#01 - Em busca de um plano

Caminhar por Mauville City é atravessar meu passado. Cada rua que eu atravesso agora me leva para lembranças, tanto boas quanto ruins. Os cheiros, as cores e até mesmo os sons remetem algo que eu estava disposto a deixar pra trás. A única forma de seguir com meu plano era largar minha cidade. Colocar um pé na frente do outro em direção de um lugar que eu nem mesmo sabia onde.

Meu pai foi preso acusado de ser um Rocket e agora eu estou em busca de provar que ele é inocente. Ficar aqui não vai me ajudar a achar pista alguma. Este continente é muito vasto, e Mauville é apenas o primeiro passo. Libertei meu Pokémon para andar comigo, ou melhor, flutuar. Zyos, o Magnemite, circulava a minha cabeça olhando atento á volta. Ele é bem ciumento e protetor, mas qualquer coisa que tiver uma fonte elétrica faz ele chiar de empolgação. Ele adorava sugar a carga elétrica das coisas. Isso o deixa eufórico. Talvez eu devesse andar pelo quarteirão de hidrelétrica uma última vez. A estática no ar da região sempre faz Zyos dançar alegremente.

Mais animado que meu Pokémon estava os garotos das Universidades. Sempre juvenis e agitados. Goya, minha tia, queria essa vida para mim. Porém, eu mesmo nunca me vi desse jeito. Era perfeita demais para eu me encaixar. Talvez se eu fosse outro Lítio, criado por dois pais, em uma casa arrumada, eu teria tido outro destino. Hoje eu sou o pequeno Hacker que se sustenta com truques e roubos. Quem sabe com meu pai fora da prisão eu tenha uma chance de viver outra vida...

Acariciei um dos imãs no corpo de Zyos e tirei de minha cabeça os devaneios. Eu tinha muito que visitar antes de seguir caminho. Um último adeus ao meu passado para conhecer um melhor futuro.

Relações Magnéticas

Mauville era uma cidade de muitas camadas. Por fora havia uma casca metálica bastante lustrosa, a que era demonstrada para o continente e o mundo: tecnológica, avançada e futurista. Entretanto, assim como um ovo, conforme caminhava-se para o interior e rompia-se a barreira externa, era possível encontrar todo tipo de surpresas em seu núcleo. Alguns ovos são límpidos, claros e próprios ao consumo por dentro. Outros, como a cidade, possuíam um ar tóxico e obscuro oculto. Lítio Jeromé era uma figura interessante de Mauville, que conhecia bem a casca e o núcleo da cidade, podendo permear-se pelos dois ambientes com bastante facilidade. E realmente era algo necessário se ele quisesse seguir seus sonhos mais secretos. Ambições estas que ainda levariam o rapaz para lugares muito distantes dali..

— Bzzz! Mite! — Um som característico de Zyon, o Magnemite de Lítio, chamou a atenção do garoto. Seu Pokémon, como fazia com frequência, começou a flutuar lentamente mais alto na direção de um transformador na esquina entre duas ruas pouco movimentadas. Esta criaturinha era sedenta por energia elétrica e já havia se metido em muitas confusões, antes mesmo de encontrar Lítio por conta disso. A cidade de Mauville passava constantemente por mudanças estéticas e tecnológicas. A maior parte da rede elétrica havia sido substituída por condutores magnéticos e subterrâneos, que ocupavam pouquíssimo espaço e transmitiam energia com uma velocidade bastante superior. Haviam poucos lugares que ainda possuíam fios espalhados e emaranhados no alto de postes e aquele era um dos que restaram, numa das áreas mais pobres da cidade.

Por ser um artigo raro, a maior parte dos Magnemite selvagens já estavam ocupando aquele único transformados, sugando violentamente a energia do distrito. Quando Zyon tentou aproximar-se acabou sendo repelido por um forte campo magnético formado pelos membros de sua espécie, fazendo-o desistir do banquete e retornar para a proximidade de Lítio, mantendo os ímãs cabisbaixos e um olhar de desolação. A dupla então continuou a caminhada, até que um estouro lhes chamou a atenção e a escuridão tomou conta dos quarteirões próximos. Era um Blackout! Quase que imediatamente vozes de todos os cantos demonstravam insatisfação com o ocorrido, dando lugar para um silêncio mórbido em seguida. A única coisa que podia se ouvir nesta noite eram sirenes de carros de polícia indo na direção do Centro. Algo acontecia por lá... Que caminho Lítio tomaria neste entardecer? ◄

