(004) - This Is Why We Can't Have Nice Things

Estava tudo muito estranho naquele local; o ambiente, as pessoas, os Pokémon. A ilusão do Pokémon noturno se desfazia e era óbvio que era um Pokémon ilusório, como pude ser tão burra? Busquei minha Pokédex rapidamente e obtive as informações necessárias.

Kirlia gemia levemente por conta da sua dor de cabeça, o que me deixou extremamente preocupada. Dei alguns passos para trás, em distância daquele Pokémon que claramente levava vantagem sobre todos os meus... Se o homem quisesse lidar com isso, era serventia da casa.

— O que está acontecendo? — perguntei ao velho de roupas sociais, afinal, não tinha ideia de nada que acontecia — E eu só queria ajudar a Starmie. Que inferno.

Reclamei dando alguns outros passos para trás, já que se tivesse que correr, pelo menos tinha vantagem dos meus psíquicos serem relativamente rápidos. O que fazer diante dessa situação?

Não é do meu feitio me intrometer nas coisas dos outros, mas após a fala desconfiada do homem, resolvi pensar estrategicamente. Claro que não iria me recusar a sair dali já que os dois poderiam juntar em cima de mim e dos meus psíquicos, então, o que fazer? Respirei fundo e com a dor de cabeça de Kirlia ainda mais intensa, resolvi recuar. Não para o lado, nem para trás, mas para a frente do homem. Entre ele e Zoroark. Primeiro porque ninguém fala assim comigo, segundo porque as coisas estavam estranhas demais e eu não sabia da missa, o terço.

— Tem certeza que as coisas não podem se resolver amigavelmente? — massageei as têmporas — Tudo nessa região se resolve na porrada ou no estresse... — reclamei, já que em Johto as pessoas sabiam conversar, diferente de Hoenn — Se a mulher sequer está aqui, por que quer atacar o Pokémon? Não vê que ele está irritado? — apontei para Zoroark que mostrava os dentes para o homem — Sem falar na Starmie que está ali sofrendo desesperada.

Ajeitei minha postura, colocando o pé direito na frente e o esquerdo atrás, no caso do homem resolver partir para cima de mim e não dar tempo de Sushi ou Mochi intervirem. Olhei séria para a cara do velho, prendendo ainda mais forte meus longos cabelos no rabo-de-cavalo.

— Me conte o que ela te roubou, que aí eu penso se deixo você passar. — para o meu tamanho sou extremamente desaforada — Se ela estava bancando a heroína, não foi algo de ruim que ela fez, certo? — meu semblante mudou, agora um pouco desafiador — Péssima escolha de palavras, rapaz.

Estranho como me sentia um pouco brava por estar sendo "lecionada" sobre a vida por um homem estranho que sequer sabe da minha história. Geralmente pouco me importo com que dizem sobre mim, mas dizer que eu não comi o pão que Giratina amassou era demais, ainda mais com tudo que passei minha vida inteira após o assassinato da minha família. Meu sangue começou a ferver, até que vi uma esfera negra que parecia uma Pokéball, mas não tanto... Sabe-se lá o que ele planejava, mas não o deixaria seguir em frente com seu plano.

— Sushi, Thunder Wave! — exclamei, já correndo na direção do homem para retirar aquela esfera estranha de sua mão.

A velocidade do psíquico era absurda, então, contei com isso para que parasse qualquer que fosse o plano do homem. Comecei a deixar que a Karinna irritada e inconsequente começasse a tomar contar de mim. Sei que era extremamente proibido utilizar de Pokémon para atacar seres humanos, mas ninguém estava olhando, certo? Não poderia deixar que o homem continuasse falando merda e me ameaçasse como se eu fosse uma pobre garotinha loira mimada. Coitado.

Utilizei do impulso meu pé esquerdo que já estava para trás para correr na direção do homem. Não havia me distanciado muito, então, não demoraria para que o atingisse: minha ideia era utilizar de todo o peso do meu corpo para jogá-lo no chão, ainda mais depois que Kadabra tivesse paralizado ele... Caso meu psíquico não conseguisse, ainda seria uma baita de uma porrada.

Seria uma ótima hora para a tal Margot aparecer e me ajudar, afinal, estava comprando o barulho de uma mulher que eu sequer conheço.

