[Remember] - Route 111 -

O desarme na expressão dos oponentes ao se darem conta de contra quem estavam de verdade nas batalhas de Zoroark era, para dizer o mínimo, delicioso. Sempre o era, e não foi diferente com Karinna - mas, ainda assim, era incapaz de não sentir empatia diante da reação da loira quanto ao nocaute de seus psíquicos. Afinal, ela própria conhecia bem aquele sentimento, principalmente em confrontos contra treinadores e, independente do quão amistosa fosse aquela batalha, não mudava o fato de que um dos lados acabara por sair derrotado.

O resultado, porém, acabou se tornando a menor de suas preocupações (ou devia falar, alegrias?) pois, logo ao término do embate, o jovem pokémon gelatinoso foi envolvido por um fortíssimo brilho prateado - nada que prejudicasse sua visão, principalmente não depois do clarão violento que as cegara pouco antes da fuga das masmorras de Arceus. Surpresa foi sua primeira reação, seguida de um sorriso aberto que não se demorou em tingir os lábios; Sem hesitar, avançou ao encontro do esverdeado, que parecia encarar a si próprio ao lado da exausta noturna debochada.

— Kal! — Exclamou, animada, e levou ambas as mãos para a superfície molenga e fria que envolvia o núcleo do pequenino. — Você tá uma gracinha! — Riu, e encostou a testa no invólucro do monstrinho, antes de dar-lhe um alegre beijinho de esquimó - quer dizer, do jeito que era possível, né? — Boa, Joker! — Elogiou, estendendo o punho para a noturna, que cumprimentou com um soquinho vertical. — Descansa um pouquinho, garota. — Disse, então, estendendo a esfera bicolor para a raposa, que torceu o focinho para o outro lado e revirou os olhos, bem na hora que o feixe escarlate envolveu-a e a dissipou em pleno ar. Foi nesse momento, também, válido retornar, que percebeu sua mochila se remexendo, e não se demorou em checá-la...

— ... ...Pássaro? — Deixou escapar, surpresa repentina adornando a expressão. Suave, inclinou a cabeça para o lado, observando enquanto a pequena voadora se remexia, encolhendo as asas e bicando a casca do ovo que a protegia, arrancando um riso discreto da ruiva. — Oi, pequena... — Cumprimentou, usando ambas as mãos para retirar o bichinho do invólucro natural que impedia seu nascimento. Sem pressa, endireitou a postura, a atenção finalmente se desviando na direção de Oliver. — ...Diário? — Franziu o cenho para o pedido do homem. Não tinha motivo para que ele fizesse tanta questão de que ficassem ali e, particularmente, não gostava muito de uma hipótese forçada daquelas. — ...Huh... Acho que tudo bem. Não é como se a gente fosse sair agora, de qualquer jeito. — Comentou, encolhendo os ombros antes de volver a atenção para Karinna. — Você acha? — Perguntou, os orbes acinzentados desviando para a bicuda. — ...É, pode ser uma boa. — Concluiu, observando enquanto a raposa psíquica já conhecida era liberada para um confronto que logo haveria de ocorrer.

— ...Hmm... Kal, por que não vai de novo pra vermos qual a diferença dessa forma pra última? — Sugeriu, tranquila, e colocou a Fletchling no chão. — E você, que tal olhar pro Kal e tentar entender como uma batalha funciona? Quer crescer forte, não quer? — Questionou, afagando próximo ao bico da ave com as costas do indicador, e recuando por um instante. — Mas não precisa se preocupar, ok? Qualquer coisa, podemos parar. — Assegurou, o olhar passeando de uma dupla para outra. — ...Kal, seguinte, vamos com calma nessa, ok? Preciso que você dê suporte pra ela. — Pediu, indicando a recém-nascida. — Hey, Karinna! — Chamou, movimentando os ombros. — Sem bater nos bebês com os outros, viu? — Relembrou. Vai saber se ela dava uma de doida e sentava o cacete na sua passarinha, coitada...

— Kal, vá devagar. Use Protect e um Energy Ball na Espeon. — Orientou, finalmente encarando a ave tricolor. Com a pokédex, analisou sua imagem e retirou algumas informações - afinal, não era como se conhecesse aquele tipo de bichinho, vamos combinar... — ...Fletchling. — Murmurou para si mesma, balançando a cabeça com discrição. — Fletchling! — Chamou, buscando a atenção da baixinha. — Tente se acostumar um pouco com a sua movimentação, pode ser? Tente invocar um Tailwind... — Sugeriu, ajeitando uma das madeixas ruivas atrás da orelha. — ...E um Tackle na Espurr. Não tem problema se não conseguir, não precisa ter pressa. — Assegurou.

...
Será que estavam indo rápido demais?
Hmm...

Foi em quietude paciente que os orbes acinzentados passearam, discretos, pela batalha que se desenrolava à sua frente - e essa maneira era necessária, considerando que o combate atual não era, nem de longe, tão enérgico e brutal quanto o anterior. Em silêncio, observou as tentativas corajosas das filhotes em permanecer no combate em que haviam sido postas; Inevitável, um sorriso breve decorou-lhe os lábios, consequência direta da desenvoltura das pequeninas recém-nascidas. A atenção nas monstrinhas, porém, custou-lhe perder os primeiros sinais de desconforto de Karinna quanto à Oliver - ou, talvez, seu inconsciente a trapaceara para fazê-lo em tentativa desesperada de conquistar um descanso que nunca parecia chegar.

— Kaleo, duplo Energy Ball na Manju. Fletchling, duplo Tackle na Laksa. — Instruiu, simples, com a consciência de que muito provavelmente não seria capaz de lidar com a eeveelution - infelizmente, apesar de evoluído, o monstrinho gelatinoso ainda não tinha o poder para lidar com um confronto sem depender de alguém mais forte ao lado, descobriu.

Acredite quando digo que o momento que antecedia a próxima rodada encerraria ali, sem mais problemas - não fossem as palavras de Bley, que tragaram sua atenção com a mesma eficácia que teria um poderoso redemoinho arrastando uma canoa desavisada. Um desconforto inquieto arranhou-lhe a nuca em resposta ao apelido alienígena para si; Silenciosas, as pupilas analisaram a expressão da loura e, sem pressa, retorceram-se na direção do lenhador.

...E, em compreensão muda, voltaram-se em sua direção.

Veja: Não era como se estivesse confortável com a situação e a atitude esquisita de Oliver em insistir para que permanecessem no lugar (embora, ainda que ínfima, existisse a possibilidade de que o homem o fizesse meramente por estar preocupado com suas condições). Era só que, por um instante que fosse, queria fingir que ela não era uma preocupação.

Por céus, seria possível que não merecia um momento de descanso sequer?