Mauville era apenas uma cidade para mim. Não era um lar, nem mesmo uma casa. Era apenas um refúgio, e por isso, eu via a cidade como ela realmente era: Uma ruína pintada, tentando esconder sua velhice com uma camada fina prateada. Por outro lado, Zyos se sentia muito bem por aqui. Andando na parte velha da cidade Zyos ainda podia achar postes de luz. Seu corpo metálico arrancava faíscas dos cabos. Quando avistei o grupo de seus iguais no transformador eu pensei em  impedi-lo. Eu deveria ter o distraído. Achado uma pilha velha para ele brincar.

Era comum Zyos cruzar com seus iguais. Cada espécie de Pokémon tem suas regras e pelo visto, entre os Magnemites, o alimento não seja compartilhado entre selvagens e capturados. Não que eu tratasse meu companheiro como um Pokémon comum. Ele quase nunca ficava em sua esfera. Mesmo assim, ele foi negado por sua raça. Ele voltou cabisbaixo e eu ofertei a ele a a pilha velha. Zyos usava suas habilidades para fazer o objeto flutuar e soltar faíscas no ar, mas mesmo isso não o animou muito.

Uma explosão o fez largar a pilha. Um clarão de luz seguido de um “bum”. As ruas começaram a se apagar. Como luzes de um palco, cada quarteirão se enchia de sombras ao se apagar e ia se aproximando de onde estávamos. Logo o bloco entrou num breu, e os atrás de nós tiveram os mesmo fim conforme a energia deixava de correr pelos transformadores.

- O que aconteceu? - eu me perguntei em voz alta e percebi que a mesma indagação era dita por outras pessoas na rua.

Zyos me rodeada ansioso. Ele se assustou com as sirenes rompantes de duas viaturas correndo em direção ao centro de Mauville, a origem da explosão.

- Deve ter sido algo serio. – eu disse olhando meu amigo. – Será que foi criminoso?

Zyos notou minha curiosidade e revirou seus olhos metálicos.

- Eu sei... Já estávamos prestes a sair da cidade, mas não seria ruim conferir isso antes de partir.

Eu encorajei meu Magnemite e segui correndo em direção ao centro.

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Em segundos planos podem ir por água a baixo, mesmo que dentro de si pareçam extremamente fortes e cercados de certezas. Para Lítio e Zyon, foi necessário apenas um Blackout misterioso para desviá-los de seu rumo e levá-los de volta ao Centro de Mauville. Seguindo uma onda de escuridão e barulho de sirenes, a dupla parecia empolgada em observar uma última "apresentação" urbana da cidade. Sendo assim, foram caminhando bloco após bloco, enquanto notavam a transformação do cenário pobre e antigo em uma cena mais limpa, tecnológica e iluminada. A cada novo passo o som de sirene ficava mais alto e quando viraram a última esquina, Zyon e Lítio entenderam o que acontecia. Fogo. Caos.

Ao que tudo indicava, havia acontecido algum acidente grave no Game Corner, o Cassino da cidade. Entretanto, ao invés de uma infinidade de carros de bombeiro com seus Pokémon de Água, haviam várias viaturas cercando o local. Muitas pessoas saiam correndo, fugindo das chamas. Entretanto, no meio delas também haviam pessoas vestidas de preto e com um grande "R" também preto, mas em tonalidade diferente estampado em seu peito. Os policiais avançavam com seus Manectrics e Electrikes, interceptando essas pessoas e algemando-as. Ao que parece, era uma operação policial desmantelando uma organização criminosa. Algo "normal" em uma cidade grande como Mauville. Entretanto, algo chamou a atenção de Lítio.

