#001 — O garoto que dança com fantasmas

Joe após recuperar seu dinheiro ficava observando o policial se contorcendo de dor, aquilo de certa forma até causava um sentimento de pena, mas depois de tudo que passou na mão do rapaz, não iria mexer um dedo para poder ajudá-lo. Hailee negava pegar algo que não era seu, o treinador respondia com um aceno positivo com sua cabeça, realmente aquela era a decisão certa a se fazer.

— Certo, concordo com você. Te ajudarei a devolver para os donos. — Sorriu. — A propósito, desculpa por ter dado ordens para seu Staravia antes, é que... — Disse meio sem jeito e no meio de sua frase, Gastly interrompia com um grunhido e intercalando sua ação entre flutuar em círculos e sinais com a cabeça para a floresta. Definitivamente o fantasminha estava agindo de forma diferente de seu temperamento, parecia que estava tentando avisar alguma coisa. — Enfim, temos que sair rápido daqui, parece que o Gastly encontrou algo. — Disse olhando para Haile e apontando para seu pokémon. — Vamos, amigão. Qual é o caminho?

Esperou a resposta das irmãs e em seguida o herói saía em velocidade seguindo seu Gastly em direção da floresta, onde o mesmo estava apontando. Não titubeou em seguir para a floresta, afinal era de lá que sua criaturinha tinha vindo, provavelmente deve ter visto algo perigoso se aproximando e está evitando. Ou quem sabe alguma ajuda de alguém bondoso? Seja o que fosse, tinha total confiança em seu Gastly e seguiria adiante.

Ao adentrarem na floresta, o grupo ficava seguindo o já nervoso Gastly que ditava o novo rumo para eles. Não sabiam e nem tinham idéia da onde podiam parar, mas suspeitavam que boa coisa não era e seguiam o caminho conversando entre si, até mesmo para diminuir o nervosismo ali presente.

— Então estamos quites. Se não fosse você eu estaria até agora desmaiado naquele buraco. — Sorriu. — Vai dá tudo certo, tenho fé.

Gastly seguia em alta velocidade, parando algumas vezes para ser acompanhado pelas irmãs que seguiam com uma certa dificuldade. Em um determinado momento do caminho, o fantasminha parava e fazia sinal para evitarem de fazer barulhos, Joe entendia perfeitamente o que seu parceiro fazia e tentava "traduzir" para as meninas levando seu dedo indicador em direção a boca, um sinal clássico de silêncio.

Em passos lentos, chegavam em uma pequena depressão, Joe atento e com um "pulo" em reflexo, conseguia escapar de cair naquele buraco. Camila ao perceber o que se tratava, tentava gritar de desespero e por sorte, era interrompida pela sua irmã. Curioso, o treinador chegava perto para saber do que se tratava, infelizmente era mais uma cena chocante, dois corpos desfigurados no fundo que poderiam ser identificados por causa de um galho enfiado no pescoço. Só conseguia fechar os seus olhos por alguns segundos e fazer uma breve uma oração em sua mente para que a alma dos dois fosse perdoada, mesmo que Ed e Aron fossem meliantes não mereciam um cruel fim que era a morte. Tal gesto era compreendido por Gastly, que também fechava o olho e repetia a reza na sua mente, ou quase isso.

Logo o fantasma se recompunha e guiava novamente o grupo, dessa vez em direção ao falatório, precisavam ainda mais de cuidado para não chamar atenção. Mesmo com a tensão dominando o ambiente, acabava por ser algo positivo, aquela sensação ruim de polícia corrupta era desfeita e podiam confiar novamente em policiais de verdade. Descobriam que estavam lidando com bandidos perigosos se passando por policiais, quem sabe nem o próprio "coronel" se chamava Jeffords... De qualquer maneira, precisavam logo sair daquela tortura, o cheiro de álcool era horrível e trazia más lembranças para a Hailee que era acalmada com um abraço apertado de Yokosuka, que sentia em seu ombro algumas lágrimas e a tristeza que a mesma tinha passado; era algo que ninguém tinha que passar, nem seu pior inimigo.

Definitivamente confrontar os ladrões não era a atitude mais sensata a se fazer, visto que Hailee não tinha seu pokémon mais forte e os pokémons do nosso herói não estavam com a vida completa, seria maluquice. Com isso em mente, Joe saia dos braços da moça de cabelos rosas e fazia um sinal para o grupo sair dali o quanto antes, apontou para Hailee para a mesma guiar até a saída e por ela ser local, poderia direcionar todos a um lugar seguro. Caso contrário, iria tomar a liderança e caminhar com cuidado em direção oposta do grupo de falsos policiais.

