#001 — O garoto que dança com fantasmas

Após sair do laboratório do professor Birch finalmente a jornada de Joe começava, agora poderia sair livremente para onde quisesse sem se preocupar com nada, principalmente em esporadicamente ser acordado cedo pelo seus pais fazendeiros. Tal liberdade deixava o jovem tão empolgado que o mesmo saía em velocidade para a rota 101 e sendo acompanhado lado a lado pelo seu fiel amigo, Gastly. Joe não possuía ambições tradicionais de um treinador como capturar todos e ser o mais forte, apesar que desafiar os líderes de ginásio era algo que queria experimentar, visto que uma das coisas que mais o deixava excitado era alguns treinos que fazia contra seus irmãos. Acima de tudo nessa vida queria fazer o bem sem olhar a quem e aumentar suas conexões com outros pokémons, esse sentimento também era compartilhado pela sua criaturinha.

Ao adentrar na rota, a dupla dava pequenos passos, não tinham pressa nenhuma para chegar ao outro lado; aproveitavam para admirar a beleza natural que o local poderia proporcionar e trocando entre si alguns breves comentários a respeito. Porém mal chegaram na rota, a barriga do treinador começava a roncar, lembrando que o mesmo não comia nada desde a noite anterior quando estava no navio a caminho de Littleroot. Gastly ouvia aquele barulho e respondia com um grunhido tímido, dando a entender que também queria parar para fazer uma boquinha.

— Estou com uma puta fome, acho melhor pararmos um pouco, né amigão? Só tenho alguns nuts na mochila, vamos ver se tem alguma árvore frutífera por aqui e sentamos na sua sombra. — Disse o treinador, que era respondido pelo seu pokémon com um balançar positivo pelo o ar. Em seguida olhavam ao redor a procura de uma árvore para aproveitar uma sombra e quem sabe umas frutas a fim de completar a alimentação.

Joe a passos lentos seguia pela sua primeira rota juntamente de seu Gastly, ambos estavam a procura de uma árvore frutífera e aproveitavam para observar a natureza presente no local. O jovem ficava encantado com o belo campo de flores ali presente tanto que não notava que o caminho possuía algumas poças formadas pela a chuva da noite anterior e acabava por passar por cima de algumas. Mesmo com os pés molhados, seu semblante permanecia tranquilo e também não ligava para o forte calor que fazia, até preferia esse clima tropical e sua vestimenta atual não negava isso, estava com uma camisa social com as mangas dobradas e todos os botões abertos deixando a mostra sua barriga.

Após passar pelo o campo florido, a dupla sentia uma leve brisa perfumada e junto com a mesma uma cena chamava a atenção: uma menininha que chorava sem parar. Pelo forte laço que possuíam o treinador e seu pokémon se olhavam no mesmo instante, se entendiam apenas com um olhar e pelo sentimento de bondade que passavam nas suas veias já era óbvio o que poderia significar; sem precisar falar nada e apenas com um balançar de cabeça saíram em direção daquela garota para poder ajudar, ignorando totalmente o aglomerado de treinadores na outra direção.

— Ei, jovenzinha! — Gritou, um pouco sem jeito. Conforme ia chegando mais perto da criança, ficava cada vez mais visível seu semblante e parecia que tinha por volta dos oito anos, idade parecida com a da sua irmã mais nova e isso acabava deixando o treinador mais apreensivo. — O dia está lindo, o que aconteceu com você? Posso ajudar? — Deu um sorriso, tentado parecer o mais amigável e confiável possível. Seu Gastly tentava fazer umas graças pelo o ar, tal brincadeirinha sempre dava certo com a caçula da família, talvez daria certo agora.

Gastly com sucesso conseguia acalmar a menina que aos poucos parava de chorar e se comunicava com uma certa dificuldade com a dupla; o fantasminha realmente tinha um grande carisma com as crianças e facilmente conseguia fazer elas se apaixonarem. Imediatamente passava pela a cabeça de Joe a cena de alguns dias atrás quando se despedia de sua família e sua irmãzinha sentia mais a partida do fantasma do que de seu próprio irmão.

— Olá, Camila. Me chamo Joe. — Sorriu e prestou atenção no resto das palavras da garotinha. — Não foi sua culpa. Nunca mais se culpe assim, viu? — No final de sua frase, a pequena apontava para um arbusto que dava para uma floresta. Em seguida, o treinador olhou fixamente para o local, tentando encontrar alguma coisa que poderia ter sido o motivo do pokémon não ter retornado.

Enquanto Camila interagia com o fantasminha, Joe ficava encucado com o sumiço daquele Poochyena, pegava sua pokedex em busca de mais detalhes sobre o mesmo. Se tratava de um pokémon canino, provavelmente não teria ido para muito longe dentro da floresta, exceto se tivesse encontrado com algum ladrão ou coisa do tipo; pelo seu pensamento positivo, o jovem descartava essa ultima hipótese. Logo, era interrompido no meio dos seus pensamentos pela a garotinha que perguntava a respeito do seu pokémon e dava mais detalhes sobre o Poochyena.