Era um rapaz com o mesmo uniforme, mas tão jovem quanto o próprio treinador. Curiosamente ele também era seguido por um Magnemite, mas este possuía cores diferentes de Lyon. Ele aproveitava uma brecha na segurança para correr para trás do prédio, desesperadamente. Nos últimos segundos um jovem cadete da polícia e seu Electrike pareciam ter notado sua presença, pois o policial correu para o mesmo lugar. Zyon parecia extremamente interessado, principalmente no membro de sua espécie de cor diferenciada e acabou partindo quase que impulsivamente para lá sozinho, soltando faíscas do parafuso no topo de sua cabeça. O que Lítio faria a respeito? ◄

Eu corri pelas ruas abraçadas pelas trevas. Alguns poucos focos de iluminação, vindas de luzes de emergência e faróis de carros, clareavam meu caminho, o que me impedia de chocar contra pessoas e coisas. Para Zyos era fácil flutuar logo no meu encalço, mas parecia que a falta de energia elétrica pelo ar o deixava menos motivado. Eu chegava cada vez mais perto da fonte do blackout. Viaturas indo e vindo pelas ruas me davam certa dica do local-chave. Ao virar uma esquina tudo seria esclarecido. Foi quando eu vi o incêndio.

Game Corner estava em chamas. Um cassino praticamente novo onde as pessoas de piores índoles gastavam seus créditos em mesas de jogo. Pessoas da minha idade não entravam lá, mas eu já tive clientes que eram frequentadoras. Aproximei-me como pude entre os curiosos que se prensavam no cerco policial a fim de ver o que estava acontecendo. Tudo indicava ser uma batida policial que deu errado. Aquele fogo com certeza queimaria provas e estava chamando atenção demais. Alguns mafiosos estavam sendo levados nas viaturas, algemados e chamuscados. Mas não eram simples bandidos. Um R vermelho se destacava em suas vestes. Rockets.

Um frio agonizante subiu por minha espinha. Meu extinto me fez sair da multidão e me esconder atrás de uma caçamba de lixo. Os oficiais estavam prendendo Rockets e aquilo foi inevitável de conectar a meu passado. Meu pai sendo preso, enquanto homens achavam um uniforme Rocket em suas coisas. Era como viajar no tempo. Zyos notou minha mudança e rodeou minha cabeça buscando minha atenção, mas eu parecia paralisado, preso em mim mesmo.

De repente eu me vi. Ou pensei ter visto a mim, saindo do prédio tossindo fumaça. Era um Rocket, tão jovem quanto eu, e surpreendentemente, também tinha a seu lado um Magnemite, porém este tinha cores diferentes de Zyos. Era como ver um futuro que eu poderia ter tido se meu pai não tivesse sido preso. “Será que eu me tornaria um Rocket também?”, pensei. Um dos policiais o viu e eles entraram num perseguição. Zyos ficou afoito novamente, talvez pela visão do Magnemite incomum. Ele avançou em direção do rapaz e seu Pokémon.

- Zyos! – eu gritei, mas era tarde. Ele já estava longe e eu tive que correr atrás dele, indo na mesma direção do Rocket e o Policial.

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Toda a situação da abordagem policial havia mexido bastante com a cabeça de Lítio, afinal trazia memórias bastante danosas de sua infância. Seu pai sendo preso, a roupa de Rocket encontrada. Certamente as lembranças machucavam o menino naquele momento e era aceitável deixá-lo distraído e praticamente paralisado diante da situação. Entretanto, o que ocorreu em seguida colocaria em prova a capacidade do treinador em superar dificuldades. Zyos, seu Magnemite, sentiu-se eletricamente atraído por um Magnemite Shiny de um rapaz Rocket e simplesmente abandonou seu treinador, flutuando pelo meio da rua até o beco lateral do cassino, seguindo tanto o fugitivo como o policial que o perseguia.

Lítio ainda tentou gritar, mas não era possível interromper esse "magnetismo" da espécie com meras palavras, portanto resolveu apenas segui-lo. Depois de passar no meio da confusão de pessoas ao redor do Game Corner, Lítio finalmente deixou as sirenes e luzes de giroflex para trás, alcançando a ruela, assim como seu Pokémon. Mais um pouco, adiante no mesmo caminho, ele esbarrou com mais uma dura cena. O menino Rocket estava encurralado e o cadete policial apitava em vão seu aparelho sonoro esperando que mais policiais o viessem dar algum apoio. Entretanto, estavam ocupados demais lá na frente para ouvi-lo e ele teria que se virar sozinho — Ok, criminoso! Entregue-se, guarde seu Magnemite e ajoelhe-se com as mãos na cabeça. É uma ordem, você está preso! — Dizia o cadete, deixando seu Electrike em posição de ataque.