Que inferno.

Enquanto corria na direção do velho, os raios amarelos desferidos por Kadabra passavam pelo meu lado, atingindo-o em cheio. Graças a Arceus a velocidade de Sushi fora o suficiente para acertar o homem antes dele realizar o que quer que tivesse planejado. Assim que o alcancei, chutei seu peito com o pé direito, o que faria com que caísse para trás e eu pudesse pisar com o pé esquerdo em cima do seu pulso, impedindo-o de alcançar seja lá o que for que estivesse no seu bolso. Aproveitaria para chutar para bem longe com o pé direito a tal esfera alvinegra que tinha em suas mãos.

— Pode me xingar que não me ofende, seu merda. — claramente minha paciência tinha ido pro saco com todos os xingamentos, a Karinna que vive presa dentro de mim já começava a tomar conta — Já lidei com gente muito pior que você por aí. — respirei, dando um chute entre as pernas dele — Você não me conhece... Não te ensinaram em 1800 que foi quando você nasceu que não se deve subestimar ninguém? — olhei rapidamente para lado para perceber a presença de Pidgey, que parecia querer defender seu treinador — Mochi, lide com ele com dois Confusion! Utilize das ondas psíquicas para afastá-lo de perto de mim.

Não mexi um músculo. Continuar imobilizando o homem era o melhor a se fazer, pelo menos até alguma ajuda aparecer. Pressionei ainda mais o meu pé esquerdo sobre o pulso do homem, na intenção de fazê-lo sentir mais dor, principalmente porque lembrei de ter me xingado de putinha. Putinha?  Um homem velho desses.

A situação continuava a escalar para algo pior com o passar do tempo, assim como meu temperamento. O desejo de começar a socar a cara daquele velho aumentava a cada segundo que passava, o que me deixava mais agoniada ainda, com a adrenalina sendo bombeada cada vez mais pela minha corrente sanguínea.

Parei para pensar por alguns segundos e a pergunta que me deixa inquieta é: cadê essa filha da puta dessa Margot? Os Pokémons dela não servem nem pra me ajudar, nem pra fugir, nada. Me irritei mais ainda.

— Saiam daqui, anda! — enxotei Zoroark e Starmie dali com a mão esquerda, já que o foco principal do caquético que jazia no chão era pegá-los para achar sua treinadora — Vão pedir ajuda! Façam algo!

A situação escalava ainda mais rápido que anteriormente. Sabendo que estava com a vantagem, não percebi que o rosto do homem começava a se cobrir por uma cor rúbea e estranha... Que poderia ser aquilo?

Antes que pudesse me dar conta, vi meus psíquicos serem arremessados para longe, bem como meu corpo ser envolto por um tipo de vinha elástica azulada. Tentei me mexer para correr mas estava complicado, o que me deixou ainda mais agoniada. Sushi e Mochi estava longe, com o poder do impacto do ataque de seja lá o que for aquele bicho.

Comecei a olhar a minha volta para ver se tinha alguém para pedir ajuda, mas era em vão. Pensamentos começaram a surgir na minha mente se era realmente assim que eu morreria: não mãos de um velho, que estava atrás de uma ladra-heroína. Já imaginei minha morte tantas vezes e de tantas maneiras, mas nunca de um jeito tão ridículo quanto esse.

O homem continuava a falar e uma coisa chamava minha atenção: "mais um Stone Edge", ele disse. Mais um. Me virei para trás e com a força do ódio gritei para Kadabra.

— Sushi, sei que está difícil mas se esforce para um último pedido! — tentei acalmá-lo e vê-lo quase desmaiado me deixava com o coração divido entre ódio daquele velho e pena dos meus nenes — Use seu Disable o mais rápido possível!

Era um tiro no escuro, mas era tudo que conseguiria fazer. Com as mãos vazias, tentei alcançar as esferas bicolores de cada um e ordenei que retornassem; pelo menos com a corda elástica cobrindo meu corpo, eles estariam a salvo. Inclusive, contando que Disable terá efeito, aproveitaria a deixa para correr o mais rápido que conseguir, seguindo na direção da tal cabana que Zoroark e Starmie se esconderam.