Um Novo amanhecer - Tony Dragnell

Um novo amanhecer!

Deixando a cidade litorânea de Slateport para trás, Tony decidia encaminhar-se para o norte, onde tiraria um tempo para si mesmo e para almejar ainda mais seus objetivos.

O clima da rota 110 não estava convencional: o sol, tão característico da região de Hoenn, estava escondido, tímido atrás de algumas nuvens carregadas de chuva. Era possível já ver algumas das pessoas presentes apressando o passo para fugir do pé d'água que cairia em algum momento.

Assim que começou a caminhar, nosso herói era surpreendido por dois policiais, que se aproximaram com uma feição um tanto quanto preocupada:

— Olá, rapaz. — o primeiro, de porte grande e alto, tomou a dianteira — Se pretende atravessar até Mauville, peço que tome cuidado. — apontou na direção norte da rota — Um ladrão acaba de assaltar a joalheira de Slateport e deu fuga para cá. — respirou fundo — Tente tomar cuidado e não sair da estrada, não sabemos o quão perigoso ele é.

— Tudo que sabemos é que o ladrão utiliza somente Pokémon do tipo fogo e veste uma máscara branca. — o segundo começou a falar, já dando as costas e verificando o perímetro — Cuidado!

Dito isso, ambas forças policiais se afastavam e começavam a falar no rádio, talvez com outros que estivessem espalhados pela rota à procura do malfeitor. Quem diria? Tony acabara de enfrentar um Rocket e já estava em outra situação que envolvia ladrões... O jeito era torcer para não dar de cara com o criminoso.

A rota 110 era conhecida pelos seus diversos Electrikes que correm dentre seus grandes campos de mato-alto, estes últimos que enfeitam toda a extensão da estrada que leva à Mauville e à rota 103. Em seu leste, uma grande orla de praia chamava atenção, com ondas furiosas que assustariam qualquer um que se aproximasse.

Tony tinha algumas opções em suas mãos: seguir pela estrada como dito pelos policiais, caminhar pela orla ou arriscar e seguir caminho por dentro do matagal.

Um novo amanhecer!

Aventureiro e com seu orgulho de futuro Ranger inabalável, nosso herói decidia se aventurar pelo meio do mato ao invés de seguir as instruções dos policiais. Espoleta parecia curtir a ideia, bastante animada e cheirando a grama que caminhavam de um em um segundo, obedecendo seu treinador com maestria.

O caminho não tinha muito mistério, menos ainda algo para fazer: para onde Tony olhasse, havia mato e mais mato, o que impossibilitava o rapaz de visualizar as coisas de muito longe. Apesar disso, com mais alguns minutos de caminhada à sua frente, o mato começava a cessar para dar lugar a uma pequena floresta de árvores de copa baixa.

A chuva começava a cair, acompanhada de alguns trovões aqui e ali... Parecia que um dilúvio vinha por aí e não cessaria tão cedo. Espoleta parecia estar começando a ficar incomodada com a água; por ser do tipo fogo, o elemento não era lá de seus preferidos.

Ao adentrar a floresta e após caminhar mais um pouco, Tony daria de frente com uma grande lareira recoberta pelas copas das árvores, onde um saco bege aparentemente abandonado repousava. Porém, não havia ninguém por perto.

O que fazer?

Um novo amanhecer!

Ao observar o grande saco aparentemente abandonado no meio da floresta, Tony fez exatamente o que um Ranger faria: se escondeu em um alto arbusto, observando de longe o objeto e procurando investigar se pertencia ou não ao temível ladrão mencionado pelos policiais alguns minutos atrás.

Espoleta agachou junto com seu treinador, mas logo acabou desprendendo sua atenção para uma pequena pedra que vira no chão, se distraindo um pouco do objetivo: a canídea mordia a pedra e soltava repetidas vezes, dando alguns tapas com as patinhas dianteiras de vez em quando na esperança de mudar o resultado. Infelizmente, a pedra era somente um cascalho comum, fazendo com que a Pokémon se emburrasse por poucos segundos; não só por isso, mas também por já estar ensopada pela água do temporal.

