Em busca dos Meltans

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Seguindo o script, Gaulvi aceitou a dica de Clark e foi até o banheiro com o pretexto de se arrumar e mitigar o nervosismo que supostamente o devorava. De certo modo isso não era total mentira, uma vez que a situação apertava-se de uma maneira nada amistosa para o treinador. Ele precisava enfrentar o tal Chefe da Companhia e ao mesmo tempo libertar os Meltans surrupiados pelo plano capitalista de consumir, literalmente, seus concorrentes. Gaulvi então adentrou o banheiro na companhia de Vendrome, trancando-se do lado de dentro e preparando sua imagem para passar o máximo de nervosismo possível. Em seguida, respirou fundo e saiu para encontrar seu destino.

Do lado de fora, Clark esperava o treinador com uma certa impaciência. Ele não precisava dizer nada, pois apenas o seu olhar já demonstrava que ele considerava toda aquela enrolação como uma grande frescura! De todo modo, o funcionário buscava ser paciente e apenas sorriu para demonstrar satisfação pelo estado de Gaulvi, abraçando-o amigavelmente pelo ombro ao voltarem a caminhar juntos. O rapaz então aproveitou-se para pedir algumas dicas ao homem, sobre a reunião e tudo mais – É moleza! Você só tem que ser você mesmo e não demonstrar fraqueza e nem arrogância. Seja equilibrado e exponha o que pensa, certamente ele irá te ouvir. O Chefe adora ouvir seus funcionários! Ele é duro às vezes, mas no fundo tem um bom coração... – Disse Clark, com bastante calma e assertividade. Parecia realmente saber do que falava.

Os dois terminaram a caminhada no final do corredor, logo na lateral do refeitório, que servia de passeio coberto ligando o local anterior ao prédio principal. Este novo edifício era ainda mais imponente do que o Prédio Anexo, possuindo uma enorme recepção de decoração minimalista e extremamente moderna. Haviam sofás de bordas quadradas, nas cores preto e branco, como um grande jogo de xadrez, e no meio a recepcionista solitária, lidando profissionalmente com pelo menos três telefones ao mesmo tempo. Assim que a dupla chegou ela pediu um instante para terminar uma última ligação e finalmente desligou para atendê-los – Boa tarde! Boa tarde! Desculpe, é que o incidente com os Meltans deixou todos completamente loucos por aqui! Mas vocês possuem algum horário marcado? – Questionou ela, já abrindo um programa de consulta no computador para verificar a situação.

Clark foi mais rápido do que Gaulvi nesse momento, explicando a situação e dizendo o nome do rapaz e o motivo de estarem ali. Velozmente a recepcionista digitou uma grande quantidade de caracteres e em pouco tempo, a imagem de Gaulvi estava estampada no monitor a frente. – Reunião com o Presidente? Certo, é exatamente agora, parece que são pontuais... Extremamente pontuais, isso é bom! Por favor, subam direto até o trigésimo andar. Lá só existe a Sala Presidencial e inclusive estou liberando o andar para vocês aaaagora! – Comentou ela, girando uma chave especial e apertando um botão amarelado, que fez a porta de um dos elevadores se abrir para receber todos eles, que entraram e aguardaram a porta se fechar para subir. Era um longo caminho vertical a subir e esses eram os últimos segundos antes que o treinador encarasse o tal Chefe da Companhia de frente pela primeira vez. O que Gaulvi faria até chegar ao andar desejado? ◄

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Gaulvi chegava ao momento decisivo de sua "estadia" nessa grande organização... Todas as suas decisões dentro do Complexo o levaram até este momento, diante do Presidente da Empresa, alguém com planos bastante controversos contra seus concorrentes, visando o domínio do setor econômico a que pertence. Ao seu lado, apenas Clark, um colega de trabalho que parece respirar o trabalho e talvez saiba mais do que realmente diz saber sobre as artimanhas da companhia e de seus superiores. Os dois estão dentro de uma caixa metálica fechada e em movimento: um elevador em direção ao trigésimo andar, quando Gaulvi resolve questionar o funcionário sobre sua primeira vez conhecendo o Presidente.