Já o Rocket encurralado, respirava fundo e tinha seu Magnemite bem na sua frente, servindo de barreira entre Electrike e seu treinador, pronto para a batalha. Zyos também estava lá, orbitando o seu companheiro de espécie de uma forma abobalhada, indiferente à batalha que se iniciaria em breve. Aquele momento aos olhos de Lítio certamente tinham um peso bem grande, é como se ele visse fisicamente um conflito entre o que a sociedade espera de um rapaz como ele e o que talvez ele quase foi ou pensa em ser. Enfim, seria difícil retirar Zyos dali sem ser notado. O treinador poderia interferir na batalha, escolhendo um dos lados para ajudar, poderia recolher Zyos para a Pokébola e chamar a atenção dos dois para si ou poderia procurar uma outra forma mais silenciosa de contornar a situação. O que Lítio faria?  ◄

Eu arrancaria os imãs e parafusos do corpo de Zyos se eu pudesse. O cabeça de ferro seguiu o magnetismo de seu, não tão, igual até uma viela escura. A falta de luz era o menor dos problemas. O mesmo Pokémon do qual Zyos seguiu pertencia ao Rocket que havia fugido do prédio em chamas. Em seu encalço um policial e seu Pokémon elétrico. Ambos agora estavam se encarando, prontos a um embate. No meio deles o idiota de um Magnemite atraído por outro.

Escondido onde eu estava podia analisar a situação. Eu literalmente estava entre a cruz e a espada. Entre a lei e o crime. A adrenalina no ambiente era tão densa que se tornava palpável. O conflito era iminente, mas apenas uma coisa impedia que tudo virasse um conflito: Zyos. Eu poderia gritar, puxar ele para a Pokébola ou correr. Tudo isso chamaria a atenção de ambos os lados. Eu não queria aquilo, muito menos que o embate machucasse Zyos. Tomar atitude alguma o colocaria em risco.

Eu procurei um pau ou um pedaço de ferro. Qualquer coisa que eu pudesse usar de arma. Era a primeira coisa a ser feita. Após ter uma arma eu teria que ao menos apagar um deles. Com um problema a menos seria mais fácil escapar com Zyos. Se eu batesse no Rocket eu podia simplesmente afirmar que estava ajudando a policia, mas seria difícil de explicar porque eu havia seguido os dois até o beco. Além disso, servindo como hacker nas horas livres não seria bom ter meu rosto gravado na memória de um oficial.

Eu ia me arrepender muito daquilo. Escondi meu rosto dentro da camiseta. Assim que eu achasse algo firme eu o usaria para apagar o policial, depois tentaria colocar seu Electrike de volta em sua Pokébola. O plano era raso, mas era o que vinha a minha mente no momento. Com o policial fora de jogo eu poderia lidar com o Rocket, e quem sabe arrancar dele algumas informações.

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Lítio havia seguido Magnemite, que por sua vez, havia seguido outro Magnemite até o centro de uma grande confusão. Infelizmente o treinador não havia alcançado seu Pokémon elétrico antes que ele fizesse uma entrada "triunfal" no meio de um confronto entre autoridade e criminoso, orbitando o Pokémon do Rocket. Agora, restava a Lítio observar a situação até conseguir resgatar seu Pokémon e então decidir o que fazer antes de ser visto. Era inevitável para o rapaz não se imaginar na pele daquele Rocket, seja pela idade do garoto ou até mesmo pelo seu companheiro Pokémon escolhido. Era como uma versão de outra dimensão dele mesmo, caso tudo tivesse dado errado, ou melhor, se tudo tivesse sido ainda pior. Enquanto isso, o policial dava pequenos passos na direção do criminoso e de Zyos — Abaixe os dois Magnemite! Já! Nós vamos atacar com tudo! — Avisava o cadete, suando frio.

Depois de muito refletir sobre a situação, Lítio resolveu agir. Ele golpearia um dos dois e resolveria o problema com apenas o que sobrasse depois. Como não queria ter problemas com a polícia e talvez fosse difícil explicar sua presença ali, ele resolveu acertar o cadete e depois se acertar com o Rocket. Para tal, o garoto procurou em meio às lixeiras do beco alguma coisa que fosse grande o suficiente para derrubar o rival. Entre os itens mais úteis para a função havia uma lata de lixo vazia, ventilador velho e de plástico com a hélice quebrada ou uma caixa de madeira não muito grande, mas que dependendo da forma como fosse usada, seria o suficiente para derrubar o homem.

