[Battle Tower] Quarta Fase Amadora: Luta B2

É, a temida hora finalmente havia chegado.

Depois de alguns conturbados dias durante as batalhas de grupo, onde emocionalmente havia sido esgotada por ter visto uma antiga amiga, hoje posso dizer que estou plena. É, plena. Não tranquila, não leve, não serena: plena. Talvez pela pesada dramatização que a palavra carrega é exatamente assim que me sinto. Decidi colocar meu passado para trás como deveria ter feito há muito tempo e parece que havia me livrado de pesadas correntes que me puxavam para baixo. Como um Taillow que finalmente aprendeu a voar depois de vinte-e-um anos tentando. Sei lá, são muitas metáforas só pra dizer que estou preparada emocionalmente para o que vem a seguir. Anabel que me aguarde.

Obviamente, apesar das más línguas, não sou maluca o suficiente para achar que ganho fácil da temida treinadora. Sua fama a precede e desde a primeira batalha há alguns dias era ouvido que a jovem de cabelos arroxeados dizimava times como café-da-manhã. Não duvido. Primeiro porque não a conheço e segundo porque é melhor estar pronta para o pior de qualquer maneira.

Terminei de me arrumar no Centro Pokémon, penteando gentilmente minhas longas madeixas loiras e prendendo-as em um forte rabo-de-cavalo. Aproveitei para ajeitar as coisas na minha bolsa para não precisar voltar aqui. Não vejo a hora de ir embora desse lugar. Não me leve a mal, o torneio é ótimo mas Mu Island é simplesmente triste demais pra mim. Não só porque pretendo deixar as más memórias vagando pelas ruelas perigosas dessa ínsula mas também porque... Bom, é feia. Superficial, eu sei, mas se tem um lugar que Arceus fez e esqueceu de visitar foi aqui. Sujeira, água poluída, altas taxas de criminalidade... Não que a última opção seja ruim pra mim mas qual a graça de roubar algo onde todo mundo quer furtar todo mundo? Tenho quase certeza de que a regra do "ladrão que rouba ladrão (...)" foi inventada aqui.

Em passos largos finalmente e me encaminhei para o último embate. Minha cabeça geralmente estaria a mil por hora nesse instante, mas a realidade é que independente do resultado ficarei feliz; logo eu, que me importo tanto com vitórias e derrotas. Pergunto-me se estivesse assim alguns dias atrás se não teria feito aquela maldade com o Mr. Mime do mono-treinador de fadas. Não posso mudar o passado, mas uma pontinha de remorso machuca meu sub-consciente toda vez que lembro do sangue do psíquico pintando aquele terreno de rubro.

Balancei a cabeça negativamente algumas vezes e adentrei o edifício. Sem muitas delongas, segui para o elevador escoltada por alguns Staffers e apertei o botão do último andar. Se antes não estava nervosa, agora começava a sentir o característico formigamento nas pernas, junto com a visão turva que me impedia de ver em qual andar já estávamos. "Não é hora disso!", repeti para mim mesma internamente pelo menos umas dez vezes.

Engoli seco e decidi arrancar o band-aid de uma vez só; se decidisse parar para conversar com a minha cabeça, provavelmente entraria em surto nervoso e iria embora com o rabo entre as pernas. Assim que as portas do elevador se abriram, corri o máximo que pude até meu destino, como naqueles clássicos episódios de Meowth & Rattata tão famosos no século passado, onde o rato corria dez vezes mais rápido que o gato mesmo tendo um décimo do seu tamanho. Imagine meu consciente como o roedor e o sub-consciente como o felino. A ideia é mais ou menos essa.

Mas o corredor para a arena nunca pareceu tão fundo e tão estreito. Talvez a estética da cobertura fosse diferente dos demais andares, mas me convenci que era minha mente tentando pregar mais uma peça. Respirei fundo, buscando coragem no âmago do meu ser para dar mais um passo e sair em campo. A apresentação do hoster também não ajudava muito, colocando uma pressão na minha performance que já havia me convencido há horas que não era necessária. Merda.

Precisava seguir. E em um ato súbito de coragem caminhei. Algo sobre estar sob os holofotes me fazia sentir um pouco menos nervosa; talvez o fato de ser uma coordenadora e precisar interagir com o público era bom, né? Acenei para as arquibancadas e os reverenciei, como de costume.

— Huh? — fui pega de surpresa pelos elogios da jovem de cabelos roxos — O-obrigada? — gaguejei, ainda me acostumando com a ideia de que batalharia contra aqueles intimidadores monstrinhos que estavam atrás dela — Pela sua reputação não espero nada além um forte desafio! — retribuí o sorriso, buscando as esferas de Mochi e Manju em minha bolsa, aproveitando-os para lançar em campo e ouvir o apresentador decretar o início do embate — Vamos lá!

Pelo andar da carruagem, aquela situação não seria boa pra mim. Weavile e Mismagius... Um passo em falso e aquele noturno dizima toda minha equipe. Me surpreendi ao vê-la retornar o monstrinho e finalmente uma chama estrategista começava a crescer dentro de mim. Não poderia ter sido mais perfeito.

— Excelente! Espeon, utilize seu Covet na psíquica! Gallade, retorne! — fiz o mesmo que Anabel e retornei um monstrinho, lançando Sushi em seu lugar — Demonstre mais uma vez seu grande poder! Alakazam, Shattered Psyche na fantasma! — abri um sorriso de orelha a orelha — Manju energize seu irmão com sua aura do Helping Hand!

Nem sabia o que estava fazendo. Por algum motivo, minha cabeça achava que aquela era a melhor opção no momento...

Veremos.

Battle Tower!