– Sabe que eu nem sei? – Disse Clark, recostando-se em um balaustre de apoio no interior do elevador e olhando para cima, diretamente para a iluminação forte do teto – Trabalho aqui há décadas e é como se eu sempre conhecesse ele. Algo bem íntimo, sabe? – Explicou o homem, observando os números da tela do elevador, que passavam pelo 27, 28, 29... – Talvez você também compreenda essa sensação... – Completou ele, caminhando em direção da porta que já se abria. A visão que Gaulvi tinha quando ela se abria era bem complexa e de difícil "digestão". Haviam poucos móveis, que se resumiam a uma grande e bela mesa com cadeira, um bebedouro, algumas plantas e uma grande estante com livros, mas o que mais chamava a atenção era uma janela logo atrás da mesa, que cobria toda a parede e revelava uma vista incrível dos arranha-céus de Rustboro mesclados a um horizonte selvagem.

Devido a essa grande quantidade de informações visuais, possivelmente demorou algum tempo até Gaulvi poder fixar o olhar na mesa em si, onde encontraria o Presidente, mas quando o rapaz fizesse isso, notaria que a mesa estava vazia. Já Clark, encontrava-se ao lado dela, olhando para uma das paredes mais vazias do recinto. Ali, parecia haver uma televisão ou quadro, mas com uma observação mais cautelosa era visível que não se tratava de nada disso e sim de um aquário de vidro, localizado "dentro" da parede, onde três Meltans se encontravam. Eles estavam agitados, subindo uns sobre os outros e lançando energia elétrica para todos os lados em vão.

Clark observava apenas este aquário, finalmente falando com Gaulvi – É... Eu realmente me conheço desde sempre... É muito bom poder andar entre os funcionários sem a pressão hierárquica que um cargo tão alto traz, não acha? Mas sinta-se livre meu rapaz. Diga tudo o que queria dizer para mim... – Comentou o funcionário, que na verdade é o Presidente, virando sue rosto para Gaulvi e sorrindo esperando uma resposta. O que o treinador faria diante dessa situação? ◄

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Possivelmente Gaulvi havia ficado chocado com a revelação de que seu colega de trabalho Clark, um homem comum e bem simples era na verdade o Chefe de toda aquela Companhia. Talvez fosse difícil esconder essa surpresa, afinal era o esperado de uma revelação dessas, mas o rapaz pretendia certamente manter a calma diante do homem e tentar convencê-lo da melhor saída para toda aquela situação ao invés de tentar enfrentá-lo diretamente. Afinal, Gaulvi estava no trigésimo andar de um edifício que pertencia ao próprio homem e tinha tudo pesando contra ele em um caso de combate. O treinador também poderia notar que o teto do escritório era todo composto das mesmas luzes do campo de batalha, de quando foi testado. Se Gaulvi bem lembrasse, essas luzes eram capazes de scannear os Pokémon presentes e até mesmo servir de cura para criaturinhas feridas. Isso era um ponto importante a se atentar e se lembrar futuramente...

O rapaz procurou parecer tranquilo e decidido, tentando entender o propósito daqueles Meltan e da interação que foi "forçada" com o menino do T.I. Depois, tentou explicar um pouco melhor sobre a Sociedade que fazia parte, os The Wolves, sem citar que fazia parte da mesma, é claro. Gaulvi foi muito eloquente em sua explicação, tentando trazer Clark e a Companhia para uma compreensão melhor do quadro geral e as vantagens que teria se seguisse o protocolo, com ações dentro da lei e visando o bem-estar de todos, não apenas medidas egoístas e autocráticas. Durante toda a explicação, o homem manteve-se em silêncio, esquecendo dos Meltan e concentrando-se e virando-se para Gaulvi. Quando o rapaz terminou de falar, ele finalmente sentiu-se livre para tomar a palavra, ao mesmo tempo que caminhava até sua cadeira e tomava o assento da presidência –Vamos por partes então... – Começou dizendo o Chefe, digitando alguma coisa no Notebook aberto em sua frente. – Não é a toa que fui pessoalmente lidar com seu Processo Seletivo, meu rapaz. Eu sei quem você é, nosso porteiro até parece um pouco distraído, mas ao trocar de turno, ele informou seus superiores sobre sua primeira aproximação... – Completou o homem, cruzando os braços.