De fato era uma cena triste de se ver, o grupo dava um abraço coletivo em Hailee que estava acabada com tudo que tinha acontecido. Joe se segurava para também não cair em prantos, por tudo que passaram juntos desde o assédio sofrido pela treinadora e por causa de Camila, com tudo que a mesma tinha presenciado, era algo muito pesado para uma criança passar e que pode causar traumas.

Assim que Hailee se recuperava, nossos heróis decidiam pela a atitude mais sensata, agachados e em passos lentos tomavam o rumo para longe do local. Gastly, no calor do momento, queria fazer com que aqueles caras pagassem pelo o que fizeram; Yokosuka entendia a satisfação dando um breve abraço no seu fantasminha, o jovem também queria dar uma punição nos vilões, porém estavam fragilizados e era capaz de só piorarem a situação.

Após uma longa caminhada agachados, chegavam em um ponto que parecia tranquilo e afastado. Ficar agachado era algo muito desconfortável, rapidamente o treinador ficava em pé, se espreguiçava esticando todas partes do seu corpo e soltava um breve bocejo.

— Parece que agora é tranquilo para seguirmos. — Quando terminou de falar, Camila se encostava em uma árvore, já cansada. Hailee se mostrava uma irmã bastante atenciosa e resolvia carregar a garotinha em suas costas. — É tão fofo ver o amor entre irmãos. Mal comecei minha aventura e acho que já estou com saudade dos meus. — Sorriu e seguia para a direção apontada pela moça de cabelos rosa.

Logo chegavam na parte populosa da rota 101, era possível ver o estrago que foi causado; carrinhos de sorvete tostados, ambulâncias e policias por toda a parte e alguns curiosos para saber o que tinha ocorrido. Joe ainda estava se recuperando do choque causado, ficava parado e olhando para todas as direções, totalmente perdido e sem saber o que fazer.

— Finalmente chegamos, será que estamos seguros? — Perguntou para o grupo. Gastly também não sabia o que poderia acontecer e agora parecia mais calmo que antes. — Droga... Destruíram até os carrinhos de sorvete. — Disse indignado, queria pelo menos cumprir sua promessa e fazer com que a pequena Camila se sentisse melhor.

Ao olhar pra frente, reparava uma mulher indo em sua direção e se mostrava preocupada. Parece que dessa vez era uma policial de verdade e isso era um alívio para o jovem.

— Estou bem, na medida do possível. Então... é uma história longa, mas encontramos com os bandidos que causaram essa confusão toda. — Assim que terminou de responder a policial, a mesma direcionava nossos heróis para um dos médicos. Sem questionar, Joe seguia para a direção apontada e sentava em um banquinho, esperando ser atendido pelo médico e a policial retornar para poder explicar toda a história.

Enquanto estava sentado em um banquinho nada confortável, o jovem esperava pra ser atendido e ficava observando Hailee e Camila sendo atendidas dentro da ambulância. Assim que seu olhar ia de encontro com as enfermeiras presente no local, caía a ficha de tudo que tinha passado até agora; abaixou a cabeça e levava a mão na sua cabeça enquanto passava um flashback da sua rota que começava tão tranquila e se transformava a tal ponto de está no momento prestes a ser atendido por especialista da saúde. Logo seus pensamentos eram interrompido por um dos enfermeiros do local, ainda perplexo e com passos lentos entrava na ambulância, sentando na maca para receber seus cuidados médicos.

— Pois é, foi horrível o que passamos. — Respondeu, sentindo o enfermeiro fazendo os primeiros socorros e limpando os resquícios de sangue. — Pelo jeito aqui foi pior do que imaginei, só consegui ouvir uma explosão e fumaça pra todo o lado. Infelizmente também damos de cara com falecimentos. — Disse, sendo notório o desconforto em suas palavras.

Os cuidados médicos chegavam ao fim, se levantava da maca e assim que saía da ambulância conseguia ver a moça de cabelos rosas com seu Staravia, que trazia uma notícia.

Percebendo toda aquela movimentação entristecida das irmãs, o treinador deduzia que o pior teria acontecido com o pequeno Poochyena. Sentia um calafrio em seu corpo e segurava as lágrimas, era de partir o coração de qualquer um ver o falecimento precoce de um pokémon e ainda tendo que lidar com o sofrimento de uma criança. Joe por mais que quisesse fazer algo, ficava paralisado e não conseguia realizar mais nenhuma ação, martirizando em sua cabeça a culpa da morte da criaturinha.

Camila percebia e corria em direção do treinador, dava um abraço e trazia consigo a confirmação da triste notícia. Yokosuka caía em prantos e respondia dando um cafuné nos cabelos da pequena a fim de confortar a mesma.

— Eu sinto muito... — Disse em um tom melancólico e secando as próprias lágrimas. — Aham, irei para Oldale. Estou indo encontrar com minha irmã e depois venho te visitar, prometo. — Assim que fez sua nova promessa, recebeu mais um presente e guardou em sua mochila. — Obrigado, você é uma menina muito especial, sabia? Não merecia passar pelo o que passou. — Soltou um sorriso forçado e dessa vez enxugava as lágrimas do rosto de Camila.