Azulzinha, por outro lado, parecia se divertir bastante: a chuva parecia relaxar ainda mais seus já naturalmente calmos ânimos. Afinal de contas, a primata é uma aquática! Água é uma das coisas que mais gosta nesse mundo e nas costas de nosso herói conseguia aproveitar bastante do clima, até mesmo abrindo sua boca para engolir os pingos de água em brincadeira.

Alguns minutos se passaram e nada do dono daquele saco aparecer... Será mesmo que era do ladrão? E a pergunta que não quer calar: Tony esperaria um pouco mais ou a curiosidade tomaria conta de seu ser?

Um novo amanhecer!

Movido pela curiosidade, nosso herói decidia caminhar sorrateiramente na direção do misterioso saco. Espoleta o acompanhava atentamente, deixando até mesmo sua obsessão por pedras de lado para focar no que realmente importava. Enquanto se aproximava, o ambiente continuava o mesmo, a chuva continuava caindo e nem sinal de qualquer ser vivo ao redor.

Se Tony abrisse, veria que dentro da bolsa estava exatamente o que os policiais buscavam: as jóias, algumas de ouro e outras de prata, todas emboladas por no fundo do pano. Mas... por que diabos o ladrão largaria o que teve tanto trabalho para roubar? Ainda mais ali, no meio da chuva e na floresta? A não ser que fosse uma armadilha.

E era.

Só deu tempo de Espoleta dar um salto para trás e escapar de um fogaréu azulado que por muito pouco não a atingiu, proveniente de um famoso ataque do tipo dragão, Dragon Rage. Ao olhar na direção do ataque, lá estava exatamente o homem que o policial havia descrito: alto, forte, com uma máscara no rosto e uma capa preta que só não voava porque estava encharcada da chuva. Ao seu lado, uma belíssima porém mal encarada Salandit sorria maliciosamente para nossos heróis.

— Ora, ora... o que temos aqui? — a voz do homem era grossa e ele mantinha uma distância considerável — Ladrão roubando ladrão? Que coisa feia. — balançou a cabeça negativamente algumas vezes — Vamos, devolva o que me pertence e também o que tem dentro dessa mochila. — o malfeitor acariciou a testa de sua Salandit — Podemos fazer isso do jeito bom ou do jeito ruim.

Um novo amanhecer!

Com o nervosismo a flor da pele e vestindo a honra de seu pai, Tony achava a oportunidade perfeita para prender o ladrão e retornar as jóias para a polícia. O problema era que o malfeitor não parecia tão disposto assim a se render, o que talvez complicasse um pouco as coisas para o nosso herói.

— Se é uma batalha que você quer, é uma batalha que terá. Essas jóias são minhas e de mais ninguém. — o ladrão apontou para frente, na direção de Espoleta — Toxic e Venoshock!

E assim a batalha dava-se início em meio à terrível chuva. A salamandra era a mais rápida dentre os dois e já começava girando seu corpo em noventa graus, iluminando sua cauda em roxo: aos poucos, uma espécie de líquido arroxeado e corrosivo saía e atingia Growlithe diretamente em seu rosto, deixando-a seriamente envenenada. Mesmo assim, Espoleta corria com suas presas à mostra e mordia com bastante força a venenosa, arremessando-a alguns metros para trás somente com a força da mandíbula.

Irritada por ter sofrido grande dano, Salandit saltava no ar e inclinava sua cauda para frente, de onde saíam agora diversos feixes roxos, que atingiam a canídea com grande potência, afinal, Venoshock é um ataque que dobra seu poder caso o alvo esteja envenenado. Espoleta emitia um som de dor após o poderio do ataque inimigo, mas logo fechava a cara e retribuía com mais um Bite.

Após se reposicionar, a fiel escudeira de Tony sentia seu corpo se intoxicando gradualmente pelo veneno que estava corroendo sua corrente sanguínea.

— Esse seu cachorrinho não vai aguentar muito tempo, rapaz. — o vilão gargalhava — Salandit, acabe com isso de uma vez: duplo Venoshock!