– Suspeitamos também que tenha chamado os Ranger que bateram em nosso prédio. Por sorte eles trouxeram os Meltans até nós... E por isso, lhe agradeço. Isso se foi você mesmo! – Levantou-se Clark ao dizer isso e aproximou-se da estante, retirando dois copos, enchendo-os de gelo e colocando bebida dentro deles. Ergueu então um na direção de Gaulvi e deixou o drink sobre uma mesa próximo do rapaz – Você se mostrou alguém poderoso e interessante, por isso fiquei atrás de você. Para entender melhor suas intenções e testar meu funcionário de T.I., deixei que interagissem enquanto gravava tudo. Infelizmente, descobri com isso que ele não era alinhado a política da empresa. Mas você, meu rapaz... Você é brilhante! Podemos trabalhar juntos sim, quem sabe... – Conversou o homem, erguendo o copo em um "brinde" fictício e virando o conteúdo

– Eu fico muito contente pelo convite para aliar-me a essa The Wolves, mas entenda... Aqui em Rustboro, o que vale é a lei do mais forte. Ou do mais rico. Ou do mais ousado! Eu tenho mantido essa companhia há anos tendo de fazer um malabarismo perigoso entre governo, polícia e concorrentes, mas um desses malabares tem pesado demais e o Pânico sobre os Meltans são uma saída perfeita para diminuir esse peso. Entende? Meu plano está bem estruturado e pronto para ser posto em prática, mas eu ainda posso abrir uma brecha para você fazer parte se quiser... – Comentou Clark, tomando uma decisão. Nesse momento, antes que Gaulvi pudesse responder, uma pessoa batia na porta do elevador pelo lado de dentro e chamava pelo nome de Clark. Infelizmente não era possível entender o que queria. Entretanto, Clark parecia incomodado com isso e prestes a tomar uma atitude para atender ou dispensar o chamado, dando um tempo para o treinador pensar em como agir. Sendo assim, como Gaulvi reagiria a isso tudo? ◄

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Clark ainda ignorava o chamado na porta do elevador, escutando atentamente o que Gaulvi tinha a dizer. Era possível notar um sorriso se formando por debaixo dos lábios dele a cada palavra do treinador, até que no final do "discurso", ele estava exultante de alegria. Por fim, o Chefe bateu na mesa e deixou fluir um largo sorriso, como se aquela conversa tivesse chegado ao ponto que esperava – Isso! Isso! São essas chamas no seu olhar que eu queria ver. Agora está falando como um Homem de Negócios e não apenas um garoto brincando por aí com seus Pokémon... Eu sabia pela nossa luta que você não era como qualquer outro e fico muito feliz de estar certo! Isso é o início de algo grande, meu rapaz! – Comentou Clark, aproximando-se de Gaulvi, colocando uma mão em seu ombro e dando batidinhas próximo ao seu peito, como se "certificasse" o garoto pela sua qualidade e amadurecimento. Em seguida, ele caminhou até o elevador, apertou um botão e permitiu que a porta se abrisse, revelando uma Isabelle descabelada e atônita, segurando o tablet nas mãos.

– Presidente! Os Ranger estão aqui! Eles vieram em um grande comboio agora! Acho que sabem de tudo... – Dizia ela, desesperadamente, clicando em alguns botões na tela e respirando com dificuldade. Clark sorria tranquilo e ajeitou algumas mechas desgrenhadas de seu cabelo, tentando acalmá-la – Está tudo sob controle... Em breve nosso Funcionário do Mês irá resolver essa situação, mas antes temos que fechar alguns negócios. Faça um café ou um chá para eles, apenas deixe-os aguardando um pouco.  – Comentou o homem, apertando o botão do térreo no elevador de Isabelle e afastando-se para que ele descesse com ela de uma vez. A porta se fechou abruptamente e o que ficou para trás foi a figura feminina ainda confusa e querendo dizer algo, mas sendo interrompida pela porta fechada. Clark então virou-se e voltou na direção do garoto, sentando-se sobre a mesa, empurrando uma caneta, que na verdade era uma manivela. O objeto ativou um mecanismo que fez duas Ultra Ball surgirem do tampo da mesa.

