Bem, não sei se eu e o Perry somos os únicos psicólogos do fórum... talvez tenha mais gente que eu não saiba... bem, darei minha opinião, já que tu disse se interessar por feedback, ok?! O que não é pra ser uma verdade, e gostaria de ouvir também o que mais gente (dentro e fora da área) tem a dizer sobre a experiência de ouví-lo.
Bem, eu vou ser muito muito muito muito sincera. De início eu fiquei extremamente receosa, porque me incomoda muito pessoas sem estudo na área tentarem opinar ou produzir conteúdo sobre saúde mental, então eu pensei "espero que seja um podcast sobre notícias da área e/ou gerenciamento de debate em torno do tema com quem entende", e não só uma conversa entre duas pessoas sobre o tema. Dito isso, vou admitir aqui que dei play já com um receio meio inevitável.
Logo no início eu tomei um susto, você começa citando diagnósticos e mais diagnósticos e alguns relatos pessoas sobre isso. Posso ser sincera?! Isso é muito complicado. É muito complicado associar diagnóstico a saúde mental tão diretamente assim... sabe, na experiência clínica (ainda que não só clínica) é muito comum chegar pra usuário do serviço com diagnóstico pronto, fechado e que é bem difícil entrar dentro disso. E as vezes ele é completamente errado. E também tem uma galera que nem sequer foi diagnosticado de fato, mas chega pra gente até com o nome do remédio que "queria" ou "devia tomar! Eu bato na tecla infinitas vezes que diagnóstico não é só palavra, diagnóstico não é substantivo comum, é próprio. Não devia, mas é. É bem o que a moça do seu Podcast falou, "até faz sentido com o que eu sinto, mas é foda um diagnóstico desses"... usar diagnóstico pra ponto de partida de um assunto relacionado a psi é.... foda.
Claro, claro, diagnóstico tem sim sua importância no processo terapêutico, mas é importante marcar que é NO PROCESSO TERAPÊUTICO. E também que ele é Singular, ou seja, não é baseado em diagnóstico, mas na pessoa. Justamente por isso, um Feedback que eu te dou é para que não foque e/ou não produza estereótipos sobre diagnósticos na psi. É complicado, o próprio DSM é discutido o tempo todo, se você for ler o DSM, vai sair de lá com 30 diagnósticos diferentes... isso porque não vai conseguir ler nem metade porque até lá já correu para um CAPS. No período pós... ok, vou tentar não ser tão academicista, mas num período de revolução tecnológica, onde auto-medicação e auto-diagnóstico são tão comuns, botar alguém não especialista para falar sobre "o que fazer" ou "como é" é ... complicado. Porque como diz no final "é ser você", não é "ser uma pessoa com X diagnóstico".
Bom, isso é sobre os primeiros 8 minutos do Podcast. Depois disso, que surpresa boa que foi, sinceramente a entrevista ta ótima. A moça fala super bem, é bem esclarecedora, vocês mediaram bem e eu fiquei muito contente e admirei bastante o seu trabalho em cima da entrevista. Eu só quero pontuar duas coisas que me deixaram um pouquinho incomodada na hora da entrevista...
A primeira é o cuidado com a palavra "loucura". A frase "é importante as pessoas saberem que elas não estão ficando loucas nesse momento, né" realmente me incomodou... eu não sei se são as palavras exatas, mas de qualquer forma, isso é pejorativo. O que é "ser louco" que é tão importante as pessoas saberem que não estão fincando? A própria palavra ela é carregada de um bocado de coisa negativa, não tem como você discursar "está tudo bem ter problemas psicológicos" mas achar que a Loucura passa batida dessa afirmação. Também não tem problema nenhum em ser louco.
Pensar que tem é problemático... eu tiraria essa palavra do vocabulário num podcast sobre saúde mental se não for debater o conceito de loucura a fundo...
E a segunda coisa é algo que acho que é pedir demais, mas a sua amiga cita um psicanalista e pede para uma moça (que aparentemente é TCC, mas não posso ter essa certeza, mas muito provavelmente psicanalista ela não é) falar sobre. Bem, isso é um debate acadêmico complicado... é claro que ela tem condições de comentar a frase, mas é um podcast e debater teoria é... complicado. Talvez por isso ela fugiu da pergunta, isso não é muito legal porque (a) ela não teria como explicar o contexto epistemológico que a pessoa disse, ou seja, não irá explicar o conceito de outrém e (b) ela provavelmente não vai concordar por simplesmente não ser a abordagem dela. Não é birra discordar, mas é que um psicanalista usa inconsciente freudiano como base de analises, enquanto uma pessoa de TCC não. Acho que debater pontos em diferentes perspectivas é muito legal, agora discutir frase de outro psicanalista nem acho que seja muito útil não KKKKKK mas definitivamente acho que isso é frescura minha, porque a resposta foi bem legal e construtiva, ela falou muito bem sobre as questões cotidianas e nossas mudanças já presentes, apesar de não dizer tanto a respeito da pergunta.
É isso, eu gostei muito do Podcast, apesar de parecer que vim aqui só criticar. Vocês me deram um tapa na cara, mostraram profissionalismo na discussão e embasaram muito bem. Fiquei muito impressionada com a convidada, gostei muito do papo e fica aqui minha opinião. Desculpa se em algum ponto parece que to sendo escrota ou dando carteirada, só to tentando contribuir para que fique ainda melhor as informações acessíveis sobre Saúde Mental mesmo, é muito legal ter uma iniciativa de um podcast assim, fiquei bem feliz <3
Parabéns pelo trabalho, espero que não tenha soado muito grosseira, qualquer coisa me chama no privado que eu esclareço alguma opinião meio estranha e peço desculpas também por qualquer coisa. Foi um brainstormaqui das minhas impressões e opiniões, desculpa qualquer erro de didática, conceito e/ou gramática, ta bom??
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O Mahiro é o melhor do mundo <3