chegarem.

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Sophia confirmou que a melhor opção era esperar ali mesmo, então resolvemos sentar e aguardar. Enquanto o tempo passava e a manhã ia embora aos poucos, a Ranger comentou comigo sobre uma notícia lida em seu PokéNav e que também tinha sido comentada por alto pela Enfermeira quando nos deu alta. Se tratava de uma tal Wallace Cup, um dos eventos do tipo Contest, que eu nunca tinha assistido, mas já tinha ouvido falar por Coordenadores entusiasmados. Sophia também comentou que haveriam prêmios de participação, mesmo para quem não ganhasse as tais "fitas", que seriam como um paralelo para as insígnias no mundo das apresentações. Fatalmente eu acabei me interessando por isso, afinal precisava de todo dinheiro e ajuda possível para "evoluir" como treinador — Olha, eu acho que também devo participar... Vou tentar de alguma forma chegar em Sootopolis a tempo. Se não me engano, Luci havia dito que pensava em ser Coordenadora, ela é uma menina bem artística e até já fez balé. Se eu participasse tenho certeza que ela ficaria muito feliz, ainda mais por poder assistir de perto  — Comentei com a Ranger, enquanto agitava meus pés na cadeira — E como eu faço pra me inscrever? Temos que ir até lá para isso ou é Online? — Questionei, no momento em que duas figuras surgiam pela porta do Hospital, com o olhar perdido em busca de algo ou alguém. Eram eles! Levantei-me rapidamente e fui até eles — LUCI! YURI! AQUI! — Chamei, aproximando-me deles com os braços abertos para um abraço e um sorriso no rosto.
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