— Então... — Deu uma pausa dramática, ninguém nunca tinha perguntado isso antes e por trás dessa pergunta existia uma história um tanto quanto diferente. — Esse Gastly aqui não gostou de nenhum dos nomes que tentei dar para ele. — Em seguida deu um abraço em seu companheiro e ambos riam da situação. Logo a menina revelava o nome do seu pokémon e pedia ajuda para a dupla. — É claro que te ajudamos, será gratificante para gente te ajudar, se quiser nem precisa dar suas berries. Vamos atrás dele e no final vamos tomar um sorvete na cidade. — Olhou para as berries e reparou umas pequenas mordidas, talvez pudesse usar isso ao seu favor e retornou a falar expondo sua estratégia inicial para encontrar o lobinho perdido. — Primeiro passo, acho que podemos usar essas berries para ajudar a encontrá-lo, vamos caminhar com algumas na mão. Como ele é um canino, pode conseguir farejar elas e chegar até a gente. Segundo passo é com você Gastly, você vai usar sua vantagem aérea para tentar rastrear ele. Terceiro passo, vamos se manter perto um do outro, não sabemos como é dentro dessa floresta. Certo?

Os heróis esperavam a resposta de Camila para saírem em direção a entrada da floresta antes apontada. Com cautela e atenção adentravam naquela região buscando alguma pista do que pode ter acontecido com o Poochyena e aonde poderia estar.

Mesmo Joe falando que não precisava de recompensa, Camila resolvia presentear a dupla com duas Oran Berries, entregava uma para o Gastly que devido a sua fome comia a fruta em questão de segundos. A outra que estava um pouco mordida foi entregue ao treinador, que de bom grado e sorriso no rosto aceitava, agradecendo e guardando a mesma na parte da lateral de sua mochila; pensou em guardar em tal lugar por ser uma parte "aberta", talvez com sorte o Poochyena podia farejar a fruta e se encontrar com a dupla que estava ao resgate.

Antes de entrar na floresta, a garotinha dava um rápido confere além do arbusto. Retornava contente com o que via, pulava de felicidade por ter encontrado algumas pegadas de seu pokémon e em seguida abraçava o treinador que retribuía com um cafuné nos cabelos da jovem; aquele fio de esperança transmitida em felicidade era gratificante em se ver.

— Pode deixar que vamos trazer o Sorvete de volta. Não saia daí.

Logo os heróis adentravam na selva, imediatamente localizavam as marcas de patinhas do pequeno lobo no chão terroso. Não seria nada fácil encontrar o pokémon por causa do temporal do anterior, porém o jovem permanecia esperançoso em sua busca e seguia adiante, sem passar por cima das marcas para poder se guiar pelas as mesmas em sua volta. Então davam de cara uma floresta mais densa e dificultando ainda mais a missão, Joe não tinha medo do ambiente em si, mas resolvia se precaver e entender melhor os perigos que poderia encontrar; buscava em sua volta alguma pegada de humano, uma pequena peça de roupa presa na árvore ou qualquer outra coisa do tipo, até mesmo o tal graveto que a menina teria jogado para o canino.

— SORVETE, ESTÁ AÍ? — Gritou, já emendando com outro grito. — TEM ALGUÉM AÍ? — Enquanto esperava por algum sinal sua barriga roncava novamente; Joe aproveitava a parada para comer seu saquinho de nuts que levava em sua mochila e dava alguns para seu faminto fantasminha.

Joe estava comendo seu mix de nozes, castanhas e amendoins quando poucos minutos após o seu grito se ouvia uns latidos abafados vindo de uma velha árvore. A surpresa era tão grande, por ter encontrado uma pista ainda melhor do pokémon perdido, que acabava por fazer o jovem se engasgar com uma casca de amendoim; começava tossir sem parar até voltar a si depois de um certo momento, com seu rosto todo vermelho.

— Agora sim, temos alguma idéia a respeito do Poochyena, amigão. — Soltou mais uma tosse e em sequência pigarreava para aliviar o incomodo da garganta. — Mas pelo jeito o caminho não será nada fácil. — Disse observando fixamente todos os troncos caídos pelo o chão.

Derrepente um silêncio tomava conta do lugar, o pequeno canino parava de latir e isso preocupava a dupla. Quando se preparavam para correr em direção à árvore, um barulho quebrava o silêncio da situação, era um Wurmple que saía de dentro de um dos troncos e tampava a passagem. Talvez, Joe não tivesse muito tempo para resgatar o Poochyena e qualquer tempo perdido numa batalha pokémon poderia ser crucial.

— Não sei se você ouviu uns latidos agora a pouco, se trata do pokémon de uma conhecida minha e ele pode está correndo perigo. Deixa a gente passar, por favor. Não queremos te machucar. — Tentou uma comunicação com o inseto em sua frente. Era bem capaz dele não entender nada de suas palavras e um embate inevitavelmente iria acontecer. — Gastly, fique ligado! Se ele partir pra cima da gente vamos revidar com dois Lick. — Disse com um tom de voz baixo, no qual apenas seu companheiro poderia ouvir.