— Vou contar até três e nós vamos derrubá-lo... 1...  — Iniciava uma contagem o policial, enquanto aproximava-se do Rocket. Seu Electrike também aproximava-se com raios saindo de sua boca, preparada para atacar a qualquer pequeno sinal de seu treinador — 2...  — O policial continuava e o Rocket, talvez por não ter o que fazer ou por ter um plano, apenas ficava parado, segurando sua própria Pokébola com força. Já o Magnemite dele voava calmamente, encarando Electrike com seu único olho. Por um instante, Lítio podia até achar que o Rocket o havia visto e agora o encrava de vez em quando. Ele o entregaria para escapar? De qualquer forma o treinador só possuía um segundo para agir e talvez livrar Zyos de uma confusão maior ainda. O que o garoto escolheria como arma e o que faria? ◄

Não havia mais tempo para pensar.  A vida cobrava uma ação de mim, ou melhor, a situação em que meu pequeno companheiro nos meteu. O policial ameaçava enfaticamente o Rocket, e em segundos ele soltaria seu cão elétrico para cima do bandido. Ele por sua ver iria contratacar para se defender, e meu Pokémon entraria em fogo cruzado.

Minha busca me fez achar dois objetos. Um ventilador quebrado, que seria muito pesado para eu usar como arma, e uma caixa de madeira. Está também era grande demais, porém mais maleável. Eu poderia jogar na cabeça do oficial e isso talvez o colocasse pra dormir.

Era isso ou nada. Armei-me da caixa de madeira e me aproximei lentamente do policial tentando fazer menos barulho possível. O Rocket neste momento estava me vendo, mas eu não acho que ele estragaria meu plano estando ele encurralado. Levantei a caixa no ar pronto para acerta a cabeça do policial. Assim que ele caísse atordoado eu puxaria Zyos para dentro da Pokébola e correria sem olhar para trás.

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Lítio não tinha muito tempo em mãos para tomar uma decisão acertada sobre aquilo tudo, ainda mais uma decisão que levaria alguém a se machucar. O pouco peso e estatura do garoto dificultavam o serviço, pois objetos mais pesados e mais eficazes na tarefa desejada certamente seriam de difícil manipulação. Dentre as opções que o treinador tinha, a que soou mais viável foi uma caixa de madeira, que Lítio segurou com muita dificuldade e ergueu acima da cabeça, aproximando-se do cadete e seu Electrike — Tr.., — E quando o policial começava a contar o último número sem uma reação de desistência do Rocket, a caixa voou na direção de sua cabeça, acertando-o em cheio. Mas para o possível desespero do rapaz, o cadete não desmaiou, apenas caiu de joelhos, com a cabeça sangrando.

— O que?! Então há mais de vocês! Electrike, ataque! Atenção unidades... — E quando ele iria chamar reforços pelo rádio, seu corpo começou a se contorcer e brilhar pelo choque recebido, que atravessava todo o seu corpo. Depois de um tempo o homem caiu, chamuscado e com fumaça saindo de suas roupas e cabelos. Atrás dele estava o Magnemite do Rocket, que havia desmaiado o cadete. Já Zyos, aproximava-se lentamente de Lítio, enquanto Electrike, agora sem seu treinador, rosnava para o garoto. Ele poderia não ter alguém para lhe dar ordens, mas o treinamento da polícia havia transformado esse Pokémon em um companheiro fiel, que faria de tudo, mesmo sozinho, para ajudar o seu dono. Enquanto isso, o Rocket observava a situação de Lítio e torcia os lábios.

— Para que se encrencou mocinho... — Dizia o garoto, levantando a boina e deixando alguns cabelos pesados e levemente encaracolados caírem sobre seu rosto pálido. Seus olhos eram bastante expressivos e ele tinha lábios pequenos, mas muito rosados. — Obrigado pela ajuda, mas temo que minha hora tenha chegado. Boa sorte! — E com uma piscada e um sorrisinho, o Rocket e seu Magnemite aproveitaram o blackout e a escuridão natural do beco para desaparecer. Ao que parece, Lítio e Zyos teriam que enfrentar sozinhos um Electrike muito nervoso. O que Lítio faria? ◄