Que sensação magnífica a que sentia durante esse momento.

Estranho me sentir dessa maneira, mas estava completamente extasiada ao ver meus pequenos derrubarem Mismagius em um único golpe. Sei que minha vitória não estava nem perto de ser decretada, mas a louca estratégia que montei na cabeça havia dado certo. Claro, agora não poderia utilizar mais meu Z-Move, mas as chances de ganhar haviam melhorado significativamente. Abri um sorriso de orelha a orelha, deixando escapar até mesmo um leve grunhido de felicidade. Uma bobeira, eu sei, mas me sentia como uma criança quando ganhava o brinquedo que tanto quis durante muito tempo.

A validação do público também ajudava. Anabel era imbatível e isso estava escrito na cara de todos seus Pokémon, mas sentir as pessoas torcendo por mim mesmo após aquele fatídico episódio dois dias atrás era ótimo. Talvez a platéia tivesse memória curta ou só estivesse ali para ver os monstrinhos se batendo, mas preferi me convencer de que haviam me perdoado. Obrigada Arceus.

E mais uma vez Weavile voltava a campo.

Apesar de simpática, só o olhar daquela fuinha noturna me fazia tremer dos pés à cabeça: um passo errado e ela acabaria com todo meu time. Todo. Sem sequer pestanejar. Imaginei que teria que me arriscar, mas era a coisa certa a se fazer. Pelo menos pra mim.

— Obrigada, Anabel. Sua Mismagius tentou o máximo que pôde. — retribuí o elogio com um sorriso estampado no rosto — Mas se tem algo que aprendi é que não devo subestimar meus inimigos. Pode ser um tiro no escuro, mas... — meu tom foi diminuindo conforme ia dizendo a frase — Alakazam, Dazzling Gleam! Em seguida, utilize seu Protect! — respirei fundo — Manju, Helping Hand mais uma vez! Depois acerte Weavile com seu Shadow Ball!

Battle Tower!

Como é bom quebrar a cara, não é?

Que Arceus não é muito meu fã eu já sabia, mas não podia me dar nem uns minutinhos em paz? Cacete! Foi me sentir feliz por ter derrubado um Pokémon da invencível Anabel que ela obliterou a pobre da minha filha canina com seu Weavile. Meu coração sentiu uma pontada quando Manju foi lançada ao ar como uma boneca de pano, caindo completamente desacordada bem na minha frente. Sushi não ficava muito atrás: meu primogênito tentava se manter de pé, mesmo lutando para não demonstrar seu cansaço. Como sempre, Alakazam odeia apanhar em batalhas.

— Minha pequena. — retornei Espeon para sua respectiva esfera bicolor, dando um beijo sobre a Pokéball antes de guarda-la — Obrigada pela ajuda. Mesmo com tão pouca experiência você brilhou como uma verdadeira estrela. — busquei a cápsula do lutador, lançando-o em campo e voltando minha atenção para a Tower Tycoon — Sei sim. Ainda não sou tão experiente em batalhas, mas nós damos nosso máximo. — abri um meio-sorriso, um tanto quanto triste por já imaginar o resultado final — Sushi, retorne! Raichu, apareça!

Liberei o roedor em campo, voltando a exausta preguiça psíquica para sua respectiva esfera. Não sabia muito o que fazer agora que tirei Alakazam do iminente fim. Minha cabeça não conseguia pensar direito e todas as estratégias que imaginava acabavam indo por água abaixo quando lembrava que ainda faltava um gigantesco Snorlax com a vida cheia para enfrentar. Mas não podia transmitir esse pensamento pessimista para meus pequenos, principalmente para Raichu, estreante na minha equipe.

— Vamos lá, campeão. Sei que consegue interceptar esse poderoso golpe da fuinha! — pisquei para o elétrico, abrindo um sorriso amigável — Envolva seu corpo nas faíscas de seu Static! Paralise-a! — cerrei o punho direito — Em seguida foque-a com seu Volt Tackle! Caso já tenha desmaiado, acerte o psíquico com seu Thunderbolt! — respirei fundo — Gallade, pode parecer loucura o que vou pedir para fazer agora, mas preciso que confie em mim! Protect e em seguida acerte Weavile com Leaf Blade! Caso ele já tenha caído, foque Espeon! Confio no seu potencial, afie suas lâminas o suficiente para arrancar um crítico!

Battle Tower!

Não sei mesmo porquê acreditei que seria capaz de derrotar Anabel. Sei lá, talvez aquela pontinha de felicidade ao ver Mismagius cair tenha me dando um boost de auto-estima, o qual não aconteceu com a queda de Weavile. A fuinha antes de finalmente cair deixou belos estragos nos membros restantes do meu time... Com Alakazam mal conseguindo ficar em pé, minhas chances de vitória tinham ido por água abaixo.

Era difícil esconder minha tristeza perante aquela situação. Raichu estava extremamente exausto e Gallade começava a mostrar também seus sinais de cansaço. Não tinha muito o que ser feito ainda ali, mas... a esperança é a última que morre, certo?

— Parece até que esse Weavile entrou no seu time especialmente pra bater nos meus Pokémon. Essas forças cósmicas são hilárias. — dei uma risada sem graça — Parabéns pela vitória. Digo de ante-mão porque sou uma má perdedora e no final vou só me retirar junto com meus pequenos. Peço desculpas antecipadamente. — dei de ombros — Raichu, Thunder Wave no Snorlax, prossiga com Sweet Kiss no mesmo alvo! Gallade, Protect e acerte Snorlax com seu Close Combat! — aumentei meu tom de voz — Sei que estão exaustos, mas deem seu máximo, precisamos disso se quisermos ter alguma chance!

Battle Tower!