– Eu concordo com sua ajuda, só precisaremos discutir um pouco sobre sua parcela financeira nisso tudo. E nada melhor do que discutir isso durante uma Batalha de Negociações...  – Comentou o Presidente, segurando as duas esferas em suas mãos e lançando-as ao ar. Dois Pokémon pesados saíram das cápsulas: um Nidoking e um Excadrill, ambos aparentando possuir bastante experiência, diferente das criaturas utilizadas no Processo Seletivo – WallKing, mostre ao nosso convidado como o Cenário Econômico pode ser tóxico! Comece com um duplo Sludge Wave! Você Mercadrill, vamos aumentar nossos investimentos iniciais com um duplo Sword Dance! – Comandou o homem, fazendo seus Pokémon se movimentarem com velocidade. – Vamos! Reaja rápido! Ninguém vai te esperar fazer escolhas, meu filho! Já que estamos começando, que tal 10% para você e os The Wolves e 90% para mim?  – Comentou Clark em um tom debochado para instigar a negociação. O que Gaulvi faria diante disso? ◄

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O Presidente parecia vir com tudo para cima de Gaulvi, que não se abalava e coordenava seus Pokémon com bastante tranquilidade. O treinador parecia ter visto que Excadrill era um alvo fácil para os seus dois Pokémon, por isso ordenou que Charizard e Gyarados, com um Flamethrower e um Waterfall respectivamente, concentrassem seus golpes diretamente na toupeira metálica. O próprio Excadrill, seguindo a orientação de seu mestre, não tomou qualquer iniciativa hostil, mantendo-se parado à espera dos golpes, enquanto concentrava-se nas ordens recebidas.

O primeiro a agir foi o veloz Charizard, lançando-se no ar em direção ao oponente com uma baforada de ardentes chamas, que faziam o revestimento metálico dele retorcer-se pelo calor. Em seguida, o próprio adversário agiu, mas apenas assumiu uma pose ofensiva, sem de fato partir par ao ataque, aumentando sua capacidade de ataque. Gyarados ainda estava um pouco longe de seu alvo, apesar de focar seus futuro golpe nele. Antes de acertá-lo entretanto, Nidoking aproveitou a distração de seus dois oponentes para preparar uma poderosa esfera de lama e outras sujeiras acima de sua cabeça, com o braço erguido e repentinamente a estourou, lançando uma onda venenosa na direção de Gyarados, Charizard e até de seu próprio companheiro, que nada sentiu por ser do tipo metálico. Por fim, Cristal envolveu-se em uma torrente de água, lançando-se no inimigo e causando um considerável dano, mas sofrendo as consequências "na pele", ao chocar-se contra o capacete de rochas que o Pokémon portava.

– Não querem dinheiro? Isso sim é curioso... Eu prefiro não envolver-me diretamente com vocês a ponto de compartilharmos uma base ou algo do tipo. Prefiro manter minha privacidade... Entretanto, como comerciante de ferro e aço, posso lhes ajudar com o material necessário para construir a base de vocês aqui em Rustboro se desejarem – Comentou o homem para o rapaz. Ele estava focado na batalha, mas também mantinha sua atenção direcionada à negociação. Parece que o fato da The Wolves não querer dinheiro havia desconcertado ele em sua abordagem. Enquanto isso, a batalha continuava feroz. Era notável que o escritório não sairia nada inteiro depois desse combate e parecia loucura alguém continuar uma batalha assim. Será que ele tinha algo em mente?

Charizard mais uma vez avançou na direção de Excadrill, lançando um ataque de fogo tão poderoso que arremessou a toupeira através da mesa de Clark, estourando também a vidraça da sala. O Presidente foi rápido em retornar sua criatura para a Pokéball antes que caísse trinta andares até uma morte certa, jogando-se em seguida para o lado e assim poupando sua própria vida das chamas. Apesar do perigo, ele sentia-se animado, pelo menos era o que sua expressão demonstrava. Clark retomou a compostura a tempo de ver Nidoking usar mais uma vez seu poderoso golpe venenoso, que arrastou Apolo e Cristal para os cantos da sala e encerrou a rodada. A maioria dos móveis encontrava-se levemente corroída pelo movimento de Nidoking, principalmente o carpete tomado de lama. O que Gaulvi faria agora? ◄


Campo: Escritório espaçoso, com móveis posicionados apenas nos cantos da sala. Batalha sobre um tapete grande e em tons vermelho e grafite.