Joe ainda se recuperando do choque sofrido, sentava novamente no banquinho e ficava observando Camila indo em direção ao sul. Já Hailee sentava do lado do nosso herói e percebia que o mesmo estava abalado, a moça tentava uma conversa a fim de deixá-lo melhor.

— Rezo para isso, que ela fique bem. — Suspirou. — Vocês duas são muito fortes. Venho de uma família muito religiosa e isolada em uma fazenda, então raramente acontece uma morte. Pra gente, a morte tem que ser algo natural, é o que chamamos de "passagem"... Assassinato é totalmente abominável. — Resolveu se abrir e contar mais sobre si, o mesmo tinha uma certa confiança em Hailee.

No meio de sua conversa, a policial de antes retornava caminhando em direção da dupla. Joe se mostrava tranquilo e acenava positivamente com a cabeça para a treinadora ao seu lado, dando a entender que nada de ruim iria acontecer com os dois. A policial parava em frente dos dois, pegava seu bloco de notas e começava as perguntas para os jovens, Hailee tomava a iniciativa e começava a contar a história. Já o treinador só concordava com a mesma e completava algumas informações que ela poderia ter esquecido.

[...]

— Agora acabou, né? Podemos aproveitar nosso momento de paz. — Disse ao ver os policiais adentrando na mata. — Quero nem ver como eu estou, nem camisa eu tenho mais. Preciso de um banho e roupas novas. — Deu uma risada, sendo acompanhado de uma gargalhada pelo seu Gastly. — Aceito a carona! Vai que caio em algum buraco pelo caminho. — Sorriu, relembrando de como conheceu a garota e fazendo piada de si. Agora que a poeira tinha abaixado, mostrava quem realmente era: uma pessoa sociável e de bom humor.

Logo o grupo seguia em direção ao norte em passos lentos. Joe em uma ação um tanto quanto curiosa, retirava de sua mochila um papel e caneta, não parando de escrever durante o percurso.

Após alguns segundos, terminava de escrever e dobrava o papel, guardando no seu bolso junto uma nota de PK$10, fazendo uma espécie de carta de correspondência.

— Pronto, terminei. Tava pensando aqui, sabe... Por ser iniciante o quanto tive dificuldades nas batalhas de antes, que tal uma batalha 2x2? Você é tão experiente, isso iria me ajudar e pode ajudar também o Gastly e o Shroomish a se entenderem. — Propôs o desafio, segurando a pokebola do seu Shroomish. O fantasminha, mesmo sendo bastante exigido anteriormente, parecia animado com a idéia e soltava um grande sorriso mostrando seu único canino.

O sentimento de calmaria finalmente se fazia presente. A rua estava um tanto quanto deserta, poucas pessoas podiam ser vistas, além da natureza que também era possível ser admirada. Joe iniciava uma conversa com Hailee e olhava para o céu, ficando encantado com a rota de vôo do Staravia que parecia muito contente por poder desfrutar de toda aquela paz.

— Claro que é experiente. Olha essa sua ligação com o Staravia. — Sorriu. — Posso até perder, mas não será nada fácil. — Enquanto a moça delimitava o campo de batalha, o jovem aproveitava pra lançar a pokébola que estava segurando, dando origem ao seu Shroomish.

— Ei, amiguinho. Topa uma batalha em dupla? — A criaturinha parecia animada com a idéia, via seu treinador e saia para dá uns beijinhos no mesmo, Joe respondia com alguns carinhos. Assim que Shroomish descobria quem seria sua dupla, se sentia desconfortável. — Olha, o Gastly é muito do bem, JURO. — Disse dando enfâse na sua ultima palavra. Gastly se sentia meio acanhado e ia se aproximando aos poucos. — Garanto que essa parceria será divertida, se você não gostar prometo que será a ultima, ok? — A criturinha planta ficava meio receosa, mas no fim acabava topando e se preparava para o embate juntamente do fantasma.

Hailee assim que terminava de delimitar o campo, soltava seu Cleffa e já dava os primeiros comandos. Rapidamente, Yokosuka preparava estratégias em sua cabeça, analisou bem o campo e ao redor. Inicialmente resolvia começar com alguns golpes para suporte e conhecer mais a respeito do que o adversário poderia fazer.

— Mas não é pra pegar leve mesmo. Só vamos! — Disse animado com a partida.

— Gastly, utilize dois Hypnosis no Staravia. Se acertar de primeira, utilize Night Shade no Cleffa. — Deu uma pausa para recuperar fôlego e voltava com as ordens. — Shroomish, utilize Leech Seed no Staravia e ataque com Mega Drain no Cleffa.